VW Gol Furgão: a versão de carga do carro mais vendido do Brasil
O Volkswagen Gol vendeu mais de 8.500.000 unidades no Brasil e em alguns outros países em 42 anos de fabricação. Sua primeira geração, lançada em maio de 1980 sob a plataforma BX, teve três remodelações, sendo a primeira em 1984 com o lançamento do motor refrigerado a água para a linha 1985, em 1986 quando foi apresentada a linha 1987 e em 1990 com a apresentação da linha 1991.
Com design moderno para seu tempo, o hatch chegou causando grande expectativa, mas quase “bateu na trave”. Seu antiquado motor boxer (o mesmo do Fusca), mesmo retrabalhado com elementos Porsche para se instalar na dianteira, desenvolvia apenas 50 cv de potência SAE (parcos 36 cv ABNT), o que decepcionava toda a torcida com um interminável 0 a 100 km/h em 30,27 segundos e pífia velocidade máxima de 124 km/h, de acordo com testes da Revista Quatro Rodas da época, dados considerados tímidos até para os idos de 1980.
Além disso, o Golzinho a ar ainda era beberrão, percorrendo, com gasolina, 9,13 km/l na cidade e 12,28 km/l na estrada. Nem mesmo o lançamento da versão movida a etanol, com 6 cv SAE a mais, ajudou nas vendas do VW, que seguiam muito modestas. O carro “tomava couro” até de Fiat 147 1050 no consumo e desempenho (19,47s de 0 a 100 km/h e 136 km/h de máxima).
Sua situação foi revertida em 1981 com o lançamento do Gol 1600, agora sim com interessantes 66 cv SAE a 4400 rpm (50,55 cv ABNT) e 10,5 kgfm de torque a 3000 rpm. O desempenho do Hatch da VW tornava-se mais condizente com sua proposta, e agora praticamente não deviam mais nada para a concorrência: dados de testes da Revista Quatro Rodas indicavam 0 a 100 km/h em 16,57s com 145,749 km/h de velocidade máxima. Além disso, junto do motor 1600, a Volkswagen trouxe a primeira variação do Gol, a Furgão.
O Gol Furgão chegou no mercado com a missão de ser um carro prático para transporte de pequenas cargas na cidade. Concorrente direto do Fiat 147 Furgão, que tinha a mesma proposta, o VW tornava-se espaçoso, já que não tinha mais o banco traseiro, e seu assoalho tornava-se plano. Assim, o porta-malas de 330 litros (que ainda não carregava o estepe) passava para bons 1.200 litros, enquanto a capacidade de carga chegava a 420 kg, interessante para sua proposta urbana. Embora desempenho não fosse sua prioridade, a VW falava em 17,9 segundos na prova de 0 a 100 km/h e velocidade máxima de 139 km/h na versão a etanol.
Dividindo a cabine do Furgão, havia uma espécie de placa metálica similar ao do Saveiro (que seria lançado em 1982), responsável por separar condutor e passageiro do compartimento de carga, como uma grade de proteção, onde inclusive iam fixados os encostos de cabeça, que não tinham regulagem de altura. As janelas traseiras laterais eram tampadas com lata, em um processo que na verdade eliminava o corte para o vidro no ato do estampo, enquanto a tampa traseira era inteira fechada em lata, podendo receber a janela de vidro opcionalmente.
Os itens de série se restringiam ao mínimo necessário, mas o marketing era criativo listando quadro de instrumentos em formato quadrado, lavador do para-brisas com bomba mecânica (acionada pelo pé), porta-luvas com tampa, alça no teto para passageiro, console simples, revestimento das portas em courvin, descansa-braço injetado nas portas, servo-freio, dois retrovisores externos e tapete de borracha no compartimento de cargas. Como opcionais, estavam vidro na tampa traseira e tampa do bocal de combustível com chave (!), sem contar que a VW sempre enaltecia as “várias opções de cores” para sua carroceria (seis tons em 1988, incluindo dois vermelhos, bege e azul).
Em 1985 a linha Gol contava com as versões BX, Furgão, S, LS, Plus e GT. Nesta época, apenas a BX, de entrada, e a Furgão usavam o motor 1600 refrigerado a ar, aliado ao câmbio de 4 velocidades. As S, LS e Plus já traziam o 1.6 AP-600 com 80 cv a 5600 rpm e 12,65 kgfm de torque a 2600 rpm na variante a gasolina (85 cv e 12,65 kgfm de torque na movida a etanol), enquanto a estrela esportiva GT, primeira com motor refrigerado a água, vinha com o 1.8 AP-800 e câmbio de 5 velocidades (99 cv declarados com etanol, que na realidade eram 106 cv omitidos por questões legais).
