(Comparativo) Audi Q3 SUV vs. Q3 Sportback: tradição ou a roupa da moda?

Fotos da esquerda: Q3 SUV/Fotos da direita: Q3 Sportback

Comprar um SUV premium hoje em dia é tarefa pra diferentes gostos e vontades: são muitos deles, com vários estilos, equipamentos, acessórios e até opções de carroceria. Para o Q3, tradicionalíssimo da Audi, são duas: SUV (sim, esse é seu nome oficial) e Sportback. Na verdade, os dois são SUVs, mas o segundo é coupé e mais caro que o irmão “comum”. Como lembrete, a dupla é Made in Brazil, feita na fábrica paranaense de São José dos Pinhais, perto do VW T-Cross.

É exatamente por isso que vale o comparativo dos Q3, SUV convencional vs. Sportback. Pra ajudar, a dupla das fotos é até da mesma cor, o nada discreto Laranja Pulse, e com interior escurecido em couro e camurça. Praticamente idênticos por baixo e, da porta traseira pra frente, também iguais na carroceria. O coupé, buscando um aspecto mais esportivo, ganha alguns milímetros no comprimento graças a um parachoque traseiro mais pronunciado, e baixa 5 cm na altura pelo formato mais curvado do teto.

Quanto custam?

O Q3 SUV dá a largada nessa disputa com um preço básico menor e uma versão que não existe para o Sportback, a Prestige, tabelada em R$291 mil, seguida da Performance de R$314 mil e, no topo da linha, a Performance Black de R$339 mil. Já o Q3 Sportback começa mais caro, em R$334 mil pela mesma versão Performance, seguida da topo de linha Performance Black de R$359 mil. Os Q3 laranjas são das suas respectivas configurações mais caras.

O coupé, apesar de ter até menos lata para estampar e janelas para preencher, é um pouquinho mais caro. Se isso só ocorre na Audi? Que nada! O Volvo C40 custa mais que um XC40, A Porsche cobra mais pelo Cayenne Coupé do que pelo Cayenne convencional, e por aí vai. É coisa comum cobrar mais caro pela carroceria da moda.

Quem os move?

Tirando alguns ajustes próprios de suspensão, os dois tipos de Audi Q3 compartilham da mesmíssima (e excelente) mecânica. Debaixo do capô vai o bom e velho 2.0 16v turbo a gasolina, o EA-888 de projeto VW, com injeção direta de combustível e duplo comando variável, casado a um câmbio automático Aisin de oito marchas com conversor de torque. É uma das poucas vezes que o “888” não trabalha junto de uma caixa automatizada de dupla embreagem (S-Tronic no caso dos Audi). Nos dois carros há a mesmíssima calibração: são 231 cv de potência e 34,7 mkgf de torque máximo após os 1.700 rpm.

Foto: Lucca Mendonça

Outro trunfo da dupla é a tração integral sob demanda, que trabalha de forma automática e inteligente distribuindo a força do conjunto para as quatro rodas, tudo de acordo com a situação. Na tampa traseira, grade e aplique no painel fica claro: tanto o SUV quanto o Sportback são legítimos Audi com tração Quattro. Lembrando que esse aparato é de série para todas as versões dos dois modelos, desde as de entrada.

Como andam e quanto bebem?

Apesar de pesada, a dupla da Audi tem pique esportivo, e nem mesmo a tal transmissão S-Tronic, de dupla embreagem, faz falta, afinal essa caixa Aisin opera de forma esperta e não titubeia nas reduções: faz seu trabalho com maestria. Todo o torque em rotações baixíssimas resulta em acelerações quase imediatas e bem sentidas, ainda mais no modo esportivo (Dynamic) de condução, que estica as marchas, eleva a rotação do motor e sensibiliza o pedal do acelerador.

Quase esportivos mesmo: os números oficiais falam em apenas 7 segundos pra Q3 SUV e Q3 Sportback acelerarem de 0 a 100 km/h (que se aproximam bastante da realidade), com máxima limitada eletronicamente em 240 km/h. Apesar dos números idênticos no desempenho, o SUV pesa exatos 100 kg a mais que o Sportback (1.776 no total), e o coupé ainda “briga” menos com o ar graças ao Cx menor (0,35).

Se andam muito, consomem gasolina na mesma proporção, principalmente o SUV mais pesado e com Cx maior (0,36). Segundo os dados do computador de bordo, com ele é difícil fazer mais que os 8 km/l declarados pelo INMETRO, isso no modo mais econômico, usando e abusando do Start&Stop nas paradas rápidas. O Sportback vai um pouco além: chega nos 8,5 km/l, mas sem surpresas positivas.

Na estrada a situação é mais agradável. Mantendo médias ao redor dos 100 km/h, sem abusar do conjunto, dá pra fazer os 60 litros do tanque renderem mais: foram 15,9 km/l com coupé (com picos de mais de 16,5 km/l) e cerca de 15 km/l com o SUV, que, nessas condições, também tem como empecilhos o coeficiente de arrasto maior e carroceria “mais gorda”. Repetindo aquilo dito na avaliação do Sportback, os Q3 2.0 são bons, e muito mais eficientes, na estrada, em viagens.

