(Avaliação) BYD Tan EV tem tudo para incomodar os tradicionais, e merece

Muita gente não conhece a BYD, e fique tranquilo que ela ainda tem muito a crescer e aparecer no Brasil. Vamos lá: a fabricante é uma das maiores da China e, sim, já está por aqui há alguns anos com seus furgões, além de chassis de ônibus, caminhões elétricos e, mais recentemente, carros de passeio. Placas fotovoltaicas também fazem parte do catálogo da empresa. Tivemos a oportunidade de passar uns dias com o SUV Tan EV, que surpreendeu pelos R$530 mil que custa.

Tan é, na verdade, o Tang. O nome mudou por razões óbvias no Brasil… (Foto: Lucca Mendonça)

O Tan, na verdade, é o Tang, e em outros países tem versões a combustão e híbridas. Em nosso mercado são sempre elétricos, e com nome mudado por questões óbvias que envolvem a marca de suco em pó. Cá entre nós, Tan caiu até melhor na fonética brasileira, e dá um quê a mais de estilo para o enorme carro de sete lugares que tem tamanho de Volvo XC90 e Audi Q7. Esses, inclusive, são seus rivais tradicionais que custam bem mais caro. Sem contar que não são elétricos.

Um SUV de sete lugares, totalmente elétrico e com esse porte, que promete rivalizar com os tradicionais (Foto: Lucca Mendonça)

Desse porte e com um design que mescla agressividade com estilo em uma fórmula interessante, ele se mostrou bem discreto pelas ruas, o que se deve provavelmente à carroceria preta com insulfilme nos vidros e rodas aro 22 escurecidas do carro avaliado. Mas quase nunca passou despercebido. As tais rodas, inclusive, são enormes, de aro 22, e com um excelente sistema de pinças de freio da Brembo nas dianteiras. Param as quase duas toneladas e meia do Tan com muita competência.

Freios dianteiros by Brembo. E nem é por luxo, mas sim segurança (Foto: Lucca Mendonça)

Tamanho vs. desempenho

E os freios de grife nem são luxo, afinal ele precisa parar com segurança, tamanha força de aceleração. Com tração integral graças a dois motores elétricos, um dianteiro e outro traseiro, que trabalham juntos para gerar nada menos que 517 cv de potência e nada modestos 69,3 mkgf de torque máximo imediato, a engenharia da BYD se atentou em uma boa divisão de força e peso entre frente e traseira, o que faz toda a diferença na condução.

Nem preciso falar do quanto anda, deixo apenas o 0 a 100 km/h em 4,6 segundos oficiais, que já dizem tudo. São menos de 5 kg para cada cv do conjunto elétrico. Em outras palavras, é quase tão rápido quanto um Ford Mustang V8, e se comporta incrivelmente bem graças não só a base mecânica refinada, com tração integral, mas também pelo centro de gravidade reduzido. As baterias Blade de 86,4 kWh estão no assoalho, como de costume.

Dois motores elétricos para ter tração nas quatro rodas (Foto: Lucca Mendonça)

Na prática, você só nota que está em um SUV de quase 4,9 m de comprimento nos movimentos mais bruscos do volante, ou então nas curvas mais fechadas. De resto, tem comportamento próximo ao de um hatch baixo. Inclusive para frear.

Lado bom do exagero

Os opostos fazem a vida desse BYD. Prova disso é o contraste da carroceria, limpa e discreta, e cabine, que beira o exagero de cores, formatos, materiais e linhas. Um exagero bom: não existe espaço para críticas quanto ao nível do acabamento ou montagem, por exemplo. O que já foi Calcanhar de Aquiles nos carros chineses, hoje é virtude do Tan, tamanho esmero em unir o black piano, camurça, couro marrom e preto, além de cromados e LEDs em um único ambiente. Tudo para provar a excelência em luxo e requinte. Conseguiram.

Isso porque nem entrei no mérito das tecnologias, como a multimídia de 15,6” que rotaciona, comandando parte do carro. Funções ali é o que não faltam, tanto que não consegui usar todas durante a semana de teste com o carro. Por enquanto ela está inteira em inglês, mas a BYD promete atualizações em breve para o nosso idioma. O mesmo vale para o painel de instrumentos digital, igualmente vistoso e rico, que deixa até o motorista regular o ar-condicionado pelo volante.

Na conta de luxos entram ainda o sistema de som Dirac, o gigante teto-solar panorâmico, câmera 360º, câmera interna e externa para condução, alguns apps integrados como Waze, purificador inteligente da cabine, bancos dianteiros elétricos e com aquecimento/ventilação reguláveis, volante regulável eletricamente (isso é raríssimo hoje em dia), pacote de assistentes de condução completo e muito mais. Tem tudo pelo preço que custa? Tirando um detalhe ou outro, o Tan EV ainda tem a receita chinesa de “menos preço por mais conteúdo”.

Bancos só não tem massageador. Teto-solar panorâmico é de série (Foto: Lucca Mendonça)

O lado bom do exagero também vem com o conforto e espaço interno. Se ele promete carregar sete passageiros, cumpre. Única falha é não ter um acesso descomplicado para os dois últimos bancos, mas os cinco demais tem tudo do bom e melhor, seja no requinte, espaço, comodidade e conforto. Falando nisso, suspensões com bons ajustes para a maciez também caem bem, mesmo com os pneus de perfil baixo que não são os mestres da absorção.

