Dodge Polara GLS: o curioso Chrysler “de luxo” fabricado pela Volkswagen

O Dodge 1800 foi o primeiro carro médio da marca no Brasil, tendo chegado por aqui nos primeiros dias de abril de 1973, há 51 anos, ainda que tenha sido apresentado no Salão do Automóvel de 1972. Como atributos, trazia design moderno e bom espaço interno, além do sobrenome Chysler, bem-conceituado no mercado nacional graças aos irmãos maiores Dart e Charger. Baseado no inglês Hillman Avenger GT, tinha diferenças nos revestimentos de porta, painel, volante de direção, manopla de câmbio, bancos, além de lanternas traseiras e grade dianteira.  

O 1800, que ficou conhecido por aqui sob a carinhosa alcunha de “Dodginho”, era disponível inicialmente nas versões L (Luxo) e GL (Gran Luxo), sempre com carroceria de duas portas no estilo “fastback”. Agradava por seu motor de 1.8 de 78 cv SAE a 4600 rpm (65 cv ABNT) e 13,4 kgfm de torque a 3000 rpm, permitindo aceleração de 0 a 100 km/h em cerca de 16,0s, e 140 km/h de máxima. Com tanque de 45 litros, tinha autonomia aceitável, conseguindo médias de 8 km/l de gasolina na cidade e 11 km/l na estrada. Acredite, eram dados bons se comparados aos de outros modelos de sucesso, como o VW Brasília 1600. 

O Dodge “júnior” apresentou muitos problemas de acabamento e carburação (foram três fornecedores diferentes, Solex, SU Stromberg e Hitachi, em apenas três anos de produção, para o “desespero” dos mecânicos), além da duvidosa qualidade de construção, e logo o público começou a rejeitá-lo. No ano seguinte, 1974, era lançada a versão SE (Special Edition), com apelo esportivo e bom custo X benefício, e em 1975 chegava a STD (Standard), a mais barata da linha. Mesmo assim, as vendas não cresciam, enquanto rivais como o VW Passat e Ford Corcel tinham maior aceitação, e melhores números de vendas no geral.

Em 1976, o Dodginho passou por reformulações, tanto em design, mecânica e no processo de construção, ganhando inclusive um novo nome para marcar as melhorias e tentar alavancar as vendas: Polara, vendido nas versões STD e GL. Na mecânica, agora, apenas o carburador SU, mais confiável, e o motor 1.8 passava a 93 cv SAE a 5000 rpm (78 cv ABNT) e 15,5 kgfm de torque a 3500 rpm. O carro estava mais rápido do que antes: levava 14,6 segundos no 0 a 100 km/h e chegava a 158 km/h de máxima, números mais adequados ao segmento. De quebra, graças ao tanque maior de 60 litros de capacidade e melhores médias de consumo, era possível rodar bem mais com o Polara sem precisar parar para reabastecer. 

Reformulado por fora em 1978, ele ganhava ali aparência mais moderna, com dois grandes blocos ópticos quadrados, novas lanternas traseiras e o brasão de Leão presente na grade frontal. Parecia um novo carro, principalmente àquele tempo de poucas novidades no mercado brasileiro. Pouco depois, no ano seguinte, ele estreava a opção da transmissão automática na versão GL, a mais cara, utilizando uma caixa de quatro velocidades, pra lá de moderna na época (a grande maioria tinha apenas três marchas automáticas). Apesar do desempenho mais contido, não gastava muito mais gasolina que as versões manuais, também de quatro marchas, e o conforto e suavidade do equipamento conquistou o público. 

Ainda assim, aquele era o último avanço do Dodginho em sua era totalmente Chrysler, já que, entre 1979 e 1980, a VW do Brasil adquiriu todas as operações da marca americana em solo brasileiro. O sedan, então, passava por nova reformulação em seguida, com novos detalhes externos, bancos redesenhados e um renovado painel de instrumentos. A versão STD passaria a se chamar L (Luxo), mantendo-se a GL (única a oferecer opção de câmbio automático), e surgia a inédita GLS (Gran Luxo Sport), mais luxuosa e com aspecto esportivo.  

