Foto de capa: Vitor Lourenço
Com o slogan “Compacto para quem vê, gigante para quem anda”, foi lançado no final de 2003, como linha 2004, o VW Fox. Sua plataforma era a PQ-24 (a mesma do VW Polo à época), com projeto assinado pelo designer Luiz Alberto Veiga. Tinha a missão de substituir o VW Gol, que estava em sua segunda geração. O hatch altinho tinha recursos presentes em monovolumes e abusava de nichos para objetos, agradando em cheio famílias e, principalmente, o público feminino, que se deparava com um carro compacto, moderno e ao mesmo tempo muito espaçoso.

Por custar um pouco mais caro que o Gol, logo o Fox ganhou seu espaço no mercado, passando a ser o segundo Volkswagen mais vendido do Brasil enquanto foi fabricado, e angariou fãs. Inovador não só em seu estilo, lançou o primeiro motor 1.0 flex do mundo, fixou moda com o aventureiro urbano CrossFox, inaugurou também o motor EA-211 1.0 com 3 cilindros e teve vida longa na sua única geração, sendo fabricado até 2021, quando saiu de linha como modelo 2022.

Nestes 18 anos de fabricação, não lhe faltam histórias curiosas de seus proprietários. Hoje, por exemplo, contarei uma sobre um modelo Connect 1.6 8v faturado em 02/08/2021.

Seu proprietário, Vitor Lourenço, é taxista e seu foco são viagens. A escolha pelo substituto de seu VW Polo 200 TSi se deu, na verdade, pela indisponibilidade de outros modelos à pronta entrega, dada a crise de semicondutores que se arrasta há quase dois anos com grandes impactos nos estoques dos fabricantes. Como o VW Fox era o único disponível de imediato, o modelo foi escolhido para que o atendesse por 1 ano ou mais, até que os estoques dos demais modelos estivessem regularizados (o que não aconteceu até hoje).
No dia em que o veículo foi retirado da concessionária, Vitor tinha uma viagem programada com um cliente para Ribeirão Preto/SP, onde moro, e tive a oportunidade de dirigir o carro com apenas 351 km rodados – basicamente a distância de São Paulo até Ribeirão Preto. Graças à pandemia, muitos executivos têm tido resistência em viajar de avião, então não falta trabalho para o Vitor.

Prestes a sair de linha à ocasião, o modelo me impressionou como ainda era atual em conceito, apesar de sua construção mais simples e não tão segura se comparado aos projetos atuais.
Logo começamos a avaliar sua resistência e durabilidade, e fizemos o acompanhamento quase diário deste carro e de suas aventuras pelo Brasil. A época ajudou, pois como diz o próprio Vitor, ele tem trabalhado como um camelo, e as viagens têm sido constantes. Em alguns casos, são até duas por dia.

Como ele tem vindo à Ribeirão duas vezes por mês, pude acompanhar a “evolução” da quilometragem, e tenho visto um carro bastante resistente desde o dia que foi retirado da concessionária.
Com seu motor EA-111 na versão 1.6 8v, o modelo fornece 104 cv de potência máxima a 5250 rpm e 15,6 kgfm de torque a 2500 rpm, suficientes para levar o hatch aos 183 km/h de velocidade máxima e fazer de 0 a 100 km/h em 10,6s. Seu consumo oficial, com gasolina, é de 11,6 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada.

Falando ainda de consumo, existem muitas variáveis, e os dados oficiais são apenas uma média. Mas podemos considerar, sempre, ao analisar estes números, uma variação de 1 km/l a menos para a cidade e até 3 km/l a mais na estrada. Bem condizente com as médias encontradas pelo Vitor e por mim, quando, vez ou outra, tenho contato mais direto com seu Fox. Sendo assim, para um motor de projeto antigo, 16,9 km/l de média rodoviária geral é um número muito bom. E considerando outras variáveis, não foram poucas as vezes que o Vitor conseguiu 18 ou até 19 km/l com gasolina.

Com as revisões feitas conforme manda o manual, o modelo teve apenas troca de correia dentada, tensor, velas, cabos de vela, óleo, pastilha de freio e um pneu substituído. Neste caso, cabe uma explicação: como o veículo roda muito em estradas, o Vitor não quis fazer o rodízio dos pneus, e quando os dianteiros chegaram em seu limite de uso, ele comprou uma unidade nova e pegou o estepe, da mesma medida, para uso, formando assim um conjunto novo. E acreditem: após 100 mil km, os traseiros praticamente não tiveram desgaste acentuado.

Rodando em vários estados, com viagens frequentes para MG, RJ, além das cidades espalhadas pelo estado de SP, o modelo teve apenas um para-brisa trincado nesses 11 meses, prontamente trocado pela companhia de seguros.
Por coincidência, esta semana o Vitor estava aqui em Ribeirão Preto novamente, e quando saímos para almoçar, me deparei com o odômetro acusando 99.952 km. É claro que não deixaria a oportunidade passar de acompanhar a virada dos 100 mil km do carro, e sendo assim, fizemos um passeio na cidade até que o velocímetro acusasse os tais seis dígitos. Foram exatos 331 dias desde que o veículo foi retirado da concessionária, e teve até bolinho com vela para comemorar o momento solene.
E o que dizer de um carro com alta quilometragem? Desde que sejam feitas as revisões como manda o manual, e usado o óleo certo sempre, o veículo tem vida longa, e pode ultrapassar a barreira dos 400 mil km sem muitas dificuldades. É claro que o uso em estrada ajuda a conter o desgaste, uma vez que o veículo não precisa se “esforçar” tanto para sair da inércia como no anda-para do trânsito urbano (considerado uso severo nos manuais), além de trabalhar sempre com a temperatura correta de seus fluidos e afins. Uma vez com a manutenção em dia, e sem abusos na condução, a vida longa é certa.

Se km alta fosse um problema, os ônibus rodoviários seriam trocados a cada 6 meses, e pelo contrário, eles rodam por, pelo menos, 5 anos, sete dias por semana e quase 24 horas por dia. Tudo depende da manutenção.
ps: Para os mais curiosos, eis a foto do velocímetro do carro ontem, dia 06/07/2022, exatamente uma semana após bater 100 mil km:
