VW Gol e a real contagem de suas gerações

O Volkswagen Gol é um sucesso incontestável. Lançado em 15 de maio de 1980, vendeu mais de 8.500.000 unidades no Brasil e em alguns países do mundo, divididas entre três gerações. A terceira, comercialmente identificada como sétima (se contar o número de remodelações, seria inclusive oitava), deixou de ser produzida em 23 de dezembro de 2022, e foi comercializada até meados de maio de 2023. 

Gol: um sucesso de três gerações mas várias reestilizações (Foto: VW/divulgação)

Curiosamente, as gerações do Gol sempre tiveram intervalo de 14 anos entre elas. A primeira, lançada em 1980 sob a plataforma BX, teve 3 remodelações, sendo 1984 com o lançamento do Gol com motor refrigerado a água para a linha 1985, 1987 e 1990, com a apresentação da linha 1991.

A segunda geração foi lançada em 1994, quando foi apresentada a linha 1995, com a nova plataforma AB-9, uma evolução frente a base BX de antes. Mesmo com o motor ainda disposto na posição longitudinal, tinha mais espaço interno, maior rigidez torcional além de maior conforto, principalmente para os passageiros do banco traseiro. Conviveu até meados de 1996 com a primeira geração, quando foi descontinuado o Gol 1000 “quadradinho”. 

 

Em sua segunda geração, o Gol teve mais três remodelações. Duas delas foram chamadas de nova geração pelo marketing da marca, sendo uma em 1999, quando foi apresentado o Gol G3 para a linha 2000, e em 2005, quando chegou o Gol G4 2006.  

A reestilização que debutou na linha 2003 não foi chamada de nova geração, e nesta época, a linha era bastante confusa: a versão de entrada Special permanecia com o design de 1994; a versão City, básica com motor EA-111, tinha o visual de 1999; e as versões mais completas já eram modernizadas com o facelift, conhecido popularmente no mercado como G3,5. 

Em 2005, três “caras” do Gol saíram da fábrica em São Bernardo do Campo, e o G4 chegaria logo depois (Foto: VW/divulgação)

No ano de 2005 o mercado recebeu os quatro modelos, onde o Special, o City e os “G3,5” foram fabricados até maio, quando a Volkswagen mudou de estratégia ao apresentar o novo facelift, intitulado de “geração 4”. Nesta época, tanto a versão de entrada quanto as mais completas tinham a mesma “cara”. Os demais integrantes da família (Parati e Saveiro) receberam o design do G4 na mesma época. 

A terceira geração chegou em 2008, com a apresentação da linha 2009, e esse sim era um “Novo Gol. Totalmente reformulado, o carro usava elementos da plataforma PQ-24 do Polo lançado em 2002, mas permanecia com o robusto e eficiente conjunto de suspensão traseira desenvolvido em 1980. Passava a ter motor 1.0 ou 1.6 transversal, e mesmo sendo menor por fora, tinha o mesmo bom espaço interno da geração anterior. A carroceria era sempre de quatro portas.

Usando a plataforma PQ-24 e elementos da PQ-25, o Novo Gol vinha na linha 2009 (Foto: VW/divulgação)

A Volkswagen não queria mais usar o termo “geração” para identificar o modelo, mas o mercado logo o batizou de Gol G5. Enquanto isso, voltava a estratégia da versão de entrada ser representada pela geração anterior, e o “Gol G4” permanecia em linha, tanto nas versões 1.0 quanto 1.6 (esta até 2010), e opções de duas ou quatro portas. Neste ano, a carroceria sedan voltava a ser comercializada como Novo Voyage, depois de 14 anos fora do mercado. 

A nova geração do Voyage foi lançada junto com o Gol G5 (Foto: VW/divulgação)

Em 2012 era apresentado o Gol G6 (nome também dado pelo mercado), com nova frente e traseira, equipamentos inéditos, versões repensadas, melhoria do processo construtivo e opção de câmbio automatizado. Neste mesmo ano, novamente o mercado recebia três versões 0 km do Gol, uma vez que o geração 4 ainda era comercializado. Em 2013, a segunda geração enfim saia de linha, quando o G4 foi descontinuado. Além disso, para atender aos frotistas, o hatch da VW voltou a ter carroceria de duas portas na linha G6.

Em 2016 chegava ao mercado a linha 2017, intitulada pelo mercado como Gol G7. Com o interior e traseira reformulados, tinha novo conteúdo de série, mas mantinha boa parte da dianteira do G6 (de novo mesmo, só o parachoques), se aproximando dos concorrentes que ofereciam mais equipamentos, principalmente no que tangia a conectividade. Ganhava, pela primeira vez, central multimídia e o motor 1.0 tricilíndrico EA-211, mesmo de Fox e up!. 

Nesta “geração”, o Gol tinha duas dianteiras, sendo uma para as versões Trendline, Comfortline e Highline, com a frente apresentada em 2016, e outra para a versão aventureira Track, lançada alguns meses depois trazendo design frontal mais robusto, capô mais alto, faróis maiores e design “clean”. Na prática, o Gol Track tinha a mesma “cara” do então VW Saveiro, que começava a ter identidade própria. 

