(Comparativo) Na faixa dos R$320 mil, Mercedes-Benz A250 ou Audi A4 Performance Black?

Dois modelos que, à primeira vista, só tem em comum a origem de uma marca premium, mas é muito além disso. De um lado o Mercedes-Benz A250, um hatch premium com esportividade realçada, e do outro o Audi A4 Performance Black, um sedan médio de respeito, cheio de tecnologias e modernidades. O preço dos dois é praticamente igual (R$319.990 pelo Classe A e R$324.990 pelo A4), assim como a concepção mecânica. No duelo entre hatch médio premium e sedan médio premium, quem merece o espaço na sua garagem?

Foto: Lucca Mendonça
Foto: Lucca Mendonça

Concepção mecânica e números de desempenho

Nisso os dois são parelhos. Estamos falando de motor 2.0 turbo com injeção direta e quatro válvulas por cilindro, transmissão automatizada de dupla embreagem banhada a óleo, suspensões independentes nas quatro rodas (dianteiras do tipo McPherson e traseiras multibraço), além de freios a disco nas quatro rodas e direção com assistência elétrica. Parecem até o mesmo carro, mas não são, porque o A4 tem seu exclusivo sistema de tração integral sob demanda Quattro, que privilegia a dinâmica e estabilidade do carro nas acelerações e aderência em curvas, por exemplo. No Mercedes a tração é dianteira tradicional, sem nenhum segredo.

No Audi temos mais potência, além da exclusiva tração integral Quattro (Foto: Lucca Mendonça)

O propulsor do Audi é o 2.0 TFSI da família EA888 (mesmo de alguns Volkswagen), movido só a gasolina, e que conta com duplo comando de válvulas com variador de fase na admissão e escapamento, sistema de alimentação com injeção direta e bloco/cabeçote inteiramente fundidos em liga-leve. São excelentes 249 cv e 37,7 mkgf de torque máximo a partir dos 1.600 rpm, ou 125 cv/litro de potência específica, um resultado bem positivo. Quem transfere a força do motor para as rodas é o câmbio S-Tronic, de dupla embreagem e 7 marchas. Segundo dados oficiais, o A4 Performance Black leva apenas 5,8 segundos para ir da imobilidade aos 100 km/h, e, como pede a legislação europeia, tem sua velocidade final limitada em 250 km/h.

Enquanto isso, o Classe A oferece o motor M260 2.0 turbo, também movido só a gasolina. Aqui temos exatamente as mesmas tecnologias mecânicas do A4, mas com menos potência e torque: 224 cv e 35,7 mkgf a 1.800 rpm, ou seja, 112 cv/litro. Sua transmissão é a DCT (Dual Clutch Transmission), com as mesmas 7 velocidades. A ausência do terceiro volume da carroceria faz ele levar bastante vantagem sobre o Audi no peso, que é de 1.445 kg, ante 1.660 kg do seu rival maior. Mesmo com esses bons quilinhos a menos, o A250 é um pouco mais lento nas acelerações, completando a prova do 0 a 100 km/h em 6,2 segundos, como informa a própria Mercedes.

No Classe A, menos potência e torque, mas também menos peso (Foto: Lucca Mendonça)

Dirigibilidade e consumo de combustível

Como ambos são representantes de marcas premium, é esperado que se comportem como tal. E não tem erro: tanto o A4 quanto o A250 são carros muitíssimo apurados em matéria de dinâmica, estabilidade direcional e em curvas, e por aí vai. O Audi tem os bancos mais baixos, painel e console envolventes, e um habitáculo bem definido para cada um dos ocupantes, que se encaixam em seus lugares. No caso do Mercedes, a história é mais ou menos parecida, embora mais discreta que no Audi.

Foto: Lucca Mendonça

No estilo de condução mais agressiva, o Mercedes é quem se sai melhor, até porque sua carroceria hatch (menor e mais leve) também contribui pra isso. O lado “sedan de luxo” fala mais alto no A4, mas ele também surpreende no desempenho e comportamento geral. Na realidade os dois são muito rápidos e ágeis, principalmente nos seus modos esportivos de condução, mas uma coisa não dá pra negar: o ronco do Audi é muito mais bonito e encorpado nas acelerações. Freios e direção têm comportamento exemplar nos dois carros, funcionando sempre com agilidade e rapidez.

Foto: Lucca Mendonça

Se os dois acabam empatando em dirigibilidade, no consumo seguimos na mesma, já que um gasta tão pouco quanto o outro. Dotados de Start&Stop e sistema de roda-livre, eles conseguem boas médias tanto na cidade quanto na estrada. Em nossas medições, o A4 conseguiu 12,4 km/l no circuito urbano e se aproximou dos 19,5 km/l no rodoviário, enquanto o Mercedes registrou 12,1 km/l e 18,8 km/l, respectivamente. Marcas ótimas pra carros desse porte, alcançadas graças a toda essa boa parafernália tecnológica que a dupla traz. Bônus ainda para o tanque de combustível bem maior do Audi (58 litros contra apenas 48 do Classe A), o que ajuda bastante no alcance em viagens, por exemplo.

