(Avaliação) Pulse Abarth não quer ser Fiat nem SUV, apenas divertido

O Pulse Abarth deixava algumas dúvidas no ar: como se comportaria o motor 1.3 turbo nele, um carro bem mais leve que os Jeep ou que a Fiat Toro? E os acertos da engenharia de Betim, deixaram ele como um esportivo nato? Fora o fato que o Pulse se identifica como SUV, mesmo sendo, cá entre nós, um belo de um crossover: utilitário esportivo Abarth, como fica? Sanei essas e outras dúvidas, com bastante diversão, durante a semana de testes e mais de 680 km com esse carinha.

 

Que bicho é esse?

Pra começar, uma rápida associação entre a grife italiana e o mineiro Pulse: o Grupo Stellantis está expandindo a Abarth mundo afora, e, depois de uma breve presença com o 500 no começo dos anos 2010 aqui no Brasil, não havia projeto mais moderno e adequado que o do Pulse (e em breve Fastback) para renascer a marca do escorpião no mercado nacional. Esse projeto é bem à lá brasileira, com pouca interferência italiana. A engenharia de Betim é boa no que faz.

Uma estratégia foi tirar dele todo e qualquer emblema Fiat: se achar algum, vai ser nos detalhes mais escondidos. O escorpião da Abarth é quem toma conta. Tanto que muita gente nem imagina ser um Fiat, e muito menos um Pulse: o esportivo é bonito pra valer, com cara invocada, rodas grandes e faixas estilizadas, como é tradição da grife. Suspensão baixada aqui, teto preto acolá, parachoques e conjunto óptico mais esportivo, apliques vermelhos, ronco encorpado…está feita a transformação do “SUV” em um hot hatch de respeito, vendido por R$150 mil.

Qual é o veneno?

Único Pulse com motor 1.3 turbo, falamos de um carro com até 185 cv de potência e mais de 27 mkgf de torque, coisa inimaginável em esportivos Fiat mais antigos, como o Tipo Sedicivalvole. Esse propulsor é o mesmo de outros carros da Stellantis, e mantém a (poderosa) calibração original, até porque mais do que isso seria exagero. Quem mudou com nitidez é o câmbio automático de seis marchas, trabalhando de forma bem mais “atenta” para momentos de aceleração e rapidez elogiável nas reduções quando preciso for. Fique tranquilo, porque ele também entende que trabalha com um motor torcudo de força em baixas rotações: sabe economizar.

O 1.3 turbo, sozinho, não tem dos sons mais bonitos, mas é pra isso que existe engenharia: esse Abarth conta com um escapamento totalmente exclusivo, de ponta a ponta, com saída dupla e canos de diâmetro generoso. Tem quem não curta muito, mas, enquanto está ligado, esse Pulse produz sempre um ronco engrossado e grave. E, não tem nada daquilo inventado por inteligência artificial nem reproduzido nos alto-falantes: o som que se ouve é natural, e fica só um pouquinho mais nítido no modo de condução mais esportivo, o Poison. Só que cansa a longo prazo, numa viagem longa, por exemplo.

E como um bom esportivo “italiano”, que na maioria das vezes tem mais alma e personalidade que um feito pela escola alemã, esse Abarth não é tão silencioso ou suave como outros Pulse: suspensões durinhas, que tanto ajudam na dinâmica, acabam deixando seu rodar mais áspero e rígido (o acabamento interno, ao que tudo indicou no carro avaliado e seus quase 15 mil km, não está muito preparado pra isso), e, na estrada, o som do atrito com o vento é mais audível do que deveria. Os pneus mais largos também estão sempre lá rodando e produzindo seu maior ruído de rodagem. Não tem remédio…

Mas é gostoso acostumar com os sons do Pulse esportivo, em que pese algumas “encheções” durante o uso: eles podem incomodar, porém sempre te lembram se estar a bordo de um carro diferenciado, um esportivo com pouca anestesia. Só ficaria melhor se tivesse a opção de um bom câmbio manual, preferencialmente de seis marchas, e se consertassem a falha de manter os freios traseiros a tambor dos Pulse convencionais. Pra um esportivo, não é luxo, e sim segurança.

Na hora do “vamo ver”

Graças a um acelerador eletrônico mais afiado, rápido, o Pulse esportivo é extremamente responsivo ao menor comando do pedal, e, com torque abundante nas menores rotações (antes dos 1.800 giros esse 1.3 turbo já desperta por completo), a fera acorda de forma rápida, com um pouco menos de suavidade que as demais versões do Fiat. Por isso, as melhores respostas do Abarth vêm nas baixas e médias velocidades: arranca bonito e com vigor, parecendo até um pouco mais rápido do que diz a Fiat (7,5s no 0 a 100 km/h). Há enorme sobra de força, independente da faixa de rotação.

