(Avaliação) Renault Stepway 1.0: inesperado e necessário, mas vale a pena?

Que o Sandero ia sair de linha uma hora ou outra, todos já sabiam. O hatch, que fez 15 anos de história em 2022, andava aquém da concorrência, sem muitas novidades e fraco nas vendas e, como geralmente acontece com os Renault aqui no Brasil, tinha futuro incerto: ainda estava em produção? Teria sucessor? Seria modernizado? Ninguém tinha nada certo até a marca divulgar que o nome Sandero saía de cena, e nascia o Stepway 1.0: um “milzinho” com estética off-road e nome de aventureiro. Mas, ainda, um Sandero.

Stepway 1.0 ainda é um Sandero, mas sem o nome Sandero (Foto: Lucca Mendonça)

O carro é bem equipado e bom de preço, custa menos de R$80 mil. Traz todo o visual do Stepway 1.6, com parachoques aventureiros exclusivos, rack de teto, apliques plásticos nas laterais, lanternas diferenciadas e adesivos. Para baratear, não tem rodas de liga, mas sim as curiosas calotas aro 15 do Sandero…2014! Renasceram das cinzas pra equipar a novidade, mas combinam. Mesmo sem confirmar, a meta dele é clara: atrapalhar a vida do novo Citroën C3, e talvez por isso tenha chegado de supetão, sem ninguém esperar.

Pra quem conhece o hatch veterano da Renault, não há muitas novidades além do “kit Stepway”, afinal ele não tem suspensões erguidas e até os bancos são iguais aos dos Sandero 1.0 comuns. Nada contra: são grandes, confortáveis e acomodam bem o corpo, fora que já vem com airbags laterais embutidos. As únicas lembranças dos Stepway mais caros estão nas soleiras das portas dianteiras. Conjunto interessante.

Por ter o mesmo acerto e altura de molas e amortecedores dos Sandero comuns, esse Stepway milzinho (que na verdade chama “Stepway Zen 1.0”) ganha no melhor comportamento da carroceria (menor altura = menor centro de gravidade). Conforto também: o carro é confortável, com pneus urbanos, para o asfalto. Como o Sandero já é naturalmente altinho, acaba atravessando bem os pisos ruins, buraqueiras, valetas, lombadas e outros obstáculos do uso diário. Os parachoques de Stepway elevam ângulos de ataque e saída, mas não muito.

Carro é altinho por natureza, mas molas e amortecedores vem dos Sandero 1.0 comuns (Foto: Lucca Mendonça)

De projeto brasileiro, o motor SCe 1.0 tricilíndrico continua se mostrando econômico e esperto. Tem 79/82 cv de potência com 10,2/10,5 mkgf de torque, que a Renault deixa bem claro estar 90% disponível aos 2 mil rpm. Pela ficha técnica, a força máxima vem aos 3.500 rpm, mas a marca não mente: o carro desenvolve muito bem antes disso. Aliás, desde a arrancada ele já mostra ótimo torque e não demora, e conta nessa com uma curtíssima primeira marcha.

Na verdade, todo o câmbio de cinco marchas é preciso pra manusear e curto nas relações, com foco no desempenho. Mas faz efeito, tanto que o carro é desenvolto em baixas, médias e altas velocidades para um 1.0 aspirado, inclusive quando está mais carregado. Na cidade, mil maravilhas, mas, na estrada, depois de um tempo, chega a incomodar o motor “gritando alto” ali na frente: quase 4.200 giros a 120 km/h. Níveis de isolamento acústico e acabamento ficam dentro do esperado.

Visual agrada em tempos de SUVs, crossovers, aventureiros e mais aventureiros (Foto: Lucca Mendonça)

Poucas críticas pra outros elogios: economia fala mais alto, mesmo com a aerodinâmica prejudicada e maior peso do kit aventureiro da carroceria. Ao menos, junto do motor 1.0 vem o sistema Start&Stop, que não existe nos Stepway 1.6. Com etanol, fez ao redor dos 11,5 km/l na cidade, enquanto na estrada, sem exagerar na velocidade, agradou com 13,0 km/l. No tanque cabem até 50 litros de combustível.

Adereços estéticos complicam a aerodinâmica e pesam mais, mas o carro continua bem econômico (Foto: Lucca Mendonça)

O motorista, que só não tem ajuste de profundidade do volante (não fez tanta falta), acha boa posição pra guiar, mais alta, e comando do câmbio acessível pela alavanca alta. O Sandero é enxuto nas funcionalidades e sistemas, então tudo é fácil e acessível. Vide o computador de bordo com tela única, comandada por um botão na ponta da alavanca do limpador, ou a multimídia de 7” que não tem segredos. Prático.

Motorista: bem ajeitado no seu posto, e com os (poucos) comandos à mão (Foto: Lucca Mendonça)

Atrás cabem três, bem, e com folga para ombros e cabeça. O espaço para os joelhos é até interessante, mas depende muito do tamanho de quem vai na frente. No geral, ganha dos outros hatches 1.0 do mercado nacional no conforto da cabine e porta-malas, que tem 320 litros. Isso sempre foi vantagem no Sandero. Só pela idade do projeto que faltam mais algumas mordomias, como portas USB extras. No carro inteiro só tem uma, na multimídia.

Mas, falando em conteúdo, por R$80 mil não há muito mais o que pedir: ele tem ar-condicionado, vidros dianteiros elétricos, travas elétricas, direção eletro-hidráulica, multimídia de 7” com Android Auto/Apple CarPlay, banco do motorista e volante com ajustes de altura, 4 airbags (dois frontais e dois laterais dianteiros), faróis de neblina, luzes diurnas em LED, comandos de som na coluna de direção, sensor de estacionamento traseiro, Start&Stop, ESP, TC, Hill Holder e outros.

Stepway, mas com altura de Sandero comum (Foto: Lucca Mendonça)

Ameaçando o Kwid

Agora, como nunca, o pequeno Kwid está ameaçado por um irmão maior: esse Stepway 1.0 custa cerca de R$5 mil a mais que um Kwid Outsider, também aventureiro. Mas o subcompacto é bem menor em todos os sentidos, e não tem muito mais conteúdo que o Stepway Zen 1.0. E, mesmo com projeto mais antigo, o bom e velho Stepway supera o Kwid em muitos pontos, por exemplo dirigibilidade e conforto geral.

Apesar de inesperado, esse sucessor do Sandero que leva nome do Stepway é interessante para o mercado e necessário para a Renault: combate os rivais com competência (Citroën C3 e Fiat Argo Trekking, principalmente), entrega o que o público pede (design aventureiro com bom custo X benefício), serve como opção aos Kwid mais caros e mantém a estratégia da marca, focada em carros aventureiros, crossovers e SUVs.

Ficha técnica:

Concepção de motor: 999 cm³, flex, três cilindros, 12 válvulas (quatro por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: manual de 5 marchas
Potência: 79 cv/82 cv a 6.300 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 10,2 mkgf/10,5 mkgf a 3.500 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: Independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência eletro-hidráulica
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus e rodas: Pirelli Cinturato P1, medidas 185/65 e rodas de aço com calotas aro 15
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,07 m/1,73 m/1,60 m/2,59 m
Porta-malas: 320 litros
Tanque de combustível: 50 litros
Peso em ordem de marcha: 1.035 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 13,2 s/13,3 s (etanol/gasolina)
Velocidade máxima: 160 km/h/163 km/h (etanol/gasolina)
Preço básico: R$79.990 (carro avaliado: R$81.490)

 

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.