(Avaliação) Hyundai Creta 1.0 turbo pode ser melhor que o 2.0 aspirado?

A Hyundai, no Creta Ultimate, vai na contramão do mercado e coloca nele um belo motor 2.0 de quatro cilindros sem turbo. Ali, a aspiração é natural, assim como a chegada do torque, bastante progressivo e sem aquele imediatismo do turbo. E, fora ele, nenhum outro SUV compacto do mercado nacional conta com um bom e velho 2.0 debaixo do capô. Mas do 2.0 já falamos aqui, inclusive muito bem. O carro tem méritos de sobra. E o Creta 1.0 turbo, aquele com mecânica de HB20?

2.0 vai bem, mas e o 1.0 turbo? (Foto: Lucca Mendonça)

Lembrando que não é nada pejorativo falar de um Creta com motor de HB20. É assim que a maioria da indústria trabalha: as versões mais baratas dos SUVs tem a mesma mecânica dos hatches compactos mais caros. Aqui, no caso, um 1.0 TGDI (Turbo Gasoline Direct Injection, que curiosamente é flex), com três cilindros, injeção direta e duplo comando variável. Tem tamanho bem reduzido até para um 999 cm³, e aquela vibração descompassada típica dos tricilíndricos, enquanto potência e torque agradam: 120 cv e 17,5 mkgf com gasolina ou etanol.

Bem compacto e silencioso, mas não tão suave, ele é bom nos números (Foto: Lucca Mendonça)

Com força total bem cedo, em torno dos 1.500 rpm, e contando com a parceria de uma transmissão automática de seis marchas, o conjunto foi preparado pela engenharia da Hyundai para trabalhar nas mais baixas faixas de rotação. O 1.0 praticamente “ronrona” em boa parte do tempo, e o pouco que se percebe dele é pelo conta-giros do painel, já que o silêncio a bordo se destaca. Motor e transmissão você só ouve se abaixar o rádio, e olhe lá. Um bom sinal.

O silêncio impera no Creta, ainda mais quando falamos de motor e câmbio (Foto: Lucca Mendonça)

A caixa automática mal espera chegar nos tais 1.500 giros e já sobe para a próxima marcha, isso até mesmo nos modos normais de condução. Com o Sport ativado, o conjunto fica mais ágil e, normalmente, mais acelerado. Mesmo assim, com o torque excelente em baixa, não acaba faltando força em nenhum momento. As respostas do acelerador acabam sendo até parecidas com as do 2.0 e seus 19,2 mkgf de torque a altos 4.700 rpm (gasolina). A força dele e do 1.0 é próxima, e o fator turbo ainda garante que ela venha mais cedo nesse Platinum.

Na prática, um resultado parecido ao comando do acelerador entre 1.0 turbo e 2.0 aspirado (Foto: Lucca Mendonça)

Para ultrapassar ou acelerar de maneira mais rápida no 1.0 turbo, os recursos do próprio modo Sport, as trocas de marchas manuais e um clássico kickdown no acelerador resolvem a “missão” sem problema algum, já que o câmbio é esperto também nas reduções. Só para lembrar, existem rivais com peso parecido ou mais “gordinhos” que esse Creta Platinum trabalhando com até 3 mkgf de torque a menos. Alguns ainda tem até a companhia de um CVT, mais letárgico.

Console central tem freio de mão eletromecânico, botão do resfriamento de banco, além do seletor giratório de modos de condução (Foto: Lucca Mendonça)

Uma ótima coincidência entre esse 1.0 e o 2.0 está no consumo: os dois são igualmente econômicos, pelo menos em parte das situações de uso. Curioso, no mínimo. Na cidade, esse Platinum conseguiu passar dos 10,5 km/l de etanol, número que cresceu para quase 13 km/l na estrada. O tanque de combustível com 50 litros, que antigamente seria bem razoável, já é um ponto a ser elogiado hoje em dia.