Curtíssimo, porém com relação final longa (silêncio e conforto na estrada), o câmbio de seis marchas se encaixa bem com o motor 1.3 turbo nos carros mais leves como ele, e deixa o motorista “brincar” bastante com as passagens e reduções do modo manual. Essa caixa AT6 é, talvez, a parte mais silenciosa do conjunto desse Abarth. O modo Poison, pra quem quer andar ainda mais rápido (o normal, afinal, já faz do carro um canhãozinho), muda os parâmetros pra algo envenenado com bônus, como as reduções simulando punta-taccos (elevando o giro e querendo outra aceleração), sensibilizando o acelerador e, principalmente, ativando a maior vetorização do torque, com controle maior do ESP na frenagem de cada roda.

Modo Poison muda comportamento de direção, eletrônica e, principalmente, vetorização de torque, o que ajuda sobremaneira nas manobras rápidas (Foto: Lucca Mendonça)

Isso, para as curvas, é um prato-cheio: no modo Poison, além de andar com mais vigor, o Pulse Abarth fica bastante na mão, mesmo nas manobras mais ousadas pra um dito SUV. A carroceria alta, não tem jeito, inclina mais do que deveria e, mesmo com melhor barra estabilizadora, tende a rolar um pouco, culminando com uma leve tendência de sair de frente no limite de aderência com o piso, tudo com segurança e sem “assustar” o motorista. Divertido, acima de tudo.

Elogiável seu comportamento em curvas e desvios rápidos: apesar da carroceria alta rolar um pouco mais que o esperado, o controle do carro é ímpar e seguro (Foto: Lucca Mendonça)

Molas e amortecedores endurecidos, e a carroceria rebaixada, auxiliam o Pulse a manter-se em linha reta até nos momentos que toda a força vai parar nas rodas: ele acelera, sempre, na direção que o volante estiver virado, sem “passarinhadas”, e, mesmo rodando nas altas velocidades (acima de 160 km/h ou 170 km/h), chama a atenção o comportamento estável e neutro do carro.

Pra quem não percebeu, esse volante é “emprestado” dos Argo 2017-2022, de boa pega, coincidindo com a dinâmica do carro. Curioso: por mais comum que esse volante possa ser, caiu bem no esportivo. E mesmo com a levíssima assistência elétrica da direção, o controle das rodas é fino e direto, sem folgas nem atrasos. Nitidamente superior  ao das demais versões do Pulse. Freios? Não deram sinais de fading, muito pela ajuda do câmbio que sempre “puxa” para o lado do freio-motor. Mas, nesse carro, tambores são complicados…

Lá dentro

Abarth só em alguns detalhes: internamente, esse carro é um Pulse, com cabine espaçosa, teto alto, boa área envidraçada e arranjo interno suficiente para quatro adultos e uma criança, na mesma toada do porta-malas, que peca pela “boca” alta. Sentado em posição elevada, vendo outros carros “de cima”, o motorista pode não se sentir exatamente em um esportivo no posto de condução, embora o console central alto (mesmo do Fastback) e bancos de abas generosas o “acomode” com competência. São pontos de crossover que o Abarth preferiu não perder. Ou não quis…afinal a ideia é unir a esportividade com a praticidade.

O que pode incomodar é a mobilidade um pouco prejudicada na dianteira, coisa conhecida nos Fastback: uma bitola limitada (essa base MLA é uma derivação da MP1 de Argo/Cronos), largura mediana, bancos grandes, laterais de portas protuberantes e maior túnel central não deixam motorista e passageiro dianteiro com folga digna de um dito SUV, falando de ombros e, principalmente, vão para pernas e pés. Mas, nada muito crítico: coisa para se acostumar, e que, no final, acaba sendo até uma vantagem falando do esportivo. Somada ao volante ajustável em profundidade, a posição de guiar fica mais próxima a de um cockpit…

Apliques vermelhos, bancos de material premium, carpete mais “cabeludo”, além da excelente instrumentação (há tempos não via algo bonito e funcional como esse painel de instrumentos digital exclusivo do Abarth), garantem o requinte visual interno. No toque, nada espetacular: plásticos de diferentes texturas e cores (e qualidades), contrastam com partes macias (minoria). Para a categoria, que basicamente só conta com ele e VW Polo GTS, está bom. Só que para o preço, não. Oferecer só quatro airbags, ao invés de seis ou sete, também é um erro. Todo o conteúdo de série pode ser visto mais abaixo, só que há quem peça mais luxos, como teto-solar ou sistema de som assinado. Fica para a próxima.