Curioso o “desperdício” do porta-malas dianteiro, no lugar onde ficaria um motor a combustão: ali é inteiramente fechado, diferente do que acontece nos Volvo, por exemplo. Os colossais 940 litros do traseiro são de ótimo tamanho para a proposta do carro (quando está carregando cinco pessoas, claro), mas espaço nunca é demais, ainda mais quando todos os sete assentos estão erguidos. Uma coisa é certa: se não tem o bagageiro frontal, existe um motivo para isso.

Alcance, condução e afins

Que ele anda como esportivo, tem capacidade de frenagem enorme, além de muito luxo, tecnologia e espaço interno, isso já é fácil perceber. No entanto, o principal de um carro elétrico, pelo menos nos dias atuais, onde a energia para recarga não brota do chão, é o quanto rende uma carga de suas baterias. Melhor dizendo, qual o consumo do Tan EV. Prometido pela BYD, ele consegue 437 km de alcance misto entre cidade e estrada. Leia-se uma média de 5,05 km/kWh.

Média mista durante nossos testes foi de 4,4 km/kWh (Foto: Lucca Mendonça)

Mas a prática é diferente da teoria em algumas dezenas de quilômetros: conseguimos 4,4 km/kWh em percursos mais urbanos que rodoviários, o que, na conta direta, resulta em cerca de 380 km de alcance total. Ar-condicionado ligado o tempo todo e modo ECO com regeneração máxima em frenagens fizeram os contrapontos de consumo. Fica longe dos números oficiais, mas é satisfatório pensando em um SUV gigante de sete lugares com tantos equipamentos.

Nada mau para seu tamanho, peso e luxo (Foto: Lucca Mendonça)

O acerto geral do carro é elogiável, e nem era esperado nada abaixo disso. A BYD já tem bastante know-how no assunto e, caso tenham dificuldade em algum ponto, adquirem conhecimento das grandes empresas automotivas. Conhecimento ou pessoas especializadas no assunto…

Know-how da BYD não é pequeno, apesar de pouco conhecida no Brasil (Foto: Lucca Mendonça)

Ainda assim as críticas não são esquecidas, e mostram que nem tudo está perfeito como parece. O Tan EV, por ser elétrico, não tem muitos sons para camuflar os ruídos externos, por isso requer melhor isolamento da cabine contra a barulheira. É um ponto a ser melhorado, já que as mantas acústicas atuais não dão muito conta do recado. Outro é mais sério: geometria de suspensão, que merecia uma revisão.

Isolamento acústico e geometria de suspensão merecem atenção. No geral, são as principais falhas do Tan EV notadas durante nossos testes (Foto: Lucca Mendonça)

A coisa é mecânica mesmo, tanto que a direção elétrica é bem calibrada. Explico: Qualquer ondulação ou imperfeição da pista vai para o volante, com pouquíssima absorção, o que requer atenção do motorista, principalmente nas acelerações. Um pequeno desnível do asfalto faz o volante mexer e carro sair completamente da trajetória. O mesmo vale para alguns buracos, ou passar por cima de tartarugas da estrada.

Pequenos pontos falhos em um grande carro. Ninguém é perfeito, nem mesmo esse chinês enorme e que custa R$530 mil. Para o único SUV de sete lugares totalmente elétrico do Brasil e prometido incômodo da tríade alemã (além da marca sueca), o Tan EV conta não só com a fórmula para o sucesso como já vai bem nas vendas. E a BYD brasileira, enquanto isso, crescendo. Tem tudo para roubar clientes dos SUVs tradicionais, e merece!

Recarga fácil, e wallbox já vem incluso nesse preço (Foto: Lucca Mendonça)

ps: por esse preço, a fabricante já entrega e instala um Wallbox, carregador residencial, gratuitamente. Isso só vale se o carro for comprado na rede de concessionárias BYD.

Ficha técnica:

Concepção de motor: elétrico, duplo (dianteiro e traseiro), com refrigeração líquida das baterias e propulsor, conjunto de baterias de fosfato-ferro-lítio instalado no assoalho, capacidade de energia de 86,4 kWh
Carregamento: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de 90 min. a 15h, dependendo da força) ou Wallbox (cerca de 12h). Regeneração de energia durante condução.
Potência: 517 cv
Torque: 69,3 mkgf
Suspensão dianteira: independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: independente, multibraço, com barra estabilizadora
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados nas quatro rodas
Pneus e rodas: Continental ContiSportContact+, medidas 265/40 com rodas de liga-leve aro 22
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,87 m/1,95 m/1,72 m/2,82 m
Porta-malas: 940 litros (5 lugares) ou 235 litros (7 lugares)
Alcance: 472 km (cidade), 395 km (estrada) e 437 km (misto)
Peso em ordem de marcha: 2.479 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 4,6 segundos
Velocidade máxima: 186 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$529.980 (Wallbox incluso)

Itens de série:

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.