(Avaliação) Ford Ranger FX4 prova que “meio-termo” é sempre ótimo. Vale a pena?

O objetivo da Ranger FX4 pode ser difícil de entender no primeiro momento (“já existe uma versão bem parecida, a Storm”), mas depois de um tempo ele fica claro. A Ranger Storm é bonitona, enfeitada, robusta e provavelmente a mais adequada para o off-road na linha da picape, mas é simplona e enxuta. Era preciso ter uma espécie de “Storm premium”, e daí veio a FX4, reaproveitando uma grife tradicionalíssima da Ford USA. Ela está um degrau abaixo da topo Limited, ou seja, é bem completa, mas traz design invocado. Um meio-termo entre requinte, luxo, esportividade, off-road e enfeites que os picapeiros tanto adoram.

A missão da FX4 é ser algo aventureiro mais premium que a Storm (Foto: Lucca Mendonça)

É uma boa rival para a Chevrolet S10 High Country ou Nissan Frontier PRO4X, mas custa menos. E oferece menos também, até porque a FX4 é uma configuração intermediária da picape da Ford, baseada na XLT, com elementos da Limited e um visual parecido com o da Storm. As demais são oficialmente as versões mais caras, com preços acima dos R$301.790 cobrados por essa Ranger FX4.

Versão intermediária na gama Ranger, a FX4 custa pouco mais de R$300 mil (Foto: Lucca Mendonça)

Encontrar nela algum diferencial mecânico é complicado. É a fórmula de sucesso composta pelo robusto turbodiesel 3.2 de cinco cilindros Duratorq, que rende 200 cv de potência com 48 mkgf de torque, acoplado a caixa 6R80, automática de seis velocidades concebida pela própria Ford, que trabalha bem despejando a força para as rodas traseiras como padrão. O 4×4 permite que ela seja distribuída para as quatro rodas, inclusive com reduzida, pelo típico botão giratório do console central. Sem erros.

3.2 de cinco cilindros é espaçoso e de barulho bonito (Foto: Lucca Mendonça)

É um powertrain que se dá bem pela robustez e torque prematuro, já que tem força total aos 1.750 giros, e ainda anima qualquer um que goste minimamente de motores diesel. Seu ronco típico de espaçoso cinco cilindros em linha, configuração que só a Ranger tem, é gostoso de ser ouvido, principalmente nas acelerações. Isso sem contar na relativa economia de combustível para uma picapona de duas toneladas, que conseguiu até 14 km/l de diesel na estrada pelas marcas do computador de bordo.

Apesar de pesada e com motor antigo, a FX4 conseguiu ser relativamente econômica (Foto: Lucca Mendonça)

O diferencial da FX4 está mesmo nos enfeites e design da carroceria. Ela tem nitidamente algo mais refinado, e, como tanto fala a Ford, mais esportivo: seus faróis de LED são escurecidos como as lanternas, enquanto a grade vem importada da sua irmã Norte-Americana (componente bem bonito, inclusive), sem falar nas caixas de roda não muito exageradas, adesivos típicos, um santantônio bem útil e as rodas pretas aro 18.

Bonita a grade da Ranger americana (Foto: Lucca Mendonça)

Resumindo, é um carro bem bonito e chamativo. Até mais que a Storm, inclusive. Principalmente na cabine, a FX4 está mais para o lado da Limited com o aplique no painel e laterais de porta imitando uma espécie de fibra de carbono, ou o mix de cromados e plástico com textura de couro. Fechando o conjunto, seus bancos de couro tem gravura “FX4” e costuras vermelhas. O vermelho também está nas linhas do volante, alavanca de câmbio e freio de mão. Combina com o estilo de fora e faz valer aquele tal lado esportivo.

O carro avaliado ainda tinha acessórios que a Ford oferece: o snorkel, permitindo que o motor respire em maiores imersões dentro d’água (até 80 cm, nada mágico), ou a caixa organizadora que vem fixada de uma forma interessante na caçamba, permitindo que ela gire e até tranque. Rodas de aro 17 e pneus lameiros também são itens a parte, e vem da Storm. Mas esses são interessantes só se você precisar estritamente de um plus no off-road, já que tiram parte da beleza da FX4. O jogo de pneus de uso misto e rodas 18 já é bem competente.