Vida a bordo e espaço interno

Os Q3 são igualmente prazerosos de guiar, e, graças a acertos típicos da engenharia alemã e a tração Quattro, extremamente estáveis e com dinâmica apurada. Nesses pontos, coupé e SUV se equivalem, mas, pela carroceria mais baixa e menor centro de gravidade, o Sportback é um pouquinho superior. Ainda assim, dois utilitários com comportamento elogiável em curvas, frenagens, acelerações e desvios rápidos de trajetória.

Aliás, tudo pesa a favor nesse conjunto mecânico: além das suspensões independentes nas quatro rodas, que favorecem a tração integral independente, os quatro freios são a disco ventilado e param os Q3, SUV e Sportback, com muita eficiência. Também pela construção assim refinada, mais o eixo traseiro multibraço, os passageiros viajam com boa dose de conforto e suavidade, mas molas e amortecedores costumam sofrer um pouco nos pisos ruins. São os mesmos 14 cm na altura da carroceria com relação ao solo dos dois carros.

O motorista dos Q3, pelo menos nessas versões mais caras, tem ajustes elétricos para assento e encosto, dupla configuração de lombar e extensão de assento, tudo para acomodar da melhor forma os diferentes tamanhos de gente. Nos dois carros, a posição de guiar é elevada, mas só o SUV tem maior área envidraçada e visibilidade levemente superior. Nos dois, a ergonomia segue a escola alemã, com elementos fáceis de ler e operar (especialmente no painel de instrumentos digital e multimídia), e comandos voltados ao motorista.

Os Q3 são medianos no espaço interno, isso é fato desde a primeira geração. Nessa atual, a segunda, dá para acomodar tranquilamente até quatro adultos e uma criança no meio do banco traseiro, que vai precisar lidar com o enorme túnel central (por onde passa o eixo Cardan nesses Quattro). Os dois passageiros dianteiros vão extremamente confortáveis para todos os lados, enquanto os traseiros encontram folga suficiente para as pernas e cabeça, inclusive no Sportback (sim, temos um coupé com teto traseiro decentemente alto).

A segunda fileira de bancos, nos dois carros, é bem prática, e corre sobre trilhos para dar mais espaço para os passageiros ou bagagens do porta-malas, que, aliás, tem a mesma capacidade no SUV e no coupé: 530 litros. Só que, nas laterais dos assentos traseiros, dois enormes porta-trecos roubam espaço valioso que poderia acomodar melhor os ocupantes.  Toda a cabine é caprichada no acabamento, e não deve praticamente nada nos mimos e comodidades.

Conteúdos de série?

 

Falando dessas Performance Black avaliadas, o recheio é satisfatório, e idêntico para SUV e Sportback: luzes todas em LED, cabine com iluminação ambiente, painel de instrumentos digital, multimídia completa de 10”, ar-condicionado digital automático dual zone, bancos em couro e camurça, ajustes elétricos para motorista e passageiro dianteiro, porta-malas com tampa elétrica presencial, teto-solar panorâmico, freio de mão eletromecânico com função Auto Hold, rodas de liga aro 19 (o coupé pode vir com o mesmo jogo do SUV, inclusive), retrovisor interno fotocrômico sem borda e mais.

E, finalmente, o Q3 passa a oferecer os devidos assistentes de condução que sempre mereceu. Isso vale para o SUV e para o Sportback, que, antes da linha 2023, não dispunham de maiores tecnologias desse tipo. Agora também são de série o alerta de colisão e frenagem autônoma de emergência, o alerta de saída de faixa e o piloto automático adaptativo (ACC), não disponíveis nos carros das fotos (linha 2022). Há ainda dois opcionais: faróis com tecnologia matricial (dividido em milhares de fachos) e sistema de som assinado pela Sonos (680 Watts).

E aí?

Quem procura um Q3 Sportback quer mesmo algo mais moderno, na moda, com aspecto esportivo e jovem, e geralmente não prioriza encher o carro de pessoas pra viajar num feriado, por exemplo. O SUV atende, entre outros, aquele público mais “tradicional” dos utilitários, que ainda pode levar toda a família pra passear e precisa de mais espaço. O estilo do SUV, bonito, passa um ar mais elegante: a esportividade visual fica mesmo para o Sportback.

A proposta da Audi é clara: oferecer o SUV e o Sportback como diferentes alternativas ao consumidor, mas, como de costume, cobrando mais caro pela “roupa coupé da moda”. O Q3 convencional não supera a esportividade visual do coupé, mas o SUV é dono do maior espaço interno, fora outras disputas entre eles. São pouquíssimas diferenças pra muitas semelhanças, até chegar numa certeza: SUV coupé ou SUV convencional, esses Q3 são belos carros.

 

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Com 22 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.