(Avaliação) Jeep Compass Trailhawk turbodiesel: entre a vanguarda e o retrocesso

“Alguém ainda compra Compass a diesel?” foi, talvez, a pergunta que mais ouvi durante a semana de testes com o Jeep Compass Trailhawk, a versão mais aventureira do SUV médio pernambucano. Nem é por desmerecimento, nem ignorância, mas realmente pouca gente chega em uma concessionária da marca e escolhe um Compass com motor 2.0 16v Multijet movido a diesel debaixo do capô pra levar pra casa, quer seja pelo preço mais alto, manutenção mais custosa, diesel caro nos postos ou pelo simples fato que uma versão 1.3 turboflex já dá conta do recado na vida da maioria dos consumidores. Então, a pergunta tem fundamento.

E isso sem falar que as grandes locadoras de veículos, “clientes vip” da Jeep, que adquirem carros aos montes, não costumam colocar Compass turbodiesel em suas frotas. Essa Trailhawk (R$263 mil), a Limited TD350 (também R$263 mil) e a Longitude TD350 (R$242 mil), são versões que você não deve encontrar com frequência nos pátios da Localiza, Unidas, Movida e afins. E talvez nem tanto nas garagens particulares por aí. Por outro lado, quem quiser um SUV de cinco lugares a diesel que não seja de marca premium, só tem esses Compass como opção: pra eles não existe concorrência direta.

Mas e o carro? O Compass não tem muito o que provar no mercado brasileiro, onde já vendeu mais de 400 mil carros desde 2016. Em 2021, depois de um tapa no visual, recebeu novo motor flex, mas esse 2.0 16v turbodiesel continua o mesmo. É um propulsor moderno, que ainda atende, inclusive, as rígidas normas de emissão de poluentes na Europa. Aliás, ele vem importado da Itália, na mesma configuração que move a picape Toro: são 170 cv de potência e 350 N.m. de torque (35,7 mkgf), casados com a transmissão automática alemã de 9 marchas. Com força e robustez de sobra, é um conjunto que não deve nada a ninguém, nem ao motorista na hora de pisar fundo.

Como o motor turbodiesel tem força desde cedo, ao redor dos 1.800 rpm, o Compass desperta logo e segue com fôlego de sobra até próximo dos 4 mil giros. A caixa AT9 evita esticar as marchas, aproveitando muito bem o torque prematuro, só que normalmente ela só trabalha com as oito primeiras marchas, já que a 9ª entra apenas acima de 110 ou 115 km/h, como uma sobremarcha para amenizar ruídos e reduzir consumo. E, com a menor necessidade de ganhar velocidade, a 8ª já entra em cena, ainda mantendo o Multijet em baixas rotações. Sem erro.

Compass é hoje um dos carros mais leves que o motor Multijet move. Um belo conjunto, somado ainda a transmissão ZF 9HP (Foto; Lucca Mendonça)

Desempenho não é forte de motores turbodiesel, geralmente focados na força pra encarar um fora-de-estrada e afins, por isso esses Compass TD350 não são os mais rápidos da linha. Mas quem precisa de um super desempenho em um SUV 4×4? Pois é, ainda mais aproveitando o pé leve no acelerador para garantir as maiores médias de consumo. Em 473 km rodados, metade na cidade e metade na estrada, ele encerrou o teste com cerca 11,5 km/l, mas numa viajem tranquila em rodovias boas, dá pra passar dos 17 km/l sem problemas. Na cidade o papo é outro: alto peso e pneus ATR são vilões do consumo.

Porém, graças aos 60 litros do tanque de combustível, é possível viajar por mais de 800 km sem reabastecer, o que ressalta uma enorme vantagem dos Compass TD350 frente aos modelos flex T270, que, além do tanque menor, passam longe do título de “econômicos”. Sem contar que, com a tração 4×4 temporária (normalmente ele é um 4×2 dianteiro, com modo de tração nas quatro rodas, reduzida e bloqueio do diferencial no modo “4×4 Lock”), além do seletor de tipos de terreno (prepara o carro para andar nas pedras, areia, lama ou neve), esses Jeep turbodiesel conseguem enfrentar muitas e boas aventuras pelo caminho, normalmente sem reclamar.

Além de poder rodar mais de 800 km com um tanque, os Compass TD350 tem 4×4 com reduzida. diferencial blocante e seletor de tipos de terreno (Foto; Lucca Mendonça)

Pra colocar no off-road mesmo, essa Trailhawk é a melhor pedida, já que conta com pneus de perfil mais alto e concebidos para pisos ruins (Pirelli Scorpion todo-terreno), além dos parachoques mais angulados (atravessam obstáculos com mais facilidade), suspensão erguida em 2 cm (parece pouco, mas faz muita diferença) e uma maior proteção na parte inferior do carro (cárter, transmissão, diferencial e afins). Como curiosidade, esses adesivos tão chamativos que a versão traz no capô não são só perfumaria: servem como proteção adicional da lata contra riscos, e reduzem o reflexo de luzes indesejadas, que podem atrapalhar quem dirige.

