Sport 4×4: o raro Jeep Compass que (quase) ninguém conhece

Alguns carros vendem como água no deserto, Coca-Cola em lanchonete fast-food ou guarda-chuva em dia de temporal, e o Jeep Compass é um desses casos. Lançado em setembro de 2016 no Brasil, ele sempre superou a barreira dos R$100 mil na versão de entrada, mas isso nunca desencorajou seus ávidos compradores. Praticamente 5 anos depois, são mais de 265 mil unidades rodando pelo país, o que, para um SUV médio, é um número estrondoso.

Durante esse tempo, foram diversas versões, séries especiais, tipos de motorização/tração e por aí vai. As mais comuns e que caíram no gosto do público-consumidor brasileiro foram a intermediária Longitude e a “básica” Sport, ambas com motor 2.0 flex. As mais caras Limited e Trailhawk não ficam muito atrás, e também são figurinhas carimbadas nas ruas. Mas em carros de sucesso assim, sempre tem aquelas variações desconhecidas, raras ou que não deram certo, e esse Jeep não foge à regra.

Foto: Jeep/divulgação

Em 2017, na época que o Compass completava seu primeiro ano de mercado, outro Jeep que ia muito bem no ranking de vendas era o Renegade, em especial a configuração Sport Diesel 4×4 com seu motor 2.0 turbodiesel de 170 cv e câmbio automático ZF de 9 velocidades. Na época, ele já era o carro diesel mais barato do país, posto que ocupa até hoje com a versão Moab.

Pois bem, com o relativo sucesso desse tal Renegade diesel de entrada, decidiram repetir a receita no Compass Sport, mas com algumas mudanças nos ingredientes: ele passava a adotar somente a tração integral e a transmissão automática de 9 marchas, deixando de lado o motor 2.0 diesel por uma questão de estratégia de mercado. Como era a primeira (e última) vez que o propulsor 2.0 flex trabalhava com a caixa ZF, essa combinação exigiu um certo de trabalho dos engenheiros para fazer esse “casamento” de motor/câmbio. Ou seja, não era só pegar as peças prontas da prateleira e montar o carro…

A princípio, era a mesma proposta de outros concorrentes do segmento, como o Honda CR-V e Chevrolet Equinox (ambos com motor 1.5 turbo a gasolina e tração AWD), mas no Compass Sport não deu tão certo assim. O motivo era simples: Por conta do custo de desenvolvimento dessa nova versão, além dos componentes mais caros (transmissão e sistema de tração sofisticados), seu preço seria alto demais pra uma versão flex da época, mesmo com seus diferenciais em relação ao Sport 4×2.

Foto: Jeep/divulgação

O resultado prático disso seriam vendas muito abaixo do esperado, já que era um carro de nicho (específico para um pequeno público-alvo). Só que não tinha mais volta: o trabalho para desenvolver a nova versão já estava em andamento dentro dos centros de engenharia da FCA do Brasil (hoje Stellantis), e descartar todo aquele progresso seria jogar dinheiro no lixo.

Para amenizar os prejuízos, o tal Compass Sport flex 4×4 foi lançado na linha 2018 como uma “edição limitada” sem número específico de unidades produzidas, e custava R$118 mil. Para se ter uma ideia, ele era R$15 mil mais caro que um equivalente com tração dianteira, e não havia diferença na lista de equipamentos dos dois. Sua única exclusividade era o emblema “4×4” ao lado do “Sport” na tampa do porta-malas, e o visual simplório de versão de entrada foi mantido (rodas aro 16, retrovisores e maçanetas sem pintura, ausência de frisos cromados etc.).

Foto: Jeep/divulgação

Como essa versão esteve disponível no modo “somente enquanto durarem os estoques”, ela não saiu de linha oficialmente. Foram cerca de 700 unidades produzidas, e esse lote foi dividido entre a frota de uso interno da fábrica e o mercado comum, com distribuição mais focada para a região Sudeste do país. Hoje, segundo registros da frota nacional de veículos, restam exatamente 632 Compass Sport flex 4×4 em circulação.

Mas não pense que, apesar do insucesso, esse seja um daqueles modelos ruins de mercado: além de ele ser um Jeep Compass (altamente procurado e valorizado no mundo dos carros usados), o diferencial da tração 4×4 vale muito na hora de comprá-lo ou vende-lo. E, fora isso, essa Sport flex 4×4 é uma das versões do SUV médio da Jeep que menos desvalorizam, provando que, pelo menos no mercado de usados, ela tem seu lugar garantido sob o sol.

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.