VW Gol TSi: o sucessor do GTS que não era turbo

Muito acertado para o mercado nacional, o Gol fez história e seu legado fala por si. Carro mais vendido do Brasil, vendeu mais de 8.500.000 unidades em três gerações, e teve versões icônicas, além de várias edições especiais e configurações esportivas. Falando dos esportivos, o Gol GT foi o primeiro deles, lançado em 1984. Foi o primeiro Gol a usar motor refrigerado a água, o icônico 1.8 que também equipou o Santana, com carburador 2E desenvolvido pela Solex-Brosol, com dois estágios, capaz de levar o puro sangue GT de 0 a 100 km/h em 11,7 segundos em terceira marcha, e à velocidade máxima de mais de 170 km/h, marcas excelentes para um tijolinho quadrado de 4 marchas em plena década de 80.

Com 99 cv de potência a 5400 rpm (ABNT declarada) e 14,9 kgfm de torque a 3.200 rpm, o GT era prazeroso de dirigir no trânsito e ao mesmo tempo arisco quando solicitado pelo pé direito. Sua estabilidade era considerada pela revista 4 Rodas como invejável para seu tempo, graças a um acerto de suspensão firme e pneus 185-60R14. Completando o kit esportivo, logo recebia o opcional das 5 marchas no câmbio.

Com novo motor AP, o Gol GT melhorava no desempenho e dinâmica. Logo ganhou a 5ª marcha também (Foto: VW/divulgação)

No final de 1985, ganhou o lendário e aclamado motor AP-800, que tinha declarado os mesmos 99 cv a 5600 rpm (ABNT) e 14,9 kgfm de torque a 3.600 rpm, agora sempre com 5 marchas. Com o novo powertrain, era mais rápido, acelerando de 0 a 100 km/h em 10,61 segundos em terceira marcha, com a mesma velocidade máxima. Sabe-se que a Volkswagen, para aproveitar os descontos de IPI da regra da época, ocultava a potência do AP, e testes em dinamômetro revelavam, na verdade, 106 cv deste poderoso motor.

Em 1986, o Brasil passava por um plano econômico bizarro do governo Sarney, onde após o lançamento do Cruzado, foi anunciado o congelamento de preços, com o objetivo de controlar a galopante inflação que assolava nosso país. Com isso, nenhum produto em linha poderia ter reajuste de preços, e nesta época, a Volkswagen adotou a estratégia de alterar as versões de seus veículos, usando uma brecha que autorizava a composição de preço de novos produtos, possibilitando assim o reajuste. Nascia então o Gol GTS, sucessor do GT.

Gol GTS tinha o mesmo espírito do GT, mas mudava visual (Foto: VW/divulgação)

Apresentado como linha 1987, o GTS tinha a mesma mecânica, mas trazia nova frente, novos para-choques, nova traseira e novas rodas, além de entrar para a moda adotando o aerofólio. No ano seguinte, seu interior passava por uma reformulação completa, e tinha novos opcionais como vidros elétricos e ar-condicionado.

Além de mais moderno, o GTS oferecia mais luxos a bordo e mornidades pedidas na segunda metade dos anos 80 (Foto: VW/divulgação)

Em 1988 o Gol esportivo ganhava uma nova versão mais poderosa, a GTI, apresentada como modelo 1989. Com sua exclusiva cor Azul Mônaco e detalhes na cor prata, tinha sob o capô o consagrado motor AP 2000 com injeção eletrônica de gasolina: um sistema Bosch LE Jetronic analógico, além da ignição eletrônica EZK, que tinha até mesmo a sofisticação de um sistema anti-detonação, que corrigia a curva de avanço sempre que o motor percebia que uma gasolina de má qualidade provocaria detonação.

De 1988, o Gol GTI é ícone até hoje, e pioneiro no nosso mercado (Foto: Marco de Bari/Quatro Rodas)

Seu motor tinha 10:1 de taxa de compressão, alta para a época, fato que melhorava muito o desempenho. Os tuchos eram hidráulicos. Para o fim dos anos 80, sua entrega era de assustar: 120 cv e um torque máximo de 18,35 mkgf, garantindo ao Golzinho de 980 kg arrancadas e retomadas espantosas. O carro chegava aos 100 km/h em apenas 8,8 segundos e sua velocidade máxima beirava os 190 km/h. A versão GTS não foi descontinuada, tornando-se opção mais acessível, e tinha praticamente o mesmo desempenho, além da maior opção de cores e menor custo e dificuldade de manutenção. Em 1990 toda a linha teve mais uma reestilização e os modelos ganharam novas cores.

Anos depois, a Volkswagen do Brasil apresentava como modelo 1995 a segunda geração do Gol, usando a nova plataforma AB-9. Era um carro totalmente novo, com maior espaço interno, maior rigidez torcional e maior conforto, principalmente para os passageiros do banco traseiro, mas mantinha seu DNA com mecânica disposta longitudinalmente. Foi apresentado nas versões CLi, GLi e GTI 8v, e o Gol GTS era descontinuado. No ano seguinte, chegava a 1000i e, no mesmo ano, o mais poderoso dos Gol esportivos: a GTI 16v, com 155 cv e componentes mecânicos da Audi.

Em 1996 o esportivo de entrada Gol GTS voltava à linha dotado de injeção eletrônica monoponto, mas com outro nome: TSi. Curiosamente, hoje essa sigla remete aos modelos superalimentados (turbo) da marca. Esportivo só na roupa, o modelo oferecia o manso motor AP1800 de 90,6 cv a 5500 rpm e 14,3 kgfm a 3500 rpm com gasolina ou 96 cv e 15,2 kgfm com etanol, o mesmo da GLi. Da versão intermediária, também vinha o câmbio de 5 marchas, sem alteração nas relações de marcha e diferencial. Ao menos era curto, mantendo 3.100 rpm a 100 km/h em 5ª marcha.