Não é nenhum Wrangler, que “sobe até paredes”, porém é o Jeep nacional mais capaz no fora-de-estrada atualmente. No on-road, digamos assim, estilo de uso de quem não pretende sair do asfalto, o Compass consegue ser um SUV confortável pra passear, mostrando boa dose de silêncio a bordo (coisa que pode ser problema em um turbodiesel 4×4, mas não aqui), comportamento neutro e elogiável ao volante (virtudes do Compass desde sempre, bem como a ergonomia), espaço interno agradável para cinco ocupantes (embora o Compass já seja pequeno se comparado com alguns rivais), um porta-malas interessante, sem contar as mordomias, luxos e segurança para todos. Um excelente veículo multiuso.

Só que, ao mesmo tempo que acumula várias qualidades em uma proposta que serve pra se aventurar no final de semana ou passear na cidade com a criançada, os Compass TD350 são um ponto fora da curva, por exemplo, do ponto de vista ecológico. Prova maior é que, cada vez mais, as fabricantes tem deixado de lado a motorização do ciclo diesel pra apostar em propulsores poderosos a gasolina, ou já pulam para a eletrificação com tecnologia híbrida (a exemplo do 4xe). Além do trabalho em refinar o óleo diesel de uma forma completamente limpa, os motores desse ciclo são mais poluentes que os Otto a gasolina ou flex, por exemplo.

E isso sem contar o maior custo de manutenção dos turbodiesel, preço do combustível diesel nas alturas, valor mais alto dos TD350 (no Compass Limited, por exemplo, a diferença entre a versão turbodiesel e a turboflex é de R$45 mil), obrigatoriedades como o uso do reagente ARLA 32, e por aí vai. Retrocessos, se formos colocar as duas motorizações na balança. A Jeep vende esses TD350 só pra quem realmente precisa do 4×4, ou faz questão de ter um modelo a diesel. Bem diferente dos T270 turboflex, que são a escolha da maioria.

Mas também há a parte mais vanguardista nessa história: o Compass foi um dos primeiros SUVs monobloco com motor turbodiesel fabricados no Brasil, seu 2.0 Multijet italiano ainda desponta como um dos mais eficientes dentro do seu “mundo”, a transmissão ZF de 9 velocidades continua sendo tecnologia de ponta (suporta bastante torque, permite vários estilos de dirigibilidade etc.), tudo isso em um modelo com suspensões independentes, eixo traseiro multibraço (melhora dinâmica e conforto), bastante tecnologia embarcada e projeto ainda atual, fazendo dos Compass TD350 ótimos em suas propostas. Só precisa achar quem os queira, e os compre.

Ficha técnica:

Concepção de motor: 1.956 cm³, diesel, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), turbo intercooler, injeção direta de combustível (Common Rail), duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: automática de 9 velocidades, com opção de trocas manuais pela alavanca e paddle-shifts
Potência: 170 cv a 3.750 rpm
Torque: 35,7 mkgf a 1.750 rpm
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: indepentente, multibraço, com barra estabilizadora
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Pirelli Scorpion ATR, medidas 225/60 e rodas de liga-leve aro 17
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,40 m/1,82 m/1,65 m/2,64 m
Porta-malas: 432 litros
Tanque de combustível: 60 litros
Peso em ordem de marcha: 1.790 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 10,7 segundos
Velocidade máxima: 194 km/h
Preço básico: R$262.990 (carro avaliado: R$262.990)

Itens de série:

Adesivo no capô, Pacote Adventure Intelligence, Alavanca do cambio com revestimento em couro, Banco elétrico para motorista (6 posições), Estepe full size, Painel de instrumentos Full Digital e HD de 10,25″, Protetor de transmissão, Partida Remota, Rodas de 17 polegadas com pneus de uso misto, Seletor de tipos de terrenos (Selec-Terrain), Sete airbags (Frontais, laterais, de cortina e para os joelhos do motorista), Suspensão off-road, Teto pintado em preto, Wireless Charger (Carregador do Celular por Indução), freios ABS, Acendimento automático dos faróis, Ajuste do volante em altura e profundidade, Alarme, Alertas de limite de velocidade e manutenção programada, Aletas para trocas de marcha no volante (Borboletas), Apple Carplay e Android Auto com espelhamento sem fio, Ar Condicionado automático digital dual zone, Banco do passageiro com encosto rebatível, Banco traseiro bipartido 60/40 e rebatível, Bancos em couro, Câmera de estacionamento traseira, Central multimídia de 10,1″, Chave de presença com telecomando para abertura de portas e vidros – Keyless Enter ‘n Go, Controle de Estabilidade (ESC), Controle de Tração, Controle eletrônico anticapotamento, Direção elétrica, Faróis Full LED com assinatura em LED, Freio de estacionamento eletrônico, Freios a disco nas 4 rodas, HDC (Hill Descent Control), HSA (Hill Start Assist), Isofix, Lanternas com assinatura em LED, Limitador de velocidade, Piloto automático, Protetor de cárter, Protetor de Tanque de Combustível, Rack do teto na cor preta, Retrovisor interno eletrocrômico, Retrovisores externos elétricos, Sensor de chuva, Sensor de estacionamento traseiro, Sistema Auto Hold, Sistema de áudio com 6 alto falantes, Sistema de monitoramento de pressão dos pneus, Sistema de navegação GPS, Proteção do assoalho em borracha, Tração 4×4 Jeep Active Drive Low, Travas elétricas nas portas e porta malas, USB tipo A+C no console traseiro, USB Tipo C, Vidros elétricos nas 4 portas com modo one touch, Volante com acabamento em couro

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.