História: Mercedes-Benz Sprinter e os 25 anos de Brasil

VW Kombi foi sinônimo de van por décadas no mercado nacional. Carregava carga, pessoas, servia em adaptações, podia ser até picape. Isso durou até os anos 90, quando já com as importações abertas, vinham as coreanas Asia Topic, Kia Besta e Hyundai H-100. Depois desembarcavam por aqui as espanholas Mercedes MB180, de projeto obsoleto e carinhosamente apelidadas de “pão Pullman” ou “pão de forma” pela sua carroceria alta e estreita. E geralmente branca.

Sprinter vinha para revolucionar o mercado brasileiro em 1997 (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

O segmento foi se revolucionar mesmo em 1997, com a chegada da Sprinter, também Mercedes, sucessora da MB180, muito mais moderna e importada da Argentina, onde era montada no esquema CKD. Primeiro Mercedes com nome próprio (sem a mescla de letras e números típica da marca), tinha estreado na Europa apenas dois anos antes, em 95, então era a mais moderna e tecnológica van de passageiros vendida no Brasil. Sua grande concorrente Fiat Ducato viria só em 1998 com uma proposta parecida.

Versão para passageiros era maior que VW Kombi ou Kia Besta (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

De início, o modelo foi apresentado em fevereiro de 1997, com vendas iniciadas em agosto daquele ano. Tinha três versões no catálogo (Standart, Intermediária e Luxo) e o convencional: tração dianteira, suspensão traseira por feixes de molas, direção hidráulica de série, freios a disco ventilado na dianteira, câmbio manual de cinco marchas, além de um motor turbodiesel injetado fornecido pela Maxion que entregava 95 cv de potência em seus 2.5 litros, o mais potente da categoria. O torque ficava na casa dos 22 mkgf.

Não era nem um pouco rápida, mas dava conta do recado nas carrocerias furgão, van (minibus com configuração de até 14 passageiros) e chassis que estavam disponíveis. O peso total admissível não passava dos 3.500 kg. Por outro lado, era bem mais completa e requintada que sua antecessora MB180: tinha rádio toca-fitas, faróis de neblina, ar-condicionado, vidros, retrovisores e travas elétricas, retrovisores externos aquecíveis, desembaçador traseiro e painel de instrumentos com direito a conta-giros e hodômetro digital.

Carroceria tipo chassis era voltada totalmente ao uso profissional (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Nos fins de 1999, já como modelo 2000, a linha aumentava com a oferta do motor turbodiesel 2.5 recalibrado para 115 cv e 29 mkgf de torque, além de novas versões executivas para a carroceria van, que podiam agora receber ar-condicionado traseiro independente, cores metálicas, bancos especiais, rodas de liga-leve e até freios a disco nas quatro rodas. Entrava em cena também a linha Street, oferecida até hoje, com foco no uso urbano com transporte de carga ou passageiros.

Interior era robusto e quadradão, mas recebia luxos nas versões executivas (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Já em março de 2002, quase que simultaneamente com a Europa, chegava ao Brasil a Nova Sprinter 2003. Na verdade essa era a mesma geração, mas reestilizada: tinha novo design da carroceria e cabine, recebia mudanças mecânicas, estreava modernidades e agora passava a oferecer outra motorização, feita pela própria Mercedes-Benz. A bola da vez foi um motor 2.2 turbodiesel de quatro cilindros, o OM611, que já tinha injeção direta Common Rail. Haviam versões de 109 ou 129 cv, com 27,5 ou 30,5 mkgf de torque. Curiosamente, o OM611 era finalizado em São Bernardo do Campo (SP) e enviado para a Argentina, onde seria montado nas Sprinter exportadas para o Brasil.

