(Avaliação) Renault Kangoo E-Tech: as vantagens de um “Megane com baú”

Desde que a Renault decidiu vender apenas Kangoo elétrico no Brasil, há cerca de seis anos, o furgão teve lá sua queda nos emplacamentos e até ficou meio esquecido no meio de veículos de trabalho. Mas, nem por isso ele deixou de ser um belo utilitário, cheio de soluções interessantes e boa dose de modularidade para atender ao seu público, que hoje não tem muitas opções de veículos similares no mercado. Elétrico e nesse esquema construtivo, com dianteira de carro de passeio e traseira de furgão, só há o Kangoo E-Tech, e talvez por isso a Renault salgue tanto seu preço: quase R$293 mil, sendo que há sete meses, quando essa nova geração estreou por aqui, eram 260. 

Ao menos, chamá-lo de “Megane E-Tech com baú” não é fugir tanto da realidade assim: os dois são igualmente modernos, feitos sobre a plataforma modular CMF (em diferentes variações), e com algumas características em comum, como a direção apurada, ótima habitabilidade e silêncio a bordo, por exemplo. Pena que a Renault só traga da França essa carroceria furgão, mas um Kangoo elétrico para transportar cinco passageiros também cairia muito bem no Brasil.  

A configuração avaliada, única a venda no mercado nacional, é a de carroceria longa na Europa: vantagens da base modular, que permite maior ou menor entre-eixos. Temos um carro bastante longo, com quase cinco metros de comprimento, e um baú generoso ali atrás: 4.300 litros, ou 1.000 a mais que uma Fiat Fiorino. Apesar de não ser dos mais altos, é um compartimento longo e largo (2,2 m e 1,5 m, na ordem), acomodando até um sofá ou rack de televisão sem precisar de desmontagem.  

Versão vendida aqui é a alongada na Europa: isso significa mais espaço no baú (Foto: Lucca Mendonça)

Uma geladeira deitada? Também cabe, tudo preso aos nove pontos de fixação da carga que existem ali. Pelo menos mais dois seriam bem-vindos, já que o espaço é longo. A falta de aletas para ventilação do baú é compensada pela boa iluminação em LED, uma tomada 12V e travas separadas para as portas do espaço (dá até para trancar a porta corrediça e deixar as traseiras abertas, ou vice-versa, de forma independente). 

O esquema delas, aliás, é tradicional: uma lateral direita corrediça, que é grande e permite a entrada de cargas maiores por ali, e as duas traseiras, que se abrem em até 180º. O assoalho e as laterais do baú são forrados com uma espécie de borracha, evitando danos à lataria, porém, no carro avaliado já havia alguns rasgos na proteção do assoalho. No apanhado da história, esse Kangoo E-Tech é um belo intermediário entre uma Fiorino e as vans maiores da Stellantis (Fiat Scudo, Peugeot Expert e Citroën Jumpy). Boa! 

O que conquista é mesmo a vida a bordo. Para um carro de trabalho, que precisa “conviver” com o motorista por até 12 horas diárias, esse Renault fez muito bem a lição de casa: os bancos são confortáveis e ergonômicos como o de SUVs modernos (melhores até que os da picape Oroch nacional), com boas abas laterais e espuma de sobra. O vão entre os dois bancos, aliás, acomoda um bem-vindo apoio de braço, que serve aos dois ocupantes, melhorando e muito a habitabilidade em um carro que dispensa trocas de marchas. Interessantíssimo também os vários porta-trecos, incluindo aquele enorme rente ao teto, como uma prateleira, e o suporte para celulares, que é item de série pode ser instalado do lado direito ou esquerdo do volante.

Por outro lado, por conta do console, e da posição da alavanca de mudanças no painel, a movimentação de um lado para o outro da cabine não é livre como a de outros furgões. Como as portas dianteiras são generosas no tamanho e se abrem em praticamente 90º, esse definitivamente não é um problema grave. Elogiável também todos os ajustes para o motorista (altura e lombar para o banco, altura e profundidade da coluna de direção e altura do cinto de segurança), e a posição mais baixa e ereta de dirigir, um ponto que o difere das antigas gerações que tivemos por aqui. Até o volante menos inclinado, e assim mais agradável, foge à regra daqueles antigos Kangoo a combustão. 

Curioso notar que, diferentemente do Megane E-Tech, nesse furgão não existe aquele problema das colunas largas demais, pelo contrário: a praticidade e a visibilidade agradecem. Além do silêncio a bordo que impera, o conforto surpreende: a suspensão dianteira é macia, com calibração ideal para combater a buraqueira e desníveis da pista, enquanto a traseira, por conta da missão de carregar a maior porção de carga máxima (800 kg), é um pouco mais durinha. Apesar de não ser sua obrigação, vale elogiar o comportamento dele em curvas, contornadas com muita segurança mesmo nas maiores velocidades. O centro de gravidade é baixo. 

O motor elétrico garante tudo aquilo que já sabemos de um EV (torque instantâneo, silêncio, suavidade e por aí vai), mais a vantagem de eliminar as trocas de marchas (nem transmissão ele tem!), o que cansa muito menos o motorista. São 120 cv de potência e, o que mais vale em um carro de transporte de carga, 25 mkgf de força imediata. Sem dar coices nem arrancadas fortes, o Kangoo E-Tech ganha velocidade de forma rápida, porém mais progressiva, sem pretensão esportiva. Para um furgão, é a escolha mais correta, e ajuda no menor consumo de eletricidade.  

