(Avaliação) BYD Dolphin Mini tem tudo para ser seu primeiro carro elétrico? Destrinchamos!

Esqueça JAC E-JS1, Caoa-Chery iCar e até Renault Kwid E-Tech (que já voltou ao preço antigo): o BYD Dolphin Mini hoje é o carro elétrico 0 km com menor preço a venda no Brasil, R$115.800, incluindo nessa cifra um wallbox residencial para recarregá-lo, sem contar vários “luxos” e soluções que muitas vezes nem existem em sedans e SUVs. Essa aposta na ótima relação custo X benefício sempre foi característica dos carros Made in China, aliás, desde quando eles eram patinhos feios da década passada. Mas, pra quem quer entrar no mundo dos EVs, será que esse BYD é tão vantajoso assim? Veremos… 

Apesar de dividir opiniões no design da carroceria (há quem prefira as linhas mais limpas e arredondadas do seu irmão Dolphin), é por dentro que estão os maiores chamarizes desse BYD: além da estética similar a de carros mais caros da marca, incluindo a multimídia rotativa e o painel de instrumentos digital, o Mini surpreende já pelo nível elevado do acabamento interno. Muitas partes de painel, console e lateral de portas são macias e pintadas no mesmo tom azulado dos bancos, e, mesmo quando há plásticos, eles são bem cortados, montados e não passam aspecto de algo simples ou frágil. Pouquíssima coisa range, tem folgas ou é desnivelada na cabine, uma surpresa para um hatch de entrada. 

Esmerado

O esmero também fica claro na iluminação de leitura em LED (com acionamento touch), material agradável do volante e bancos (gravados com “BYD” nos encostos), apliques laranja pelo acabamento do habitáculo e itens de série que vem a calhar, como ajuste de altura e profundidade da coluna de direção, acendimento automático dos faróis, carregador de celular por indução, ar-condicionado digital (gela muito, inclusive), ajustes elétricos do banco do motorista, ou um ótimo sistema de som com seis alto-falantes. Até agora, vantagens que praticamente nenhum concorrente elétrico mais caro traz. 

Espaçoso, para quatro

O carro também pode ser considerado muito espaçoso e ergonômico, resultado de um projeto que optou por uma carroceria mais estreita e altinha, com entre-eixos longo para seu comprimento total (2,50 m, os balanços dianteiro e traseiro são bem pequenos), somado ao arranjo da cabine focado no bem-estar dos passageiros: motorista e ocupante dianteiro vão sentados em posição ereta e elevada, como num monovolume, bem acomodados pelos bancos de espuma espessa com densidade correta. O console central alto, com apoio de braço embutido, fecha com chave de ouro, assim como o enorme parabrisas. 

Porém, a BYD só homologou ele para carregar quatro pessoas, duas na frente e duas atrás. O Dolphin Mini de cinco lugares deve vir ao Brasil, mas em um segundo momento. O resultado são quatro apoios de cabeça, quatro cintos de segurança, mas, ainda assim, espaço traseiro que permite que um terceiro ocupante viaje muito mais confortável nele do que em um Fiat Mobi ou Renault Kwid, por exemplo. Ajudam o console central curto e a ausência de degraus no assoalho, também.  

Os 230 litros de porta-malas declarados pela marca parecem até maiores no uso diário, porém duas “maletinhas” vão lá dentro: uma com o carregador portátil de 220V (acessório) e outra com o kit de reparo de pneus (não há estepe). Para um carro mais largo que Fiat Idea e Chevrolet Meriva, porém com comprimento de um Nissan March, está de bom tamanho, principalmente se levarmos em conta sua proposta urbana e o limite de quatro a bordo. Interessante falar também que o Dolphin Mini consegue ter maior capacidade de carga do que alguns SUVs médios: mais um ponto que prova certa robustez do pequeno elétrico chinês, apesar do tamanho reduzido e apenas quatro lugares disponíveis. 

0 a 50

Em seis dias e cerca de 400 km de testes entre cidade e estrada com o Mini, nenhuma limitação de sua motorização elétrica, considerada “fraca” por alguns: os 75 cv de potência não animam em um carro de cerca de 1.240 kg (pouco peso para um elétrico), porém os quase 14 mkgf de torque instantâneo dão outra impressão, mais próxima da realidade. Nas arrancadas, principalmente aquelas de 0 a 50 km/h, comem poeira os hatches 1.0 e até os 1.3 (aferimos 5,1 segundos para tal com o BYD). A partir dos 50 km/h, ou seja, nas médias e altas velocidades, seu comportamento já se torna mais pacato, demorando mais para ganhar velocidade (aí sim, se iguala aos “milzinhos”).  

O torque imediato combina com a proposta urbana: difícil algum hatch 1.0, até mesmo turbo, arrancar até os 50 km/h mais rápido do que ele (Foto: Lucca Mendonça)

 

Ao menos o torque imediato, esse que garante melhores arrancadas e retomadas em menores velocidades, é o mais ideal para o uso urbano: ele vale bastante nas saídas de semáforos, passagem por lombadas e valetas, ou então na hora de ultrapassar aquele carro mais lento nas ruas e avenidas, tarefas que o Dolphin Mini cumpre com muita agilidade, rapidez e silêncio, mesmo no modo ECO de condução, o que mais “murcha” o trem-de-força elétrico e retarda as respostas ao comando do acelerador. Além dele, há o Normal (mais indicado para quando o carro está bastante cheio), e o Sport (gasta mais bateria, então vale o uso apenas em emergências, manobras rápidas ou diversão mesmo).

