Carros elétricos: vale a pena recarregar pela energia solar?
Em muitas matérias de revistas eletrônicas, encontram-se testes de carros elétricos em que o articulista alega possuir energia solar em casa. Essa alegação trouxe uma dúvida importante: será que vale a pena, considerando-se o investimento em energia solar, adotar essa tecnologia por ter sido adquirido um veículo elétrico? A resposta não é nem simples, muito menos definitiva.
Tanto a tecnologia de acúmulo de energia elétrica vem-se alterando rapidamente, como a captação solar tem evoluído significativamente nos últimos vinte anos. Além disso, apesar de alguns discordarem, a Terra é uma bola e a incidência dos raios solares altera-se consoante o local de instalação. Mas não é somente a esfericidade da nave em que viajamos pelo universo que determina a insolação. Mais que ela, o clima da região.
Há regiões em que a cobertura por nuvens impede que o sol incida diretamente sobre o solo com mais relevância que a proximidade com o Equador possa contar a favor. Para essa matéria, vamos considerar a região da grande São Paulo por concentrar 10% da população brasileira, assim como a imensa maioria dos veículos elétricos.
A corrente produzida pelas células fotovoltaicas é contínua por definição. Assim também é a obtida pelas baterias. No primeiro caso, é que as células fotovoltaicas não passam de fotodiodos, ou seja, atuam exatamente ao contrário dos LEDs (Light Emission Diod). Um diodo é um semicondutor que só deixa passar energia elétrica em um sentido.
Enquanto, aplicando-se corrente a um LED, obtém-se luz; num fotodiodo, aplicando-se luz, obtém-se energia elétrica. Durante o dia, graças ao ângulo de incidência dos raios solares, a tensão obtida varia, mesmo que as placas persigam a luz do sol da mesma forma que um girassol. Isso implica em que haja um sistema de controle, que pode ser online, ou offline. Os online, conhecidos também como ongrid, são ligados à rede elétrica comercial e o excedente de energia produzida gera créditos ao consumidor final.
Nos offline (ou offgrid), carrega-se um conjunto de baterias para que a energia possa ser consumida, inclusive, à noite, quando não há insolação. Nos dois casos o controle precisa contar com um inversor. É que a corrente comercial é alternada, ou seja, os polos se alternam sessenta vezes por segundo.
As instalações online precisam ter um sincronizador entre a corrente alternada gerada localmente e a que vem da rede comercial, o que é um complicador. Em termos técnicos ambas correntes precisam estar em fase para que o controlador possa operar nas duas direções. Se o consumo local for menor que o montante gerado de energia, o excedente flui para a rede comercial; Se o montante consumido internamente for maior que a capacidade de geração, o sistema lança mão da corrente comercial complementarmente.
A verticalização das cidades acaba por tornar majoritário, quando não imperativo o uso de sistemas online. É que os prédios têm área de telhado pífia em relação à área de solo criado. Solo criado é a soma das áreas de todos os andares, incluindo o subsolo. Imaginemos um prédio com doze andares 15 x 15 m e dois andares de garagem num terreno de 1.000 m². O solo criado será de 14 x 15² – 1.000 = 2155 m².
A área que se pode destinar à instalação de placas fotovoltaicas será de somente 225 m², que serão, fatalmente, usados pelo condomínio, quando muito, para mitigar o consumo dos elevadores. Se o morador do 2ª andar quiser usar energia solar, terá de encontrar um outro lugar onde fazer a instalação para usufruir dos possíveis créditos obtidos junto à distribuidora de energia comercial.
Ocorre que, quem estiver disposto a abrir mão de seu telhado para um terceiro instalar placas fotovoltaicas, não o fará gratuitamente. Das duas uma: ou ele aluga o telhado, ou usa a energia, total ou parcialmente, em seu estabelecimento, renunciando a possíveis créditos em favor do investidor. Nos dois casos é preciso considerar que o retorno cairá, enquanto o prazo de recuperação sobe, se é que venha a ocorrer algum dia.
É claro que a aquisição de um carro elétrico traz um impacto significativo no consumo de energia, seja doméstico, seja comercial. Comercial? Sim, basta ver que a Renault Kangoo pôs quatro vezes mais unidades que o Zoe no mercado; da mesma forma, o e-Jumpy teve três vezes o número de Peugeot e-208 do mesmo grupo. Esse impacto será o alvo da próxima matéria.
20 carros elétricos mais vendidos no Brasil em 2022 (dados da ABVE)
Volvo XC40 Recharge/Recharge Plus: 1.605 unidades
Caoa-Chery iCar: 779 unidades
JAC E-JS1: 589 unidades
Volvo C40: 546 unidades
Renault Kwid E-Tech: 420 unidades
Renault Kangoo Z.E./E-Tech: 400 unidades
Audi e-tron: 396 unidades
Mini Cooper SE: 348 unidades
Nissan Leaf: 341 unidades
Citroën e-Jumpy: 243 unidades
Porsche Taycan: 233 unidades
JAC E-JS4: 211 unidades
Peugeot e-Expert: 208 unidades
Renault Zoe: 203 unidades
Fiat 500e: 195 unidades
BYD Tan EV: 170 unidades
BMW IX: 156 unidades