(Avaliação) Novo Nissan Kicks manual: Por que não?

Honda HR-V, Jeep Renegade, Chevrolet Tracker, VW T-Cross, Hyundai Creta e Renault Captur foram alguns dos utilitários compactos que já ofereceram a opção da transmissão manual no passado, mas hoje estão restritos às versões automáticas. Você já deve estar se perguntando: “Então acabaram os SUVs manuais?”. Calma lá, não é pra tanto. Ainda existem dois representantes (ou “sobreviventes”) desse seleto segmento: Renault Duster Zen MT5 e o Nissan Kicks Sense MT5, tema dessa avaliação.

Kicks Sense MT5: Quase sobrevivente (Foto: Lucca Mendonça)

Curiosidade: Esse carro das fotos é o único SUV com transmissão manual disponível para a imprensa nacional. Como é uma versão que sempre vendeu bem pouco (representa cerca de 5% de todos os Kicks vendidos no Brasil desde 2016), a Nissan optou por manter apenas uma única unidade da versão Sense MT5 “na ativa” dentro da sua frota (que serviu também para as fotos de divulgação). A Renault nunca disponibilizou Duster Zen para testes e avaliações e, pelo andar da carruagem, nem vai.

Filho único, esse Kicks branco também posou para as fotos de divulgação do lançamento (Foto: Nissan/divulgação)

Filho único, esse Kicks branco é simplório no visual externo, deixando explícita sua “carinha de versão básica”, assim como acontece nos outros Sense MT5. Rodas de liga-leve dão lugar à um jogo de calotas aro 16; o rack de teto é de plástico, mais simples; saem de cena os faróis ou lanternas em LED; os faróis de neblina deixam de existir (quem está ali, abaixo do farol, é a luz diurna); e boa parte dos frisos cromados e detalhes estéticos não estão presentes.

Lanternas em LED e detalhes cromados deixam de existir (Foto: Lucca Mendonça)

Esse design clean deixa o Kicks com um ar de “hatch bombado” e, por que não, ainda mais robusto aos olhos de quem vê. Essa tal pegada de maior robustez também se repete no interior, inteiro na cor preta (quem se destaca lá dentro é a tela colorida da multimídia) e sem muito o que esconder. Tudo é simples, incluindo o acabamento, mas esmerado, com bons encaixes e materiais decentes, enquanto os comandos são fáceis e diretos, também sem erros. Menos pode ser mais…

No mesmo caminho, o interior é “all-black”, restando só a multimídia de colorida (Foto: Lucca Mendonça)

Motor e câmbio: Boa dupla

Aqui o Kicks Sense MT5 também não esconde nada de ninguém, já que usa o mesmo powertrain de March e Versa. Debaixo do capô está o motor 1.6 HR16DE, de quatro cilindros e 16 válvulas, duplo comando variável e fundição em alumínio, que, com gasolina ou etanol, entrega meros 114 cv de potência e 15,5 mkgf de torque. Seu pico de força está a altos 4 mil rpm, mas antes disso (ao redor de 2.000 ou 2.500 giros) ele já entrega o necessário para mover o carro com agilidade.

Motor 1.6 16V: moderno, mas contido nos números (Foto: Lucca Mendonça)

E não tem como falar de agilidade sem citar o câmbio manual: Ele é curto, tanto na relação de marchas quanto nos engates da alavanca, focando justamente em mais rapidez e desenvoltura no uso urbano. E nem por isso esse Kicks deixa a desejar nas altas velocidades: Com o câmbio curto, seu motor gira a exatos 3.500 rpm a 120 km/h, rotação em que praticamente todo o torque já está disponível e permite ultrapassagens ou retomadas de velocidade com segurança.

