Fiat Uno Mille ELX: o primeiro 1.0 nacional com ar-condicionado inteligente

O Fiat Uno foi lançado em 1984 e trazia como grande trunfo seu espaço interno e soluções criativas como cinzeiro deslizante no painel, limpador de para-brisas único e todos os comandos do painel acionado por teclas, que eliminava a necessidade de o motorista tirar as mãos do volante para comandar luzes, limpadores, pisca-alerta e por aí vai, isso sem falar no pioneirismo nacional em oferecer o computador de bordo opcional.

Dentre tantas versões, o Fiat Uno revolucionou o mercado no início de 1990 com o lançamento do Mille, e com este, foi o grande responsável pela explosão de carros populares pelas ruas nas próximas duas décadas, lê-se anos 90 e 2000. Baseado no Uno S, o Mille teve alguns itens retirados, como servo-freio, saídas de ar laterais, câmbio de 5 marchas (eram quatro), reclinador do encosto, apoios de cabeça, tampa do porta-luvas e acionamento elétrico do limpador de para-brisas.

Uno Mille foi o pioneiro dos carros 1.0, e apostava na simplicidade (Foto: Cláudio Larangeira/Quatro Rodas)

Parte disso poderia ser adicionado como opcional: acendedor de cigarros, protetor para o motor e câmbio, bancos reclináveis com apoio de cabeça, câmbio de cinco marchas, filtro de ar adicional, limpador, lavador e desembaçador do vidro traseiro, protetor do tanque de combustível e servo-freio. Seu motor era o antigo 1050 do Uno S a gasolina e 147, mas com a cilindrada reduzida a 994 cm³. Oferecia 48,8 cv de potência a 5700 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3000 rpm, suficientes para mover o carro e nada muito além.

Tinha o mesmo 1050 do antigo Uno S, mas com cilindrada reduzida (Foto: Fiat/divulgação)

Teve sua primeira versão especial, chamada de Mille Brio, em 1991, e as vendas cresciam cada vez mais. Fora que, na linha do tempo, a Fiat foi responsável por lançar tecnologias e tendências do segmento de populares, que ela reinaugurou, a exemplo da ignição eletrônica do sistema de injeção eletrônica, porém usando o carburador.

Logo chegava o Uno Mille Brio, melhor acabado e mais potente (Foto: Fiat/divulgação)

Para atender às novas exigências do Proconve vigentes, a engenharia da Fiat aproveitou o sistema de ignição eletrônica do Uno 1.5 i.e, que usava sensores eletromagnéticos com sensor de detonação, uma espécie de ignição estática, e que por sua vez eliminava a necessidade de distribuidor, mantendo o bom e barato carburador.

Mille Electronic tinha ignição eletrônica, mas mantinha o carburador (Foto: Fiat/divulgação)

Na prática essas alterações eliminavam a necessidade do uso do catalisador, permitia partidas mais fáceis, além de alguns cavalos a mais no motor, que saltava para 56,1 cv a 6000 rpm e 8,0 kgfm de torque a 3250 rpm. Além desta evolução mecânica, no mesmo ano o agora Mille (sem “Uno” em seu nome) trazia opcionalmente as 4 portas e ar-condicionado, sendo o primeiro veículo popular dos anos 90 a oferecer estas comodidades.

Logo vieram as quatro portas como opcional, inclusive para o Mille Electronic (Foto: FIat/divulgação)

De olho nos lançamentos da concorrência como GM Corsa (este fez muito barulho), novo VW Gol “bolinha” (e no começo de 1995 o VW Gol 1000i), além dos então importados Ford Fiesta, Renault Twingo, Peugeot 106 entre outros menos famosos, a Fiat inovou mais uma vez em março de 1994 ao apresentar àquele que seria, de uma maneira forçada, o primeiro popular de luxo: o Mille ELX, sigla para Electronic Luxe Extra.

Era um carro pequeno para andar na cidade, mas com conforto. Trazia nova frente (igual a das demais versões da linha Uno), novo painel, volante de 4 raios espumado e um acabamento bem mais caprichado. Como itens de série, tinha pneus 165/70R13, rodas de ferro com calotas integrais, vidros verdes, termômetro do motor, câmbio de 5 velocidades, retrovisores externos com comando interno manual, limpador e desembaçador traseiro, além de vidros traseiros basculantes – exclusivo para a versão de 2 portas.

Como opcionais, 4 portas, vidros dianteiros elétricos, travas elétricas, relógio digital, ar quente e o ar-condicionado. Apesar de caro, na época, para um popular (completo beirava os 7 milhões de Cruzeiros Reais), oferecia bom nível de custo X benefício frente aos rivais.

Este equipamento era mais moderno, e foi chamado pela marca de “inteligente”. Quando se exigia força extra do motor, o compressor se desligava automaticamente, poupando energia e mantendo a performance dos 56,1 cv. Na prática, com o equipamento desligado, o ELX conseguia acelerar de 0 a 100 km/h em 18,19s, e com o ar-condicionado ligado, em 18,93s, diferença irrisória. A velocidade máxima era a mesma em ambas as situações, de 148,5 km/h, já que em regime de potência máxima, o ar-condicionado tinha seu compressor suspenso.

Silencioso, apresentava média de 70 decibéis durante o uso comum, mas cobrava caro no consumo quando se utilizava o ar-condicionado. Com gasolina, fazia média de 8,68 km/l na cidade (subindo para 11,21 km/l com o equipamento desligado). Na estrada, o pequeno completo rendia excelentes 17,44 km/l. Os números melhoraram ainda mais quando depois foi apresentada a versão EP, representante da linha 1996 e sucessor do ELX, dotado de injeção eletrônica monoponto.

Apesar do sucesso de mercado na época, é difícil precisar a quantidade de unidades fabricadas do ELX, e, da mesma forma, pelo seu cadastro majoritário como “Mille Electronic”, o número de carros ainda em circulação é um tanto incerto. Abaixo, seu comercial de lançamento, veiculado no início de 1994, trazendo um “break” bem criativo e chiclete, daqueles que grudam na sua cabeça: “Vem com tudo, o que você sempre quis, é o Mille ELX!”.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.