VW Parati 1.0 16v: do sucesso ao esquecimento

A Volkswagen lançou em 12 de outubro de 1996 uma nova fábrica de motores e um novo propulsor para sua gama mais vendida: a dos carros populares de 1000 cilindradas. Nascia então o longevo motor EA-111, que se despediu ano passado na versão 1.6 8v graças ao Proconve L7 (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), em vigor desde 01 de janeiro de 2022.

Novo motor AT1000 do Gol foi muito bem recebido (Foto: VW/divulgação)

O EA-111 nasceu como AT-1000, equipando a linha 97 do Gol. Dotado de injeção eletrônica multiponto, o famoso motor Mi trazia 54,4 cv de potência a 5.000 rpm e 8,5 kgfm de torque a 3500 rpm, ante os 49,8 cv a 5800 rpm e 7,3 kgfm de torque a 3500 rpm do primeiro motor AE, de origem Ford, que equipava a linha VW 1.0 desde 1992.

Mi Plus era a versão de estreia do novo motor (Foto: VW/divulgação)

A concorrência lançava versões mais eficientes de seus motores de 1 litro, e em abril de 1997, a Volkswagen vinha com o primeiro 1.0 multiválvulas nacional: o Hitork 16v. Seus motores logo caíram nas graças dos brasileiros, que se encantaram com a potência de 69,4 cv a 5750 rpm (inédita para um motor aspirado de tal cilindrada na época) e 9,4 kgfm de torque a 4500 rpm, além de seu consumo comedido.

Primeiro nacional 1.0 com 16 válvulas, o Gol 1.0 16v conquistou o consumidor brasileiro logo de cara (Foto: VW/divulgação)

Com melhor desempenho, um Gol 1.0 16v ia de 0 a 100 km/h em 17,58 segundos, rodava 10,89 km/l de gasolina na cidade, ante 11,83 km/l da versão 1.0 8v. Já na estrada, eram 15,44 km/l para o 1.0 16v e 15,29 km/l para o 1.0 8v. A velocidade final também era melhor nos carros 16v: 156,5 km/h, contra 145,8 km/h do 1.0 8v.

Lançado em 1982 e usando os motores refrigerados a água VW BR 1.5 e MD-270 1.6, o VW Voyage Parati logo conquistou fãs e a liderança do segmento. Seus atributos foram muitos, desde um projeto moderno, pioneirismo entre os VW sendo o primeiro carro da marca a oferecer rodas de liga-leve, motor potente, posição de dirigir esportiva, câmbio com ótimo escalonamento e estabilidade de hatch.

O Parati, derivado do Gol, era um bom station, mas a VW precisava de algo maior e mais luxuoso (Foto: VW/divulgação)

Com o tempo e então identidade própria, o VW Parati, já sem o nome do Voyage, fez sua fama e manteve a liderança do mercado de stations de 1983 a 1996. Por uma estratégia da VW, o modelo recebeu a nova geração apenas em 1996, sendo que o então novo Gol já existia desde 1994. A concorrência, claro, se mexia.

A nova geração do Parati demorou para chegar, e isso lhe custou a liderança de vendas (Foto: VW/divulgação)

O Fiat Palio Weekend, lançado em 1997, chegou abalando o mercado com uma forte ação de marketing e um conteúdo que agradava. Tinha inicialmente 4 versões: 1.5 MPI de 76 cv, 1.6 16V MPI, Stile 1.6 16V MPI e Sport 1.6 16V MPI, esses com 106 cv. Logo ela roubava do Parati a liderança do mercado.

A Volkswagen, marca que então vendia mais populares, resolveu inaugurar um novo segmento, e no mesmo ano, era lançado o primeiro station do mercado com motor 1.0 16v. O Volkswagen Parati foi apresentado ao público em um criativo comercial de TV, e logo ganhou as ruas em grande quantidade.

Com a missão de ser o station mais barato do segmento, trazia a boa plataforma AB-09 do Gol “bolinha”, boa dirigibilidade, robustez e mecânica confiável. Com uma receita boa, logo incentivou a concorrência a também se modernizar. Sempre básica, oferecia apenas o trivial, mas podia ter ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, além de vidros verdes, sistema de som, rodas de liga-leve, e demais opcionais comuns à linha.

