(Avaliação) Novo VW Polo Highline: o hatch ainda é tudo aquilo?

Quem estava inteirado com os lançamentos de 2017 deve se lembrar que o então novo VW Polo, apresentado há pouco mais de seis anos, causou rebuliço. Eram tempos de Chevrolet Onix de primeira geração, na mesma situação do Hyundai HB20, enquanto Toyota Etios e Renault Sandero ficavam na linha dos hatches racionais. O Polo veio para incomodar com sua moderníssima plataforma MQB, design aclamado pela maioria, e tecnologias nunca antes vistas no segmento, como painel digital configurável, sistema de frenagem pós-colisão, discos de freio nas quatro rodas, sem contar o motor 200TSI, elogiável pela eficiência.

Seus rivais comiam muita poeira em desempenho, dirigibilidade, segurança (principalmente), e modernidades a bordo. O Polo não deixava barato nem para o Fiat Argo, que chegou meses antes apostando ainda no antigo motor 1.8 E.TorQ e com itens emprestados da picape Toro. Enfim, outros tempos, quando o VW estava realmente em um naipe superior. Mas, seis anos depois, o mundo e o mercado automotivo são outros: o Polo acabou ficando para trás, e se a VW demorasse um pouco mais para atualizá-lo, ele seria atropelado pelos rivais.

Quase foi: antes disso, ele mudou na linha 2023 pra ficar mais atual e páreo para o segmento. Ok, perdeu os ótimos 128 cv e mais de 20 mkgf de torque do motor 200TSI, mas em prol do maior equilíbrio do 170TSI, que se aproxima com os números do antigo 1.6 16v. Só para contextualizar, aqui falamos da versão Highline do Polo, hoje tabelada em R$118 mil sem cor metálica, que é seu único opcional. A VW “mirou bem” o preço desse carro, tanto que ele fica exatamente no meio do caminho dos equivalentes da Chevrolet, Hyundai e Toyota. O carro das fotos tem o kit Black, oferecido como pacote especial de lançamento, o que explica as rodas e outros detalhes em preto brilhante, bem como os tapetes especiais no interior, soleiras nas quatro portas e outras perfumarias. Já não está mais no catálogo.

Motor TSI não é mais o 200: menor potência e torque trouxeram, no entanto, maior economia (Foto: Lucca Mendonça)

Como ele se comporta hoje? Bem. Os 109/116 cv de potência com quase 17 mkgf de torque dessa nova calibração (ainda com injeção direta e duplo comando variável), deixam o hatch parelho ao Chevrolet Onix Turbo ou Hyundai HB20 TGDI no desempenho, por exemplo, sem mais ter aquele “plus” de antes. Ainda que a transmissão automática de seis marchas aposte em relações longas (inclusive a final), não é preciso muito esforço do conjunto, que tem força máxima bem cedo, para mover o Polo com esperteza e agilidade. Nessa versão avaliada, a opção de trocas manuais das marchas já ajuda a driblar os (poucos) momentos de indecisão ou lerdeza do câmbio.

Durante mais de 950 km percorridos em sete dias com o carro, vazio ou lotado, na cidade e estrada, só ficou nítido um turbolag acima do normal, coisa que requer um pouco de costume, mas nada que faça desapontar: está na média dos rivais, nada além nem aquém. Em nossas medições, o hatch conseguiu número bem próximo daquele divulgado no 0 a 100 km/h (ao redor dos 10,5 segundos), embora as quatro válvulas por cilindro priorizem um maior fôlego nas baixas e médias velocidades.

 

Em momentos de redução, sem precisar acionar o modo manual, a caixa AT6 mostrou-se rápida nas ações: baixou marcha quando precisou, subindo assim que possível para poupar combustível. Esse motor TSI EA-211 é praticamente o mesmo de antes, o que significa um projeto maduro, assim como o do carro: tem bloco inteiro em alumínio, usa a boa e velha correia dentada, conta com quatro válvulas por cilindro, injeção direta, só que uma calibração mais mansa, que se reflete diretamente na emissão de gases poluentes e consumo.

O 200TSI de antes já não abria espaço para reclamações nos números de km/l, enquanto o 170TSI o supera: com etanol em todo o tempo do teste, mesclando diferentes percursos e usos (cerca de 70% deles na estrada), a média final ficou em 11,8 km/l. Nas piores situações de uso urbano, ele dificilmente marcou menos de 7,5 km/l, enquanto no rodoviário, em picos, fez até 14 km/l. Como contraponto, nessa linha 2023 o tanque de combustível perdeu alguns litros, e o alcance máximo caiu.

Realmente é de se surpreender números desses em um hatch compacto topo de linha e ainda por cima automático. Maravilhas da engenharia, engenharia essa que também está em outros carros do segmento, vale falar. Entretanto, difícil achar outro melhor pra viajar do que ele, dada a relação final longuíssima do diferencial (ele roda a apenas 2 mil giros a 100 km/h em 6ª), excelentes níveis de silêncio a bordo (até os pneus Pirelli, de baixo atrito, merecem elogio nessa), e um cuidado da engenharia alemã nos materiais fonoabsorventes (sons mundanos são bem estancados). Pegar a estrada é uma tarefa muito mais fácil e prazerosa assim…

Lembrando que, como já dito na matéria da versão TSI manual, o Polo 2023 deu um salto no conforto a bordo, ostentando agora suspensões com calibração bem menos dura, para a alegria dos ocupantes. É um carro mais macio ao passar pela buraqueira, absorve muito melhor as ondulações e desníveis da pista, sem perder sua tradicional dinâmica apurada. Ou seja, ele perdeu só um pouquinho na capacidade de contornar curvas, por exemplo, mas está muito mais confortável. Como as rodas de liga-leve não vão mais além do aro 16 e contam com pneus altos, essa versão Highline teve grandes ganhos.