Seus dados de desempenho, como o de 0 a 100 km/h, são bastante parecidos com o de SUVs 1.6 como Duster e Nissan Kicks, porém é difícil algum dos dois ter a mesma agilidade do Kangoo E-Tech nas arrancadas, como saídas de semáforo, por exemplo (aferidos em nossos testes, cerca de 4,5 segundos). Isso no modo Normal, já que, no Eco, focado em gastar menos energia, o motor elétrico fica limitado em cerca de 75 cv, e as respostas ao comando do acelerador se tornam mais morosas. Nada que comprometa muito o uso, tanto que, em pouco mais de 300 km a bordo do utilitário, a maioria foi no modo Eco, inclusive na hora de pegar estrada. Nesse caso, ele não passa de 110 km/h. 

Apesar do torque instantâneo, o furgão prefere acelerações mais progressivas e contínuas, mas tem desempenho similar a de SUVs com motor 1.6 (Foto: Lucca Mendonça)

O alcance é razoável, mas suficiente para um dia de trabalho: a Renault declara até 330 km nas melhores condições de uso urbano, o que, numa situação de anda-e-para, com uma pessoa a bordo, baú vazio e ar desligado, fica bem próximo da realidade. Aproveitando a regeneração máxima de energia (que poderia ser mais forte), conseguimos chegar a interessantes 12,7 kWh a cada 100 km, ou quase 7,9 km/kWh, resultando em pouco mais de 350 km de alcance com uma carga completa da pequena bateria de 45 kWh. Na rodovia, oscilando entre modo Normal e Eco, e curtindo o ar-condicionado digital automático, foi possível chegar a 17,8 kWh consumidos a cada 100 km: 5,6 km/kWh, 252 km de autonomia. 

A bateria, por não ser muito poderosa na capacidade, também permite recargas menos demoradas, especialmente nas fontes externas fortes (os sistemas elétricos e eletrônicos do carro suportam até 80 kW). Pena a Renault não ter de série um carregador portátil, daqueles para plugar em tomadas comuns de 220V, mas o Kangoo E-Tech traz um outro cabo semelhante, para tomadas industriais, comuns em terras europeias, sua terra natal. 

Pode parecer estranho, mas esse furgão custa R$13 mil a mais que um Megane E-Tech. Os dois tem boas qualidades em comum, para a alegria de quem passa até 12h por dia trabalhando dentro de um veículo de trabalho desses (Foto: Lucca Mendonça)

Megane com baú? Tirando que o Kangoo E-Tech consegue ser aproximadamente R$13 mil mais caro, e não tem tanto recheio de série (ainda assim, a oferta de conteúdo é generosa, como você confere logo abaixo), as semelhanças entre os dois elétricos da Renault são interessantes. Para um EV de trabalho, podemos dizer que ele atende muito bem alguns requisitos, só que é preciso fazer as contas com cuidado para saber em quanto tempo ele se paga… 

Ficha técnica:

Concepção de motor: elétrico, dianteiro, refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de íon-lítio instaladas no assoalho, capacidade de energia de 45 kWh
Carregamento 0 a 100%: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de 1h10min a 8h00min, dependendo da força), wallbox (cerca de 8h00 min) e tomadas 220V (cerca de 32 horas). Regeneração de energia configurável durante condução
Potência: 120 cv
Torque: 25,0 mkgf
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: independente, braços semi-arrastados
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Goodyear EfficientGrip Cargo, medidas 195/65 e rodas de aço com calotas centrais aro 16
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,91 m/1,86 m/1,88 m/3,10 m
Baú: 4.300 litros

Capacidade de carga: 800 kg

Alcance: 300 km (ciclo SAE) ou 210 km (ciclo PBEV)
Peso em ordem de marcha: 1.726 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 12,0 segundos
Velocidade máxima: 130 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$292.690

Itens de série:

Protetor lateral de porta, Repetidor de seta nos retrovisores, Parachoques pretos, Maçanetas pretas, Revestimento do piso e laterais do compartimento de carga em PVC, Abertura das portas traseiras 180º, Faróis halógenos, Faróis de neblina em LED, retrovisores pretos, Divisória completa do compartimento de carga, Iluminação da zona de carga em LED, Chave canivete com destravamento das portas, Sensores de chuva e crepuscular, Painel de instrumentos com tela central multifunção colorida, Banco do motorista com ajuste de altura, Ar-condicionado automático e digital, Suporte de smartphone modular com 2 tomadas USB e 12V, Sensores de estacionamento traseiros, Vidros elétricos, Câmera de estacionamento traseira, Porta objetos de teto de 21,8 L, Tomada 12V na zona de carga, Controlador e limitador de velocidade, Porta objetos central de painel, Sistema de monitoramento da pressão dos pneus (TPMS), Alerta de cinto de segurança desafivelado, Travamento central das portas, Multimídia Easy Link 8’’ com espelhamento de smarphone – Apple CarPlay® e Android Auto®, 6 Airbags, ESP, TCS e HSA, Renegeração de frenagens regulável – 3 Níveis, Estepe full size, Alerta sonoro de aproximação para pedestres, DRL em LED, Bancos com revestimento em tecido, Retrovisores externos com ajustes elétricos e desembaçador 

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.