Não demorou muito para a novidade mecânica se estender também ao station Parati (Foto: VW/divulgação)

Em 1998 chegava a Parati 4 portas, e a aceitação da station VW melhorava ainda mais, já que, para um carro familiar, esse era o tipo de carroceria mais pedido pelo público. O sucesso do modelo viria mesmo com seu primeiro facelift, em 1999, intitulado de nova geração pelo marketing da marca: o Parati G3.

Tinha o melhor desempenho da concorrência, um design atraente e mais opcionais, incluindo a possibilidade de ter airbag duplo e freios ABS, além de rodas de aro 15 e pneus 195/55. Nesta época, os Parati 1.0 16v e 1.6 vendiam a mesma quantidade.

A essa altura do campeonato, as versões 16v e 1.6 já se igualavam nas vendas, mas o motor Hitork tinha má-fama (Foto: VW/divulgação)

Porém, os motores multiválvulas tinham muito o que provar no Brasil. Nossa cultura era com troca de óleo em posto, com o lubrificante que lá tivesse. Logo surgiam reclamações e muitas visitas dos proprietários dos VW 1.0 16v às oficinas, incluindo os Parati, com problemas nos cabeçotes, anéis, antichama, e logo a reputação destes motores começou a ser questionada.

Os maus costumes do brasileiro com relação à manutenção de carros não caíram bem no Hitork (Foto: VW/divulgação)

No início dos anos 2000, foram lançados outros veículos com esse famigerado powertrain, como o Seat Ibiza e VW Gol/Parati Turbo, dupla pioneira no mercado nacional com o motor mais moderno do Brasil na época. De quebra, foi o precursor dos propulsores turbinados de baixa cilindrada, tão comuns e eficientes hoje em dia.

Tido como o motor mais moderno em produção no Brasil, o Hitork ganhou até Turbo, e claro que esteve no Parati (Foto: VW/divulgação)

O 16v Turbo foi também o primeiro 1.0 16v a usar balancins roletados para diminuir o atrito quando as válvulas de admissão e escape são acionadas, o que se tornaria referência nos motores seguintes. Com 112 cv, tinha a mesma potência registrada e números de desempenho do AP 2.0, isso com consumo um pouco mais baixo.

Pagando menor IPI na época, os VW 1.0 Turbo eram uma opção barata e moderna de se ter um carro esportivo, mas muitos não gostaram pelo fato de ter manutenção melindrosa (era só usar óleo sintético como descrito no manual), outros por ele ter sido o responsável pelo falecimento do Gol/Parati Gti. Mas verdade seja dita: era muito divertido e todo mundo queria dar uma voltinha.

Apesar dos problemas que surgiam pela manutenção precária feita pelos brasileiros, os Hitork se igualavam aos 2.0 AP em desempenho (Foto: reprodução/Quatro Rodas)

Em 2001, as vendas começavam a cair consideravelmente, mas novos concorrentes eram lançados como o Fiat Palio Weekend 1.0 16v, e, em agosto daquele ano, a Volkswagen tratava de apresentar o motor 1.0 16v aspirado mais potente do mundo.

Elevando sua potência a 76 cv a 6000 rpm e oferecendo 9,7 kgfm de torque a 4500 rpm, o modelo inaugurava o acelerador eletrônico, e, assim como o 16v Turbo, tinha balancins roletados para diminuir o atrito. Apesar de boa velocidade final de 165 km/h, seu consumo cobrava caro o aumento de potência: 8,1km/l na cidade e 13,9km/l em estrada.

Novo motor dava mais agilidade a station, mas logo, com os ajustes do IPI, a situação mudou (Foto: VW/divulgação)

Em 2003, governo reduziu o IPI de carros com motor 1.0, caindo de 10% para 9%. Para modelos com propulsor acima de 1.0 até 2.0, a redução foi ainda maior, 25% para 16%. Com isso, os preços entre os carros 1.0 16v e 1.6 ficaram bem próximos, o que complicava ainda mais a vida do Parati 16v.

De toda a linha Parati 16v, restaram apenas duas, incluindo essa Sportline 16v Turbo (Foto: VW/divulgação)

E com as reclamações, injustas, da eficiência dos motores 1.0 16v, vários modelos começaram a ser descontinuados. Saíram de linha várias versões do Parati 16v, incluindo todas as de motorização aspirada, permanecendo apenas a Sportline 1.0 16v Turbo e Crossover 1.0 16v Turbo, esta sendo a última a sair de linha em 2004. Findava assim, sem muito alarde, a era do VW Parati multiválvulas.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.