Linha 2003 trazia cara nova (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

A caixa manual de cinco marchas era mantida com uma boa diferença: a alavanca de mudanças, que saía do chão, passava a ser integrada ao painel, liberando o assoalho. Com o conjunto melhorado, a Sprinter tinha também novos sobrenomes, sendo 311 CDI para denominar os carros de 109 cv e 313 CDI para os de 129 cv. Continuavam as carrocerias van, furgão e chassis, mas com a novidade de uma versão alongada que tinha até rodado duplo na traseira. Os preços, que sempre foram mais salgados que os da concorrência, subiam…

Chassi e até versão com rodado duplo traseiro estavam disponíveis (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Importantes itens de segurança também entravam em campo nessa Nova Sprinter. Era a época que a Mercedes colocava tecnologias como freios antitravamento (ABS), controle eletrônico de estabilidade (ESP) e controle eletrônico de tração (ASR) em toda sua linha de produtos, incluindo o utilitário. Também apareciam os airbags frontais para motorista e passageiro. Embora tenha estreado na Europa ainda em 2002, os equipamentos foram chegar no Brasil em meados dos anos 2000 e de forma gradativa.

Modelo era mais seguro que boa parte dos carros fabricados no Brasil na época (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Ainda havia na época o raro opcional da transmissão automatizada de seis marchas Sprintshift, disponível nas configurações de van executiva, como a Family VIP (destinada à famílias grandes e com muito luxo a bordo) e Executiva. Teto-solar traseiro também era oferecido, bem como bancos reclináveis com forração em couro. Uma bela e grandalhona opção às tradicionais Chrysler Grand Caravan ou Kia Carnival.

Alavanca de câmbio agora estava no painel, e a transmissão podia ser automatizada (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Sendo uma das vans mais vendidas do Brasil por um bom tempo (chegou a despontar na liderança, inclusive), em 2009 a Sprinter já tinha concorrência boa com a Fiat Ducato e suas gêmeas Citroën Jumper/Peugeot Boxer, além de Renault Master e Ford Transit. Naquele mesmo tempo, estreava uma ótima novidade na família de vans da Mercedes-Benz: a chamada Sprinter 311 Street furgão de carroceria curta. O que ela tinha de tão especial? Era a primeira Sprinter com menos de 3.500 de PBT (Peso Bruto Total).

Motoristas com CNH Tipo B podiam guiar versão da Sprinter a partir de 2009 (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Qualquer motorista habilitado tipo B, com carta de carros, podia dirigir a van ou chassis dessa configuração. Ela também podia andar na faixa da esquerda nas rodovias, fluir na mesma velocidade dos carros pequenos e agilizar ainda mais o transporte, principalmente urbano. Em 2009 tinha Sprinter pra todo mundo: eram mais de trinta configurações entre versões e carrocerias distintas. Para o ano seguinte, como linha 2011, a segurança era reforçada com airbag duplo frontal e freios ABS de série na linha comercial leve da fabricante.

Enquanto isso, na Europa, Asia, e outras Américas, já havia uma nova geração da Sprinter desde 2006. Essa sim, totalmente inédita, desde plataforma até mecânica. Por aqui ainda tínhamos a primeira geração, com quase 15 anos e um único facelift de meia-vida. Já estava na hora de mudar, ainda mais que o modelo já chegava perto das 100 mil unidades vendidas em terras tupiniquins.

Nova geração, já velha na Europa, desembarcava por aqui em 2011 (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

A tal nova geração foi apresentada por aqui no final de 2011, com vendas programadas para meados de 2012. Apesar disso a Sprinter era novamente a van mais moderna a venda no Brasil, já que suas concorrentes eram datadas dos anos 90 ou início dos anos 2000. Era nova por aqui, moderna para a categoria, mas já velha no exterior, mesmo com design contemporâneo e modernidades que mal estavam nos carros de passeio, como ESP, ASR, ABS e airbag duplo de série.

Carroceria maior e segurança aprimorada (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Além do novo visual e carroceria, que melhorava o aproveitamento do espaço interno e permitia um entra-e-sai mais fácil de carga, a segunda geração oficial da van da Mercedes contava com novo motor, o OM651 de quatro cilindros e duplo comando de válvulas, 2.15 litros, que deixava o utilitário não só mais forte, mas também econômico e contido nas emissões de poluentes. Estava disponível com 116 cv ou 146 cv (28 – que logo subiu para 31 – ou 33 mkgf de torque, respectivamente), dependendo da carroceria (mesmas ofertas de antes), versão ou necessidades do motorista. Já eram 48 configurações do modelo.

