VW Pointer: o Volkswagen mais bonito dos anos 90

A Autolatina, joint venture entre a Ford e a Volkswagen que durou de 1987 até 1996, gerou alguns produtos interessantes tanto no Brasil quanto na Argentina. Entre eles, o VW Pointer, lançado dia 10 de dezembro de 1993 como integrante da linha 1994, que só teve suas vendas iniciadas no junho próximo. Considerado o Volkswagen mais bonito da década pela própria matriz alemã, o modelo foi uma grande cartada da fabricante alemã, afinal era fabricado em cima da plataforma do Ford Escort MK5, com quem compartilhava para-brisas, o problemático sistema de suspensão e parte dos acabamentos.

Pointer foi um dos frutos da Autolatina, e o VW mais bonito da década de 90 (Foto: VW/divulgação)

Desenho do paulistano Luiz Alberto Veiga, ex-designer da VW que deu vida à diversos sucessos da marca, o modelo começou a ganhar forma em 1988, e teve várias etapas. Inovava por ser um hatchback com 4 portas, pouco comum àquela época, e trazia do Escort seu formato de “dois volumes e meio”, mas impressionava por suas linhas arrojadas, modernas e bastante agradáveis. O vidro do porta-malas possuía uma queda delicada, sem recortes retos, terminando com um pequeno spoiler de 6 centímetros estampado na própria tampa, conjugando solidez, em harmonia com as belas lanternas traseiras sempre fumê.

O teto não trazia calhas, algo pouco usual àquela época, e o modelo também não tinha quebra-ventos, outro diferencial. Seus vidros eram colados, bem rentes à carroceria, e, graças ao formato “alongado” da traseira, trazia porta-malas com excelentes 323 litros de capacidade. Seu compartimento, que se abria erguendo junto o vidro traseiro, ganhava ainda com um vão de abertura 10 cm maior que o do VW Logus e Ford Verona, projetos irmãos. Outro destaque era seu baixo coeficiente de arrasto aerodinâmico, de apenas 0,34.

O Pointer trazia um belíssimo conjunto ótico, com farol de longo alcance integrado à lanterna e luzes, além de faróis de neblina no para-choque. Não haviam faróis de milha em nenhuma versão, até porque tal item já estava em desuso nos nacionais dos anos 90. Seu visual era considerado agressivo e ao mesmo tempo elegante, e fora usado inclusive nas versões do Logus a partir de 1996, incluindo a edição especial Wolfsburg Edition.

Conjunto óptico do VW era um de seus maiores charmes. Aqui um modelo já da linha 1996 (Foto: VW/divulgação)

O VW Pointer chegou ao mercado nas versões CLi, GLi e GTi. A CLi, vendida por cerca de US$17 mil, trazia como itens de série retrovisores com controle interno, ventilação forçada, porta-copos, branco traseiro rebatível, regulagem de altura dos cintos dianteiros, pneus 175/70 com rodas de aço e calotas aro 13, além dos belíssimos faróis halógenos já citados. A intermediária GLi, de US$21 mil, acrescia vidros verdes, limpador e lavador do vidro traseiro, rádio AM/FM, relógio digital, conta-giros, console central e desembaçador, além de motor 2.0, direção hidráulica, sistema de alarme, ar-condicionado, rodas de liga-leve aro 14, vidros e travas elétricas como opcionais.

A motorização de série dos Pointer CLi e GLi, versões que representavam 80% da produção, era a mesma: sempre o ótimo motor AP-1800, 1.8, rendendo 89 cv de potência a 5500 rpm e 14,5 kgfm de torque a 2500 rpm quando a gasolina, ou 98 cv a 5500 rpm e 15,4 mkgf a 3000 rpm quando a etanol, capazes de levar o VW aos 181 km/h de velocidade máxima, fazendo de 0 a 100 km/h em 10,9 segundos (dados de desempenho dos modelos a etanol). Com gasolina, consumiam oficialmente 9,8 km/l na cidade e 14,0 km/l na estrada, médias excelentes para os idos de 1994.

A versão GTi era ainda mais completa, e adicionava aos itens de série o ar-condicionado, faróis de neblina no para-choque, antena no teto, direção hidráulica, regulagem de altura e distância da coluna de direção, freios a disco nas quatro rodas, ar quente, bancos Recaro com dupla regulagem lombar, regulagem de altura do banco do motorista, vidros e travas elétricas, retrovisores elétricos e sistema de som do tipo toca-fitas. Como opcionais, podia trazer CD Player com equalizador e teto solar. As rodas, aqui, eram sempre de liga-leve em aro 14, calçadas com pneus 185/60.

