VW Fox: o Voyage com 2.762 modificações para exportação


O Voyage foi um modelo que teve vida no Brasil por duas vezes. Nasceu em 1981 como modelo 1982 com base no Gol, usando o motor longitudinal VW BR 1.5 de 78 cv de potência SAE a 6.100 rpm (65cv ABNT) e 11,5 kgfm de torque, encontrado nas versões a gasolina ou a etanol sempre com quatro marchas no câmbio manual, nas versões de acabamento S, LS e GLS.

O sedanzinho conquistou muitos fãs por sua robustez e confiabilidade, e seus atributos foram muitos, desde um projeto moderno, motor potente, posição de dirigir esportiva, câmbio com ótimo escalonamento e estabilidade acima da média se comparado à concorrência da época. Em 1982, foi eleito o carro do ano pela revista AutoEsporte, e seu sucesso se perdurou com versões icônicas, entre 2 e 4 portas.

Em 1983 o Voyage passou a utilizar o motor MD 270 1.6 litro, identificado pelo emblema “1.6” na grade do radiador, sendo este o motor o mais potente que a Volkswagen do Brasil produzia até então (81 cv ABNT na versão a etanol e 73 cv ABNT na versão a gasolina). Em 1985, a linha recebia o motor 1.6 AP-600, com 85 cv ABNT na versão a etanol e 80 cv ABNT na versão a gasolina.

Em 1986, teve o Voyage Super que recebeu o motor 1.8s que também equipava Gol GT, rendendo 94 cv a 5000 rpm e 15,2 kgfm a 3600 rpm, sempre associado a um câmbio manual de 5 velocidades, além de bancos Recaro e maior requinte interno. Arisco, chegava aos 100 km/h partindo do zero em 11,1s e tinha velocidade final de 178 km/h, sagrando-se como um dos carros mais rápidos dos anos 80.

Em 1987, o sedan de entrada da VW mudou externamente, e aí já oferecia as versões C, CL, GL (as três movidas pelo AP 1.6) e GLS (topo de linha, com motor AP 1.8S). Esta última veio em substituição a Super, equilibrando com mais competência o luxo e a esportividade.

Se a pessoa quisesse comprar um Voyage de luxo, a versão GLS trazia como itens de série a carroceria de 2 portas, motor 1.8s de 96 cv a 5000 rpm com 15,6 kgfm a 3400 rpm, câmbio manual de 5 marchas, bancos Recaro com regulagem de altura para o motorista, retrovisores com regulagem interna (manuais), conta giros no painel, rodas de liga-leve de 13”, faróis de neblina, além de um sistema de rádio toca-fitas, 4 alto-falantes e acabamento exclusivo. Vidros elétricos e ar-condicionado eram opcionais, e bem caros.
No mesmo ano, 1987, a Volkswagen do Brasil deu início as exportações para os Estados Unidos e Canadá dos VW Voyage e Parati, renomeando ambos para Fox e Fox Wagon, respectivamente (“Fox” significa “Raposa” em inglês). Para atender às exigências legais dos mercados americano e canadense, bastante diferentes das nossas brasileiras, os modelos receberam nada menos que 2.762 modificações de todos os tipos: desde o monobloco até o interior, passando por mecânica, equipamentos…enfim, veja abaixo algumas delas.
- cintos de segurança fixados na porta e de 3 pontos para todos os passageiros,
- faróis halógenos e selados (“sealed beans”),
- sinalizadores nas laterais,
- lanternas nos para-choques dianteiros,
- descongelador e desembaçador do para-brisas,
- barra de direção com deslocamento progressivo em caso de colisão,
- dispositivo antifurto,
- barras de proteção lateral,
- luz de direção nas laterais,
- dispositivo antirruído nas pastilhas de freio,
- Catalisador
Também estava disponível um grande leque de acessórios para personalização, alguns até impensáveis em nosso Voyage, como para-barro, spoiler dianteiro, aerofólio traseiro, luzes de longo alcance, suporte para bicicletas ou bagageiro no teto, rodas, rádios/toca-fitas e mais. Lembrando que, assim como no mercado nacional, o Fox poderia ter duas ou quatro portas, enquanto o Wagon era sempre vendido com duas portas.
Os Fox foram vendidos para estes mercados com o mesmo motor 1.8 (AP-800) da versão GLS nacional. Lá, este motor se chamava 1.8L SOHC, e tinha sua potência reduzida para 81 cv a 5500 rpm, além do menor torque de 12,9 kgfm a 3250 rpm, associado a um câmbio manual de quatro velocidades conhecido como 3+E (a 4ª atua como sobremarcha). Esta transmissão foi utilizada no Voyage como opcional quatro anos antes, chamado de “câmbio longo”. Por ser mais fraco e, principalmente, mais pesado que o carro vendido no Brasil, levava 14,63s no 0 a 100 km/h e não passava dos 150 km/h.
Esse motor 1.8 tinha potência reduzida propositalmente para não competir com outros VW como Rabbit (Golf), por exemplo, e vinha com o sistema de injeção eletrônica Bosch KE-Jetronic, de apenas um injetor. Já no Brasil, a injeção eletrônica seria oferecida apenas no final de 1988 no Gol GTi, no Santana a partir de 1990 e no restante da nova linha a partir de 1994. Para as terras do Tio Sam, nada do obsoleto carburador.
Desde seu lançamento como Fox, trazia o painel mais moderno a ser lançado no Brasil apenas na linha 1988 (popularmente conhecido como “Satélite”), porém com o velocímetro em milhas por hora, mas mantendo os comandos próximos colocados na “capela” da instrumentação, que podiam ser acionados sem que se retirasse as mãos do volante. A suspensão do Fox era mais macia, para agradar aos gringos, fazendo os modelos rolarem mais nas curvas, e os freios, modificados, eram de maior capacidade.
Os Fox de 1990 em diante vendidos nos EUA foram oferecidos com o sistema de injeção mais moderno Bosch Digifant, de quatro injetores (um para cada cilindro), melhorando seu desempenho e consumo. Para o Canadá, teve sempre a simplória K-Jetronic, de injetor único e sem sensor de oxigênio para fazer o gerenciamento do fluxo de injeção.
Em 1991 o modelo foi reestilizado seguindo a reestilização do Voyage, e o Fox Wagon deixou de ser exportado para os dois mercados norte-americanos. No ano seguinte era lançado o Fox Wolfsburg Edition, agora com câmbio de 5 velocidades e interior caprichado, o que incluía bancos em veludo e ar-condicionado de série.
Mesmo assim, as vendas baixas não justificavam as exportações, e em 1993 o sedan brasileiro deixou de ser oferecido de vez para a EUA e Canadá.
No total, foram mais de 202 mil unidades de VW Fox e VW Fox Wagon exportadas durante os sete anos em que foi comercializado na América do Norte. Já no Brasil o Voyage foi produzido na primeira fase até 1995, sempre carburado, e só recebeu injeção eletrônica em 2009, quando voltou a ser produzido na terceira geração (comercialmente reconhecida como quinta).

Morreu de novo como linha 2023 na versão 1.0 MPI, com um moderno 1.0 12v de 3 cilindros, até 84 cv a 6350 rpm com 10,4 kgfm a 3000 rpm (dados com etanol). É o mesmo motor que está sob o capô dos Polo Track e MPI. O VW Fox, agora já falando do hatch altinho lançado em 2003, voltaria a ser exportado em abril de 2005, desta vez para a Europa, em substituição ao Lupo. Mas esse é outro carro, e com outra história…
