A experiência de guiar uma Ram 1500 no trânsito de cidade grande

Picaponas enormes como as Ram são feitas para fazendas, sítios, campos…para o mato. Ou então para viajar, seja no asfalto ou fora dele. Mas e na cidade grande, cheia de ruas estreitas, carros, pessoas, motos, semáforos, lombadas…um pesadelo? Nem tanto: tem muitas dessas grandalhonas que nunca nem chegaram perto de uma fazenda. Nasceram e “cresceram” na selva de pedra mesmo, apesar do lado country.

Pacote Night Edition, mais discreto, faz da 1500 Limited a picape mais cara do Brasil (Foto: Lucca Mendonça)

A versão Limited da Ram 1500 (saiba mais dela aqui) veio pra justamente provar esse lado mais urbano de uma caminhonete que, dependendo da versão, pode exigir CNH de caminhões para ser dirigida. Não é o caso das 1500, que chegam nos 3.300 kg, dando uma folguinha até o limite de 3,5 toneladas da habilitação B. Numa 2500 ou 3500, outra história. Por isso, qualquer motorista de carro pode dirigir a picape mais luxuosa (e mais cara) do Brasil: até R$540 mil na versão com pacote Night Edition.

Tudo numa Ram é superlativo, desde o tamanho da carroceria (são quase 6 metros de comprimento por 2 de altura), até o espaço interno, motorização ou a capacidade de carga. Não é brincadeira: ela consegue puxar o equivalente a 4,5 Renault Kwid e tem caçamba de 1.200 litros! Mas na cidade…

Sim, ela puxa 4,5 Renault Kwid com muito luxo (Foto: Ram/divulgação)

Pra colocar em prova a capacidade “civil” desse colosso, a Ram programou um test-drive interessante no lançamento da 1500 Limited: dar uma volta com a picapona por Alphaville, região urbana chique de Barueri, na Grande SP. Para o meu caso, que nunca tinha ido além de uma Ford Ranger, VW Amarok, GM S10/Trailblazer e furgões como Fiat Ducato, uma experiência inédita das boas. Mas temerosa: uma caminhonete turbodiesel de cabine dupla, modéstia a parte, eu tiro de letra, mas e uma gigante dessas? Parecia demais, um exagero.

Começando no entra e sai, esse geralmente não costuma ser um problema pra mim que tenho 1,87 m de altura, mas as vezes meu “porte” gordo complica e deixa a tarefa cansativa. Pensei logo no esforço pra parar lá em cima, no posto de condutor, mas foi só abrir a porta que surgiu o “salvador” estribo lateral elétrico: ele fica recolhido quando não precisa ser usado, mas ressurge ao abrir qualquer porta. Fechadinho lá, ele ajuda a diminuir o arrasto, melhora a estética e ainda protege o chassi por baixo.

Foto com a porta fechada: estribo recolhido. Mas é bonita de qualquer jeito (Foto: Lucca Mendonça)

Fora ele, que faz papel perfeito de degrau para aquela “boléia”, é só segurar nas alças do teto e coluna. Pronto: dando um impulso, já adentrei na 1500 Limited. Lembrei que os pedais, meio distantes por alguém menor que havia dirigido antes, tinham ajuste elétrico por um simples botão no canto do painel: um toquinho ali, outro aqui, aquela regulagem padrão do banco elétrico (encosto, assento em duas posições e distância), espelhos, volante (que podia ser elétrico, vale falar)…encontrei na picapona a ergonomia de um bom sedan de luxo.

Saindo da Ram House, concessionária conceito, o percurso so test-drive durava cerca de 30 minutos, sempre pela cidade. Ligo o V8 de 400 cv pelo botão do painel e, esperando um ronco como o de um Ford Mustang, já estranho: ele é bem abafado pelo isolamento acústico da 1500 Limited, e só pode ser ouvido mesmo quando a picape acelera. Aqui o foco é ter potência e força, e não barulho estrondoso. Mas o V8tão está lá, aquietado, mas com seus 5.7 litros e a chancela Hemi.