Incomparável

Esportivo de dois volumes com motor superalimentado e fabricação nacional na faixa dos R$150 mil: só esse Abarth e o VW GTS. Mas os dois são quase incomparáveis. Se estivéssemos falando de um Argo Abarth, aí sim, seria um páreo duro para o Polo esportivo (e, certamente, uma delícia de carro se bem preparado como o Pulse). O Fiat é um crossover que perdeu rack de teto e outras firulas pra virar carro envenenado, enquanto o Volks nasceu com propósito de ser um hot hatch, numa fórmula alemã. De qualquer forma, tem esportivo para os dois gostos.

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Ficha técnica:

Concepção de motor: 1.332 cm³, flex, quatro cilindros, 16 válvulas (quatro por cilindro), turbo, injeção direta de combustível, duplo comando de válvulas no cabeçote com variador de fase no escape, MultiAir, bloco e cabeçote em alumínio

Transmissão: automática com conversor de torque e 6 velocidades, com trocas manuais na alavanca e em paddle-shifts

Potência: 180/185 cv a 5.750 rpm (gasolina/etanol)

Torque: 27,5 mkgf a 1.750 rpm (gasolina/etanol)

Suspensão dianteira: independente, do tipo McPherson, com barra estabilizadora

Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais

Direção: com assistência elétrica progressiva

Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira

Pneus e rodas: Dunlop SP Sport Maxx 050+, medidas 215/50 e rodas de liga-leve aro 17

Dimensões (comprimento/largura/altura/entre-eixos): 4,11 m/1,78 m/1,54 m/2,53 m

Porta-malas: 370 litros

Tanque de combustível: 47 litros

Peso em ordem de marcha: 1.281 kg

Aceleração 0 a 100 km/h: 7,6 segundos

Velocidade máxima: 214 km/h/215 km/h (gasolina/etanol)

Preço básico: R$149.990 (carro avaliado: R$150.980)

Itens de série:

Espelho no para-sol lados motorista e passageiro, Abertura elétrica do bocal de abastecimento, Pacote ADAS: AEB (Frenagem autônoma de emergência), LDW (Alerta de mudança involuntária de faixa) e AHB (Comutação automática de farol alto), Airbags (4) – Frontal (2), Tórax e Cabeça (2), Alarme antifurto, Alerta de não utlilização do cinto de segurança para todos os ocupantes, Alertas de limite de velocidade e manutenção programada, Alto falantes dianteiros (2), Alto falantes traseiros (2), Tweeters (2) e Antena, Ar-condicionado automático e digital, ASR (Controle eletrônico de tração), Banco do motorista com regulagem de altura, Banco traseiro bipartido 60/40 e com assentos rebatíveis, Bancos revestidos em couro, Brake light, Câmbio automático de 6 marchas, Câmera traseira em alta definição com linhas adaptativas, Central multimídia com tela de 10,1″ com Apple Car Play e Android Auto wireless, Comandos de Voz, Bluetooth, MP3, Rádio AM/FM, Porta USB (2): USB Tipo A e Tipo C, Cluster de 7″ full digital, Comandos de áudio e painel de instrumentos no volante, Computador de Bordo (distância, consumo médio, consumo instantâneo, autonomia, velocidade média e tempo de percurso), Connect////Me – Serviços Conectados, Console central com apoio de braço, Desembaçador do vidro traseiro com temporizador, Direção elétrica, ESP (Controle Eletrônico de Estabilidade), ESS (Sinalização de frenagem de emergência), Faróis de neblina dianteiros com função cornering, Faróis em LED, Freio de estacionamento eletrônico, Freios ABS com EBD, Gancho universal para fixação de cadeira para crianças (ISOFIX), Hill Holder (Assistente de partida em rampa), iTPMS (Monitoramento de pressão dos pneus), Keyless Entry’n Go, Lanterna traseira em LED, LED DRL, Limpador e lavador do para-brisa com intermitência, Luz de cortesia nos espelhos retrovisores externos (Luz de poça), Modo Poison com botão de acionamento no volante, Paddle-shifters, Partida Remota via chave, Piloto automático (Cruise Control), Repetidores de seta laterais em LED, Retrovisor interno eletrocrômico, Sensor de chuva e crepuscular, Retrovisores externos com rebatimento elétrico, Retrovisores externos com regulagem elétrica e função Tilt down, Rodas de liga leve 17” + Pneus 215/50, Saída de ar para o banco traseiro, Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, Sistema de navegação GPS, Teto bicolor, Travas elétricas com travamento automático a 20 km/h, USB traseira (Tipo A), Vidros elétricos dianteiros e traseiros com função one touch e antiesmagamento, Volante com revestimento em couro, Volante em couro com regulagem de altura e profundidade, Wireless Charger (Carregador do Celular por Indução)

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.