GM Corsa Autoclutch: o primeiro Chevrolet com embreagem automática

Lançado na Europa em 1983 e no Brasil em 1994, o GM Corsa é um dos carros de maior sucesso da marca em território nacional. Pudera, afinal, somadas as versões e modelos, foram vendidas mais de 3.100.000 unidades. Um número respeitável.

Corsa B revolucionava

Dentre tantas versões, o Corsa B de 2002 (2ª geração no Brasil e 3ª no mundo) revolucionou o segmento com um design harmonioso e moderno àquele tempo. A GM lançou simultaneamente as variações Hatch e Sedan, este com projeto de origem nacional. Àquela época, a carroceria sedan vendia mais que a hatch na primeira geração, o que justificava o lançamento simultâneo das duas variantes na segunda.

Bem mais moderno e evoluído, o Novo Corsa 2003 era um sucessor a altura da geração anterior (Foto: Chevrolet/divulgação)

Com linhas limpas, fluídas e ao mesmo tempo equilibradas, a hatch trazia um conjunto de lanternas traseiras em disposição alta, enquanto o sedan se equiparava ao sedan médio Vectra. Ambos foram equipados inicialmente com motor VHC 1.0 8v com 71 cv de potência a 6400 rpm e 8,8 kgfm de torque a 3000 rpm, e 1.8 8v com 102 cv a 5200 rpm e 16,8 kgfm de torque a 2800 rpm, fora a transmissão manual de 5 marchas de série.

Carrocerias hatch e sedan chegavam juntas e com a mesma motorização (Foto: Chevrolet/divulgação)

Seu acabamento era vistoso, com painel moderno e bancos confortáveis, e o modelo esbanjava itens de comodidade e segurança, como vidros elétricos com função antiesmagamento e um toque, além de travar as portas quando o carro partia da imobilidade, que se destravavam ao se retirar a chave da ignição. Sei que isso hoje é comum, mas em 2002, era um recurso pouco visto nos carros do segmento.

O hodômetro passava a ser digital, que acendia ao abrir a porta, a fim de ajudar o proprietário a inserir a chave, e ele tinha o aviso digital de revisões, com a inscrição INSP. A luz interna passava a ter um temporizador, com apagamento gradual, enquanto o conta-giros passava a ser de série em qualquer versão.

Bom acabamento e funcionalidades bastante úteis vinham com a nova geração do Corsa (Foto: Wallace Otávio da Costa/Mônaco Multimarcas)

Como opcionais, tanto o Corsa hatch quanto sedan traziam os seguintes pacotes:

  • R6A (preparação para som com fiação elétrica e antena de teto, reostato da iluminação dos instrumentos).
  • R6L (protetor de cárter, aquecimento, desembaçador do vidro traseiro).
  • R6P (protetor de cárter, ar-condicionado, desembaçador do vidro traseiro).
  • R6F (Airbag duplo, ar-condicionado, protetor de cárter, direção assistida, volante revestido em couro).
  • R6M (abertura do porta-malas com controle elétrico; travamento das portas, alarme e fechamento automático dos vidros a distância; banco do motorista com ajuste de altura; banco traseiro com encosto bipartido e dois encostos de cabeça; controle elétrico dos vidros; luzes de leitura dianteiras e traseira; preparação para som com fiação elétrica e antena de teto; reostato da iluminação dos instrumentos).

Além dos pacotes, podia-se adicionar teto solar com acionamento elétrico, rodas de aço de aro 14 e pneus 175/65, direção hidráulica, rádio/toca-CD comum com mostrador remoto, rádio/toca-CD para 6 discos com mostrador remoto e pintura metálica.

Dentre os opcionais do Corsa B, havia até teto-solar com abertura elétrica (Foto: Chevrolet/divulgação)

O Autoclutch

Um opcional exclusivo das versões com motor 1.0 era o sistema de embreagem automática, intitulado pela GM de Autoclutch (com essa grafia). Oferecido separadamente, seu código era MV8. Similar ao do Fiat Palio Citymatic, trazia comodidade para o motorista, já que não é necessário acionar a embreagem para mudar as marchas na alavanca convencional de 6 posições (5 marchas à frente + 1 à ré). Oficialmente, a transmissão manual de 5 marchas do Corsa com o Autoclutch incluso era chamada de F15 HR (High Ratio).