Cabine aproveitava melhor o espaço e já trazia airbag duplo de série (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Essa era a primeira Sprinter com câmbio manual de seis marchas, uma nova caixa fornecida pela ZF que substituía a antiga de cinco. No conjunto de emissões do motor, a tecnologia BlueEfficiency contava com sistema de recirculação dos gases de escape e prometia maior eficiência energética. Além disso, por ser maior, ela tinha área interna mais generosa quando furgão (até 22 m³) ou van (até 20+1 passageiros), fora a opção de rodado duplo que ainda era oferecida.

Segunda geração reestilizada surgia na linha 2017 (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Agosto de 2016 era hora da primeira reestilização dessa nova geração, que recebeu novos faróis, grade e parachoque dianteiro, além de outros detalhes. A Sprinter estreava aqui mais uma tecnologia: o assistente de ventos laterais, que atua nos freios amenizando descontroles em ventanias, além do DRL (luz diurna). Mas novamente atrasada, já que as novidades estavam disponíveis no exterior desde 2013. A gama ainda ampliava com 60 possibilidades de configuração, incluindo PBT de 3.500, 3.800 e 5.000 kg.

Novidades já não eram tão novas assim (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Outra remodelação visual veio na Fenatran (Feira Nacional do Transporte) de 2019, mas agora a Sprinter se passava por uma nova geração. Ainda assim, a arquitetura básica e plataforma de 2006 eram mantidas. Frente, traseira e elementos da lateral mudavam, assim como o interior, ganhando linhas próximas às dos carros de passeio da marca. Ela inclusive recebeu multimídia touchscreen de 7”, sistema MBUX com comandos de voz, ar-condicionado automático digital, volante multifuncional, chave presencial, piloto automático e por aí vai.

Versão atual estreou entre 2019 e 2020 (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Ainda nas tecnologias, foi a primeira van comercial vendida no Brasil com frenagem autônoma de emergência e detector de fadiga de série, reiterando o cuidado da Mercedes quando o assunto é segurança. O motor 2.15 (chamado de 2.2 pela fabricante) ganhou potência e torque nas suas duas variações, chegando aos 146 cv com 33,7 mkgf nas carrocerias menores e 163 cv com 36,4 mkgf nas maiores. Freios, suspensões, direção (agora elétrica) e transmissão não mudaram, mas passaram por melhorias pontuais.

Mesma motorização, novos números (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

Já em 2020 aparecia uma curiosa versão, chamada de 19+1 Entrada Dianteira, que eliminava a característica porta corrediça lateral e conseguia acomodar vinte pessoas no total. Todos, com exceção do motorista, entravam pela porta do passageiro dianteiro e, dali, tinham caminho livre para as fileiras de assentos traseiros. Isso facilitava a acomodação de todos e, claro, baixava os custos de produção, o que diminuía o preço final ao cliente. A carroceria comum, com porta corrediça, continuava em outras configurações.

Versão 19+1 Entrada Dianteira é curiosamente prática (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

A mais recente novidade veio em 2022, começo do ano, e nem foi por estratégia da Mercedes, mas sim por questões legais. O bom e velho 2.15 teria problemas em se adequar ao Proconve L7, e por isso saiu de cena, abrindo espaço para outro propulsor mais eficiente. Hoje toda a linha Sprinter é movida por um 2.0 turbodiesel de quatro cilindros, com turbina de geometria variável (VGT) e Common Rail, além da fundição completa em alumínio. É o OM654 de 150 cv de potência e 34,7 mkgf de torque, fiel ao casamento com o câmbio manual de 6 marchas.

Geração atual tem tecnologias de carros de luxo (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)

O sucesso, segurança e confiabilidade, apesar do preço alto, prevalecem na Sprinter há ¼ de século de Brasil, onde já emplacou mais de 180 mil carros. Mundo afora, já são seis plantas fazendo a van de sucesso da Mercedes-Benz e alguns milhões de unidades vendidas. Só na Alemanha, berço do modelo, sua produção já passou de 1 milhão desde 1995. Provavelmente outros milhões virão…

Outros milhões virão (Foto: Mercedes-Benz/divulgação)
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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.