Ainda em 1986 foi apresentada a linha 87 do Golzinho, já trazendo seu segundo facelift externo, mantendo o interior intocado. Usando a brecha do plano Cruzado, a VW renomeou seus produtos, e criou assim “novos carros”.
O Gol BX foi descontinuado em novembro, substituído pelo Gol C (leia mais aqui), o S virou CL, o LS virou GL, o Plus também foi descontinuado, e o GT virou GTS. Os modelos Gol C e Gol Furgão, portas de entrada para transporte de passageiros e carga, respectivamente, ganhavam enfim o motor AP-600, que agora fornecia 90 cv com a 5600 rpm com 13 kgfm de torque a 2600 rpm (versão a álcool). O câmbio manual continuava com 4 velocidades nessas versões de entrada como a Furgão, que, aliás, demorava 10,7 segundos para ir de 0 a 100 km/h, atingindo os 168 km/h de velocidade máxima segundo dados oficiais da fabricante.
Com o motor refrigerado a água, o Gol Furgão ganhava um importante equipamento de série: o termômetro no painel, chamado pela VW de “marcador gradual de temperatura”. Além disso, seu estepe, até então posicionado no cofre, passava para um alojamento dedicado atrás do banco do passageiro, solução similar à da Kombi da época. Demais itens e opcionais não mudavam.
O interior da linha Gol era reformulado de forma significativa apenas no modelo 1988, recebendo novo painel em plástico injetado, e tinha um design atraente para seu tempo. Sua instrumentação, mesma do Golf MK2, fornecia apenas as informações básicas: velocímetro até 200 km/h, odômetro total até 99.999 km, marcadores de temperatura e nível de combustível, iluminação verde com reostato de intensidade e luzes-espia no centro, em LED, que eram um show à parte.
Neste ano o Gol C e o Gol Furgão ficavam ainda mais espartanos, pois perdiam o quebra-ventos, substituído por uma janela fixa no local, vista anos depois no CL básico de 1992 e no Gol 1000 1992/1993. Além disso, as saídas de ar laterais do painel eram substituídas por tampas plásticas, solução que também foi reaparecer no modelo 1000 lá dos anos 90.
Na linha 1990, além da nova frente mais baixa (batizada popularmente de “chinesa”), a mecânica AE-1600 substituía o AP-600. Por estratégia da Autolatina, as versões 1.6 utilizariam o novo AE, de origem Ford, para “desafogar” um pouco a alta demanda dos motores AP (que já serviam ao Santana, Quantum, Del Rey, Escort, Pampa e, futuramente, Verona e Apollo).
Apesar das críticas, o AE-1600 era competente. Com gasolina, fornecia 76 cv de potência a 5600 rpm e 13,3 kgfm de torque a 3200 rpm (78 cv com etanol), e com ele o Golzinho fazia 0 a 100 km/h em 13s e atingia como máxima os 155 km/h (oficialmente, a VW falava em até 12,9s com máxima de 154 km/h para o Furgão a etanol). Era um pouco mais lento que os carros AP, porém o consumo diminuía para 11,6 km/l na cidade e ótimos 17,1 km/l na estrada (gasolina).
Estes números de consumo eram bons para um carro alimentado por carburador de corpo duplo, mesmo para os dias de hoje. De 1990 a 1993 os modelos CL e Furgão utilizaram esta mecânica, e no caso do Furgão, o AE 1.6 fazia par exclusivamente ao câmbio de 4 velocidades.
Na época, já constava em sua lista de equipamentos de série os parachoques plásticos envolventes com spoiler integrado (!), tampa do bocal de combustível com chave, buzina simples, ventilação forçada, console com cinzeiro, bancos revestidos em courvim, tapetes de borracha, parassóis, dentre outras coisas óbvias como logotipos traseiros ou quebra-ventos fixos (?). O modelo podia ser pintado de Branco Star, Bege Arena ou Cinza Granito, três tons sólidos que combinavam com o cinza do interior.
A partir de 1994, o motor AP-1600 voltava a ser oferecido nos carros 1.6 de toda a Autolatina (exceto o Ford Pampa 4×4), já que a demanda por motores de 1000 cilindradas estava altíssima (família AE). No mesmo ano, a linha Gol recebia sua segunda geração, lançada no segundo semestre, e o Gol Furgão saía de linha, ainda movido pelo motor AE 1.6.
Muitos Gol Furgão foram convertidos para versão de passageiros com a adição dos vidros laterais e banco traseiro, o que o torna bastante raro. Sem contar que, pela proposta de uso profissional, muitos deles sucumbiram ao tempo. De acordo com o Denatran, existem atualmente 3.528 unidades emplacadas, mas este dado não garante que tais carros ainda estejam originais. Se você for para algum campeonato de arrancada vai entender o que estou dizendo: por ser mais leve, o Furgão também é um dos preferidos para preparações.