Claudio Demaria e os carros queridinhos do brasileiro

Demaria foi uma das grandes figuras na história da Fiat das últimas décadas. O público, em sua maioria, o desconhecia, mas praticamente todos já andaram ou tiveram pelo menos uma de suas “crias”: quase todo Fiat lançado aqui a partir de meados dos anos 90 saiu de sua mente ou teve sua forte influência no projeto. A primeira parceria dele com o Brasil vinha com o Palio, estreado em abril de 1996, mas bem antes disso ele já participava da criação de carros na Europa.

Chamado Projeto 178, o Palio foi o primeiro feat entre Demaria e Brasil (Foto: FIat/divulgação)

Em dois momentos diferentes (entre 2005 e 2008 e depois de 2011 a 2018), Claudio foi chefe de engenharia da Fiat/FCA brasileira, mas antes disso começou bem jovem na fabricante: aos 19 anos, como projetista recém-formado, em 1973. Tanto tempo de experiência na mesma empresa fizeram dele uma espécie de expert em concepção de automóveis, já que entendia bem não só de projetar, como também motorizar ou até fabricar cada macchina da marca italiana.

Depois de quase 40 anos na Fiat e liderando tantos projetos importantes, Demaria acabou se tornando quase que um expert em concepção de automóveis (Foto: Fiat/divulgação)

Infelizmente acabou falecendo no final do ano passado, em outubro, aos 68 anos, mas para admirar seu legado basta dar uma volta pelas ruas brasileiras, onde encontram-se milhares de Fiat Palio e sua família (Weekend, Siena e Strada), Novo Uno, Grand Siena, Punto, 500, Doblò, Ducato, Nova Fiorino, Mobi, Argo, Cronos, Toro…isso sem falar nas plataformas como a MP1, que gerou a MLA do Fiat Fastback, ou a memorável 178. Veja, em números, os sucessos automotivos “filhos” de Claudio Demaria:

Família Palio (1ª geração)

Linha Palio, ainda sem o fenômeno Strada (Foto: Fiat/divulgação)

Apesar de inúmeras reestilizações e plásticas no visual, o tão queridinho primeiro Palio, junto da sua família da pesada, durou no mercado nacional até janeiro de 2021, quando a produção da primeira geração da Strada foi encerrada. Quase todos os integrantes saíram de Betim, em Minas, quase: alguma parte dos Siena vendidos aqui vieram da Argentina.

Falando só em produção nacional, foram quase 5,5 milhões de unidades divididos entre o hatch Palio (que, sozinho, supera os 2,5 milhões de carros), picape Strada (cerca de 1,5 milhão de unidades da primeira geração), sedan Siena (ao redor dos 900 mil carros) e perua Weekend (mais de 530 mil delas no total). Lembrando que o Palio ainda foi o carro mais vendido do mercado nacional em 2014, enquanto a atual segunda geração da picape Strada é sucesso absoluto, tendo sido também líder de vendas do Brasil em 2022.

A atual Fiat Strada, carro mais vendido do Brasil em 2022, também saiu da “cachola” de Demaria (Foto: Lucca Mendonça)

Argo/Cronos

Hatch e sedan derivados de um projeto bem semelhante, o primeiro é nacional, enquanto o segundo vem da Argentina. O Argo foi lançado antes, em meados de 2017, enquanto o Cronos chegava logo no início de 2018. Ambos são queridinhos de motoristas de aplicativo e locadoras Brasil afora, principalmente pela robustez, baixo custo de manutenção, bastante economia de combustível e design acertado.

Fiat Argo é nacional e hatch famoso nas ruas (Foto: Lucca Mendonça)

Em pouco mais de cinco anos, o hatch Argo já se aproxima das 400 mil unidades produzidas em Betim e até recebeu um tapinha no visual recentemente. Já o sedan Cronos tem vendas mais tímidas no Brasil, mas figura como o sedan mais vendido da América do Sul (é líder disparado na Argentina), e hoje acumula mais de 250 mil carros fabricados na planta de Ferreyra, em Córdoba.

Cronos, argentino, brilha como o sedan mais vendido da América do Sul (Foto: Lucca Mendonça)

Toro

Picape monobloco que fez a cabeça do consumidor brasileiro desde o começo de 2016, a Toro é outro sucesso que integra o currículo do Demaria. Feita em Goiana (PE) ao lado dos Jeep Renegade, Compass e Commander, ela foi musa inspiradora pra algumas concorrentes e deixou até a pioneira do segmento, Renault Oroch, comendo poeira.

A Toro revolucionou o mercado de picapes por aqui (Foto: Lucca Mendonça)

Seu conceito é interessante pela plataforma moderna, bastante tecnologia e bom equilíbrio entre carga e passageiros, isso sem contar a construção monobloco que a deixa não muito distante dos carros de passeio na condução e dinâmica. É outra que caminha para o meio milhão de unidades produzidas. Hoje é vendida com motores turboflex ou turbodiesel e pode ter até tração 4×4 com reduzida dependendo da versão.

