Ford Fiesta Sport: o “esportivo” em duas versões limitado a 1000 unidades
Lançado no exterior em 1976, o Ford Fiesta é um sucesso pelo mundo todo, bastante elogiado por sua dirigibilidade, espaço interno e eficiência. No Brasil, desembarcou ainda importado em 1995, em sua terceira geração, e a partir de 1996, passou a ser nacional, já em sua quarta geração. O modelo aposentava o Ford Escort Hobby, e era a resposta da marca aos rivais GM Corsa, VW Gol “bolinha”, Fiat Palio, fora os importados que transitavam no início do plano Real, graças a cotação de praticamente 1=1 se comparado ao Dólar.
O Fiesta nacional chegou com os motores Endura 1.0 EFI de 53 cv de potência a 5250 rpm com 7,55 kgfm de torque a 4000 rpm, além do Endura 1.3 EFI de 60 cv a 5000 rpm e 10,4 kgfm a 3500 rpm e, nas versões mais caras, o Zetec-SE 1.4 16v EFI de 89 cv a 5600 rpm e 12,5 kgfm de torque a 4500 rpm. Seu design esbanjava modernidade, com linhas simples, fluídas e em compasso com os modelos “redondinhos” da segunda metade dos anos 90.
Sempre um pouco mais caro que seus concorrentes, o Fiesta não era um modelo de produção em tão larga escala se comparado aos seus rivais, o que se traduzia em um compacto com um certo status de refino, mesmo estando enquadrado no segmento de populares. Em resumo, agradava o público que queria um carro compacto, silencioso e confortável.
Com a chegada do irmão de plataforma Ka, em meados de 1997, o Fiesta foi reposicionado, e passou a ser a opção de carro familiar-popular na Ford. Para viagens, as versões 1.0 e 1.3 desagradavam no desempenho, já que os motores Endura faziam muita força para mantê-lo em velocidades mais altas. Até mesmo um Fiat Uno Mille, fosse i.e, EP ou SX, tinha desempenho melhor, graças à relação peso X potência e bom aproveitamento de seu motor Fiasa de 58 cv. O 1.4 16v era melhor no Ford, mas pecava por sua manutenção mais cara, culpa da concepção parcial em alumínio.
Em 1998, veio a série especial Class, derivada da versão básica, oferecida no começo exclusivamente com 3 portas e direção hidráulica de série. Em todas as versões, o Airbag passava a ser opcional. Pouco tempo depois, o motor 1.3 EFI era descontinuado, dando lugar aos carros 1.0 Class (a versão se tornou padrão), agora disponíveis também com 5 portas.
Para o ano 2000, a Ford revitalizou o Fiesta, apresentando seu primeiro facelift e nova motorização. Saíam de linha os motores Endura-E e Zetec-SE, dando lugar aos novos Zetec RoCam 1.0L de 65 cv de potência a 6000 rpm e 8,9 kgfm de torque a 3250 rpm e 1.6L de 95 cv a 5500 rpm e 14,1 kgfm a 2250 rpm, ambos com duas válvulas por cilindro. Esse 1.6 era tão bem acertado que suas médias de consumo de gasolina eram similares as do 1.0, que já conquistava pelo baixo consumo. Em todos os carros, estava presente a transmissão manual de cinco marchas, com diferenças apenas nas relações.
As versões de acabamento eram renomeadas, sendo a GL (básica), GL Class (intermediária), ambas com motor 1.0L, e a GLX (mais luxuosa), sempre com motor 1.6L. E, enquanto aproveitava o embalo das novidades na sua linha Fiesta, a Ford logo trouxe ao mercado a série especial Sport, limitada em 1.000 unidades: apresentada e distribuída para as concessionárias em junho de 2000, ela surfava na onda dos primeiros “esportivados”, aqueles modelos com visual apimentado e poucas (ou nenhuma) modificação mecânica, e estava dividida entre as versões GL 1.0 (800 unidades) e GLX 1.6 (200 unidades). Para você, leitor, se situar, eram tempos de Ford Escort RS e de Chevrolet Astra Sport.
Todos os Fiesta Sport vinham na cor Vermelho Flórida com carroceria de cinco portas, trazendo um body kit idêntico ao do Fiesta Zetec-S europeu, composto pelo para-choques mais agressivo, saias laterais e aerofólio funcional na traseira, além de uma controversa grade com tela cromada na dianteira, e do revestimento em plástico preto logo abaixo dos faróis. O perfil esportivo era realçado com belas rodas aro 14 diamantadas calçadas com pneus 175/65, retrovisores e maçanetas na cor da carroceria, spoiler traseiro com Break-Light e ponteira de escapamento cromada em formato oval.
Havia ainda, na lateral, a identificação “Sport”, estilizada, pintada em preto e aplicada na parte traseira das saias laterais da carroceria, e outro emblema “Sport” estava na traseira, próximo do logo da versão de origem (oficialmente, GL Sport ou GLX Sport). Internamente, o modelo trazia novo volante com empunhadura esportiva (diferente das demais versões), pomo da alavanca de câmbio com acabamento prateado, ponteiros do velocímetro em vermelho, moldura prateada em torno dos instrumentos e no painel central, tecidos dos revestimentos internos com algumas modificações e cintos de segurança na cor cinza-chumbo. Por dentro, o Fiesta Sport seguia uma receita similar àquela encontrada no Ford Puma europeu.
Como itens de série, a versão Sport GL, com motor 1.0, tinha direção hidráulica, para-brisas degradê, vidros verdes, vidros elétricos dianteiros, travas elétricas, retrovisores com controle interno, aquecimento, conta-giros, faróis de neblina, limpador/desembaçador traseiro, repetidores laterais de direção, Break-light, pré-instalação para som com 2 alto-falantes, banco traseiro bipartido na proporção 60/40, antena e aquecimento. Seu único opcional era o ar-condicionado. A versão Sport GLX não tinha opcionais, onde o ar-condicionado também era de série, mas, curiosamente, o modelo dispensava um simples rádio AM/FM, que só podia ser instalado como acessório na rede de concessionárias da marca.
O Fiesta era elogiado por sua dirigibilidade graças à tecnologia de NVH (Noise Vibration and Harshness – Ruído, Vibração e Aspereza) criada pela Ford, que trazia nada mais, nada menos que um subchassi, isolando a carroceria das oscilações naturais do sistema de suspensão e direção, provocadas pelas irregularidades do piso, e as versões Sport gozavam de excelente dirigibilidade graças ainda ao endurecimento das molas do seu sistema de suspensões, enquanto os amortecedores ganhavam a tecnologia da pressurização, substituindo os hidráulicos do restante da linha. Por outro lado, eram comuns críticas quanto a sua posição de guiar ainda alta para um modelo de pretensões esportivas.
A versão Sport GL 1.0 custava, 0km, R$20.378,00, equivalentes hoje a R$88.249,70, enquanto a Sport GLX 1.6 saía por R$26.849,00, ou R$116.444,67 atuais, corrigidos pelo índice INPC/IBGE. Achar uma unidade Sport GL em bom estado não é uma tarefa muito difícil, pois muitos foram conservados pelos seus proprietários. O mesmo não pode ser dito dos Sport GLX, mais raros, não só pela baixa tiragem, mas também pelos “abusos” e “diversões” garantidos pelo seu arisco motor Zetec 1.6 e suspensões mais durinhas. Quem teve, ou ao menos dirigiu um, sente saudades.