Ajustes de direção e freios, que trabalham exatamente como deveriam, continuam finos e intocáveis desde sua estreia, assim como a carroceria, que torce o mínimo e lida de forma competente com o atrito aerodinâmico. Durante o uso, o parachoque dianteiro baixo, pontiagudo, costumou “embicar” com frequência nas maiores valetas ou passagens por lombadas. Nesse quesito, os carros de linha anterior (frente antiga), levam vantagem graças ao maior ângulo de ataque.

Dizer que o Polo é o mais espaçoso e modular da categoria é um mito. Ainda que a base MQB permita a generosa distância entre-eixos e bitolas suficientemente largas, o espaço para os passageiros tem alguns pontos que não agradam tanto assim, como o túnel central pronunciado ou o assoalho bastante baixo. Se acomodam bem quatro ocupantes, mesmo que grandes, ou cinco caso não haja problemas em se apertar um tanto a mais. Não é o campeão, mas está quase lá.

 

O vão entre os bancos é agradável, complementando o teto alto e espaço generoso para os pés de quem viaja atrás. Motorista e passageiro dianteiro não tem do que reclamar: viajam envoltos pelo painel, console e laterais de portas, o que remete a um cockpit de carro esportivo. Nessa versão já existem saídas de ar-condicionado traseiras, que vem juntas de duas portas USB pra recarregar celulares, tablets e afins. Um porta-malas de bom tamanho reforça a praticidade no uso diário e a competência na hora de viajar.

O Polo Highline, fenômeno e queridinho em 2017, não é mais o mesmo. Em contrapartida, passou a custar menos e oferecer alguns itens a mais no conteúdo de série, justamente para suprir o que perdeu na mecânica. Se ele não é mais tudo aquilo que foi e marcou há seis anos, hoje é um cara mais “crescido”: trocou acelerações poderosas por economia de combustível, escolheu o conforto de suspensões macias e pneus mais altos, e entendeu que não precisa ser mais caro para provar seu valor. Amadureceu, como qualquer um…

Ficha técnica:

Concepção de motor: 999 cm³, flex, três cilindros, 12 válvulas (quatro por cilindro), turbo, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: automática com conversor de torque e seis marchas, com opção de trocas manuais na alavanca ou paddle-shifts
Potência: 109/116 cv a 5.000 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 16,8 mkgf a 1.750 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus e rodas: Pirelli Cinturato P7, medidas 195/55 e rodas de liga-leve aro 16
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,07 m/1,75 m/1,47 m/2,57 m
Porta-malas: 300 litros
Tanque de combustível: 49 litros
Peso em ordem de marcha: 1.154 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,1/10,5 segundos (gasolina/etanol)
Velocidade máxima: 189/192 km/h (gasolina/etanol)
Preço básico: R$117.990 (carro avaliado: R$121.290 – extinto Kit Black incluso)

Itens de série:

“HHC” (Hill Hold Control) – Assistente para partida em subidas, “Piloto automático” – controle automático de velocidade, Airbags frontais + Airbags laterais dianteiros, Alerta sonoro e visual de não utilização dos cintos de segurança dianteiros e traseiros, Alto-falantes (6), Antena no teto, Apoios de cabeça no banco traseiro com ajuste de altura (3), Apoios de cabeça fixos para bancos dianteiros, Ar-condicionado digital “Climatronic” com filtro de poeira e pólen, Banco do motorista com ajuste milimétrico de altura, Banco traseiro com encosto rebatível bi-partido, Carregamento de celular por indução, Cintos de segurança automáticos de três pontos na frente com tensores dos cintos (elétricos) e ajuste de altura, Coluna de direção com ajuste de altura e profundidade, Controle eletrônico de estabilidade (ESC), Controle de tração (ASR) e Bloqueio eletrônico do diferencial (EDS), Câmera traseira, Descanso de braço dianteiro com porta-objetos, saídas de ar traseiras e entrada USB, Desembaçador, limpador e lavador do vidro traseiro, Direção elétrica, Espelho retrovisor interno eletrocrômico, Espelhos retrovisores externos eletricamente ajustáveis com função tilt down no lado direito, Faróis de LED com luz de condução diurna de LED integrada, Fixação da cadeirinha de criança com sistema ISOFIX® / Top tether, Fárois com função “coming/leaving home” e luz de condução diurna em LED ao lado dos faróis de neblina, Iluminação do porta-luvas, Iluminação no porta-malas, Luzes de leitura dianteira e traseiras, Manopla de transmissão em couro, Maçanetas das portas e espelhos retrovisores na cor do veículo, Painel de instrumentos digital de 10.25″, Para-sóis com espelhos iluminados para motorista e passageiro, Revestimentos dos bancos em couro sintético, Rodas de liga leve 16″ com pneus 195/55 R16, Sensor de chuva e crepuscular, Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, Sistema “Kessy” – acesso ao veículo sem o uso da chave e botão para partida do motor, Sistema Start-Stop, Sistema de alarme com comando remoto (Keyless), Sistema multimidia “VW Play” tela de 10,1″ touchscreen e App-Connect, Sistemas de controle da perda de pressão pneus e sistema de frenagem automática pós colisão “Post Collision Brake “, Tomadas USB tipo C, Vidros elétricos dianteiros e traseiros com função “one touch” nos dianteiros, Volante multifuncional em couro com “shift-paddles”

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.