A inédita versão GLS, nova topo de linha, já nasceu na era VW da Chrysler do Brasil (Foto: reprodução/Quatro Rodas)

O Polara GLS, lançado em junho de 1980 e ainda comercializado sob a marca Dodge, era identificado por suas faixas pretas envolvendo a parte inferior da carroceria, acompanhado do logotipo alusivo próximo às rodas traseiras, além de para-choques com borrachões e frisos pretos ao redor dos faróis e lanternas. No capô, no canto esquerdo, apenas o logotipo “GLS”, assim como na traseira. As rodas eram as mesmas da GL, pintadas de preto e cobertas por supercalotas de plástico na cor grafite, com design similar às de liga-leve do VW Scirocco, um claro indício da nova “chefia” alemã. Essas rodas do Scirocco, aliás, seriam oferecidas em 1982 no Voyage Parati (depois apenas Parati). Além disso, o Polara GLS já oferecia a tecnologia dos pneus radiais, de medida 165/80SR13, mesma do GM Kadett 1989. 

Faróis quadrados, parachoques em plástico preto com acabamento prateado, calotas esportivas, adesivos e apliques: a receita para a GLS 1.8 (Foto: Chrysler/divulgação)

Como merecia uma versão topo de linha, o painel de instrumentos da GLS era importado (fabricado pela italiana Veglia Borletti), e completo para a sua categoria, contendo manômetro de óleo, termômetro do arrefecimento, velocímetro com hodômetro parcial, conta-giros eletrônico, marcador do combustível e amperímetro, além de nove luzes-espia. Ao centro do painel, havia porta-documentos, rádio AM/FM com dois alto-falantes dianteiros, comandos do ar-quente, além de teclas de acionamento do ventilador, desembaçador traseiro, interruptor de luzes e acendedor de cigarros.  

Os bancos tinham encostos de cabeça integrados, porta-revistas na parte de trás e estofamento exclusivo, que lembrava o tecido da antiga versão SE. Curiosamente, este mesmo estofado revestiu as primeiras unidades do Volkswagen Gol L e VW Fusca Série Prata, também de 1980. Para completar as mudanças, tinha vidros verdes, porta-malas revestido e retrovisor externo do lado direito, sendo o primeiro Polara a receber estes mimos de série. Dentre seus opcionais, até o requinte da antena elétrica, rádio toca-fitas Motorrádio estéreo e alto-falantes traseiros (totalizando quatro). 

Seu motor recebeu o carburador de corpo-duplo Weber de dois estágios, em substituição ao SU das versões L e GL. Agora, o 1.8 respirava melhor, com funcionamento mais linear em marcha-lenta, ainda seguindo com seus 93 cv SAE a 5500 rpm e 15,5 kgfm de torque a 3500 rpm, o que proporcionava níveis de desempenho e consumo praticamente iguais aos das versões anteriores. 

O Polara GLS não era barato, porém já mostrava vantagens de um projeto mais maduro, que havia passado por evoluções até com crivo da VW (Foto: Saulo Mazzoni/AutoEsporte)

A esportividade cobrava de seus proprietários Cr$341.288,00 em junho de 1980, equivalentes hoje a R$81.433,61 de acordo com índice INPC/IBGE, e quem comprava um Polara GLS tinha a opção das cores Vermelho Alcazar, Branco Ártico, Castanho Camurça e Prata Tibet, estas duas últimas metálicas. A partir de 1981, último ano de sua produção, as cores passaram a ser Vermelho Calipso, Branco Paina, Cinza Chumbo e Marrom Avelã, tons que também estavam disponíveis na linha VW.  

A VW já deixava clara sua participação na Chrysler, inclusive nas propagandas, mas a marca alemã tinha seus planos, e carros, próprios (Foto: Chrysler/divulgação)

Neste ano, a oferta dos Polara foi diminuindo gradativamente nos concessionários, até sua saída de linha sem sobreaviso, em meados de 1981. Junto dele, “morriam” também os demais automóveis Dodge de produção nacional (Dart, Magnum e Le Baron), sobrando em linha apenas os caminhões da marca. A aposentadoria do Polara era certa pela Volkswagen do Brasil, que tinha outros planos para o mercado nacional, incluindo o sedan Voyage e os Santana de entrada para 1984. No total, foram cerca de 92.660 Dodginhos fabricados, e, hoje, segundo dados do Denatran, apenas 358 unidades da versão GLS sobreviveram para contar história.  

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.