Chevette 1.7 Silpo: a solução para o fraco desempenho do Chevrolet 1.4

Quando o Chevette foi lançado em meados de 1973, ele era originalmente equipado com um motor 1.4 projetado e desenvolvido pela Vauxhall em parceria com a Isuzu, ou seja, inglês com colaboração japonesa. Mas a tal parceria não foi assim tão positiva, pois o 1.4, na época, não tinha uma potência específica das mais altas.

Ele produzia parcos 68 cv de potência máxima com 1.4 litro e um torque muito aquém do esperado, de baixos 10,3 mkgf. Lembrando que esses dados são brutos, sem descontar as perdas de bomba d´água, bomba de óleo, alternador, ventilador e por aí vai. Líquido, aquilo que sobrava no virabrequim para movimentar o veículo, tínhamos na realidade algo na casa dos 60 cv e 9,2 mkgf de torque. Isso sim era o que movia o Chevette.

De projeto inglês e japonês, o motor do primeiro Chevette não era dos mais potentes (Foto: Chevrolet/divulgação)

Nem é preciso dizer que esses valores contidos tornavam o desempenho do recém-lançado Chevette bem aquém das expectativas do mercado, que esperava muito mais de um motor com comando de válvulas no cabeçote movido por correia dentada ou cabeçote de fluxo cruzado (com admissão de um lado e escapamento do outro, o crossflow).

Mesmo com boas tecnologias para a época, o sedan da GM contava com concepção “clássica” e com maior perda energética (Foto: Chevrolet/divulgação)

E como seu motor era longitudinal e a concepção da mecânica era a “clássica” da época (motor dianteiro acoplado ao câmbio, cardã e tração traseira através de eixo rígido), as perdas mecânicas eram ainda maiores. Na prática, os primeiros Chevette iam de 0 a 100 km/h em pouco menos de 20 segundos e não passavam dos 140 km/h de velocidade máxima. Pela concepção mecânica de seus componentes, o carro era até leve e tinha menos de 900 kg.

Aqueles motoristas que buscavam uma performance mais marcante ficavam frustrados com o desempenho do então novo GM, e os preparadores da época começaram a buscar alternativas para melhorá-lo. Um dos primeiros a trabalhar no motor 1.4 do Chevette foi o italiano Silvano Pozzi, proprietário da oficina de preparação Silpo (das iniciais de seu nome e sobrenome), que também era um ponto autorizado Weber.

A Silpo, de Silvano Pozzi, foi uma das primeiras a mexer no 1.4 do Chevette (Foto: Juvenal Jorge)

Fabricante de karts desde o início dos anos 60, quando chegou a produzir mais de 300 unidades, Pozzi trabalhou bastante nos pequenos chassi de kart e motores de dois tempos, trazendo muita tecnologia de fora, principalmente da Europa, mais especificamente Itália. O preparador italiano trabalhou também com a Gurgel produzindo algumas criações únicas de mini-carros, no desenvolvimento do esportivo Dardo e também de alguns projetos da Envemo (Engenharia de Veículos e Motores).

Era um mago quando o assunto era motor, criando e desenvolvendo virabrequim, comandos de válvulas especiais e até cabeçotes de alta performance. Pois bem, Silvano, em 1975, começou a desenvolver o motor 1.4 do Chevette com melhorias. Como faltava força no Chevette, em especial nas baixas rotações, como relatavam os proprietários da época, o preparador italiano concentrou-se no aumento da capacidade cúbica daquele motor.

O bloco 1.4 era o mesmo, mas com capacidade cúbica aumentada para 1.7 litro (Foto: Juvenal Jorge)

Usinando um novo virabrequim que proporcionasse curso mais longo dos pistões e utilizando estes com diâmetro maior, no bloco original do Chevette, a Silpo chegou a uma capacidade cúbica de 1.7 litro, fato que melhorava substancialmente o torque do motor principalmente nas baixas e médias rotações. Mas um propulsor maior requeria também uma alimentação mais rica: assim, o carburador de 34 mm original do 1.4 foi substituído por um Weber duplo IDF de 40 mm. Cada corpo do carburador alimentava dois cilindros do motor.

Com ligeiro aumento da taxa de compressão e um coletor de escapamento do tipo 4 em 1, inteiramente feito em aço (o original era de ferro), a preparação deu vida nova ao motor do Chevette. Como utilizava o mesmo comando de válvulas de fábrica, o propulsor não girava muito, mas tinha uma força, ou torque, excepcional desde as arrancadas até as médias rotações. Bingo! O problema havia sido resolvido.

Com o novo motor preparado, o Chevette ganhava bastante fôlego (Foto: Juvenal Jorge)

As arrancadas do Chevette, antes insossas, passaram a ser vivas e cheias de vigor. Em 1976, a Silpo, do Silvano Pozzi, vendia esse kit para os donos de Chevette insatisfeitos com sua performance original, e o preparador gostou mesmo da brincadeira: começou a desenvolver versões até mesmo mais potentes que essa. Na carburação, por exemplo, passou a oferecer para quem quisesse, dois Weber 40. Com o novo coletor, cada corpo alimentava um cilindro, fato que melhorava muito o rendimento volumétrico do motor da Chevrolet.

