(Avaliação) Chevrolet Bolt EUV: tudo que é bom dura pouco?

O Bolt EUV é um daqueles carros que nos faz pensar: por que é que não foi lançado antes no nosso mercado? Literalmente, quando estreou no Brasil, ele já estava em vias de sair de linha nos EUA, sua terra natal, por isso tinha prazo de validade: vieram só 200 unidades importadas de Detroit, divididas em diferentes lotes pequenos, e nada além. Seu irmão hatch, o Bolt EV, teve a sorte de durar mais, e inclusive foi um dos primeiros modelos 100% elétricos a venda por aqui. Até por isso, obteve maior sucesso. Mas, como um bom carro não precisa ser o suprassumo da novidade, esse SUV Chevrolet eletrificado tem muito a oferecer.  

Por R$280 mil nessa versão única sem opcionais Premier, ele não é considerado barato nem tem o menor preço do segmento, porém se coloca em pé-de-guerra, por exemplo, com o Renault Megane E-Tech. Outro rival, o Peugeot e-2008, custa menos. Com relação ao seu irmão Bolt EV, com pegada de hatch altinho semelhante à de um Honda Fit, temos uma carroceria maior e mais espaçosa no EUV (sigla para “Electric Utility Vehicle”), junto de uma altura do solo ligeiramente superior (não mais que 1,5 cm extras) e pegada mais parecida com a de um SUV, sem lembrar hatches. 

Espaçoso para a família 

E é nítido o quanto isso lhe faz bem, especialmente com essa pegada de “elétrico familiar tradicional” dos dois Bolt, EV e EUV. Alta e arejada pelo teto claro com vidro panorâmico, a cabine do Chevrolet elétrico é daquelas que cumpre o que promete na acomodação de cinco ocupantes mais bagagens. Mesmo quem tem mais de 1,85 m de altura se instala no banco traseiro com sobra de espaço para os joelhos e fica longe de encostar a cabeça no teto, por exemplo. Méritos do grande entre-eixos e disposição inteligente da cabine, priorizando o bem-estar dos passageiros. 

Também esqueça problemas para entrar e sair do EUV, já que as portas são grandes e o assoalho fica na altura das caixas de ar (eliminando o “degrau”). É fácil até passar do banco de trás para os dianteiros: o console central é largo, acompanhando o espaço entre os encostos dianteiros, e, por ser elétrico, o Bolt não tem aquele túnel central elevado. É tudo plano, fácil, visível e bem iluminado. Show de bola, tirando o acabamento interno que merecia mais capricho na montagem das peças, e um porta-malas mais vertical do que horizontal, menor que o do hatch EV. 

Força progressiva e condução esperta 

Definitivamente, não se trata de um carro esportivo, e até a entrega dos 36,5 mkgf de torque, vindos do motor elétrico dianteiro de pouco mais de 200 cv de potência, é mais progressiva e suave, um ponto fora da curva no mundo dos “coices” e superacelerações de modelos 100% elétricos. Lerdeza? Nenhuma: é de série o modo Sport de condução, que torna o acelerador mais sensível e deixa o Bolt EUV mais divertido de guiar, com respostas mais imediatas e por aí vai (ele consegue acelerar de 0 a 100 km/h tão rápido quanto um Fiat Pulse Abarth ou VW Polo GTS). No final, a proposta se torna interessante: ser progressivo e suave no cotidiano, com força de sobra e melhor performance se precisar.  

E, falando em performance, como todo bom elétrico que se preze, com baixo centro de gravidade e pesadas baterias assentadas no assoalho (no caso dele, 430 kg!), o SUV elétrico da Chevrolet se comporta de maneira exemplar na hora de contornar curvas com segurança, sem tendências ao descontrole nem inclinando a carroceria em excesso. Já deixa claro um compromisso firmado entre o comportamento dinâmico e conforto, já que, apesar da altura ainda bastante limitada com relação ao solo, ele se mostrou competente na hora de absorver a buraqueira urbana diária e desníveis em maiores velocidades, como degraus no asfalto de rodovias. Aliás, nem mesmo na sua velocidade máxima, 154 km/h, o EUV se mostrou instável ou “passarinhou” na pista. 

Todo esse controle é garantido ainda pela direção multiplicada (e macia, como as de um típico carro feito para os EUA), e freios a disco eficientes (com acionamento igualmente suave, pelo mesmo motivo da direção). Sem contar que, tirando o enorme ponto-cego por culpa do retrovisor esquerdo plano (limita o campo de visão), a ergonomia do motorista não abre espaço para críticas: ele vai acomodado pelo banco confortável de abas suficientes, numa posição altinha para fazer valer seu lado “Utility”, com volante regulável em altura e profundidade, e comandos à mão. Aliás, basta uma olhada no interior do Bolt para perceber que a razão e a funcionalidade foram palavras de ordem na sua criação. 

Conteúdo do hatch 

Interessante notar também que, além das semelhanças no design externo e compartilhamento de um mesmo interior, o Bolt hatch e esse EUV fazem valer dos mesmos itens de série, também. Não há nada revolucionário ou especial, mas vários itens interessantes para seu público e proposta, principalmente quando o assunto é segurança, conforto e comodidades. De fato, tudo gira em torno daquela proposta prática e familiar, sem inventar moda nem ousar. A lista completa dos equipamentos você confere mais abaixo. 