Câmbio manual tem relação curta e engates precisos (Foto: Lucca Mendonça)

Graças a um bom trabalho de engenharia, o peso da embreagem é correto, assim como as passagens de marchas, fáceis e precisas, e o acerto dos freios. Além de tudo, o carrinho é econômico: Abastecido com etanol, conseguiu cerca de 8,5 km/l na cidade (com trânsito razoável e ar-condicionado ligado em tempo integral), chegando aos ótimos 12,8 km/l na estrada. Com essas médias, ele consegue driblar muito bem o pênalti do limitadíssimo tanque de apenas 41 litros. Só seria melhor se tivesse sistema Start&Stop.

A bordo: boas notícias

Espaço e conforto estão garantidos, mas as suspensões macias não fazem do Kicks o mais estável do segmento (Foto: Lucca Mendonça)

O que sempre brilhou no Kicks foi o conforto e suavidade ao rodar. Mesmo que esse acerto de molas e amortecedores voltado ao bem-estar dos passageiros prejudique a estabilidade do carro em curvas rápidas ou desvios rápidos de trajetória, todos viajam muito bem. O sistema de suspensões, tipo McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, faz um ótimo trabalho na hora de absorver a buraqueira do nosso solo lunar.

E, por ser SUV, ele também se garante no espaço interno bom para até cinco ocupantes graças aos 2,61 m de entre-eixos e 1,76 m de largura. Quem vai atrás também consegue se movimentar com facilidade, afinal o console central é pequeno e o túnel central baixo. Da mesma forma, os passageiros de maior estatura (falando de altura ou largura) não tem problemas com cabeçadas no teto ou apertos pra entrar e sair. Pra fechar, está o bom porta-malas de 432 litros, perfeito pra encher de bagagens da família nas viagens. Uma beleza!

Porta-malas de 426 litros é generoso (Foto: Lucca Mendonça)

No restante, o motorista se senta em posição alta e ereta, mas tem à mão todos os ajustes disponíveis de volante e bancos, que inclusive são bastante anatômicos. Quem tiver mais de 1,85 m pode ficar incomodado de início com a alavanca do câmbio um pouco distante, mas em pouco tempo se acostuma.

Nem tudo é perfeito

Problemas? Sim, existem. O maior deles é a falta de isolamento acústico. Todos os ruídos externos são transmitidos pra dentro da cabine, inclusive os de motor e câmbio, que fazem bastante barulho principalmente nas altas velocidades. Isso se torna cansativo depois de um tempo nas viagens longas, e o jeito é aumentar o volume do som ou então se acostumar com os zumbidos.

No uso diário, um melhor isolamento acústico faz falta (Foto: Lucca Mendonça)

Atravessar obstáculos é outra coisa que, definitivamente, não está na lista de proezas feitas pelo Kicks. Nessa reestilização de meia-vida, ele perdeu 2º no ângulo de ataque (que já não era dos melhores), então agora tem que se contentar com apenas 18º, enquanto o ângulo de saída é de razoáveis 28º e a altura do solo é de cerca de 20 cm. Para uma rápida comparação, um Fiat Argo Trekking, hatch aventureiro, consegue 21º, 31º e 21 cm, respectivamente. Resumindo, é melhor manter o Kicks na cidade e, de preferência, sem ousar muito.

Ângulos de ataque e saída menores que o de um Argo Trekking: Melhor não abusar nas aventuras com o Kicks (Foto: Lucca Mendonça)

Vale a pena?

Sem muitos discursos, esse Kicks custa R$110 mil. Assim mesmo, todo básico e simples. Sua alternativa com câmbio automático, a versão Sense CVT, custa R$10 mil a mais e entrega praticamente o mesmo conteúdo desse carro com câmbio manual (veja os itens de série logo abaixo). Os dois parecem caros, mas infelizmente estão dentro da média do mercado atual.

De fato, a transmissão manual é meio que um ponto fora da curva na compra de um SUV, carro que geralmente promete o máximo em conforto e mimos aos ocupantes. Pagar tão caro para ficar trocando de marchas no trânsito é uma escolha feita por entusiastas que realmente curtem dirigir, ou então pessoas mais conservadoras, daquelas que não confiam em câmbio automático, pensam que é algo problemático e por aí vai.