Silvano logo gostou da brincadeira e começou a adicionais mais melhorias ao seu kit, como a dupla carburação (Foto: Juvenal Jorge)

Silvano soube que, no fim dos anos 70, uma empresa inglesa havia desenvolvido para aquele mesmo motor 1.4 Vauxhall, um cabeçote que utilizava dois eixos comando de válvulas: um para as de admissão e outro para as de escapamento. Um cabeçote de altíssima performance que colocava o desempenho do pequeno propulsor em um nível muito alto. A Silpo logo importou um cabeçote desses e fez “cópias” (cinco, para ser mais exato), sempre para desenvolvimento dessa nova máquina.

Por questões de custo e complexidade construtiva desse novo cabeçote, Silvano Pozzi acabou desistindo desse projeto, pois o ganho no desempenho não era assim tão destacável quanto era de se esperar, principalmente considerando que não era nada fácil de ser executado. Mesmo assim a Silpo vendeu cinco dessas unidades, algumas 1.6 e outras 1.7. Quatro delas se perderam na história ao longo do tempo, restando apenas esse carro azul das fotos.

Sobrevivente, esse carro azul das fotos é pra lá de especial (Foto: Juvenal Jorge)

Vale lembrar que a chegada do motor 1.6 original da GM, que ocorreu em 1981, resolveu boa parte do raquitismo impregnado no motor 1.4. Com curso maior dos pistões, graças a um novo virabrequim, o motor original de fábrica ficou bastante razoável em questões de desempenho, acalmando os donos de Chevette descontentes. Mas, claro, a Silpo continuou fazendo carburação melhorada, coletores de escapamento especiais e outros itens que garantiam performance ainda melhor do 1.6.

Mesmo com a chegada do 1.6 original da Chevrolet, Pozzi continuou trabalhando nas suas preparações (Foto: Juvenal Jorge)

Convel e Envemo by Silpo

Em meados dos anos 70, quando desenvolveu virabrequim e pistões maiores para o 1.4, Silvano Pozzi oferecia tais componentes mecânicos ao mercado, já que eram duráveis e confiáveis. Por isso, uma concessionária paulistana Chevrolet da época, a Convel, passou a oferecer aos seus clientes o Chevette 1700-C. Basicamente era o kit de virabrequim e pistões maiores que aumentavam a capacidade cúbica do motor 1.4 para 1.7 litro, dando aquela força que faltava ao sedan da GM nas arrancadas e retomadas de velocidade.

Confiáveis, os kits da Silpo eram oferecidos até por uma concessionária Chevrolet da época (Foto: reprodução/chevettesdicasevenenos.blogspot.com)

Claro que o tal kit poderia vir com o carburador Weber 40 de corpo duplo ou com o novo coletor de admissão que utilizava um carburador de corpo duplo que já proporcionava um sensível ganho de desempenho, principalmente se fosse acompanhado também do coletor de escape tubular. Esse 1700-C, oferecido entre 1976 e 1978, tinha visual exclusivo com poucos cromados, rodas especiais e poderia trazer até teto-solar (também adaptado).

O tal Chevette 1700-C tinha visual esportivo e até opção de teto-solar (Foto: Convel/divulgação)

Já a Envemo, que produzia muitos componentes personalizados para veículos Chevrolet, desenvolveu um body-kit para o Chevette, que melhorava seu visual e também aerodinâmica (como o carro azul das fotos). Se o consumidor quisesse, podia-se adquirir a personalização da Envemo, que deixava o Chevette mais esportivo e aerodinâmico e, em associação à Silpo, equipá-lo com motor mais potente graças a nova carburação, cilindrada aumentada e coletor de escape melhorado.

A unidade azul sobrevivente tem também body-kit da Envemo (Foto: Juvenal Jorge)

Assim, o proprietário teria um Chevette bem descolado na aparência e com desempenho que certamente o destacaria na manada. Uma opção bem legal para a época. Para quem gosta do sedan menor da GM, com sua tração traseira e carroceria leve, essas lembranças dos anos 70 até meados dos anos 80 até que vão bem!

Somando o kit mecânico da Silpo ao visual exclusivo, tinha-se um Chevette bem diferente, que se destacava na manada (Foto: Juvenal Jorge)
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Jornalista na área automobilística há 48 anos, trabalhou na revista Quatro Rodas por 10 anos e na Revista Motor Show por 24 anos, de onde foi diretor de redação de 2007 até 2016. Formado em comunicação na Faculdade Cásper Líbero, estudou três anos de engenharia mecânica na Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) e no Instituto de Ensino de Engenharia Paulista (IEEP). Como piloto, venceu a Mil Milhas Brasileiras em 1983 e os Mil Quilômetros de Brasília em 2004, além de ter participado em competições de várias categorias do automobilismo brasileiro. Tem 67 anos, é casado e tem três filhos homens, de 20, 31 e 34 anos.