VW Parati 1.5 e 1.6: o início da história da perua do Voyage
O VW Gol foi o carro mais vendido da história do nosso país, ultrapassando o também fenômeno VW Fusca e outros modelos lendários como Fiat Uno, Ford Corcel e GM Opala. Estamos falando de carros com milhões de unidades comercializadas, e é fato: a Volkswagen entendeu bem o nosso mercado e sempre fez veículos que agradavam a todos os tipos de públicos brasileiros.
Após o lançamento do Gol, chegou a vez de debutar sua carroceria sedan, o chamado VW Voyage. Logo o sedanzinho conquistou muitos fãs por sua robustez e confiabilidade. Seus atributos foram muitos, desde um projeto moderno, motor potente, posição de dirigir esportiva, câmbio com ótimo escalonamento e estabilidade acima da média se comparado à concorrência da época. E, claro, como sedan, tinha porta-malas que servia à uma família da época.
Em 1982, foi eleito o carro do ano pela revista Auto Esporte, e no mesmo ano, começou a ser exportado para países da América do Sul com nome de Gacel e Amazon. Ainda em 1982, a Ford, que tinha lançado 1 ano antes o Del Rey, trazia sua pick-up Pampa, enquanto a GM avassalava o mercado com o Monza. A VW, sem querer abrir mão daquela onda de novidades, respondeu à altura, e de quebra sacudiu o mercado no segmento que estava em alta: o das peruas.
Assim, já em junho de 1982 tínhamos como grande novidade o VW Voyage Parati. Sim, o modelo era uma variante do sedan, e assim foi apresentado. O SW chegava com linhas modernas e atuais àquele tempo, e aliava o bom consumo, espaço, freios e desempenho adequados a tradição e confiabilidade típica dos carros da marca alemã na época. Concorrente de GM Marajó e até Caravan, Ford Belina e Fiat Panorama, a Parati era anos luz mais moderna. Se comparada com a antecessora Variant II, descontinuada um ano antes, a evolução era ainda maior.
Sob a carroceria station, muito do Voyage, a exemplo do motor longitudinal BR 1.5 a gasolina. Tinha 78 cv SAE a 6.100 rpm (65 cv ABNT) com 11,5 kgfm de torque a 3600 rpm, era arrefecido a água e operava junto de um câmbio de 4 marchas. Esse 1.5, que servia ao Passat desde 1974, tinha comportamento bastante elástico graças ao torque interessante em baixas rotações. Parecia ser mais forte do que indicava a ficha técnica. Suspensões, freios, direção e outros aparatos mecânicos também vinham do sedan, porém calibrados para a carroceria mais pesada e proposta da Parati.
Pesando 918 kg, a perua atingia de 0 a 100 km/h em 16,54s e chegava a 144 km/h de velocidade máxima segundo testes da Revista Quatro Rodas na ocasião do seu lançamento, números muito bons nos idos de 82. A VW, em seus dados oficiais, era mais presunçosa indicando máxima de 157 km/h e 0 a 100 km/h em cerca de 14,0s. Seu consumo logo se tornaria uma referência no segmento: era excelente, conforme também comprovou a revista, com médias de 9,17 km/l de gasolina na cidade e 14,54 km/l na estrada, nesse caso inclusive superando a marca oficial divulgada pela fabricante (13,6 km/l).
Sua dirigibilidade e comportamento ao volante eram elogiáveis, em tempos de peruas com outra dinâmica. Por essas e outras, logo a Parati virou a queridinha dentre jovens com pé pesado, mas que precisavam de maior espaço interno e porta-malas. A suspensão traseira tinha reforços se comparada a do Voyage, a fim de levar mais carga. O modelo trazia também amortecedor de direção, o que suavizava as ações em manobras.