Consumo e alcance  

Baterias grandes, motor de entrega progressiva e coeficiente de arrasto (Cx) baixo são fatores importantes para um elétrico conseguir bons números de alcance e consumo médio de energia. Como o Bolt EUV gabarita nesses três pontos, é fácil dele atingir um alto nível de eficiência energética. Não tanto quanto seu irmão hatch EV, que pesa menos, mas o EUV ainda é bastante econômico: a Chevrolet fala em 466 km de alcance máximo (ciclo WLTP), número que pode ser facilmente alcançado no uso urbano se a velocidade e as acelerações forem moderadas.  

É de grande valia também o uso da regeneração de energia em frenagens e o modo One Pedal, que permite a condução do carro apenas com o pedal do acelerador (modo máximo de reaproveitamento de força). Dicas importantes para fazer render a generosa capacidade de 66 kWh das suas baterias LG, que contrapõe o ótimo alcance com o maior tempo para recarga: para recuperar 100% das energias, são até 40 horas plugado em tomadas residenciais de 220V, utilizando a alimentação pelo carregador portátil de série. Em wallbox e eletropostos, claro, a espera é bem menor, podendo levar menos de 2 horas.  

Durante 450 km de testes, no trânsito carregado foi possível chegar à marca de 12 kWh a cada 100 km (550 km de alcance nesse ritmo), enquanto no uso urbano mais “normal”, o computador de bordo do EUV registrou até 14,0 kWh a cada 100 km (cerca de 470 km de autonomia em tais condições). Na estrada, mantendo velocidade média de 120 km/h, foram em torno de 17,5 kWh a cada 100 km (380 km de alcance), número que ficou abaixo de 16,5 kWh se a viagem fosse feita a 100 km/h (410 km). Pena não existir mais de uma medição simultânea de consumo e distância no seu painel de instrumentos digital de 8”. 

Bom…e raro 

 

Ainda existem alguns Bolt EUV 0 km à venda por aí, todos daquele time de 200 carros prometidos no lançamento. Merecia muito mais atenção, e consequentemente outras unidades importadas, mas não há por onde, já que ele e seu irmão hatch EV saíram de linha nos EUA em dezembro. Enquanto não chegamos ao futuro, quando esse primeiro SUV elétrico da Chevrolet brasileira será uma raridade daquelas e a marca já estará surfando de verdade na onda dos carros elétricos (chegarão projetos inéditos, e bem mais novos, ainda nesse ano), podemos falar do presente: tudo que é bom, dura pouco, inclusive o tal do Bolt EUV. 

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Ficha técnica:

Concepção de motor: elétrico, dianteiro, refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de íon-lítio instaladas no assoalho, capacidade de energia de 66 kWh
Carregamento: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de 1h45 min a 11h00min, dependendo da força), wallbox (cerca de 11h00 min) e tomadas 220V (cerca de 40 horas). Regeneração de energia durante condução e modo One Pedal
Potência: 203 cv
Torque: 36,7 mkgf
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Michelin Primacy 3, medidas 215/50 e rodas de liga-leve aro 17
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,31 m/1,77 m/1,62 m/2,67 m
Porta-malas: 462 litros
Alcance: 456 km (ciclo WLTP) ou 377 km (ciclo PBEV)
Peso em ordem de marcha: 1.711 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 7,7 segundos
Velocidade máxima: 154 km/h
Preço básico: R$279.990

Itens de série:

Acendimento automático dos faróis através de sensor crepuscular, 10 Airbags (frontais, de joelho, laterais 1ª fileira, 2ª fileira e de cortina), Alarme antifurto com função de pânico remoto, Alerta de Pressão dos Pneus, Faróis/lanternas e luz de posição em LED, Sensor de estacionamento traseiro, Alerta de colisão com detecção de pedestre frontal e auxílio de frenagem, Alerta de Tráfego cruzado traseiro, Assistente de Permanência na Faixa, Frenagem automática de emergência em baixa velocidade, Farol alto adaptativo, Kit de reparabilidade do pneu (inflar e selar), Antena tipo “shark”, Câmera de visão 360º, Espelho retrovisor externo elétrico na cor do veículo com luz indicadora de direção integrada e aquecimento, Pneus runflat e rodas de alumínio aro 17″ com superfície usinada, Ar-condicionado digital com controle automático de temperatura e sistema automático de recirculação, Carregador Wireless, Coluna de direção com regulagem em altura e profundidade, Aquecimento dos bancos dianteiros, Aquecimento do volante, Descansa-braço traseiro com 2 porta-copos, Controlador de velocidade de cruzeiro adaptativo (ACC), Easy Entry – Partida do motor e abertura das portas através de sensor de aproximação na chave      Item de série, Trava elétrica das portas com acionamento na chave, Acionamento do freio de estacionamento elétrico, Banco traseiro bipartido e rebatível, Banco do motorista com ajustes elétricos (altura, distância, inclinação e lombar), Banco do passageiro com ajuste manual de altura, de distância e de inclinação do encosto e do assento, Controles de Rádio e do Celular no Volante, Painel de Instrumentos digital 8″ Colorido e Configurável, Chevrolet MyLink, com Tela LCD 10,2″, Integração sem fio com smartphones através do Android Auto e Apple CarPlay, Sistema Bose® Premium de áudio com 7 alto-falantes e subwoofer, Comandos do carro à distância via app MyChevrolet, Seletor inteligente de transmissão

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.