No sistema Autoclutch, havia a alavanca convencional com as seis posições, mas sem pedal da embreagem (Wallace Otávio da Costa/Mônaco Multimarcas)

Pai das transmissões automatizadas e utilizando o mesmo tipo de fluído do sistema de freios, o conjunto é acionado por um sistema servo-eletrônico, composto de sensores no câmbio e na alavanca, além de uma via de comunicação eletrônica (tipo CAN Bus) entre o módulo de controle do motor (ECM), o módulo de controle da carroceria (BCM), o painel de instrumentos e o módulo de atuação da embreagem. Um sensor, de reconhecimento de intenção de troca (IRT), fica na base da alavanca de câmbio, enquanto outros dois estão dispostos na caixa de câmbio, sendo um no comando de engate e outro no comando de seleção.

O sistema Autoclutch poderia estar no hatch ou sedan, desde que fossem 1.0 (Foto: Chevrolet/divulgação)

Como funciona o Autoclutch

Quando a alavanca é manuseada de forma a engatar uma marcha, os sensores registram a mudança e transmitem a informação para a central eletrônica. A central aciona o sistema após o comando do motorista, e para isso dispõe de um programa que analisa todos os sinais recebidos. Assim, comanda o atuador e faz a passagem da marcha. Detalhe que tudo isso é calculado e feito em milésimos de segundo. Este atuador, por sua vez, aciona a embreagem após receber o comando.

Com uma alavanca igual ao do sistema convencional, o Autoclutch era fácil de ser operado (Foto: Wallace Otávio da Costa/Mônaco Multimarcas)

Na prática, o manuseio do câmbio é o mesmo do modelo manual, bastando tirar o pé do acelerador para efetuar a troca de marchas. O painel dos Corsa Autoclutch tem um mostrador de marchas, e um alerta no painel avisa com um sonoro “bip” quando as trocas são feitas de forma inadequada. Já para se engatar a ré, basta que o condutor pare o carro totalmente, acione o pedal do freio e, em seguida, mova alavanca.

O sistema era composto do painel de instrumentos com indicador digital de marcha, além de um bip sonoro para alertas (Foto: Wallace Otávio da Costa/Mônaco Multimarcas)

O carro só dá a partida com o câmbio em “ponto morto”, ou Neutro (indicado pela letra N no painel), e pode partir da inércia em primeira ou em segunda marcha. Caso o motorista tente sair em outra marcha, o veículo produz solavancos, avisando no painel e com o bipe sonoro que aquela operação é incorreta. Para se reduzir as marchas, o Autoclutch não é tão suave, forçando o motorista a tocar o acelerador com pé direito para “casar” a rotação do motor, evitando assim os trancos.

O motorista fica responsável por “casar” a rotação do motor com a velocidade e marcha que será engatada. Há ainda o inteligente desacoplamento da embreagem nas paradas ou estacionamentos (Foto: Wallace Otávio da Costa/Mônaco Multimarcas)

Bastante inteligente, caso o freio de mão ou o pedal do freio estejam acionados, a embreagem permanece desacoplada, poupando todo o sistema. Além disso, o sistema possui modo “creeping” – movimentação do veículo em piso plano sem que o motorista acelere o motor, facilitando as manobras de estacionamento. Na prática, basta tirar o pé do freio que o carro se movimenta devagar para frente ou para trás, sem a necessidade de acelerar, como em um carro com câmbio automático.

Apesar de ser manual com embreagem automática, o Corsa Autoclutch já contava com função creeping. Na foto, o carro que encontrei à venda com o raro sistema, que, apesar das calotas erradas, se encontra em bom estado (Foto: Wallace Otávio da Costa/Mônaco Multimarcas)

Lento e “delicado”

Os Corsa Autoclutch não possuíam auxílio de partida em rampa, forçando o condutor a usar o freio de estacionamento ou mesmo o pedal de freio simultaneamente ao acelerador. Além disso, as trocas de marcha devem ser feitas com suavidade, sob pena de emperrar a alavanca de câmbio e a campainha disparar nos ouvidos do condutor. Por isso, o sistema de embreagem automática tornava o modelo bastante lento, principalmente com carroceria sedan (mais pesada).

Com isso, tanto o desempenho quanto consumo eram ruins. O hatch fazia de 0 a 100 km/h em 20,6 segundos e chegava aos 142 km/h de velocidade máxima, com média de 7,7 km/l de gasolina na cidade e 13,5 km/l na estrada. O sedan ia de 0 a 100 km/h em 22,8 segundos e tinha velocidade máxima de apenas 136 km/h, com média de 7,5 km/l de gasolina na cidade e 13,0 km/l na estrada. Um verdadeiro fiasco.

Durou pouco

As vendas foram ínfimas, e o opcional saiu do catálogo em meados de 2003.  O Corsa B perdeu também o teto solar em 2005, recebeu motor 1.4 em 2008 e foi fabricado até 2012, sendo substituído pelo GM Onix, outro grande sucesso da GM no Brasil que está em produção até hoje.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.