(Avaliação) Novo Fiat Argo 1.0, o quase veterano, ainda vale a pena?

Sempre há aqueles carros que chegam antes do tempo, e assim conseguem passar anos sem precisar de renovação. Um deles é o Argo, compacto da Fiat que tomou espaço de Palio, Punto e Bravo de uma vez só…isso lá no começo de 2017: passados mais de seis anos, hoje ele pode ser considerado o hatch compacto de geração mais antiga a venda no Brasil. Pra quem não sabe, falar em longos períodos de produção também pode ser entendido como um projeto maduro, com todos os problemas resolvidos e acertos finalizados. Ultrapassado? Nesse caso, não.

Para sobreviver todo esse tempo, e continuar atraente, ele apenas precisou de um retoque no parachoque dianteiro (parece que tirou a barba, ficando mais limpo sem uma falsa tomada de ar preta), uma nova grade, uma nova “tampa” do volante, além de rodas ou calotas de desenhos inéditos. E só. Quando o cara nasce provido de beleza e se cuida bem, é quase certo que a velhice demora mais para vir.

E, pra quem não quer gastar muito em todos os sentidos, é a versão Drive que mais parece atraente: custa R$85 mil básica, ou R$87 mil se você quiser um carro idêntico ao das fotos, com cor metálica mais ESP e Hill Holder, que lamentavelmente ainda são opcionais em pleno 2023. Aliás, hoje o Argo não oferece de série nada além do que a lei exige quando o assunto é segurança: dois airbags, ABS, cintos de 3 pontos e 5 apoios de cabeça e ISOFIX.

Um Drive 1.0 básico custa R$85 mil, mas esse das fotos ronda os 87 (Foto: Lucca Mendonça)

O Argo é um conhecido da maioria, principalmente nessas versões de entrada, como a Drive, presente no catálogo desde 2017. Não por acaso é a mais vendida, e as chances de você pedir um carro por aplicativo e surgir um desses pra te levar são grandes. Isso porque falamos de um hatch facílimo de guiar, bastante leve e confortável, e que faz médias de consumo conquistadoras. Mérito do Firefly, 1.0 com três cilindros, hoje fornecendo seus 71/75 cv de potência e 10,0/10,7 mkgf de torque (g/e), junto das cinco marchas curtas do câmbio manual que ajudam na desenvoltura do Fiat.

O Firefly cai tão bem nos hatches que acabou indo parar também nos Citroën C3 e Peugeot 208, ajudando a melhorar a reputação complicada das marcas francesas com relação a confiabilidade mecânica. Com esse 1.0, simplíssimo nos componentes e robusto para baratear o custo de manutenção (não há correia dentada para trocar, mas sim uma corrente de comando praticamente vitalícia, por exemplo), o Argo também é econômico, conseguindo rodar ao redor dos 14,5 km/l na cidade e rondar os 20,0 km/l na estrada, usando gasolina.

Bastante economia de gasolina nos testes: mais de 14 km/l na cidade e quase 20 km/l na estrada (Foto: Lucca Mendonça)

Como um bom 1.0 moderno, ele não nega encarar uma viagem com ocupantes e bagagens, mas, pelas primeiras marchas de relações encurtadas (o motor trabalha sempre numa faixa mais elevada de rotação, mais próxima do seu pico de força) e duas válvulas por cilindro (facilitando e adiantando o processo de entrada de ar no Firefly), é nas menores rotações que ele se mostra mais rápido, ágil e esperto, especialmente com etanol no tanque.

Desempenho do hatch é agradável principalmente nas baixas rotações (Foto: Lucca Mendonça)

Ainda que não seja dos mais leves da categoria, o Fiat tem desempenho agradável no dia-a-dia, mas tudo é questão de trabalhar bem com o que a caixa C513 e suas cinco marchas oferecem. Isso também vale para o uso rodoviário, onde vez ou outra ele requer uma redução para não perder o embalo, ou uma esticada em caso de retomadas de velocidade, por exemplo. Pena que os comandos da alavanca não sejam dos melhores: apesar da maciez nas trocas, as posições pecam pela imprecisão, e algumas marchas, como a ré, arranham com frequência. Em contrapartida, do câmbio é ouvido pouco barulho, e o pedal da embreagem não cansa o pé esquerdo.

O Argo, aliás, deu uma boa melhorada de uns anos pra cá quando o assunto é silêncio e suavidade a bordo: além da quinta marcha um pouco mais longa desde a última reestilização, o que faz o motor trabalhar mais quieto e em rotações menores, a Fiat deu uma maior atenção para diminuir os ruídos internos (montagem mais esmerada das peças) e de rodagem, como nas mantas acústicas espalhadas pela carroceria. Não é um carro que vibra em excesso nem incomoda pela barulheira.