A versão Track era a novidade aventureira que substituía a Rallye. Sua frente, enxertada da picape Saveiro, adiantava as linhas da próxima reestilização (Foto: VW/divulgação)

A verdade é que a versão Track acabou adiantando o design atual do Gol, já que sua frente (e do Saveiro) seria adotada no restante da linha a partir de 2018, quando foi apresentada a linha 2019. Simultaneamente também seria lançado o Gol mais completo já produzido, e talvez o mais aguardado: o Automático.

O Gol Automático estreou a caixa Aisin AT6 no hatch de entrada (Foto: VW/divulgação)

Com a excelente transmissão automática de 6 velocidades Aisin aliada ao motor 1.6 16v de 120 cv de potência quando movido a Etanol (110 cv com gasolina) e 16,8 kgfm de torque a 4000 rpm (15,8 mkgf com gasolina), este carro era capaz de chegar aos 185 km/h de velocidade máxima e fazia de 0 a 100 km/h em 10,1 segundos.

Agora sempre com a frente da Saveiro, o Gol contava com opção da transmissão automática (Foto: VW/divulgação)

Trazia vidros elétricos nas quatro portas, computador de bordo, sistema de alarme, travamento das portas e porta-malas com comando remoto, multimídia App-Connect, 4 alto-falantes e 2 tweeters, coluna de direção com ajuste de altura e profundidade, espelhos retrovisores externos com setas integradas e ajustes elétricos, função tilt-down, faróis de neblina, para-sol com espelho iluminado para motorista e passageiro, rodas de liga leve 15″, sensor de estacionamento traseiro, volante multifuncional com comandos do sistema de som, e a estrela: câmbio automático de 6 velocidades com opção de trocas manuais.

Agora automático, o Gol estava mais completo do que nunca (Foto: Lucca Mendonça)

Com o Novo Polo no portfólio desde 2017 e o mercado em constante evolução, com concorrentes trazendo cada vez mais conteúdo, o Gol Automático era bom, mas tinha chegado obsoleto. Além disso, pelo alto preço, ele não conseguiu cativar novos compradores, mesmo com os esforços da VW em esconder a idade do projeto. A pandemia também reduziu ainda mais suas vendas, e o modelo sem pedal da embreagem foi descontinuado no final de 2021, junto do Fox. 

O Gol começou 2022 já sem o câmbio automático, e sem nome de versões (Foto: VW/divulgação)

O Gol começou 2022 com dois modelos, sem nome de versões como antes: o 1.0 3 cilindros e o 1.6 8v, ainda o antigo EA-111. Mas não durou muito tempo assim, já que em março de 2022, graças as novas regras do PROCONVE L7, os carros 1.6 8v saíram de cena, assim como diversos outros modelos obsoletos produzidos no Brasil.  

O hatch da VW “morreu” sem nome de versões e com poucos equipamentos de série, mas ainda vendia bem (Foto: Lucca Mendonça)

Em seu último ano de produção, quase todas as vendas se destinavam a frotistas, e o hatch voltou a figurar entre os mais vendidos do Brasil. Foi, inclusive, o carro mais vendido por dois meses de 2022. Para fechar o ciclo, ganhou a série de despedida intitulada Last Edition, produzida para o mercado interno com o mesmo motor 1.0 da versão comum. 

O hatch da VW entrou para a história com sua produção multimilionária e foi um fenômeno sem precedentes, recorde que dificilmente será alcançado por outro carro nacional em pouco tempo. E olha que, um ano após o encerramento da sua produção, seu sucessor Polo Track chegou ao primeiro lugar em vendas no segmento, e foi o segundo carro mais vendido do Brasil (também graças às vendas diretas).  

O Polo Track têm vendido bem, mas nunca bateu as metas do Golzinho em seu auge (Foto: VW/divulgação)

Porém, há quem diga que não foi um “adeus”, e sim um “até logo”, pois fontes afirmam que a VW possui um projeto em desenvolvimento de um novo compacto, com dimensões próximas as de um crossover urbano e usando como base o Fabia, modelo de sua subsidiária Skoda. Este modelo usará motor 1.0 turbo híbrido flex, inédito na marca, mas terá apelo mais popular. 

O nome Gol talvez sobreviva no futuro crossover derivado do Skoda Fabia (Foto: Skoda/divulgação)

As fontes dizem ainda que o tal projeto, codinome 246, pode resgatar o nome Gol, já que terá feições e proposta similares as do hatch veterano. Por se tratar de um projeto mundial, é bem provável que o nome “Gol” só o batize no Brasil, mas esta é uma guerra interna que já dura meses. Só saberemos o desfecho quando o modelo for lançado por aqui.

Entretanto, é certo que, adotando o nome de sucesso, será a volta do carro mais vendido da marca no país, seguindo o caminho, por exemplo, do Golf e do Polo, ambos em linha no exterior desde 1973. Caso o futuro carro receba outro nome, já nascerá com uma meta a ser batida: ser o veículo mais vendido da história do Brasil, como foi nosso querido “Golzinho”.

Foto: VW/divulgação
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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.