Ford Verona S 2.0i: o raríssimo “Escort XR3 sedan”

O Ford Verona foi o primeiro fruto da Autolatina, joint-venture entre VW e Ford de 1987 a 1996, e o primeiro a gerar um irmão gêmeo univitelino, o VW Apollo. Lançado em 1989, o Verona tinha a dura missão de concorrer com o GM Monza em um segmento bastante aquecido nos idos dos anos 80.

O modelo usava a plataforma, além da frente, as portas dianteiras e o painel do então Escort. Da metade do carro para trás, o Verona era um carro totalmente novo, com teto sem calhas laterais, janelas com vidros rentes à carroceria, grandes e modernas lanternas traseiras e uma linha cintura bem alta no porta-malas, que tinha capacidade de 384 litros. Era considerado o terceiro maior bagageiro do país.

Na primeira fase, de 1989 a 1992, teve duas versões, sendo LX com motor 1.6 de 78 cv de potência a 5200 rpm e 13,3 kgfm de torque a 2200 rpm, e a GLX, com 1.8 de 93 cv a 5600 rpm e 16,1 kgfm a 2800rpm. A segunda, topo de linha e bastante completa, inclusive com o opcional de teto solar. Ambas traziam câmbio manual de cinco marchas.

LX, mais simples, vinha de série com motor 1.6, mas podia ganhar o 1.8 opcionalmente (Foto: Ford/divulgação)

No final de 1992 era apresentada a linha 1993 do Escort, em nova geração, a famosa MK5, popularmente chamada de “Escort europeu” ou “Escort sapão”. Era maior, mais moderno, mais confortável, e com design bastante atraente. De início, tinha versões L, GL, Ghia, XR3 e XR3 conversível em seu catálogo, com o motor AE 1600 (evolução do CHT) para a L e a GL, que podiam o AP-1800 opcionalmente. O mesmo motor 1.8 de origem VW era a única opção para a Ghia, mais luxuosa da gama. Os modelos eram alimentados por carburador, e oferecidos nas versões a gasolina e a etanol. No topo da gama, o esportivo XR3 agora contava com injeção eletrônica e motor AP-2000i, o mesmo do primo VW Gol GTi, rendendo 116 cv a 5600 rpm e 17,7 kgfm a 3200, permitindo rápidas acelerações.

Em agosto de 1993 chegava a nova geração do Verona, baseada no Escort renovado. Apesar da demora, o modelo surpreendeu com seu design baseado no Ford Orion europeu e as 4 portas da carroceria, mais adequada à seu público exigente e mais compatível com o seu porte. Era um carro completamente diferente de seu antecessor, mais competente em desempenho até mesmo se comparado ao novo Escort, graças a uma melhor aerodinâmica, e brilhava nas avaliações de consumo e nível de ruído.

Novo Verona demorou, mas veio com atrativos como o design europeu, quatro portas e conforto de sobra (Foto: Ford/divulgação)

A versão LX mantinha-se na base, agora sempre com motor 1.8. A GLX era rebaixada à intermediária, oferecida com o mesmo 1.8 carburado (2.0 injetado opcional), enquanto ficava para a Ghia o título de versão topo de linha, sempre com motor 2.0 injetado e itens mais luxuosos. Esse 2.0 era o mesmo do Escort XR3, mas tinha alterações no eixo-comando de válvulas, no sistema de alimentação e na ignição, oferecendo melhor entrega de torque e de potência. Seu sistema de injeção também tinha mais modernidade, apresentado como multipoint digital, fabricado pela Bosch como LE Jetronic.

Gama de versões era similar a do novo Escort. No topo da gama estava a Ghia (Foto: Ford/divulgação)

Um Verona Ghia rendia 116 cv a 5600 rpm e 17,7 kgfm de torque a 3200 rpm, números adequados aos seus 1128 kg, e o câmbio conciliava a agilidade do XR3 para 1ª e 2ª marchas, com uma terceira mais longa. Quarta e quinta marchas também eram as mesmas do Escort XR3, mas o diferencial era mais longo, mudando o comportamento e rotação das demais marchas se comparado ao esportivo. Também rápido para a época, o sedan acelerava de 0 a 100 km/h em 10,4s e beirava os 190 km/h de velocidade máxima. As médias de consumo com gasolina agradavam: 8,3 km/l na cidade e 13,8 km/l na estrada.

