Ford Versailles: o Santana da Ford

Usando a estrutura do VW Santana, o Ford Versailles (pronuncia-se “Versáie”, uma cidade francesa) foi lançado em 1991 e substituiu o longevo e confortável Del Rey. A novidade mirava uma persona muito bem definida: homem, 40 anos, executivo ou empresário bem-sucedido, que gostava de desempenho e modernidade. Disruptivo, afinal o público do Del Rey era mais conservador. Os produtos não se equivaliam.

Versailles vinha em 91 para assumir o posto do obsoleto Del Rey (Foto: Ford/divulgação)

O Ford Del Rey usava a plataforma do bem-sucedido Ford Corcel, que era basicamente a mesma desde seu lançamento em 1968. Tinha uma suspensão bastante macia, e comportamento ameno graças a uma mecânica mansa, movida por anos por motores de 1.6 litro. Em 1989 ganhou um pouco mais de desempenho com o motor AP-1800 da Volkswagen, mas, mesmo assim, era pacato.

Novo Ford era bem mais moderno e derivava do VW Santana (Foto: Ford/divulgação)

O Versailles usava a plataforma B1 do Volkswagen Santana e o mesmo conjunto motriz, com foco em desempenho, porém com identidade própria e design exclusivo na dianteira e traseira, além do interior reformulado. A boa aerodinâmica o tornava um dos carros mais velozes de seu tempo, rompendo facilmente a barreira dos 180 km/h de máxima.

Para atrair os clientes fiéis da marca americana, o Santana da Ford ganhou mais classe: linhas mais retilíneas na traseira, colunas traseiras em preto fosco, lanternas traseiras em forma de trapézio, luzes dianteiras com lentes brancas, grade frontal em forma de lâminas pintadas na cor do carro e rodas de liga-leve com design mais sóbrio na versão topo de linha.

Se fosse a versão mais básica, a sobriedade também fazia jus à sua personalidade, com elementos em preto fosco e calotas de linhas retas, mas elegantes. Inicialmente o Versailles era oferecido apenas na configuração de 2 portas.

Interior era bem diferente do Santana, e caprichado no acabamento, como padrão nos Ford da época (Foto: Ford/divulgação)

Por dentro, trazia bancos de origem VW, mas encosto de cabeça inteiriço e os bons tecidos aveludados da Ford, painel com iluminação verde e grafismos típicos da fabricante do Oval Azul, porta-objetos à frente do console, volante e alavanca de câmbio semelhantes aos do Escort, teclas de controle dos vidros e retrovisores elétricos (na versão Ghia) à frente do console, além de teclas de pisca-alerta, farol de neblina desembaçador direito do lado esquerdo do volante. Tudo isso para se distanciar do irmão Volkswagen.

Bancos: um dos poucos componentes emprestados do Santana (Foto: Ford/divulgação)

A versão GL tinha poucos itens de série e contava com motor 1.8 carburado de 92 cv a 5400 rpm e 14,9 kgfm de torque a 3200 rpm, rodas de ferro com calotas integrais, desembaçador traseiro, regulagem manual interna dos retrovisores externos e rádio AM/FM, mas oferecia os opcionais triviais como ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, além do motor 2.0 também carburado de 108 cv a 5400 rpm e 17,2 kgfm de torque a 3400 rpm.

A Ghia priorizava o conforto, e tinha quase tudo de série: rodas de liga leve calçadas com pneus 195/60R14, ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, vidros verdes, faróis de neblina e rádio toca-fitas. Como opcionais, injeção eletrônica multiponto, câmbio automático de 3 velocidades, pintura metálica ou perolizada. Um típico topo de linha.

Em 1992 chegava ao mercado a configuração de 4 portas e a versão station Royale, esta somente com 2 portas. O modelo caiu nas graças por seu design mais exclusivo se comparado com o primo Quantum da Volkswagen, e se assemelhava com o saudoso Belina, ganhando inclusive o apelido de “Belinona”. Os freios ABS passavam a ser um opcional para toda a linha Ghia.

A linha estava completa a partir de 1992. Aqui, a linha 93, já ostentando novas rodas (Foto: Ford/divulgação)

Em 1993, toda a linha ganhava retoques bastante discretos, novas rodas mais elegantes, além do motor 2.0 com injeção eletrônica opcional na versão GL. Em 1994, a versão Ghia recebia mais requinte com o teto solar elétrico opcional, além de cores inéditas. A versão GL também estreava direção hidráulica de série e novas calotas.

Em meados da década o Versailles já estava renovado, mas com discrição. Nessa foto, um Ghia com quatro portas, linha 1995 (Foto: Ford/divulgação)

Em 1995, chegavam novos bancos dianteiros para toda a linha, agora de origem Ford. Tanto o Versailles quanto o Royale passavam a ser fabricados apenas com 4 portas, claro que seguindo as preferências do mercado. Muitos criticaram o estilo do station, dito à ocasião não ter personalidade, o que fez suas vendas despencarem. A versão GL ganhava injeção eletrônica de série, fosse com motor 1.8 ou 2.0.

As quatro portas viriam junto com uma reestilização em 1995, mas as vendas, já em declínio, caíram ainda mais (Foto: Ford/divulgação)

Para 1996, a Ford trazia nova grade com desenho oval, volante inédito de 4 raios (anteriormente eram 2 raios), além de modificadas lanternas traseiras com apliques menores e aerofólio na versão Ghia sedan. As mudanças de estilo tinham o objetivo de integrá-los um pouco mais à linha Ford, que então começava a adotar novos padrões na Europa, mas também coincidiram com os momentos finais da Autolatina.

Com o término da Joint-Venture com a VW, a Ford negociou a plataforma e motores com a Volkswagen para continuar a produção do modelo, mas a fabricante alemã exigia em contrapartida a plataforma do Escort para continuar a produção do Logus e Pointer, o que acabou não acontecendo. No decorrer de 1996, o Ford Royale saiu de linha sem alarde, e o Versailles foi produzido até o início de 1997 a fim de atender algumas encomendas. O modelo foi substituído pelo Ford Mondeo, outro sedan ao qual falarei mais para frente.

Logo depois do fim da Autolatina, no começo de 1997, o Versailles saía de linha. A station Royale se despediu ainda em 1996 (Foto: Ford/divulgação)
Compartilhar:
Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.