E apesar da concepção “feijão com arroz”, a Fiat acertou na dose de calibrar suas suspensões ou direção, com assistência elétrica progressiva e leveza que facilita qualquer manobra. Além de bastante confortável e macio, como deve ser para lidar com nosso piso complicado, o carro tem comportamento correto nas curvas ou mudanças bruscas de direção, e transparece robustez a longo prazo.

A vida a bordo é tranquila, só que, quem tem mais de 1,80 m, vai precisar se acostumar com o volante distante e com a condução de braços esticados, inclusive para chegar na alavanca de câmbio. Hoje, ele oferece só o ajuste de altura do volante e banco do motorista: louvável, afinal alguns rivais mantêm tudo fixo. Seus bancos tem escolha correta da espuma e tecido, ainda que fiquem no nível razoável em ergonomia para os motoristas maiores. E quem viaja atrás está bem servido com um belo vão para as pernas, teto alto e pouco curvado, e largura suficiente pra dois adultos e uma criança pequena no meio. Espaçoso e com porta-malas grande.

Além do estilo que ainda agrada, é dele um dos interiores com melhor acabamento da categoria, plus interessante pra um carro de uso diário. De série, aqui na Drive, há computador de bordo com outras funções extras (configurações do carro e afins), multimídia de 7” com Android Auto/Apple CarPlay, ar-condicionado, direção elétrica, volante multifuncional, vidros dianteiros e travas elétricas, porta USB traseira, calotas aro 15, maçanetas e retrovisores pintados, monitor de pressão dos pneus, alarme, banco traseiro rebatível, 6 alto-falantes e outras minorias já faladas. Conteúdo padrão para sua faixa de preço.

Além da mancada gravíssima do ESP ainda como opcional por R$500 (acompanha controle de tração e Hill Holder), um outro pacote de R$3 mil extras recheia o hatch com vários luxos (ar digital automático, chave presencial, partida do motor por botão, sensor de ré, faróis de neblina, vidros elétricos nas quatro portas, retrovisores elétricos e mais). Completão, temos um Drive 1.0 de praticamente R$90 mil, que já passa a ficar próximo do Trekking, pseudo-aventureiro com motor 1.3, que hoje sai por R$93 mil. Questão de negócios, mas, ao que tudo indica, a idade ainda não é problema para o Fiat Argo: veterano, mas respeitável.

Ficha técnica:

Concepção de motor: 999 cm³, flex, três cilindros, 6 válvulas (duas por cilindro), aspiração natural, injeção indireta de combustível, comando de válvulas único no cabeçote, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: manual de 5 marchas + ré
Potência: 71/75 cv a 6.000 rpm (gasolina/etanol)
Torque: 10,0/10,7 mkgf a 3.250 rpm (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus e rodas: Pirelli Cinturato P1, medidas 185/60 e rodas de aço com calotas aro 15
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,00 m/1,72 m/1,50 m/2,52 m
Porta-malas: 300 litros
Tanque de combustível: 47 litros
Peso em ordem de marcha: 1.077 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 14,6 seg./13,4 seg. (gasolina/etanol)
Velocidade máxima: 162 km/h (etanol)
Preço básico: R$84.490 (carro avaliado: R$86.790)

Itens de série:

Multimídia UCONNECT de 7″ Touchscreen com Android Auto e Apple Car Play, Bluetooth, entradas USB (2) e Sistema de reconhecimento de voz, Porta USB no console central, LED Design nos faróis dianteiros, Luz de leitura dianteira, Vidros elétricos dianteiros com one touch e sensor antiesmagamento, Volante com comandos de rádio e telefone, Alarme antifurto, Alertas de limite de velocidade e manutenção programada, Ar condicionado com filtro antipólen, Banco do motorista com regulagem de altura, Brake light, Chave canivete com telecomando para abertura das portas, vidros e porta-malas, Cintos de segurança dianteiros com regulagens de altura e pré-tensionadores, Cintos de segurança traseiros (laterais e central) retráteis de 3 pontos, Computador de Bordo, Desembaçador do vidro traseiro temporizado, Direção elétrica progressiva, Encostos de cabeça traseiros (laterais e central), ESS (Sinalização de frenagem de emergência), Follow me home, Gancho universal para fixação cadeira criança (Isofix), Airbag duplo (motorista e passageiro), Freios ABS com EBD, Iluminação do porta-malas e porta-luvas, TPMS (Monitoramento de pressão dos pneus), Maçanetas e retrovisores externos na cor do veículo, Sistema de som com 4 alto-falantes e 2 tweeters, Quadro de instrumentos com tela de 3,5″ multifuncional, Retrovisores externos com comando interno mecânico, Rodas de aço com calotas integrais aro 15, Travas elétricas, Volante com regulagem de altura

Compartilhar:
Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.