Com a mesma motorização do XR3, o Verona Ghia 2.0i era um sedan de luxo, rápido, confortável e, para a época, econômico (Foto: Ford/divulgação)

Para 1994 era lançada a versão GL, que substituía a LX. Trazia como itens de série luz de neblina traseira e apoio de braços no banco traseiro, antes não oferecidos sequer como opcionais da versão anterior. Do outro lado da moeda, a Ghia era um show à parte, com vidros/retrovisores/travas elétricas, antena elétrica retrátil, rádio digital com CD Player, rodas de liga leve aro 14 e pneus 185/60, bancos com regulagem de altura e apoio lombar, volante com regulagem de altura e distância, faróis auxiliares de neblina, ar-condicionado e freios a disco nas 4 rodas. Seu único opcional era os bancos em couro de ótima qualidade. A GLX seguia como intermediária.

Saía de cena o Verona Ghia e o Escort XR3, mas, de certa forma, no lugar dos dois veio o Verona S 2.0i (Foto: Auto&Técnica/divulgação Ford)

Em 1995, a versão Ghia era descontinuada junto com o Escort XR3, e no lugar, mesclando um pouco dos dois modelos, estreava o Verona S 2.0i. Inicialmente tratada como uma série especial, a versão usava diversos itens do XR3, só que na carroceria sedan, em uma configuração inédita. Da Ghia, mantinha o ar-condicionado, ar quente, antena elétrica, vidros elétricos nas 4 portas, travas e retrovisores elétricos, sistema de som CD com equalizador, faróis de neblina dianteiros e traseiros e freio a disco nas 4 rodas.

Na lista de itens herdados do Escort XR3, estão o motor 2.0 injetado, o para-choque dianteiro com faróis de neblina e setas inferiores diferenciadas (era mais esportivo), grade do radiador fechada, faróis com biparábolas (duplos), setas superiores mais curtas, além do volante, painel de instrumentos, manopla do câmbio e as rodas de liga-leve da linha XR3 1995. Era, literalmente, um XR3 sedan. Ou melhor, um Verona XR3.

Frente mais invocada do XR3 era de série, bem como as rodas de liga-leve, também emprestadas do esportivo (Foto: Ford/divulgação)

E é neste modelo que se encontram um dos itens talvez mais raros de toda a linha Escort/Verona: bancos Recaro próprios para o Verona, com regulagem lombar, altura e reclinação. Estes bancos se diferem daqueles utilizados no XR3 em pontos como tonalidade (mais clara no Verona), posicionamento da grafia “Recaro” (mais abaixo no Verona), além da ausência de botões laterais para rebatimento do encosto, visto que estavam equipando um carro de quatro portas. Na época, um ponto onde a versão S sofreu críticas foi na ausência de teto-solar, sequer oferecido como opcional. Aliás, o Verona S 2.0i não teve opcionais além das diferentes cores para a carroceria.

Com a chegada da linha 1996, onde foi remodelado o capô, com grade oval embutida, o Verona S 2.0i sofreu alterações. Considerada um empobrecimento, essa nova linha o fez perder itens: para-choque dianteiro, faróis de neblinas e setas inferiores diferenciadas (agora ele passava a usar a mesma frente dos Escort comuns), faróis duplos (trocado por um conjunto mais simples), grade fechada do radiador (mesma ovalada para toda a linha) e setas superiores mais curtas. Na parte traseira, os emblemas, antes plásticos com acabamento prateado, agora eram adesivos vermelhos sem relevo.

Linha 1996, reestilizada, empobreceu bastante a versão especial (Foto: Ford/divulgação)

O ar-condicionado, assim como retrovisores elétricos e vidros traseiros elétricos, eram agora opcionais. Além disto, também perdeu os chamativos bancos Recaro exclusivos e os freios a disco nas 4 rodas. Esse Verona S de 1996 passava a se equivaler ao Escort Racer, substituto “mais pobre” do XR3, e não mais ao XR3 original de 1993. Um grande baque, afinal o sedan diferenciado perdia boa parte dos seus atrativos.

Quer seja ano 1995 ou 1996, o Verona S 2.0i é um carro pra lá de raro, produzido apenas por alguns meses. Hoje, registrados, são 161 unidades 1995 e 328 unidades 1996, totalizando 489 carros em circulação. Não se sabe ao certo quantos Verona S 2.0i deixaram a fábrica da Ford, mas possivelmente menos de 1000. Os dados são do DENATRAN. Em 1997, com o término da Autolatina, a linha Escort passava por profundas alterações, ganhando novo motor Zetec Rocam 1.8 16v, a inédita (no Brasil) Escort SW, enquanto o Verona dava lugar ao Escort Sedan. Mas esta história eu conto mais para frente…

Compartilhar:
Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.