(Avaliação) Novo Q3 Black une o corpo de Audi com coração de Volkswagen. E não tem nada de ruim nisso!

O Audi Q3 foi lançado no Brasil em meados de 2012 como um inédito SUV de entrada da marca alemã. A primeira geração conseguia aliar muito bem o visual acertado, opções mecânicas interessantes, boa dirigibilidade e bastante conteúdo de série, independente da versão. Isso, sem dúvidas, justificou seu enorme sucesso por aqui, onde acumulou mais de 25 mil unidades vendidas em mais ou menos 7 anos.

Antes nacional, a segunda geração chegou ao Brasil no começo de 2020 importada da Hungria, e veio melhor em quase todos os sentidos: ficou maior (quase 10 cm no comprimento e 2,5 cm na largura), mais espaçosa (ganhou 7,7 cm no entre-eixos), mais tecnológica e equipada, além de deixar de lado obsoleta plataforma PQ35 em prol da moderna base modular MQB. Outra boa notícia: a excelente suspensão traseira independente do tipo multilink foi mantida. No final, da primeira geração sobrou só o nome e a mecânica.

Falando nela, algumas mudanças não chegaram a agradar tanto assim: a tração, que antes poderia ser a famosa integral Quattro, hoje é só dianteira, e o motor 2.0 TFSI saiu de cena nas configurações de 180 e 220 cv. No lugar dele, ficou só o 1.4 TFSI de 150 cv e 25,5 mkgf de torque, nesse caso movido somente a gasolina e aliado ao câmbio automatizado de dupla embreagem com 6 marchas. Esse motor 1.4 turbo, além de acumular elogios pela alta tecnologia e eficiência, é bem famoso dentro do grupo Volkswagen: já equipou Golf, Jetta, Tiguan, além dos atuais Polo/Virtus GTS e T-Cross Highline (nestes ele já roda também com etanol).

A partir da segunda geração, o Q3 passou a ter somente a opção do motor 1.4 TFSI (foto: Lucca Mendonça)

“Espera lá: será que comprar um Novo Q3 com mecânica de VW Polo é um bom negócio?” Sim! Pra começar, esse conjunto dá muito bem conta do recado no quesito desempenho do Q3, que pesa 1.580 kg nessa versão topo de linha Black, de R$246 mil. Claro que não pode se esperar o mesmo pique das antigas versões com motor 2.0 TFSI, mas ele é suficiente para mover o SUV alemão sem nenhum esforço: segundo dados da fabricante, a prova dos 0 a 100 km/h é feita em 9,3 segundos, a velocidade máxima é de 207 km/h, enquanto a relação peso/potência resulta em 10,5 kg/cv. Nada mal para um utilitário com proposta mais familiar do que esportiva.

Na prática, são duas notícias boas: ele anda bem e gasta pouco. O motor 1.4 TFSI tem a seu favor a maioria do torque disponível antes dos 2.500 rpm, o que deixa o carro bem esperto nas arrancadas e ultrapassagens. O câmbio de dupla embreagem ajuda bastante nisso: normalmente com relações curtas para poupar combustível, ele casa muitíssimo bem com o propulsor, e garante trocas muito rápidas e ágeis.

Além disso, o Q3 ainda oferece o Audi Drive Select, que permite escolher o modo de condução entre Off Road (que prepara o carro para o fora-de-estrada), Efficiency (economia de combustível), Comfort (focando no conforto), Dynamic (para uma condução mais esportiva) e Individual (adaptável de acordo com o gosto do motorista). Cada uma das opções altera o comportamento do motor, relações de marchas, sensibilidade do pedal do acelerador, entre outros, de acordo com a proposta de direção de cada um.

As respostas do motor no modo de economia de combustível são mais lentas, como é de se esperar, mas isso muda totalmente de figura no Dynamic, onde ele entrega toda a sua força (e, claro, acaba bebendo mais gasolina). As médias de consumo também são bem satisfatórias, conseguindo fazer até 19,0 km/l de gasolina no circuito rodoviário andando a cerca de 110 km/h. Na cidade, o computador de bordo acusou números entre 12 e 12,5 km/l, sempre com ar-condicionado ligado e rodando no modo Efficiency. O tanque de combustível, apesar de ter apenas 58 litros, acaba oferecendo boa autonomia por estar sempre abastecido com gasolina (cerca de 750 km de alcance, variando de acordo com o jeito que o carro é conduzido).