Viagens tranquilas

Em viagens, agrada muito sua velocidade máxima de 130 km/h reais (134 km/h no painel) a partir do modo Normal, maior do que qualquer limite nacional: um ponto a favor do BYD frente aos rivais, já que o JAC não vai além dos 110 km/h e o Caoa-Chery corre só até os 100 por hora. Dá para pegar estrada tranquilamente, e na faixa da esquerda, sem ser “atropelado” por um Scania ou coisa parecida, enquanto vai confortavelmente refrigerado pelo ar-condicionado, seguindo o navegador GPS online da multimídia, e curtindo uma música através do Spotify instalado na central.  

Além do PBEV

O INMETRO fala em 280 km de alcance máximo, mas dá para ir muito além: aferimos 350 (Foto: Lucca Mendonça)

Ele não emite praticamente nenhum som, a não ser o ruído contínuo dos pneus no asfalto, e o silêncio a bordo resulta em uma vida a bordo bastante tranquila e cômoda. Pensando pelo quanto ele consegue “render” com uma carga cheia, tudo fica ainda melhor: na cidade, evitando ar-condicionado e no modo ECO, seu computador de bordo chegou a registrar cerca de 11 kWh a cada 100 km, ou 9,1 km/kWh (chegando assim a mais de 350 km de alcance urbano). No anda e para, poderia haver apenas um modo de regeneração de energia mais forte que o máximo atual, porém isso é característica dos BYD. Todos ficam longe do One Pedal.

 

Em rodovias, a cerca de 100 km/h (limite de velocidade do modo ECO), deu para ir além dos 8,0 km/kWh, e, consequentemente, passar dos 300 km de alcance nessas condições. Num modo “hard” bem improvável de viagem (sempre perto de sua velocidade máxima, com ar ligado e pé na tabua), sem preocupações com consumo de energia ou autonomia, 42% de sua carga foi embora em um trajeto de 115 km, o que não lhe garantiria muito mais que 250 km de alcance máximo rodoviário. Ainda assim, ótimo, e, de certa forma, contrapondo o que diz o INMETRO e seu PBEV, que chancela o Mini com 280 km de autonomia por carga completa. É fato: conosco, deu para ir além. 

Na hora da recarga

Logo abaixo dos módulos, vai o motor elétrico dianteiro. Destaque para o minúsculo “cofre” e apenas um limpador de parabrisas: no vidro traseiro só há desembaçador (Foto: Lucca Mendonça)

A recarga é pelo padrão de entrada Tipo 2, o mais comum, porém o carregador portátil de 220V, que pode salvar em algumas emergências, é um acessório a parte. As baterias de 38,8 kWh fazem parte da tecnologia Blade, ou seja, ocupam menor espaço físico, pesam menos, e ainda oferecem maior segurança quanto a danos ou impactos. De quebra, podem ser até mais rápidas na hora da recarga: no caso do carro avaliado, que trazia o carregador portátil, todas as recargas foram feitas na tomada comum de 220V da garagem. Durante a noite, foi possível recuperar mais de 40% da carga do carro, o que já pode significar mais de 100 km de alcance. Claro, há métodos bem mais eficientes: em fontes rápidas de 40kW, é possível recuperar 50% da carga em 30 minutos.  

As tomadas, e a recarga, são fáceis, e até mais rápidas que o esperado (Foto: Lucca Mendonça)

Mecânica ímpar, porém… 

No quesito de freios e direção, não há o que reclamar do Dolphin Mini: a BYD optou pelos discos nas quatro rodas e bastante segurança nos primeiros, e escolheu um ajuste fino e direto no segundo, corrigindo aquela sensibilidade excessiva dos primeiros carros da marca por aqui. O pequeno EV responde com maestria aos comandos do pedal central e quando se movimenta o volante. Talvez pudesse haver apenas uma relação de direção mais multiplicada, para reduzir as voltas do volante e, de quebra, combinar com as rodas dianteiras de bom ângulo de esterço. Mas, ajustes agradáveis, seguros e confortáveis, como devem ser. 

Além da direção precisa e bem calibrada, freios a disco nas quatro rodas (Foto: Lucca Mendonça)

As suspensões tem dois perfis, um para as molas e amortecedores dianteiros, e outro para os traseiros, e um não parece conversar bem com o outro. Chega a causar estranheza tal comportamento num BYD: normalmente, a marca acerta em cheio em suas calibrações mecânicas. O conjunto dianteiro, tipo McPherson, tem carga certa, combinando conforto e estabilidade, e ainda garantindo uma condução correta (câmber, cáster etc). A traseira, nem tanto: composta por um eixo de torção mais molas, ali há pouca carga e um curso limitado do conjunto, fazendo com que as rodas percam contato com o solo com facilidade, sem contar que há mais balanço lateral do carro do que o esperado.  

