VW TL Personalizado: o primeiro fastback nacional em versão “esporte-fino”

Último integrante da família VW 1600, o TL foi o Volkswagen mais estiloso de seu tempo, com design tipicamente europeu. Foi inspirado no VW Type 3 alemão e derivava do VW 1600L nacional, sendo ainda responsável por inaugurar o estilo “dois volumes e meio”, ou fastback, no mercado brasileiro, amplamente difundido anos depois pelo Ford Escort, VW Pointer, VW Nivus e Fiat Fastback.  

Antes de falar do TL, precisamos relembrar de seus antepassados. Lançado na versão sedan no final de 1968, o VW 1600L, conhecido popularmente como “Zé do Caixão”, foi o primeiro de uma família de modelos a chegar. Era um sedan de quatro portas com porta-malas na dianteira e o motor, refrigerado a ar, na traseira, apelidado em alusão a semelhança de sua carroceria quadrada com caixões fúnebres, enquanto as maçanetas cromadas lembravam alças féretras.  

Apesar de eficiente, o Sedan 1600 não caiu nas graças do público, que, na época, valorizava os modelos com duas portas, que tinham um aspecto visto como esportivo. Nem mesmo os taxistas se renderam ao “Zé do Caixão”, já que a concorrência tinha produtos mais modernos, como GM Opala e Ford Corcel, lançados na mesma época. 

No decorrer de 1969 veio a Variant, perua da família, com o famoso “motor plano” e seu porta-malas duplo. Seus comerciais ressaltavam esta vantagem, com capacidade de armazenamento de 701 litros de bagagens, sendo 434 litros no traseiro e outros 267 no dianteiro. Nesse meio tempo, a carroceria sedan sofria com números de vendas muito abaixo do esperado, e a Volkswagen precisava substituí-lo. 

A Variant, com porta-malas duplo, ajudou a canibalizar o Zé do Caixão (Foto: VW/divulgação)

A linha só estaria completa no ano seguinte, com a estreia do VW TL (Turismo Luxo). Com linhas elegantes e fluídas, ele logo caiu nas graças dos consumidores, que se encantaram com seu estilo esportivo, associado à robustez do motor boxer 1600 de 50 cv a 4600 rpm e 12,0 kgfm de torque a 3000 rpm. Apesar do aspecto “sport”, não era nenhum foguete: demorava longos 20,9s para acelerar de 0 a 100 km/h, chegando aos 139,52 km/h de velocidade máxima, números obtidos em testes da Revista Quatro Rodas da época. Famoso por seu alto torque e rendimento, o TL era também econômico para 1970, fazendo médias entre 8,0 km/l na cidade e 12,0 km/l na estrada, com gasolina. 

Em 1971, o modelo VW 1600L “Zé do Caixão” finalmente saía de linha após apenas 38.028 unidades fabricadas, e na sequência, a Volkswagen lançava seu substituto, o VW TL 4 portas, apresentado em junho, na linha 1972. Enquanto isso, Variant e TL 2p recebiam seu primeiro e único facelift, com uma frente em cunha que seria amplamente explorada por demais modelos lançados depois, como SP1/SP2, Brasília e Variant II. 

O VW TL acomodava três adultos atrás, com suspensão que garantia o conforto necessário para as viagens, pequenas ou longas. A versão de 4 portas enfim caiu nas graças dos taxistas, que viam nele um estilo bonito, e tinham bastante espaço no porta-malas de 611 litros de capacidade, também duplo (344l na frente e 267 atrás). Sua estabilidade era elogiável para um carro com tração traseira e pneus diagonais, e a dirigibilidade era favorecida por uma direção leve e precisa. O câmbio tinha manejo bastante suave, de engates curtos e justos, como de costume em um Volkswagen manual.  

Mesmo obsoleto no conceito mecânico, o TL era considerado estável e comportado para a época, com direção precisa e câmbio de engates justos (Foto: VW/divulgação)

Em meados de setembro de 1972, um pouco antes de anunciar as novidades para a linha 73, a VW apresentou uma série especial do TL na configuração de 2 portas, chamada de “Personalizado”. Ela ainda integrava a linha 72 da marca, e tinha como objetivo impulsionar as vendas do fastback, em especial com o público mais jovem e descolado. Até por isso, o “Personalizado” custava o mesmo que a versão convencional: Cr$21.696,00 mais frete, equivalentes a R$146.155,97 atuais de acordo com o índice IGP-DI (FGV).  

Externamente, o modelo especial era reconhecido por suas faixas adesivas pretas nas laterais, traseira e no capô dianteiro, sem contar as calotas esportivas tipo “copinho”, as mesmas do SP2. Além disso, “TL Superequipado”, como chamava a própria marca, trazia de série relógio, acendedor de cigarros (!), retrovisor interno antiofuscante, buzina dupla, e volante esportivo Walrod de três raios, igual ao do futuro “Fuscão” 1600S, conhecido popularmente como “Bizorrão”. Tudo isso, vale lembrar, saía “de graça”, já que não havia acréscimo de preço da série especial frente aos TL convencionais.  

Outro destaque do Personalizado era a chamativa cor Verde Hippie, que depois esteve presente em outros VW nacionais. Algumas unidades também foram pintadas de branco. Logo, a imprensa nacional e o próprio público davam ao TL Personalizado um nome mais amigável: “TL Sport”, como era chamado informalmente. Mesmo assim, o carro especial era movido pelo mesmo motor boxer 1600 de 50 cv de potência a 4600 rpm com 12,0 kgfm de torque a 3000 rpm das demais versões da linha TL. A edição não podia se dar ao luxo de usar o novo motor de 1700 cilindradas, mais potente, afinal atrapalharia as vendas dos recém-lançados SP1 e SP2.  

A cor Verde Hippie surgiu nele, mas depois se estendeu para outros modelos VW (Foto: reprodução/Franz Veículos Antigos)

Independe da cor e modelo escolhido, o marketing ressaltava que os Personalizado eram pintados com o sistema eletroforético, que prometia acabamento mais liso e evitava a corrosão. Bem, sobre a corrosão não dava muito certo, pois era absolutamente comum ver carros com dois ou três anos de uso com pontos de oxidação. Esse problema só seria corrigido nos processos de produção adotados nos idos dos anos 80. 

A linha 1973, que veio em meados de novembro de 1972, trouxe novas saídas de ar traseiras e novas faixas de preço, intituladas informalmente de “Standart” e “Luxo”, identificada facilmente pelas novas lanternas traseiras. Ao mesmo tempo, o TL Personalizado não fazia mais parte do catálogo, levando a crer que sua produção não durou muito mais que dois meses e meio. A quantidade de unidades fabricadas permanece um mistério, mesmo para os entusiastas da marca e do modelo.  

A série especial durou pouco, cerca de dois meses e meio, e seus números de produção nunca vieram à tona (Foto: VW/divulgação)

Além da Brasília de 1973, concorrente interno da linha TL, a VW preparava para o ano seguinte o Passat, primeiro carro da marca com motor refrigerado a água (BR 1.5) e com tração dianteira. Era, de fato, um carro anos-luz mais moderno e atual que os tradicionais carros a ar da marca alemã. E, como o Passat chegou na carroceria de duas portas, mas ganhou opção de quatro portas já em 1975, não havia mais espaço para o obsoleto TL no nosso mercado. Por isso, o primeiro fastback nacional saía de linha discretamente nos idos de outubro daquele ano.  

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.