Conforto, espaço interno e porta-malas

A4: mais espaço, mais conforto e mais porta-malas (Foto: Lucca Mendonça)

Aqui, antes de destrinchar cada um dos assuntos, a vitória já é garantida para o Audi A4. Claro, estamos comparando o espaço de um sedan com o de um hatch, então não tem muito onde errar. Ainda falando dele, são nada menos que 2,82 m de entre-eixos, que chegam a impressionar à primeira vista. Seu sistema de suspensões também é mais macio e suave, absorvendo melhor as irregularidades do solo. Além disso, destaque para os bancos maiores e mais ergonômicos.

Sem aperto, cabem até quatro pessoas no A4 (duas na frente e duas atrás), e o meio do banco traseiro é quase que totalmente ocupado pelo console, túnel central e ressalto do banco. O A250 tem bons 2,73 m de entre-eixos, e apesar de ser mais estreito, tem túnel central e caixas de ar laterais mais baixas, facilitando o entra e sai e a acomodação de um quinto ocupante. Na frente, motorista e copiloto viajam sem problema algum nos dois carros.

A250: mais conforto e o exclusivo sistema MBUX (Foto: Lucca Mendonça)

Quem se senta atrás no Audi tem mimos como uma zona individual para o ar-condicionado traseiro, saídas de ventilação, portas USB para carregar celular, tomada 12V e encosto de braço central. No Mercedes? Absolutamente nada disso, a não ser um pequeno porta-trecos onde deveria ser a saída de ar-condicionado. Complicado. Levando em conta o tamanho proporcional de cada carro, o Classe A pelo menos não faz feio na capacidade do porta-malas: 370 litros, ou seja, 90 a menos que o A4 e seus 460 litros, que são apenas razoáveis pra um sedan médio-grande.

Conteúdos de série

Foto: Lucca Mendonça

Temos aqui as versões top de linha dos dois modelos, então os mais completos e cheios de equipamentos da linha. Nos dois carros temos ar-condicionado digital automático, 7 airbags, painel de instrumentos digital, bancos em couro com ajustes elétricos e memória de posição, teto-solar panorâmico, conjunto óptico full-LED (faróis, luzes de neblina e lanternas), rodas de liga-leve diamantadas aro 18, sensores de chuva e crepuscular, multimídia de aproximadamente 10” com conexões Android Auto/Apple CarPlay, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, sistema Start&Stop, chave presencial, sistema Park Assist, alerta de saída de faixa, entre outros.

O A250 traz ainda o interessante MBUX, um sistema exclusivo da Mercedes que permite ajustar várias coisas do carro através de comandos de voz, além de alertas de colisão e frenagem autônoma de emergência, que são opcionais a parte no A4. A lista de itens únicos do Audi é bem maior: retrovisor interno fotocrômico borderless, ar-condicionado com três zonas de temperatura, saídas de ventilação para os passageiros traseiros, controle de cruzeiro adaptativo (ACC), carregador de celular sem fio, navegador GPS, abertura das portas sem chave, faróis de neblina e função Auto Hold integrada ao freio de mão. O sistema de som assinado é opcional no Audi, então não tem valor nesse nosso comparativo.

Foto: Lucca Mendonça

Classe A é o carro de entrada da Mercedes, enquanto o A4 já está em um patamar acima, dos intermediários. Isso justifica a falta de alguns equipamentos no A250, mas não condiz com seu preço de R$320 mil. É uma estratégia, no mínimo, curiosa essa da Mercedes, já que ele é até mais caro que seu irmão maior Classe C, mesmo sendo de uma categoria inferior.

O veredito final: qual vale mais a pena?

Vitória ao Audi A4 Performance Black, principalmente pelo terceiro volume da carroceria e mais equipamentos de série (Foto: Lucca Mendonça)

É difícil para o Classe A hatch ter um rival com preço, mecânica, desempenho, consumo e conforto semelhantes, ainda mais se esse rival for um sedan e oferecer mais equipamentos de série. E o resumo da ópera é basicamente esse: dois carros excelentes, de marcas premium, mas enquanto um é hatchback médio, o outro é sedan médio-grande, e ainda entrega mais conteúdo. É difícil não dar essa vitória ao Audi A4 Performance Black, já que ele leva a melhor em quase tudo, mesmo custando R$5 mil a mais.

O plano da Mercedes-Benz do Brasil era dar ao Classe A um ar de carro hiper tecnológico, moderno, interativo e conectado, além de aliar seu lado esportivo com o luxuoso. Tudo cumprido com sucesso, afinal esse é um resumo perfeito do A250. O que acontece é que seu preço é bem salgado, e fica deslocado dos seus reais concorrentes (BMW Série 1, por exemplo).

O A250 é um carro excelente, mas pisa na bola pela falta de alguns equipamentos simples e pelo preço bem salgado (Foto: Lucca Mendonça)

Nessa faixa de R$300 mil já temos outro naipe de automóveis, dos carros ainda mais requintados e refinados, em especial sedans médios-grandes. Ou seja, esse é o lugar do Classe C, e não do Classe A. Encerro esse duelo com a mesma frase final da avaliação do A250: Se fosse mais bem recheado de itens de série e custasse menos, o Classe A seria um modelo pra lá de competitivo. Tudo uma questão de reposicionamento do produto no mercado…

 

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.