(Comparativo) Chevrolet Montana 1.2 turbo vs. Renault Oroch 1.3 turbo: jogo rápido das picapes monobloco

Pouca gente lembra, mas a Renault Oroch foi a primeira picape monobloco com quatro portas do mercado nacional, estreando o segmento que, meses depois, teria a Fiat Toro como estrela. Já a Montana é a integrante mais recente dessa turma: um tanto atrasada, a picape da Chevrolet se baseia no Tracker e tenta amealhar os melhores pontos de uma caminhonete e de um SUV ao mesmo tempo. Na verdade, Oroch e Montana tem propósitos parecidos, e não só isso: se assemelham no preço, tamanho, capacidades e equipamentos.

Falando de suas respectivas versões mais caras, as duas picapes são praticamente iguais no preço: a Renault cobra R$149.400 por uma Oroch Outsider (única com motor 1.3 turbo, aliás), enquanto a Chevrolet Montana Premier 1.2 turbo é tabelada em R$150.090. Elas já são da linha 2024, e quem quiser uma cor metálica vai precisar colocar mais R$1.950 no negócio se optar pela Montana, ou R$2.000 no caso da Renault. Só por aí já dá pra perceber que são arquirrivais.

O motor na Montana, independentemente da versão, é o 1.2 turboflex de três cilindros e doze válvulas, integrante da família CSS Prime. Com duplo comando variável, mas sem injeção direta, ele entrega 132/133 cv de potência e um torque máximo de 21,4 mkgf quando bebe etanol. Se estiver com gasolina, ele perde importantes 2 mkgf de torque (cai pra 19,4), por isso requer a análise na hora de abastecer: melhor desempenho ou menor consumo? Ainda assim, trabalha relativamente bem com a transmissão automática GF6, de seis velocidades. Ainda que ela não tenha modo esportivo nem permita façanhas como trocas sequenciais de forma manual, é esperta nas trocas.

A Chevrolet fala em cerca de 10 segundos no 0 a 100 km/h, e não permite que a picape vá além dos 160 km/h. Como a proposta da Montana também é carregar peso, o conjunto é forte nas baixas rotações, facilitando as arrancadas, embora não brilhe muito nos giros mais elevados. Só ela tem função de limitador de marchas (dá para travar o câmbio em 1ª, 2ª, 3ª ou 4ª, por exemplo, para ter freio-motor), e agiliza nas reduções durante descidas ou declives, com a mesma função.

A Oroch tem bem mais potência e torque: são 162/170 cv de potência e 27,5 mkgf de torque extraídos do moderníssimo 1.3 turboflex TCe. Esse motor, desenvolvido em parceria com a Mercedes, equipa alguns carros da marca da estrela de três pontas, e desponta nas tecnologias com injeção direta, turbocompressor que trabalha em altíssimas pressões (ao redor dos 1,4 bar), e tem cabeçote em formato de delta, menor, melhor no controle térmico e com centro de gravidade mais baixo. Seu par é um câmbio automático tipo CVT com nove marchas simuladas, que podem ser trocadas de forma manual na alavanca, e fica mais esperto no modo normal de condução.

O grande impasse da Oroch é a transmissão: esse CVT, embora seja bastante suave, silencioso e progressivo, tem operação morosa e mais lenta se comparado ao GF6 da Montana. E justamente por escorregar mais nas arrancadas, ele contribui para que a picape da Renault tenha desempenho praticamente igual ao da sua rival da Chevrolet: oficialmente, a Oroch acelera de 0 a 100 km/h em 9,8 segundos, e, graças a alta potência, corre até quase 190 km/h. Mas força é força, independente da transmissão, então a Oroch é superior na hora de administrar uma caçamba cheia e maior peso a bordo, por exemplo. Lembrando que a Oroch pesa mais: passa dos 1.430 kg, enquanto a Montana pouco ultrapassa os 1.300 kg.

E quem bebe menos? A Montana. Seu 1.2 turboflex concilia com o menor peso e melhor aerodinâmica, e consegue rodar mais de 11 km/l na cidade e rondar os 17 km/l na estrada, sempre com gasolina. Ainda assim, a Oroch não faz feio se analisamos sua carroceria mais pesada e potência/torque bastante superiores (cavalo que anda é cavalo que bebe), chegando aos 10,3 km/l na cidade em momentos mais felizes e superando os 15,5 km/l na estrada se evitar acelerações fortes. Vale lembrar que o 1.2 turboflex da Montana trabalha melhor com etanol do que o 1.3 turboflex da Oroch, conseguindo um nível maior de eficiência energética. Pena que as duas tenham tanques com capacidades pífias, limitando o alcance: 44 litros na Chevrolet e 45 litros na Renault. Mereciam muito mais…