Rodas 18 e pneus de uso misto caem melhor visualmente (Foto: Lucca Mendonça)

De qualquer forma, a receita da Ranger ainda é boa, mesmo com seu projeto de uma década e nova geração que já bate à porta. Alguns tratam até essa FX4 como a “versão final” da atual geração. A picape é uma das melhores na direção e conforto, pontos que a Ford vira e mexe ajusta detalhes para aperfeiçoar. Vale a pena, já que, apesar de picape chassi/carroceria, ela é boa na posição de guiar, habitabilidade e até espaço interno. E, principalmente, não chacoalha tanto. Aqui nessa versão ficou faltando só o ajuste de profundidade do volante, que a Limited já oferece.

Mas não há do que reclamar além disso: tem ar digital automático de duas zonas, banco do motorista com ajustes elétricos, painel de instrumentos com as duas telas digitais multifunção (no melhor estilo do finado sedan Fusion), multimídia de 8” completona, 7 airbags, faróis e DRL em LED, sensores de chuva e crepuscular, conexões via smartphone pelo FordPass, partida remota do motor, assistente de permanência em faixa, detector de fadiga, tampa da caçamba com assistente de abertura/fechamento, retrovisores com rebatimento elétrico, retrovisor interno fotocrômico e por aí vai. É das recheadas.

Capota marítima, protetor de caçamba e caixa organizadora, instalada no lado esquerdo da caçamba, são acessórios (Foto: Lucca Mendonça)

Vale a pena?

Os quase R$302 mil de tabela são exatamente os mesmos cobrados pela XLT, na qual ela se baseia. Mas há quem prefira a Ranger “em seu estado natural” ao invés de uma série mais diferenciada como a FX4, então é válido oferecer as duas opções por valores idênticos. É um carro interessante para quem quer uma Ranger com algo a mais, que a Storm não oferece em itens de série e a XLT ou Limited deixa de ter no design. Entre uma e outra, o meio-termo. Até no preço.

Ficha técnica:

Concepção de motor: 3.198 cm³, diesel, cinco cilindros, 20 válvulas (quatro por cilindro), turbo VGT intercooler, injeção direta Common Rail, duplo comando de válvulas, bloco e cabeçote em ferro fundido
Transmissão: automática com conversor de torque e 6 velocidades, com possibilidade de trocas manuais pela alavanca
Potência: 200 cv a 3.000 rpm
Torque: 47,9 mkgf a 1.750 rpm
Suspensão dianteira: independente, do tipo braços sobrepostos, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo rígido com feixe de molas
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira, tambores na traseira
Pneus e rodas: Pirelli Scorpion ATR, medidas 265/60. Rodas de liga-leve aro 18
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 5,35 m/1,87 m/1,85 m/3,22 m
Caçamba: 1.180 litros
Capacidade de carga: 1.014 kg
Tanque de combustível: 80 litros
Peso em ordem de marcha: 2.247 kg (carro avaliado)
Aceleração 0 a 100 km/h: 11,4 segundos
Velocidade máxima: 180 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$301.790

Itens de série:

Sistema de redução de poluentes com Arla 32, Diferencial traseiro blocante eletrônico, Faróis full-LED, Sistema AdvanceTrac: controle eletrônico de estabilidade e tração,
anticapotamento e adaptativo de carga, Controle de oscilação de reboque, Assistente de partida em rampas, Assistente de permanência em faixa, Assistente de fadiga, Câmera de ré e sensor de estacionamento traseiro, Sensor de chuva, Conectividade FordPass, Central multimídia SYNC 3, Ar-condicionado digital automático de duas zonas, Direção elétrica, 7 airbags, Painel de instrumentos digital com duas telas, Rodas 18” com pneus All-Terrain (50% on road – 50% offroad), Tampa traseira assistida, Santantônio exclusivo, Estribos plataforma, Alargadores de paralama, Grade exclusiva, Faixas laterais e emblema traseiro FX4, Bancos com revestimento premium, ajuste elétrico e lombar para o
motorista

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.