V8tão Hemi tem 400 cv (Foto: Ram/divulgação)

Na primeira manobra, outro paradigma quebrado com a direção até mais leve e macia que a de alguns SUVs pequenos. Isso movendo pneuzões 285/50 e rodonas 22”, “milagres” que a assistência elétrica permitem: um veículo desse tamanho com conforto de direção de um hatch, mas a manobrabilidade de um caminhão (são 14 metros de diâmetro de giro oficial). Dos freios, digo o mesmo: pedal leve e ação rápida, coisa de louco.

Para quem já esperava um veículo difícil de acessar, barulhento e pesado pra dirigir, tudo devidamente refutado, o quarto tapa na cara veio com o conforto de carro de luxo. Esse comportamento todo da suspensão, que inclusive é ajustável com bolsas de ar infláveis, certamente exigiu um bom tempo de trabalho da engenharia da Ram nos EUA, mas com a expertise da marca não é nenhuma revolução: nas terras do Tio Sam, essas gigantes já andam como carros de passeio faz tempo. Para a cidade, como foi o caso, uma delícia.

Além do silêncio a bordo, que só é rompido quando o V8 ronca mais alto ou o sistema de som Harman Kardon de 19 alto-falantes toca, qualquer imperfeição da pista fica nos pneus, nas molas e amortecedores, mas dificilmente chega aos ocupantes. E se chega, vem muito anestesiada. Realmente há um comportamento de carro de luxo num veículo que divide o chassi com caminhões. Muito macia e suave.

A tarefa de se manter na (estreita) trajetória das faixas e ruas, geralmente pensadas para carros bem menores, isso tudo sem encostar nos obstáculos como motos ou pedestres, não é tão complicada assim. É fácil enxergar ao redor da 1500 Limited não só pela área envidraçada ou retrovisores gigantes, mas, se precisar, as câmeras 360º são de série. Elas mostram muito bem o mundo em volta na multimídia gigante de 12”, mas aquelas “magias” da direção leve e precisa, ou dos freios excelentes, também ajudam muito. Nada impossível.

O comportamento é bem ao estilo de um SUV monobloco de luxo (Foto: Lucca Mendonça)

É quase como guiar um SUV monobloco bem grandão, mas com uma caçamba ali atrás. Pena que não deu para extrair todo o poder de desempenho do V8, mas é fato que ela também acelera como se fosse esportiva. De quebra, ousei em medir o consumo médio naquele uso tão “impróprio”, mas, ao mesmo tempo, tirado de letra pela picape da Ram: não fui além dos 4,5 km/l de gasolina…e nem esperava mais do que isso. Se um esportivo V8 baixo e mais leve dificilmente faz mais de 10 km/l, o que esperar de uma grandalhona como ela? Ainda bem que tem quase 100 litros de gasolina no tanque.

Medi o consumo e não fui além dos 4,5 km/l de gasolina: nem dá pra pedir mais (Foto: Ram/divulgação)

E, sim, toda aquela parafernália dos carros de passeio luxuosos está nela, tudo calibrado para seu porte e peso: acelera e pode frear sozinha, detecta colisões pra todo lado, indica se o motorista estiver comendo faixa (esse, na cidade, é melhor deixar desligado, como fiz no test-drive), tem faróis inteligentes e tudo mais. Fora o que entrega na cabine aos passageiros, incluindo os couro e madeira legítimos.

Dos 30 minutos do test-drive, passei um pouquinho do tempo parando para fazer umas fotos da grandalhona, mas voltei para o ponto de partida com gostinho de “quero mais”. Esperar a oportunidade de avaliação, para, aí sim, passar uma semana de 1500 Limited. Aquelas minhas ressalvas e preconceitos com um veículo desse tamanho? Pura ignorância, confesso.

Ficou o gostinho de “quero mais”: vou ter que aguardar a semana de avaliação (Foto: Ram/divulgação)
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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.