Além do desempenho elogiável e ótimas marcas de consumo, outro ponto que comprova que o motor 1.4 TFSI pode ser uma boa pedida para esse SUV é a manutenção. Por ser um propulsor comum e já estar presente no Brasil há anos (tanto nos VW quanto nos Audi), as peças são encontradas com maior facilidade, e podem acabar saindo mais em conta do que o esperado. Nas concessionárias Audi os valores das revisões não são tão animadores assim, afinal estamos falando de uma marca premium, mas, se formos pensar a longo prazo (com as manutenções feitas fora da rede autorizada), provavelmente será mais fácil de se manter um Q3 1.4 do que um 2.0.

Mudando de assunto, o Novo Q3 tem várias outras virtudes além da mecânica. No uso, ele pouco lembra um utilitário: bancos baixos, posição de dirigir mais perto do chão, além de um comportamento dinâmico digno de qualquer hatch médio (esse último graças, também, as suspensões independentes). Com rodar bastante suave e silencioso, as imperfeições da pista são bem absorvidas, e, com isolamento acústico caprichado, pouco se ouve de barulhos externos e do funcionamento do motor. O acabamento interno também é de primeira, com direito até mesmo a Alcantara no painel, laterais de porta e bancos. Tudo no bom e velho padrão Audi de qualidade.

Por dentro, a posição de dirigir é mais baixa que o comum. O acabamento é caprichado (foto: Lucca Mendonça)

Um dos principais problemas da primeira geração, o espaço interno evoluiu bastante nesse Novo Q3. No banco traseiro, onde as reclamações eram mais recorrentes pelo teto baixo com caimento acentuado, agora vão confortavelmente dois adultos altos e uma criança no meio, tendo o pênalti do túnel central bem elevado, mas com saídas de ar-condicionado e portas USB. São 2,68 m de entre-eixos, que garantem ótimo espaço também para as pernas dos ocupantes, e os portas-treco nas laterais da segunda fileira de assentos se mostraram bem úteis. Onde ele sempre se deu bem foi na capacidade do porta-malas, e nessa nova geração isso só melhorou: são bons 530 litros, que podem aumentar para 675 litros deslizando os bancos traseiros para frente (em um sistema parecido com o do VW Fox).

Como essa versão Black S-Line é a topo de linha, podemos esperar muita coisa dela quando o assunto é conteúdo e equipamentos de série: ar-condicionado digital dual zone, conjunto óptico em LED (faróis baixo e alto, setas, luzes de neblina dianteiras e traseiras e lanternas), sensores de chuva e crepuscular, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, assistente de descidas (Hill Descent Control), porta-malas com abertura e fechamento automáticos (incluindo sensor de proximidade), retrovisor interno fotocrômico, chave presencial para destravamento das portas e partida do motor, teto-solar panorâmico, painel de instrumentos digital Audi Virtual Cockpit, multimídia touchscreen de 8,8” com conexões Android Auto/Apple CarPlay e câmera de ré, bancos dianteiros com ajustes elétricos, sistema Park Assist, rodas de liga-leve diamantadas aro 19, entre outros.

Fora isso, ainda existem alguns opcionais a parte: Pack ACC Stop&Go por R$8 mil (engloba o controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão e sistema de frenagem autônoma), luzes ambientes em LED por R$3.500, além dos detalhes em Alcantara do painel e laterais de portas, que saem por salgados R$4 mil. O carro avaliado está equipado com todos esses extras, mais a bonita cor Cinza Crono metálica (R$1.700), ou seja, dos R$246 mil originais, ele acaba saindo por pouco mais de R$263 mil. Mas nem tudo é perfeito, afinal o Q3 fica devendo algumas coisinhas: monitor de ponto-cego, alerta de tráfego cruzado e carregador de celular sem fio, por exemplo, são itens comuns hoje em dia, mas não estão disponíveis nem como equipamentos opcionais. Um sistema de som assinado também cairia muito bem nessa configuração de topo.

Vale a compra?

Foto: Lucca Mendonça

Sim. O Q3 melhorou bastante nessa nova geração, em vários aspectos, e a mecânica “comum” pode trazer até alguns benefícios. De resto, estamos falando de um Audi, então não tem muito como e onde errar. Talvez dosar melhor os itens opcionais na hora da compra seja uma boa dica (lembre-se que só eles somam quase R$20 mil no preço final do carro). Agora, se dinheiro não for o problema, então pague os R$263 mil e leve pra casa um Q3 Black equipado igual ao das fotos, sem nem pensar duas vezes!

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.