Por esse preço, seus compradores são entusiastas que curtem dirigir ou pessoas que ainda não confiam em câmbio automático (Foto: Lucca Mendonça)

Esse tipo de gente existe, sãos mais comuns do que você imagina. E é pra eles que a Nissan ainda oferece o Kicks Sense manual, uma atitude louvável em pleno 2022. Convenhamos que, deixando de lado o fator “preço” nessa equação, é uma opção a mais, sempre bem-vinda nesse mundo monótono dos SUVs. Por que não?

Ficha técnica:

Concepção de motor: 1.598 cm³, flex, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escapamento, bloco e cabeçote fundidos em alumínio
Transmissão: manual de 5 marchas + ré
Potência: 114 cv a 5.600 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 15,5 mkgf a 4.000 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: Independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: Eixo de torção com molas helicoidais
Direção: Tipo pinhão e cremalheira, assistência elétrica progressiva
Freios: Discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Pneus e rodas: Continental ContiPowerContact Eco Plus, medidas 205/60. Rodas de aço com calotas aro 16
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,31 m/1,76 m/1,59 m/2,61 m
Porta-malas: 432 litros
Tanque de combustível: 41 litros
Peso em ordem de marcha: 1.104 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,0 segundos (aproximadamente)
Velocidade máxima: 175 km/h (aproximadamente)
Preço básico: R$109.225

Itens de série:

Rodas de aço 16″ e pneus 205/60 R16, Abertura e fechamento das portas através de controle remoto, Acabamento dos bancos em tecido, Acendimento inteligente dos faróis, Apoios de cabeça dianteiros e traseiros separados e ajustáveis para os 5 ocupantes, Ar-condicionado, Banco do motorista com ajustes de altura, Bancos dianteiros com tecnologia Zero Gravity®, Controle de áudio e telefone no volante, Faróis dianteiros com sistema Follow me Home, Para-sol com espelhos para motorista e passageiro, Porta-copos no console central e nas portas, Porta-malas com iluminação interna, Porta-objetos na lateral das portas dianteiras e traseiras, Porta-revistas no banco dianteiro para passageiro, Tomada 12V (2), Vidros dianteiros e traseiros elétricos com sistema “One Touch Down” somente para o motorista, Volante com acabamento em poliuretano, Volante de três raios com regulagem de altura e profundidade, Aerofólio integrado na cor do veículo, Antena estilo barbatana de tubarão, Grade frontal com acabamento cromado, Maçanetas externas na cor do veículo, Maçanetas internas de abertura das portas cromadas, Rack de teto longitudinal na cor prata, Retrovisores externos com regulagem elétrica, Retrovisores externos na cor do veículo, Airbags duplos frontais, Airbags laterais e de cortina, Alarme perimétrico, Alerta de cinto de segurança destravado – frontal e traseiros, Câmera traseira de estacionamento, Cintos de segurança de três pontos para todos os passageiros, Controle de Tração e Estabilidade – (VDC – Vehicle Dynamic Control), Desembaçador de vidro traseiro com temporizador, Luzes de condução diurna (DTRL), Fixadores traseiros para cadeiras de crianças (ISOFIX), Freios ABS com controle eletrônico de frenagem (EBD) e assistência de frenagem (BA), Limpador de para-brisa dianteiro e traseiro com controle intermitente variável, Luz de freio em LED, Sensor de estacionamento, Sistema inteligente de Partida em Rampa (HSA), Travamento central automático das portas e do porta-malas com o veículo em movimento, Sistema de áudio com display touchscreen colorido de 7″, rádio AM/FM, conexão Bluetooth, Apple CarPlay® e Android Auto®, 4 alto-falantes

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Com 21 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.