Oswaldo: um raro Fusca 1600 Exportação 1986
Hoje é a vez do meu Fusca. Trata-se de um 1600 Exportação 1986, com interior de luxo (bancos altos, de veludo, carpete e aquecedor). Apenas os “Exportação” tem aquecedor de série nessa fase, pois nos carros de mercado eram item opcional (isso mesmo, opcional) desde 1973. O raro 1300 GL de 1982 tinha de série, mas nos demais seguiu como opcional até 1986. Além disso, os Exportação tem motor a gasolina e carburador simples de fábrica.
Isso mesmo, carburador simples e o tradicional filtro de ar “tamanduá”. O meu está com dupla carburação, colocada, Solex H32PIC. Mas com isso o aquecedor e seu sistema de funcionamento tiveram que ser removidos e, naturalmente, guardados. Existem alguns Fusca anunciados atualmente como sendo modelo Exportação, mas a álcool, o que naturalmente não é possível.
Esse “Besouro” tem um lugar especial no meu coração, pois foi da última fornada que a VW fez em 1986.
Faturado para um funcionário da fábrica em 29/10/1986, aqui em São Paulo, ele estava literalmente entre os últimos. A produção oficialmente acabou em 31/10/86. E tem mais um motivo para ser especial: nunca foi restaurado, nunca foi desmontado, teve retoques, mas está como saiu da fábrica, e nem mesmo a parte inferior dianteira tem raspados. As cinco rodas são originais, o manual é dele e tem os documentos antigos. Ah, e tem todos os vãos com graxa de fábrica, tanto no motor como no porta-malas. Coisa fina.
Gosto muito de Fusca, tanto que já tive dez, se não perdi nenhum nessa conta. Tive até um 73 que dei um aparelho de som na troca e veio ele. Tive um 55 com motor de Porsche 912, que vou falar numa matéria oportuna. Tive 65, 77, 82…nossa, um monte deles. Só não fui proprietário de nenhum desses modernos, com suspensão McPherson. Mas um dia hei de ser. Enfim, esse 1986 é o último da minha lista até o momento, que minhas filhas carinhosamente apelidaram de Oswaldo.
Minha história com ele começa com um anúncio num grande site de veículos. Pelas fotos achei o carro bacana, embora todos os meus amigos próximos, que também são apaixonados pelas relíquias, me desaconselhassem a ir ver o carro, teimei em ir. Ah, esqueci de falar um pequeno detalhe: estava a quase 600 km de distância. Mas acreditei no feeling e vamos em frente. Busão noturno, viagem de primeira classe, cheguei lá, fechei negócio e trouxe o carro rodando de volta, 560 km em seis horas. Nada mal para um Fusquinha com 35 anos. E veio firme.
Mas tem aquelas coisas de Fusca. São 200 km de reta e eu vindo, quando de repente começa a chover e a estrada fica lisa. Não deu tempo de tirar o pé e logo o mundo ficou de lado. Tira o pé, contra-esterça e ele vai se acertando, até o mundo ficar reto novamente… Se pisar no freio, aí é capaz do mundo ficar de cabeça para baixo, pois Fusca não perdoa, ainda mais com pneus finos originais. Aquela cambagem positiva traseira quando está em curva também não ajuda muito.
O carro é bem íntegro, tem até mesmo os bate-pedra nos pára-lamas, coisa bem rara, e assoalho intocado e original, com os betumes e tudo. É muito prazeroso de andar, pelo menos para mim, e representa a máxima expressão do “German Position of Driving”, posição alemã de dirigir numa tradução livre, na qual é banco lá embaixo e painel e volante retos. Não há carro com mais posição alemã de dirigir do que o Fusca. Aliás, nada é como dirigir um Fusca, com seu cheiro de gasolina, seus barulhos e seu charme indiscutível.