Mobi

Mobi é feio, o que não é culpa do Claudio, mas um dos carros mais baratos do Brasil (Foto: Lucca Mendonça)

Pequeno subcompacto que tinha missão de substituir o finado Mille, o Mobi chegou em data próxima a Toro, no começo de 2016. Apesar do design controverso, coisa que definitivamente não era culpa de Claudio Demaria, o carrinho é outro que tem vendido bem: foi o quarto mais emplacado do nosso mercado em 2022. Isso sem falar na disputa de anos para ser o carro 0 km mais barato do mercado brasileiro.

Nesses quase sete anos de idade, cerca de 450 mil Mobi deixaram as linhas de produção de Betim, onde é fabricado. E, nesse tempo, ele praticamente não passou por mudança alguma.

Idea

Idea e Demaria: outra ligação profunda (Foto: Fiat/divulgação)

Monovolume idealizado na Europa, onde Demaria trabalhava na época, o Idea chegou por aqui em meados de 2005 para combater VW Fox, Honda Fit e Chevrolet Meriva, e foi pioneiro na sua primeira reestilização: o primeiro carro com lanterna de LED de série, isso lá em 2010. Seus destaques iam para o bom espaço interno aliado a facilidade de manutenção típica dos motores Fire e E.torQ que o equipavam, que sempre vieram bem a calhar no nosso mercado.

Tinha certa dose de compartilhamento com a família Palio, principalmente na mecânica e interior, ficando em produção por onze anos consecutivos, até meados de 2016. De Betim saíram mais de 350 mil Fiat Idea nesse período.

Punto

Punto: sucesso na Europa desde os anos 90, chegou ao Brasil em 2007. Demaria também idealizou e desenvolveu esse (Foto: Fiat/divulgação)

Anti-VW Polo e Citroën C3, o Fiat Punto era um produto tradicional na Europa desde os anos 90, mas aqui no Brasil desembarcava na terceira geração em 2007. Claudio Demaria, claro, liderou o desenvolvimento de todas. Foi um dos primeiros hatches compactos premium a chegar no Brasil, categoria que hoje desponta como uma das mais famosas do nosso mercado, e era outro que cativava ainda pelo design. Isso sem contar a lendária versão esportiva T-Jet e seu motor 1.4 turbo.

O Punto ficou 10 anos em produção, até o começo de 2017, e só saiu de linha para abrir espaço para seu sucessor Argo, outra cria de Claudio. Também nascia em Betim, e, de lá, mais de 350 mil unidades deixaram a fábrica, parte delas inclusive exportadas.

Doblò

Doblò era o MPV que a Fiat brasileira não sabia que precisava (Foto: Fiat/divulgação)

 

Era comecinho dos anos 2000 e a promessa eram os MPVs. Renault Kangoo, Citroën Berlingo, Peugeot Partner eram os principais integrantes dessa turma, até a chegada do Doblò em 2001. Com projeto europeu, mais uma vez chefiado e desenvolvido por Demaria, o Fiat multiuso podia ser carro de carga, passageiros ou até mesmo levar ambos, e isso garantiu seu sucesso perante a concorrência. Logo que chegou, virou líder absoluto da categoria.

E se garantiu como um dos carros mais longevos em produção dos últimos tempos sem trocar de geração: só foi sair de linha no final de 2021, após 20 anos de lançamento e com pouca coisa diferente no projeto original de Claudio. Nesse período, 160 mil Fiat Doblò foram vendidos aqui, mas a produção total rodeia os 250 mil carros.

Furgão garantiu mais sucesso do modelo como carro comercial (Foto: Fiat/divulgação)

Ducato

Essa sim uma van, a Ducato é até hoje referência no segmento, quer seja como uma ambulância, van escolar, furgão de entregas, carro de transporte executivo, food truck e outras adaptações. É outra que já trilhava sucesso de décadas na Europa, desde os anos 80, chegando ao Brasil em 1998. Primeiro importada, passou a ter produção nacional em 2000, feita na planta da Iveco em Sete Lagoas (MG), enquanto a atual geração vem novamente de fora: hoje é mexicana, mas em breve, reestilizada, passará a vir da Itália.

Sem muitas afirmações sobre os números precisos de carros importados da primeira geração, fabricados aqui e, depois, novamente vindos de fora, é mais fácil comprovar o sucesso da Ducato com as vendas e emplacamentos desde 1998, que já beiram as 100 mil unidades. A primeira geração, em linha até 2016, oferecia apenas opção de furgão e passageiros, mas a segunda e atual conta ainda com a opção chassis, ideal para empresas e adaptações mais profundas.

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.