Reboque automotivo: Esse carro não engata

A compra de um carro, seja novo ou usado, se dá por 2 fatores: a razão e a emoção. Quando o fator de decisão é a emoção, os critérios costumam ser definidos pelo design, cor, beleza, marca, até mesmo o lançamento de uma nova versão ou recurso. A lista pode ser ainda maior, e os critérios, ditos pessoais, variam de pessoa para pessoa.

Se o fator for racional, requer uma análise mais profunda até mesmo dos critérios, que geralmente vão desde a motorização, segurança, consumo, desvalorização, custo com manutenção, valor dos impostos, preço do seguro, capacidade de passageiros, capacidade de carga, entre outros.

Eu sou o tipo de consumidor que busca conciliar o emocional e o racional, eliminando alguns modelos que eu não goste, seja por design (mesmo que ele seja racional) ou por algum outro motivo.

Quando vou trocar meu carro, começo a análise de 4 a 6 meses antes. Sei que parece muito tempo, mas faço uma espécie de consultoria comigo mesmo. Faço uma lista de modelos que eu gosto, depois analiso seus dados como consumo, desvalorização, custo com manutenção, valor dos impostos e preço do seguro em planilha, seleciono as versões que mais me atraem (seja por conta de opcionais ou mesmo custo-benefício) e a etapa mais importante: Vou dirigir os modelos “finalistas”.

Como trabalho atendendo clientes em outras cidades, procuro alugar os veículos que me interessam, assim tenho um contato por algumas centenas ou milhares de quilômetros, possibilitando-me analisar posição de dirigir, densidade da espuma dos bancos em viagem, comportamento dinâmico, consumo e nível de ruído.

Nem sempre isso é possível, seja por não ter o modelo que quero para locação, ou mesmo não ter viagens pra fazer, não havendo assim a necessidade da locação. Neste caso, faço a análise da forma mais tradicional, fazendo um test-drive pela cidade.

Nesta situação, eu escolho um percurso de pelo menos 15 km, geralmente utilizando caminhos que percorro no dia a dia. Escolho ruas íngremes e de pavimento ruim, de trânsito parado, avenidas expressas e quando possível, coloco o carro na estrada e faço o contorno na cidade, o que me permite sentir como será seu uso em estrada.

Como atualmente moro em um apartamento com uma garagem muito estreita, trago o carro para colocá-lo na garagem, e foi assim que eu precisei descartar, por exemplo, o Renault Duster, que simplesmente não cabe na minha vaga.

Em 2019 resolvi trocar meu então VW Gol G4 City Trend 2013/2014 (última fornada), e queria um carro que atendesse dois critérios a mais: segurança e eficiência energética.

Então casado, eu e minha ex-esposa tínhamos à ocasião um VW Up! Take 2015. O carro me impressionou à época pela economia de combustível, potência de seu motor 1.0 12v aspirado, consumo comedido de combustível e qualidade de construção, sendo inclusive eleito o carro mais seguro do mercado nacional em 2014, ano de seu lançamento.

Não me importava em ter na garagem dois VW Up!, uma vez que, durante a semana, ela trabalhava em outra cidade, e sendo assim, troquei meu Gol G4 em um VW Up! Take 2018 com 9 mil km, que faria companhia ao outro Up! 2015.

Mesmo estudando sobre carros desde meus 12 anos, escrevendo sobre eles desde 2012 e prestando algumas consultorias, não me atentei a um detalhe: o VW Up! não está homologado para a condução com reboque. Como eu descobri isso? Quando fui instalar ele na empresa que produz engates.

Apesar de, na ocasião, já possuir o VW Up! 2015 em casa, eu tinha o engate instalado no meu Gol G4, e o popular da VW possui a homologação desde seus primórdios. Por isso não havia sido necessário instalar o engate no carro da minha então esposa, e eu não havia descoberto essa impossibilidade antes.

Além de frustrado, fiquei com vergonha de mim mesmo, por não ter me atentado a esta informação, e desde então, para mim, esse passou a ser um critério crucial para a compra de um novo veículo.

A resolução do CONTRAN nº 197 de 25/07/2006 considera que, para tracionar reboques, os veículos tratores deverão possuir capacidade máxima de tração declarada pelo fabricante ou importador, conforme disposição do Código de Trânsito Brasileiro.

Esta resolução aplica-se aos veículos de até 3.500 kg que possuam capacidade de tracionar reboques declarada pelo fabricante ou importador, e que não possuam engate de reboque como equipamento original de fábrica.

Além disso, os engates utilizados em veículos automotores com até 3.500 kg de peso bruto total deverão ser produzidos por empresas registradas junto ao Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO.

Os fabricantes e os importadores dos veículos precisam informar ao órgão máximo executivo de trânsito da União os modelos de veículos que possuem capacidade para tracionar reboques, além de fazer constar no manual do proprietário as seguintes informações:

I – Especificação dos pontos de fixação do engate traseiro;

II – Indicação da capacidade máxima de tração.

Ou seja, você pode ser multado caso seu veículo, engate ou reboque estejam fora das especificações. A infração, de acordo com o artigo 258 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), é considerada grave e com multa de R$195,23, além de retenção do veículo para regularização.

Eu fiz uma lista com quase todos os veículos disponíveis no mercado nos últimos 5 anos para ajudar você, caro leitor, a escolher um modelo que atenda perfeitamente às suas necessidades, caso este também seja um dos critérios de compra.

Os modelos da lista são atuais, ou de seu último ano de fabricação, mas no geral, modelos mais antigos ainda em produção como o VW Gol ou GM Onix seguem os mesmos critérios. Veja:

E o que eu fiz com o Up que comprei!? Àquela época, minha mãe também estava trocando de carro, e aceitou ficar com meu VW Up! para seu uso, afinal ela não precisa puxar reboques. Mãe é mãe, né?

Eu comprei novamente um VW Gol, o meu sétimo, desta vez G7, atendendo aos requisitos que eu buscava, já que ele tem Airbags, freios ABS e o motor EA-211 1.0 com 3 cilindros, 82cv quando abastecido com etanol e consegue excelentes médias de consumo.

Se o seu veículo não estiver nesta lista, consulte o manual, e caso não possua o manual, a maioria das marcas oferecem as versões em PDF de veículos a partir de 2008. Caso ele seja mais antigo, há várias edições em PDF nos sites de busca para download ou até mesmo a venda em sites de marketplace.

E se você já viu um engate instalado em algum veículo que não pode tracionar, avise a seu proprietário, pois caso ele seja abordado por um policial, poderá ser multado e ter seu carro removido para o pátio. Não custa nada ajudar o próximo!