Em sua versão GLS, mais cara, o interior era bastante luxuoso, com tecidos de veludo em xadrez nos bancos e em partes das laterais das portas. No porta-malas, revestimento em carpete espesso e iluminação dedicada. Tinha também limpador e desembaçador traseiro, além de inovações como batentes em forma de cunha para eliminar as vibrações das pesadas tampas do porta-malas, comuns nos concorrentes. A Parati GLS foi, inclusive, o primeiro Volkswagen a oferecer rodas de liga-leve opcionais, similares ao Scirocco alemão, que logo depois serviram ao Gol Copa de 1982.
Seu painel era quase completo, com velocímetro marcando até 190 km/h, hodômetro total que registrava até 99.999 km, hodômetro parcial, marcador de combustível, conta-giros, relógio e luzes-espia. Faltava, à ocasião, o termômetro do motor, item muito útil, substituído por uma luz de advertência (falha também no Voyage). Trazia ainda volante espumado, ar quente, rádio AM/FM e belas cores para a carroceria, incluindo metálicas. Havia ainda a versão “S”, que tinha volante de plástico rígido, interior em tecido preto, forros de porta de plástico e era desprovida de relógio e conta-giros, além da “LS”, intermediária com acabamento melhor, relógio no painel e volante espumado.
Em 1983, a concorrência lançava o Ford Escort, que mesmo em outra configuração (dois volumes e meio), trazia bons predicados e situava-se na linha de concorrentes da Parati. A Fiat trouxe o Oggi, e o Chevette, outro concorrente ainda moderno em design para os padrões da época, destronava o Fusca como o carro mais vendido. A Volkswagen reagia com o lançamento do Voyage GLS, tão completo e refinado quanto a Parati, e a carroceria de 4 portas para o sedan, disponível também para as versões S e LS.
Tanto o Voyage quanto a Parati passaram a utilizar o motor MD-270 1.6 litro, chamado de Torque, em todas as versões, sempre com 81 cv de potência ABNT a 5200 rpm e 12,8 kgfm de torque a 2600 rpm na versão a etanol, ou 72 cv ABNT a 5200 rpm e 12,2 kgfm a 2600 rpm na a gasolina. Esse 1.6 melhorava e muito a dirigibilidade e o consumo dos modelos, graças ao torque máximo em menor rotação, além da maior potência. O câmbio era de 4 marchas, e havia a opção do câmbio longo 3+E para quem quisesse menores consumo e ruído no uso rodoviário.
Quase ao mesmo tempo, estreava a série especial Parati Plus, equipada com para-choques, grade e retrovisores na cor da carroceria – algo inédito na época – faróis de neblina e as mesmas rodas de alumínio da versão GLS. O modelo também usava o motor 1.6 MD-270.
O ano de 1984 trazia algumas novidades estéticas para a Parati, como novo acabamento interno ou lâminas dos para-choques pretas com polainas maiores. Na mecânica, a quinta marcha passava a ser oferecida como opcional a partir da versão LS. A GLS passava a oferecer de série os lendários bancos Recaro. No ano seguinte, saía de cena o 1.6 MD-270, abrindo espaço para o memorável motor 1.6 AP-600, com 85 cv de potência ABNT a 5.600 rpm e 12,65 kgfm de torque a 3.000 rpm na versão a etanol, ou 80 cv a 5.600 rpm e 12,75 kgfm a 3.000 rpm na variante a gasolina.
Agora com o AP 1.6, a station Parati estava um pouco mais rápida: fazia de 0 a 100 km/h em 12,98s e atingia 164,8 km/h de velocidade máxima (dados da Quatro Rodas). De quebra, bebia menos combustível que o antigo MD: com etanol, 7,73 km/l na cidade e 12,43 km/l na estrada. Ainda assim, eram marcas inferiores às do BR 1.5 que, em contrapartida, gerava menos potência e torque. Já em 1986, a Fiat lançava a Elba, e a VW tinha planos do primeiro facelift da Parati, que viria no segundo semestre como linha 87. Mas esta história eu conto mais para frente…