Tal ajuste, que a BYD diz ser característico do Dolphin Mini, desmentindo quaisquer recalibrações em futuros lotes importados para o Brasil, requer um certo cuidado nas frenagens mais fortes (a traseira se ergue, junto com as rodas), ou nas curvas mais rápidas, especialmente naquelas em que há ondulações da pista e nos momentos em que o carro está vazio (ele pode oscilar excessivamente a traseira). Com ele cheio, de pessoas ou bagagens, tudo fica mais assentado e no chão. Ao menos, o conforto continua ímpar, apesar do pequeno curso da suspensão.  

Além de ter pouca carga, o conjunto traseiro permite que a carroceria oscile bem mais do que deveria, especialmente nas frenagens ou curvas rápidas. Só melhora com peso no banco traseiro ou porta-malas (Foto: Lucca Mendonça)

Primeiro EV? 

Tudo parece conspirar a favor do BYD Dolphin Mini, que só vacila nessa tal calibração de suspensão traseira mesmo. Completo, seguro, bom de guiar, espaçoso, confortável, gastando pouca energia, com tecnologias úteis e sem economias de acabamento pobre ou aspecto espartano. Considerando que seu preço é equivalente ao de um hatch compacto premium topo de linha (os 1.0 turbo atuais, como VW Polo, Chevrolet Onix, Hyundai HB20 ou Peugeot 208), talvez menos equipados e dando maiores despesas com combustível e manutenções de motor e transmissão, o negócio de partir para um elétrico pode interessar de fato. 

Custando o mesmo que hatches 1.0 turbo topos de linha, e com até mais recheio de série, o negócio com o Dolphin Mini fica mais interessante (Foto: Lucca Mendonça)

Primeiro carro elétrico de muita gente? Provavelmente, tanto que emplacou mais de 3 mil unidades só no último mês de abril, e já até superou alguns dos hatches turbinados citados aí em cima.  

« de 2 »

Ficha técnica:

Concepção de motor: elétrico, dianteiro, refrigeração líquida de baterias e propulsor, conjunto de baterias de lítio-ferro-fosfato instaladas no assoalho, capacidade de energia de 38,8 kWh
Carregamento: entrada Tipo 2, recarga via eletropostos (de cerca de 30min. até 05h30min., dependendo da força), wallbox (cerca de 05h30min.) e tomadas 220V (cerca de 25h00min). Regeneração de energia durante condução
Potência: 75 cv
Torque: 13,8 mkgf
Suspensão dianteira: independente, McPherson, com barra estabilizadora
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Direção: com assistência elétrica progressiva
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus e rodas: LingLong Greenmax P100, medidas 175/55 e rodas de liga-leve aro 16
Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 3,78 m/1,71 m/1,58 m/2,50 m
Porta-malas: 230 litros
Alcance: 405 km (ciclo CLTC) ou 280 km (ciclo PBEV)
Peso em ordem de marcha: 1.239 kg
Aceleração 0 a 100 km/h: 14,9 segundos
Velocidade máxima: 130 km/h (limitada eletronicamente)
Preço básico: R$115.800

Itens de série:

Limpador de para-brisa dianteiro tipo “flat-blade”, Porta traseira com destravamento elétrico, Rodas de liga de alumínio de 16 polegadas, Faróis de LED com ajuste de altura, Lanterna de neblina traseira, Faróis com acendimento automático, Função “Follow me home”, Luz de rodagem diurna (DRL) de LED, Lantema traseira de LED, Luz de freio (brake light) de LED, vidro traseiro com função de aquecimento, desembaçamento e degelo, Vidro elétrico nas quatro portas, Janela do motorista com função one touch para subida e descida e função antiesmagamento, Espelhos retrovisores externos com ajuste elétrico, desembaçador e rebatimento manual, Volante multifuncional, Painel de instrumentos LCD de alta resolução 7″, Carregamento de smartphone sem fio, Para-sol do motorista e do passageiro dianteiro com espelho e iluminação, Espelho retrovisor interno manual antiofuscante, Apoio de braço central dianteiro, Tomada 12V, 2 entradas USB dianteiras (1 Tipo A e 1 Tipo C), Bancos com revestimento de material premium, Ajuste elétrico do banco do motorista (6 posições), Ajuste manual do banco do passageiro dianteiro (4 posições), Banco traseiro rebatível, Sistema ISOFIX de fixação de cadeira infantil, Multimídia com tela flutuante de 10.1″ e rotação elétrica, 4 alto-falantes, Sistema de navegação GPS, Sistema de controle de voz inteligente, Android Auto e Apple CarPlay, Rádio AM/FM e Bluetooth, Spotify, Atualização remota OTA, Serviço de armazenamento em nuvem BYD, Conexão de rede 4G, Ar-condicionado digital , Freio de estacionamento eletrônico (EPB), Função Auto Hold (AVH), 6 Airbags, Controle eletrônico de estabilidade (ESP), Controle de tração (TCS), Assistente de partida em rampas (HHC)
Compartilhar:
Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.