Como se situam exatamente entre a Fiat Strada/VW Saveiro e Fiat Toro, as duas são muito próximas nas dimensões, também. A Oroch aposta mais em um design parrudo (e datado), mas não deve nada para a Montana em comprimento, largura, altura e entre-eixos: mesmos 4,72 m de parachoque a parachoque, enquanto a Oroch se sobressai na largura com 2 cm extras (1,82 m, contra 1,80 m da Chevrolet), e na altura 3 cm maior (1,69 m ante 1,66 m). Por final, com entre-eixos 3 cm superior, a Oroch também leva a melhor no nível de espaço interno, especialmente traseiro: a picape da Renault soma 2,83 m, enquanto a Montana para nos 2,80 m.

Aliás, falando em espaço, a base modular da Chevrolet (GEM), não fez milagres na Montana: a picape tem teto alto, como a Oroch, e cabine mais quadrada (nesse ponto, a Renault oferece mais conforto para três ocupantes traseiros), ainda que limite bastante o vão entre os bancos dianteiro e traseiro, o que acaba apertando as pernas de quem viaja atrás. Apesar de não parecer, muito pelas janelas grandes e tecido claro do teto, a picape da Chevrolet é limitada no espaço interno. Não que a Oroch tenha um latifúndio no habitáculo dos passageiros, só que supera sua rival, em que pese a velha plataforma B0.

Por outro lado, a Montana dá um banho em sua rival quando falamos de ergonomia, já que se parece muito com o Tracker nesse ponto. Além da direção mais leve e precisa (elétrica, e não eletro-hidráulica como na Renault), na Chevrolet há bancos que acomodam melhor o corpo e cansam menos em viagens, bem como uma posição mais baixa de guiar e volante ajustável também em profundidade. Na Oroch, painel, alavancas, botões e outros comandos estão mais distantes e em posições não tão inteligentes, por culpa do seu projeto mais antigo. As duas sofrem do mal do banco traseiro de encosto reto e assento baixo, típicos de picapes, mas oferecem boa dose de conforto a bordo e silêncio.

A Montana pode levar mais carga na caçamba, com nada menos que 874 litros de capacidade, contra 683 litros da Oroch. Mas, em contrapartida, a picape da Chevrolet, por limitações da plataforma e mecânica, fica para trás quando falamos de peso máximo permitido: não vai além dos 600 kg, 50 kg a menos que a rival da Renault e seus 650 kg máximos. O compartimento da Montana também é mais quadrado e alto, com a praticidade da tampa leve e pouquíssimo ressalto das caixas de rodas, ou seja, é melhor para acomodar objetos grandes. Fora que a Chevrolet oferece dezenas de acessórios pra caçamba da sua picape, e garante isolamento quase total de água e pó.

O conteúdo de série é parecido nessas versões Premier e Outsider, só que a Montana ganha nas comodidades e segurança. As duas oferecem multimídia de 8” com conexões Android Auto/Apple CarPlay, ar-condicionado automático digital, volante multifuncional, sensores de chuva e crepuscular, conjunto elétrico (vidros/travas/retrovisores), piloto automático, rodas de liga-leve (16” na Oroch e 17” na Montana), faróis de longo alcance, bancos forrados em material premium, sensores de estacionamento traseiros, câmera de ré, entre outros. A picape da Renault deve bastante em segurança, afinal oferece só os dois airbags obrigatórios por lei (são seis na Montana), fora que a Chevrolet traz monitor de ponto-cego.

Se comparada com a Montana, a Oroch fica em dívida ainda pela falta dos faróis em LED (são halógenos na Renault, que, ao menos, traz luzes de milha e neblina), carregador de celular sem fio (que era de série até a linha 2023, mas foi suprimido), regulagem elétrica da altura do facho dos faróis (importante em um veículo que pretende carregar carga), e até um simples sistema de chave presencial, já que a Renault ainda aposta no bom e velho cilindro de ignição logo atrás do volante. Sua coluna de direção também peca pelo ajuste só em altura, sem profundidade, o que prejudica a acomodação do motorista.

No fim, as duas picapes brigam por consumidores muito parecidos, e querem roubar mercado uma da outra. Dadas as vantagens parecidas nas duas, quem manda no final deve ser mesmo o gosto pessoal e preferência de quem vai comprar. Montana mais próxima de um SUV, Oroch que se assemelha mais com uma caminhonete grande (apesar do moderno sistema de suspensões independentes nas quatro rodas e eixo traseiro multilink), lista de equipamentos mais vasta na Chevrolet, maior capacidade de carga na Renault. Visual mais urbano e contemporâneo, ou mais robusto e parrudo. Mas, uma coisa é fato: são rivais de peso.

 

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.