Dia 11 de outubro, no BNDES, houve um evento “Caminhos Para uma Transição energética Justa” (assista abaixo), que está disponível na Internet. Nesse evento, comparou-se os US$455 bilhões destinados pelo orçamento brasileiro com US$4 trilhões que Europa e Estados Unidos reservaram para a transição energética. Não se trata de uma corrida por alterações significativas na matriz energética porque ela não acontecerá do dia para a noite como gostariam os mais ávidos pela descarbonização do planeta.

A transição tem o seu ritmo e, mesmo que inexorável, ele é independente da vontade humana. A transição depende de investimentos que, por mais que se invista, têm seu prazo de maturação.
O que se discute, aqui e no resto do mundo, é a tecnologia que será preponderante para o próximo ciclo de desenvolvimento da humanidade. Fica claro que, independentemente dos rumos que a tecnologia tome, o petróleo continuará tendo uma importância vital, bastando ver os saltos de preço que ele dá perante o mero anúncio de que a Opep pretende limitar a produção. Tudo leva a crer que o pico de exploração de petróleo ainda não se tenha alcançado, que deve ocorrer na década de 2030, atingindo os 110 brl/dia, contra os 105 brl/dia atuais, quando começará a declinar para uma exploração estimada em 57 brl/dia para os anos 2050.

Ocorre que a transição energética depende de novos materiais, ou pelo menos do aumento considerável, quando não explosivo, da mineração de outros já em uso pela indústria em geral. Um exemplo disso é o lítio que foi alvo da entrevista com Luciana Costa – Diretora de Infraestrutura, Transição Energética e Mudança Climática do BNDES, e Elaine Santos, Socióloga e pesquisador acerca de energia, de que este autor tomou parte como entrevistador.

A luta pelo domínio das jazidas já conhecidas levou a ações como o golpe que derrubou Evo Morales na Bolívia, que faz parte, juntamente com Chile e Argentina, do Triângulo do Lítio. Ali se encontram 68% das reservas conhecidas, o que se pode transformar em um quadrilátero, considerando-se a jazida do Vale do Jequitinhonha, já em exploração por uma empresa australiana.
O que não se ventilou, tanto no evento do Rio de Janeiro como na entrevista pela Internet, é o fato de que, por mais que a elevação do preço do lítio enseje a descoberta de outras jazidas, ou mesmo viabilize a exploração de outras minas não viáveis ao preço atual, o lítio jamais será abundante o suficiente para sustentar a produção de baterias no rimo de uma indústria pujante como a do transporte.

Por mais que os veículos de passeio sejam os primeiros a vir à baila nas discussões sobre eletrificação veicular, não se pode deixar de considerar os caminhões, os trens, os aviões e mesmo os navios. Ocorre que essa indústria especificamente não quer a dependência de um produto tão escasso como o lítio, buscando outros compostos, como o fosfato de ferro empregado pela BYD, maior fabricante mundial, seja de baterias, seja de automóveis elétricos.

Outra questão largamente ventilada tem sido o hidrogênio verde como combustível não carbônico, que pode prolongar indefinidamente o uso da tecnologia atual de motores à combustão. Ocorre que sua produção depende de energia elétrica em abundância, obrigando investimentos incalculáveis em parques eólicos e fotovoltaicos, sejam terrestres, sejam flutuantes.
Mesmo que com as condições únicas que se encontram no Nordeste para a geração elétrica baseada no sol e no vento, ela continua sendo intermitente, demandando emprego até explosivo de baterias estacionárias, que se imagina ter no lítio a melhor opção tecnológica. Essa premissa deixa seríssimas dúvidas sobre ser ou não equivocada, visto que a grande vantagem do lítio é a densidade energética, ou seja, seu baixo peso face ao armazenamento em kWh. Ora, sendo estacionárias, deve ser mais importante a velocidade de carga e o custo de manutenção, bem como o baixo nível de autodescarga, no que as tradicionais baterias chumbo-ácidas ainda são imbatíveis. É que nesse caso, o peso pouco importa.

Tudo leva a crer que haverá um revigoramento da mineração, visto que não é somente o lítio, mas o níquel, o cobalto entre outros metais e não metais. A mineração como atividade é agressiva por um lado, estratégica por outro. Contar com abundância dos elementos do futuro há de ser uma vantagem comparativa, enquanto o domínio de sua cadeia é a vantagem competitiva. Isso implica em que a transição não é somente energética. Ela é, sobretudo industrial e sairá na frente o país que domine as novas tecnologias no que lhe for possível, ao mesmo tempo em que seja capaz de atrair o capital naquilo cujo domínio não se tenha alcançado.
Tão importante quanto a discussão que se vem travando, é introdução da ideia de servicificação, que induz a migração da sociedade do ter para a sociedade do usar e, no fundo, é a racionalização do consumo que vai salvar o planeta, e consequentemente, a humanidade.