Usando o mesmo motor do VW Gol GTi, o Pointer mais caro era equipado com o AP-2000, 2.0, de 116 cv de potência a 5600 rpm e 17,4 kgfm de torque a 3000 rpm quando a gasolina, ou 119 cv a 5200 rpm e 18,0 mkgf a 3000 rpm quando a etanol. Além do motor de maior cilindrada, potência e torque, os GTi se diferenciavam por ter injeção eletrônica multiponto, ante o sistema monoponto das versões 1.8.

Com motor vindo do Gol GTi e câmbio do Golf GTi importado, o Pointer GTi tinha pinta de esportivo, mas preferia ser visto como carro de luxo (Foto: VW/divulgação)

Seu câmbio era o mesmo do VW Golf GTi, que desembarcava por aqui no mesmo ano, e ajudava a levar o VW nacional de 0 a 100 km/h em 10,1 segundos e até os 189 km/h de máxima na versão a etanol, números expressivos até mesmo para os dias de hoje. O Pointer GTi era relativamente econômico para seu tempo, fazendo médias de até 9,6 km/l de gasolina na cidade e 12,4 km/l na estrada segundo dados da VW, principalmente se considerando suas pretensões esportivas, câmbio de cinco marchas com relações curtas e peso de 1155 kg.

Modelo da VW conciliava bom desempenho com relativa economia de combustível, mas mudanças mecânicas foram feitas logo nas primeiras unidades m (Foto: VW/divulgação)

Aliás, as primeiras unidades do Pointer GTi tinham a relação de quinta marcha muito curta, o que fazia o motor girar a quase 3500 rpm a 100 km/h, sendo que carros de cilindrada e potência semelhantes possuíam torque de sobra para trabalhar a 2800 rpm na mesma velocidade. O problema foi sanado em julho de 1994, com a adoção de uma relação de quinta marcha mais longa, reduzindo seu nível de ruído interno, consumo rodoviário (fazia agora até 13,7 km/l de gasolina), melhorando ainda mais a sua velocidade máxima (atingindo assim os 192,3 km/h quando a etanol).

Além do câmbio alongado, era importante a troca do carburador pela injeção eletrônica Versão CLi era a mais barata (Foto: VW/divulgação)

Outra importante substituição feita logo nos primeiros lotes de produção do Pointer foi a do carburador, que deu lugar a injeção eletrônica (monoponto nos 1.8 e multiponto nos 2.0). Em dezembro de 1993, quando o carro foi apresentado, foram várias as críticas ao uso do obsoleto carburador, o que fez a VW repensar o sistema de alimentação do Pointer. Por esses motivos houve um hiato de mais de seis meses entre a apresentação inicial e o início das vendas ao público. Nos registros do DETRAN existem algumas poucas unidades dos Pointer CL e GL (sem o “i” de “injection”), todos de início de produção e alimentados por carburador.

O modelo era, na verdade, mais luxuoso do que esportivo, como informavam as peças publicitárias da VW na época, e fez fama nas portas de restaurantes e casas de alto padrão daquela época. Custava US$31,000.00 completo em fevereiro de 1994 (US$27 mil básico), equivalentes a CR$14.488.160,00, com a cotação vigente à época, de CR$467,36. Hoje, de acordo com o índice INPC (IBGE) do Banco Central, este valor representa R$256.732,53. Os CLi e o GLi, em comparação, tinham excelente acabamento e também faziam bonito custando quase 1/3 do Pointer GTi.

As únicas mudanças em toda a (curta) vida do modelo foram feitas na linha 95/96, onde os para-choques passaram a ser pintados na cor da carroceria para as versões CLi e GLi (já havia essa configuração na GTi), e, também para elas, chegava uma nova padronagem dos tecidos internos, fora algumas mudanças de equipamentos e opcionais para toda a linha. A top GTi também ganhava nova forração em veludo, muito mais sóbria, bonita e confortável (similar a do Logus Wolfsburg Edition), além de volante e manopla do câmbio em couro e novas rodas aro 14, usadas futuramente no Polo Classic.

Linha 1996 tinha novas rodas para a versão GTi e outros pormenores. Essa unidade pertence ao acervo histórico da VW brasileira e foi guardada ainda 0 km (Foto: VW/divulgação)

Apesar de tímido nas vendas, segundo Luiz Alberto Veiga, o Pointer teria uma versão 1998 reestilizada, que estava em desenvolvimento, mas com o fim da Autolatina o projeto foi abandonado. Em dezembro de 1996, o hatch bonito da VW saía oficialmente de linha sem deixar sucessores diretos, mas algumas poucas unidades foram feitas sob encomenda até março do ano seguinte. Existem registradas no DETRAN 36.561 unidades dele em circulação, sendo 2.623 do GTi. Bem avaliado do site Carros na Web por seus proprietários, possui 9,4 pontos na classificação que vai até 10, e até hoje, se bem conservado, arranca suspiros dos entusiastas e amantes de antigos por onde passa.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.