Depois de só existir a versão GTI para a linha esportiva do Gol, a substituta da GTS veio com um nome diferente (Foto: VW/divulgação)

Para chegar aos 100 km/h saindo da imobilidade, o modelo demorava longos 12,88s, e atingia 173,2 km/h de velocidade máxima, graças a sua aerodinâmica, segundo testes da época. Não gastava muito para sua cilindrada, com médias de 9,52 km/l na cidade e 15,3 km/l na estrada, com gasolina em testes da época. Oficialmente, a VW falava em 10,7s no 0 a 100 km/h e máxima de 180 km/h com etanol, ou 11,3s e 176 km/h com gasolina, respectivamente. Lembrando que era um carro que não passava de 1000 kg em ordem de marcha.

Custando então R$21.995,00 na versão básica, atuais R$ 115.291,31 (IPCA/IBGE), o Gol TSi tinha como itens de série direção hidráulica, volante esportivo, espelhos retrovisores externos com comando interno manual, banco RECARO com regulagem de altura para o motorista, apoios de cabeça no banco traseiro, cintos de segurança laterais de 3 pontos no banco traseiro, cintos de segurança dianteiros com regulagem de altura, rádio toca-fitas com painel destacável, vidros verdes, janelas traseiras basculantes, faróis com duplo defletor, para-choques na cor da carroceria, rodas de liga-leve em 14 polegadas e tala 6, pneus 185/60 Pirelli P600, antena de teto, para-sol com espelho para o passageiro, vidro traseiro com desembaçador e limpador/lavador, ar-quente e mais.

Não era exatamente rápido, até porque trazia o AP 1.8 de outras versões comuns (Foto: VW/divulgação)

Além disso, já trazia aerofólio traseiro embutido na tampa do porta-malas, um friso lateral exclusivo (mais próximo ao do GTI) e spoiler no para-choque dianteiro. Como opcionais, seu comprador poderia equipá-lo ainda com ar-condicionado, vidros elétricos, retrovisores elétricos, travas elétricas e alarme com acionamento à distância. Tinha apenas quatro cores no catálogo, sendo duas sólidas e duas metálicas: Preto Universal, Vermelho Sport, Verde Light e Azul Unique, sempre acompanhadas do interior em tecido preto Jacquard Metal.

Toda a linha recebia nos modelos 1997 a injeção eletrônica multiponto, mais eficiente, e os motores ganhavam potência. O motor AP-1800 do TSi passava a 98 cv a 5500 rpm e 15 kgfm a 3000 rpm, permitindo que o esportivo “de entrada” corresse até os 182 km/h, levando 10,5s para ir de 0 a 100 km/h. Ficava também mais econômico, conseguindo cravar médias de 10,5 km/l na cidade e 15,0 km/l na estrada, com gasolina.

Aerofólio na cor da carroceria, e um chamativo verde de lançamento (Foto: VW/divulgação)

No decorrer do segundo semestre de 97, era preparada a versão GLS, mais luxuosa, que substituiria em preço a GTI 8v. Coube então ao Gol TSI assumir também esse posto, e do GTI aposentado vinha sua nova mecânica: motor 2.0 8 válvulas com injeção eletrônica multipoint a gasolina de 109,5 cv a 5250 rpm e 17,0 kgfm de torque a 3000 rpm, além do câmbio de cinco marchas reescalonado.

Interior exibia o volante de três raios mais esportivo, toca-fitas de série e instrumentação completa, com conta-giros e marcador de temperatura do motor (Foto: VW/divulgação)

Agora com motor de maior cilindrada, o TSi se tornava um pouco mais esportivo: era capaz de chegar aos 188,5 km/h de velocidade máxima e fazer de 0 a 100 km/h em 10,2s. Isso gastando bem pouco combustível para uma variação do AP 2000: sem o uso de ar-condicionado e bebendo gasolina, batia os 10,10 km/l na cidade e 15,55 km/l na estrada. Com o uso do ar-condicionado, ainda opcional, as médias eram de 9,49 km/l na cidade e 14,49 km/l na estrada, também com gasolina.

Com o fim do GTI 8v, parte do posto ficou para o TSi, que recebia do irmão mais potente o motor 2.0 AP na configuração de 8 válvulas. Detalhe para as rodas maiores, já de aro 15 (Foto: VW/divulgação)

Em meados de 1998 o modelo passava por uma mudança de visual adotando rodas aro 15 de desenho bastante similar àquelas que equipavam os GTI. Continuava com os mesmos itens de série e opcionais, mas agora oferecia também airbag para o motorista e airbag para o passageiro (o primeiro poderia ser adquirido sozinho, mas o segundo precisava vir junto do primeiro). Neste mesmo ano chegava a Saveiro TSI, sua companheira, da qual eu falarei mais para frente.

TSi de quatro portas: eles existiram, mas são figurinhas raras e só saíram no final de produção da versão (Foto: MIAU/divulgação VW)

Pouco antes da remodelação de 1999, reconhecida no mercado como “geração 3” ou simplesmente “G3”, o Gol TSI foi oferecido na versão 4 portas, assim como seu irmão mais potente GTI 16v, mas a oferta durou pouco tempo e poucas unidades foram produzidas nessa configuração. A partir de maio de 1999, com a chegada do Gol G3, a dupla TSi era descontinuada, findando de vez, ao menos da linha Gol, a herança da sigla esportiva GTS, que só foi voltar em 2020 na dupla Polo/Virtus.

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.