Fiat Uno S 1050: o Uno quase Mille
Nos anos 80, a maioria dos carros fabricados eram movidos a etanol, e o Proálcool, iniciativa do governo para enfrentar a crise mundial do Petróleo e incentivar o consumo de combustíveis vegetais, era um dos grandes responsáveis. Em 1987, 90% dos carros produzidos eram a álcool. Mesmo assim, as marcas ofereciam alternativas movidas à gasolina, para os clientes mais conservadores que assumiam um custo por km mais alto, em prol de um funcionamento mais suave e estável. Em tempos de carburador, isso contava muito.
O Fiat Uno, lançado em 1984, atravessou gerações com um conceito simples, funcional e ao mesmo tempo genial. Trazia como grande trunfo seu espaço interno e soluções criativas como cinzeiro deslizante no painel, limpador de para-brisas único e todos os comandos do painel a mão por teclas, que eliminava a necessidade de o motorista tirar as mãos do volante para acionar.
Considerado pelo próprio marketing da marca o “Carro de Gênio”, em 1985 foi pioneiro em oferecer o computador de bordo opcional, juntamente com o Fiat Prêmio. Um carro tão moderno, com linhas tão fluidas e com um excelente espaço interno agradou em cheio.
Com uma dianteira de inclinação acentuada e traseira alta, cortada quase na vertical, o hatch da Fiat era compacto mas muito espaçoso, mesmo se comparado a carros maiores como GM Monza e Ford Del Rëy. Graças a soluções que visavam boa aerodinâmica, como vidros nivelados à carroceria ou mesmo maçanetas embutidas, seu Cx era de apenas 0,35, próximo ao dos carros mais arredondados e modernos.
O nível de ruído era baixo para os padrões da época, e permitia que o motorista viajasse a 120 km/h sem sentir a velocidade, além disso, sua estabilidade era comparada a dos melhores esportivos, permitindo que se acelerasse em tomadas de curvas, mesmo usando pneus 145SR13 e rodas de tala 4,5”.
Lançado inicialmente nas versões S, CS e SX, oferecia os motores 1050 a gasolina (exclusivo da versão S), 1300 a gasolina para a versão CS e 1300 a etanol para as versões S, CS e SX. Hoje falaremos da rara versão básica a gasolina, o Fiat Uno S 1050.
O Uno S era o modelo de entrada da linha, e tinha como itens de série câmbio de 4 marchas, bancos revestidos em courvim, rodas aro 13 e tala de 4,5 polegadas, pneus 145R13, garantia de 1 ano sem limite de quilometragem contra defeitos mecânicos e garantia de 4 anos contra corrosão.
Como opcionais, oferecia acendedor de cigarros, cinzeiro móvel deslizante, protetor inferior para o motor e câmbio, bancos dianteiros reclináveis com apoios de cabeça, câmbio de cinco marchas, filtro de ar adicional, limpador/lavador e desembaçador do vidro traseiro, protetor do tanque de combustível, servo-freio, tampa do porta-luvas e pintura metálica. Eram seis cores: quatro sólidas (branco, bege, vermelho e verde) e duas metálicas (cinza e verde).
Podia vir também com o conjunto denominado “interior de luxo”, que incluía, além dos bancos reclináveis com apoios de cabeça, o revestimento em tecido. Com o confiável motor Fiasa de 1048,8 cm³ de cilindrada (1050 para os íntimos) a gasolina, tinha 52 cv de potência a 5600 rpm e 7,8 kgfm de torque a 3200 rpm, alimentado por um carburador de corpo simples e fluxo descendente.
Tinha desempenho modesto, acelerando de 0 a 100 km/h em 18,24s e atingindo os 139,3 km/h de velocidade máxima. Em contrapartida, muito econômico, com médias de 11,38 km/l na cidade e 17,99 km/l na estrada. Em pleno 2023, nem mesmo alguns carros com motor 1.0 e injeção eletrônica multiponto possuem estas médias. Para um motor antiquado alimentado a carburador, era um feito e tanto.
Suas vendas nunca foram altas, e a tal versão, lançada em 1984, foi descontinuada em 1987. Em 1990, a simples redução de 40% para 20% na alíquota do IPI vigente viabilizava o lançamento do primeiro carro popular dos novos tempos, e o motor voltaria a produção, desta vez a bordo do Fiat Uno Mille.
O único detalhe era sua cilindrada reduzida para 994 cm³, oferecendo agora 48,8 cv a 5700 rpm e 7,4 kgfm de torque a 3000 rpm. O Uno Mille era capaz de fazer de 0 a 100 km/h em 20,04s e alcançar 133,1 km/h de velocidade máxima. O consumo era razoável, considerando a alimentação por carburador de corpo simples: 10,8 km/l de gasolina na cidade e 13 km/l na estrada, e não chegava aos pés do seu antecessor Fiat Uno S 1050, melhor em todos os quesitos.
Como carro de gênio, o Uno 1.0 virou referência como carro popular nos anos 90, e em seu projeto original, deixou de ser produzido no final de 2013. Um carro bastante eficiente, racional, com espaço interno muito bem aproveitado e que fez história nas garagens e nas estradas de nosso país.