Econômico e com tanque ideal no tamanho (Foto: Lucca Mendonça)

Por essas e outras, pode ser que o 1 litro da Platinum, a mais cara com essa mecânica, que inclusive sai por R$145.290 (R$155.090 no caso do carro das fotos, que tem teto-solar panorâmico e cor metálica), seja tão bom ou até melhor que o 2 litros da topo de linha. Claro que ter um propulsor grande e o logo bonitão “2.0” na tampa do porta-malas fazem bem para os argumentos de venda do carro: “O Creta Ultimate tem o motor de maior cilindrada da categoria” e outros.

Emblema “2.0” na tampa traseira é mais vendável que “TGDI” (Foto: Lucca Mendonça)

Agora, se a sua dúvida for o Creta como um todo, te trago uma ótima notícia: o carro é uma das melhores opções do segmento. Ele tem preço dentro da média do mercado, e, mesmo não sendo essa a configuração mais completa, por esses menos de R$150 mil entrega bastante conteúdo e tecnologias bem-vindas, como a câmera 360º com assistente de ponto-cego. Para melhorar, só se oferecesse faróis em LED no lugar dos halógenos, menos eficientes.

O acabamento desse Platinum também mistura cores, formatos e texturas (interior “colorido” que só os Hyundai oferecem hoje), mas tem plástico duro em excesso. Apesar disso, sua ergonomia e habitabilidade são de primeira, com direito ao interior espaçoso, bem ventilado e iluminado, posição de guiar das boas e comandos fáceis. Dirigindo, passa ótima impressão com a segurança dos freios a disco nas quatro rodas e conforto pelas suspensões equilibradas, ainda que o mal da direção anestesiada dos 2.0 permaneça.

1.0 turbo ou 2.0 aspirado, o Hyundai Creta é sempre uma boa opção. Se você quer comprar o Ultimate só pelo seu motor maior, sem se importar com a lista de itens de série mais recheada, dê antes uma olhadinha nesse Platinum 1.0T, que pode até ser menos equipado, mas também é menos caro. Às vezes, 1 pode ser melhor que 2…

Ficha técnica:

Concepção de motor: 999 cm³, flex, três cilindros, 12 válvulas (quatro por cilindro), turbo, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas, variador de fase na admissão e escape, bloco e cabeçote em alumínio
Transmissão: automática com conversor de torque e 6 marchas. Possibilidade de trocas manuais na alavanca ou paddle-shifts
Potência: 120 cv (gasolina/etanol)
Torque: 17,5 mkgf (gasolina/etanol)
Suspensão dianteira: independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: Goodyear EfficientGrip SUV, medidas 215/60. Rodas de liga-leve aro 17
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,30 m/1,79 m/1,63 m/2,61 m
Porta-malas: 422 litros
Tanque de combustível: 50 litros
Peso em ordem de marcha: 1.270 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,5 segundos (etanol/gasolina)
Velocidade máxima: 180 km/h (etanol/gasolina)
Preço básico: R$145.290 (carro avaliado: R$155.090)

Itens de série:

Câmera de ré com linhas dinâmicas, 4 vidros elétricos one-touch, Conexão USB traseira, Ajuste volante altura/profundidade, Piloto automático e limitador de velocidade, Ar-condicionado automático digital, Paddle shifts, Chave presencial Smart Key com telecomando de travamento das portas e porta-malas, Carregador sem fio para smartphone, Banco do motorista com ventilação, Smart câmera 360º, multimídia de 10,2” com GPS nativo e Android Auto/Apple CarPlay, concierge BlueLink, Teto solar panorâmico, Seleção do modo de direção, 6 airbags, Freio a disco nas 4 rodas, Ajuste elétrico de altura dos faróis, Faróis de neblina, Sensor de estacionamento traseiro, Câmera para monitoramento de ponto cego, Freio de estacionamento eletrônico com função Auto-Hold, Monitoramento de pressão dos pneus, Alerta de presença no banco traseiro, Rodas de liga leve diamantadas 17”, Volante revestido em couro, Bancos revestidos em couro sintético na cor marrom, Painel de instrumentos digital colorido Supervision Cluster de 7”, Maçanetas externas com acabamento cromado e maçanetas internas em cromo acetinado, Grade frontal hexagonal prata com borda cromada, Faróis halógenos com projetor, Luzes diurnas em LED (DRL)

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.