Ford Fiesta 1.3: o espanhol de vida curta no Brasil

Lançado no exterior em 1976, o Ford Fiesta é um sucesso pelo mundo todo, além de ser bastante elogiado por sua dirigibilidade e eficiência. Sua terceira geração (Mk3), codinome BE-13, chegou na Europa em 1989 e aumentou ainda mais sua popularidade, em grande parte graças a adoção da carroceria de 5 portas. Essa geração teve o maior tempo de produção do modelo, e foi um dos mais vendidos da Europa no começo dos anos 1990.

Fiesta está em produção desde 1972 pelo mundo, mas no Brasil só foi realmente virar sucesso nos anos 2000 (Foto: Ford/divulgação)

O carro teve diferentes versões mundo afora, sendo a Popular, Popular Plus, L, LX, Ghia, 1.6S, XR2i, RS Turbo, RS1800, LA, DL, SX, Azura, Si, Classic, Classic Quartz, Classic Cabaret, C, CL, CLX, sem contar a pickup Courier, de 1991, que também desembarcou por aqui anos mais tarde, em outra geração. O carburador deu adeus em 1991, ano que foi incorporada a injeção eletrônica à linha. Em 1994, chegava o airbag no volante como item de série, além de melhorias estruturais e também um novo imobilizador para as versões a gasolina. Neste mesmo ano, já em vias de encerrar seu ciclo de vida, o Fiesta BE-13 perdia versões e simplificava sua gama. Mas não antes de desembarcar no Brasil…

Enquanto já era conhecido na Europa como “Classic”, dividindo espaço nas concessionárias com a geração seguinte, o Fiesta MK3 era lançado pela primeira vez em solo nacional em abril de 1995, importado de Valencia, na Espanha. Na verdade, atrasou: a expectativa era tê-lo à venda já em fevereiro. Mostrado em evento realizado na Base Aérea de Pirassununga, ele oferecia uma configuração específica para o Brasil, em versão única sem nome, e vinha para concorrer com GM Corsa, VW Gol e Fiat Uno Mille ELX. Foi o primeiro hatch da Ford vendido no Brasil, e um dos menores da história da marca por aqui.

Atrasado, ele chegou aqui em abril de 1995 com duas missões: suprir a falta do Hobby e rivalizar com Gol, Uno e Corsa (Foto: Ford/divulgação)

O modelo chegou nas opções de 3 ou 5 portas, sempre com motor Endura-E 1.3L de 60 cv a 5000 rpm e 10,3 kgfm de torque a 2500 rpm, injeção eletrônica monoponto com módulo eletrônico EEC-IV, e um acabamento bom comparado aos seus concorrentes. Ainda assim, esse 1.3 era um parente bem próximo do CHT (que, por sua vez, é um projeto Renault chamado Cléon-Fonte), e, além da concepção inteira em ferro fundido, tinha soluções antiquadas como o comando de válvulas instalado no bloco.

Mas o torque era acima da média diante dos concorrentes, o que tornava sua condução bastante agradável, além de econômica, com médias de gasolina de 12,7 km/l na cidade e 16,4 km/l na estrada em testes da imprensa especializada. Segundo dados de fábrica, acelerava de 0 a 100 km/h em 14,2 segundos, atingindo os 152 km/h de velocidade máxima, na média da categoria na época. Se comparado ao seu antecessor, o obsoleto Escort Hobby, o Fiesta espanhol levava a melhor em parte dos quesitos.

Economia e bom torque em baixas rotações eram destaques, e no desempenho ele se igualava aos rivais, praticamente (Foto: Ford/divulgação)

Confortável, o modelo oferecia como itens de série desembaçador traseiro, retrovisores com comando interno, calotas aro 13, aquecedor, luz de neblina traseira, relógio digital, vidros verdes, cintos de segurança de 3 pontos traseiros, ajuste de altura dos cintos dianteiros e barras de proteção no porta-malas. Na lista de opcionais figurava o banco traseiro bipartido, rádio toca-fitas, ar-condicionado, direção hidráulica, limpador e desembaçador do vidro traseiro, além das 5 portas. Como curiosidade, não era possível ter ar-condicionado e direção hidráulica no mesmo pacote, por limitações de espaço de seu pequeno cofre: ou era um, ou era o outro.

O hatch da Ford vinha com o maior porta-malas do segmento até então, com 240 litros de capacidade, e sua grande área envidraçada fazia dele o queridinho das manobras de estacionamento. Pecava no design já ultrapassado, de linhas retilíneas e pesadas, posição de dirigir bastante baixa, direção muito direta, as vezes se comparando inclusive a um kart, além do estepe colocado embaixo do carro, ocasionando uma manobra muito incômoda quando seu proprietário precisasse utilizá-lo.

Com 417 concessionárias em todo o país e socorro mecânico Ford Assistance, tinha 1 ano de garantia sem limite de quilometragem, ao custo básico de R$12.095,00 na ocasião da sua apresentação nacional, o equivalente hoje a R$ 119.799,44 conforme correção pelo IGPM/FGV (preço da versão de entrada, sem opcionais e com duas portas). A estimativa da marca era importar algo na casa das 50.000 unidades no primeiro ano, mas a rede de concessionárias, vendo o sucesso dos rivais, queria convencer a fabricante a trazer o dobro. Hoje, registrados no Denatran, são ainda 22.466 carros.

No Brasil, a nova geração chegou junto com a produção nacional em maio de 1996, dando fim a vida do carrinho espanhol em apenas treze meses. Mas, foi uma boa mudança: graças a nova geração, apelidada de “Fiesta Chorão” ou “Tristonho”, o hatch consagrado da Ford caiu nas graças do consumidor brasileiro, fato que se concretizou mesmo após o facelift de 1999, tornando o Fiesta um rival de peso para VW Gol, GM Corsa, Fiat Palio, Peugeot 206 e Renault Clio. Mas esta já é outra história…

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.