GM Kadett Lite: a rara versão básica lançada entre Chevette e Corsa
Em 1989 chegava ao Brasil a sexta geração do Kadett, modelo produzido desde 1938 pela Opel. O modelo já era nosso conhecido, afinal, rodava no Brasil desde 1973 em sua quarta geração, intitulada por aqui de Chevette. Esta alteração de nome foi uma estratégia da GM para evitar a comparação com patentes do exército no regime militar, e acabou possibilitando, anos depois, a coexistência de duas gerações do mesmo carro, por pelo menos, quatro anos (Kadett lançado em 1989 e Chevette aposentado em 1993).
Se sua quarta geração era antiquada, com tração traseira e limitações de projeto, a sexta chegou bem mais moderna. Com tração dianteira e duas opções de câmbio, sendo um manual de 5 velocidades e outro automático de 3 marchas, e um coeficiente de penetração (Cx) de apenas 0,32, ante 0,34 do Uno CS a modo de comparação, o Kadett passava a ser o carro mais aerodinâmico do Brasil. Logo viraria sonho de consumo da classe média, quer seja na versão SL ou na SL/E, as duas oferecidas de início além da esportiva GS.
Em 1989, trazia um motor 1.8, capaz de entregar 95 cv de potência a 5800 rpm com 14,3 kgfm de torque a 3000 rpm na variante a gasolina, ou também 95 cv, mas com 15,1 mkgf de torque na opção a etanol. Com ele, a etanol, o modelo corria até os 168,5 km/h e podia acelerar de 0 a 100 km/h em 12,22s. Com gasolina, fazia 9,35 km/l na cidade e bons 15,6 km/l na estrada, números respeitáveis para um hatch médio 1.8. Seu tanque tinha capacidade para 47 litros de combustível, considerado limitado para a época.
Ainda tinha a versão esportiva GS, dotada de um motor 2.0 movido exclusivamente a etanol, com 99 cv a 5600 rpm e 16,2 kgfm de torque a 3500 rpm, que era rápido: ia de 0 a 100 km/h em 10,38s e chegava aos 174,8 km/h de velocidade máxima. No final do mesmo ano, era lançada a versão station Ipanema, então apenas com duas portas, nas versões SL e SL/E.
Para a linha 1992, Kadett e Ipanema aposentavam o carburador, onde as versões SL e SL/E, ainda 1.8, passavam a ter, a gasolina, 98 cv de potência a 5800 rpm com 14,6 kgfm de torque a 3600 rpm. O desempenho melhorava proporcionalmente: a máxima era de 169 km/h e o 0 a 100 km/h era cumprido agora em 11,8 segundos. A melhor performance era fato, enquanto a dirigibilidade ficava mais suave graças à injeção eletrônica monoponto (EFI). O esportivo GS, agora renomeado para GSI, também passava a ter injeção eletrônica em seu 2.0, porém com tecnologia multiponto, assim crescendo em potência, torque, e melhorando o desempenho.
A quarta geração do modelo se despedia do mercado nacional em 12 de novembro de 1993, quando deixou a linha de produção o último Chevette L. Com o lançamento de seu substituto direto Corsa previsto apenas para fevereiro do ano seguinte, a GM teria um problema: ficaria quase quatro meses sem um modelo mais acessível em sua linha, isso em tempos de crescimento dos carros populares e Fiat, Ford e VW surfando na onda dos 1.0. A solução foi simples: baratearam o Kadett a ponto de transformá-lo em uma espécie de popular na inédita versão Lite, apresentada no segundo semestre de 1993.
Posicionado como o carro mais barato da marca por alguns meses, e fabricado como linha 1994, o Kadett Lite usava a mecânica das versões GL e GLS (SL e SL/E renomeadas), fosse a etanol ou a gasolina, junto da injeção monoponto EFI. Acreditem, àquele tempo, esse era um forte argumento de vendas, já que muitos modelos mais acessíveis como ele ainda eram alimentados por carburador.
O modelo era bastante espartano, e trazia apenas os equipamentos básicos. Externamente, era desprovido de frisos laterais, trazendo apenas a logotipia de identificação “Kadett LITE” em adesivo, impresso na porta, próximo aos paralamas dianteiros. O “kit” ainda era composto por rodas de ferro aro 13 com calotas centrais prateadas, além dos pneus 165/80. Atrás, havia adesivos na tampa do porta-malas, sendo “LITE 1.8 E.F.I” do lado esquerdo e “Chevrolet” do lado direito.
A versão “pelada” trazia as atualizações da linha 1994, como o novo volante de dois raios e tanque ampliado para 60 litros de combustível, mas tinha simplicidades como forros de porta em vinil com costura eletrônica, forração dos bancos em tecido exclusivo (e mais grosseiro), sem contar que lhe faltava até a tampa do porta-luvas. Ao menos, o motor 1.8 de injeção monoponto não passava por perdas de potência ou coisa parecida, e a transmissão manual seguia com as cinco marchas.
Na lista de itens de série se destacava a pré-disposição para rádio, desembaçador traseiro, bagagito interno (ou tampão do porta-malas) e retrovisores externos com regulagem interna manual, nada mais. Opcionalmente, era possível equipar o Kadett Lite com rádio AM/FM com código de segurança, vidros verdes, vidros traseiros laterais basculantes, limpador e lavador elétrico do vidro traseiro, além de alarme antifurto. A paleta de cores, ao menos, era diversificada: havia Branco Nepal, Cinza Asturias, Preto Liszt, Verde Grieg, Vermelho Creta, Vermelho Shumman e Prata Argenta.
Quando o Corsa finalmente chegou ao mercado, no início de 1994, a versão Lite do Kadett foi reposicionada, se mantendo por mais alguns meses em produção, até sair de linha definitivamente ainda naquele ano. Ao todo, hoje existem registrados no Denatran 7.431 unidades fabricadas em 1993 e 11.827 unidades fabricadas em 1994, e achar um Kadett básico destes com alto nível de originalidade é um desafio dos bons. Sua grande maioria recebeu acessórios estéticos das versões superiores, sem contar que, por serem mais baratos, acabaram caindo mais cedo em “mãos erradas”. Sem dúvidas, o Kadett mais raro e básico da linha.