VW Gol BX Souza Ramos: o carro da promoção Phillips de 1986

Foto de capa: reprodução/Garagem do Bellote

Lançado em 15 de maio de 1980, o Volkswagen Gol vendeu mais de 8.500.000 unidades no Brasil e em alguns países do mundo. É o carro de maior sucesso da marca em nosso país, e vai demorar para outro superá-lo, principalmente se considerarmos as mudanças de mercado e comportamento do consumidor atual. Hoje, o número de carros mais vendidos é definido pelas vendas a frotas, como empresas e locadoras, e não mais pelo consumidor final.

O hatch queridinho da VW teve três gerações. A primeira, lançada em 1980 sob a plataforma BX, teve três remodelaçõe: uma ocorreu em 1984 com o lançamento do motor refrigerado a água para a linha 1985: outra em 1987: além da última em 1990, com a apresentação da linha 1991 (frente conhecida popularmente como “chinesa”).

Gol foi o maior sucesso de vendas do mercado brasileiro. Curiosidade: cada geração foi intercalada em 14 anos (Foto: VW/divulgação)

Mas o motor refrigerado a ar quase tirou o Gol de linha muito antes, afinal o propulsor Boxer era ultrapassado, pouco eficiente, além de muito barulhento. Ainda assim, há quem admire sua robustez. No primeiro Gol, eram 1300 cilindradas, com 50 cv de potência SAE a 4600 rpm (36 cv ABNT) e 9,2 kgfm de torque a 2800 rpm. O carro decepcionou toda a torcida com interminável 0 a 100 km/h em 30,27 segundos e velocidade máxima de 124 km/h na melhor passagem (se considerar a média, era ainda mais lento). Esses dados são de testes da Revista Quatro Rodas na época.

Além de fraco, não trazia sequer a contrapartida no consumo, com números considerados ruins para 1980. Com gasolina, percorria 9,13 km/l na cidade e 12,28 km/l na estrada, também pelas medições da revista.

Se comparado com o Sedan, vulgo “Fusca”, era mais econômico, mas perdia para o rival Fiat 147 no consumo, desempenho e silêncio a bordo. Na época, o 147 1300 tinha 61 cv brutos, quase 10 kgfm de torque a 3000 rpm, demorava menos nas acelerações e tinha maior velocidade máxima, tudo isso registrando melhores médias de consumo.

O problema foi diminuído com a chegada da versão a etanol do motor 1300: ela tinha menos torque, porém a transmissão manual recebia outro escalonamento, deixando o carro mais ágil (ou menos lento, demorando mais de 23 segundos no 0 a 100 por hora).

Parte dos problemas foi resolvido com a chegada do motor 1600, ainda a ar (Foto: VW/divulgação)

Sua situação foi revertida em 1981, quando seu sucesso começou a aparecer após a chegada do motor 1600 ainda a ar, agora sim com interessantes 66 cv de potência SAE a 4400 rpm (51,55 cv ABNT) e 10,5 kgfm de torque a 3000 rpm na versão a etanol. O desempenho do hatch da VW tornava-se mais condizente com sua proposta, e agora praticamente não devia mais nada para a concorrência: dados de testes da Revista Quatro Rodas indicavam 0 a 100 km/h em 16,57s com 145,749 km/h de velocidade máxima.

Ainda assim, o mercado ansiava mesmo pela chegada do Gol com motor refrigerado a água, afinal, o Voyage lançado em 1981 e o Voyage Parati de 1982 já usavam o excelente BR 1.5 do Passat. A Saveiro, também de 82, também chegou com o motor Boxer refrigerado a ar, porém apenas 1.6.

Inédita versão 1.8 veio no Gol GT: um foguetinho que, (Foto: VW/divulgação)

Ele começou a se tornar objeto de desejo a partir de 1984. As versões S e LS usavam o motor 1.6 MD-270 e câmbio de 4 velocidades, conjunto rendendo 81 cv a 5200 rpm e 12,8 kgfm a 2600 rpm. Enquanto isso, a estrela GT, primeiro a usar o motor refrigerado a água, vinha com o poderoso 1.8 (antecessor do AP-800) e câmbio de 5 velocidades. No esportivo, eram 99 CV declarados a 5400 rpm e 14,96 kgfm de torque a 3200 rpm, números sacrificados pela VW, que pretendia pagar menos imposto. Na realidade, eram 106 cv, fazendo jus a esportividade e a um comando de válvulas mais brabo.

O Gol GT de 1984 foi o primeiro a usar motor a água (Foto: VW/divulgação)

A configuração de entrada, denominada BX, e o Gol Furgão, permaneciam com o motor aferrecido a ar. Para a linha 86, era apresentado o motor AP, onde os Gol S, LS e Plus passavam a ser movidos pelo 1.6 AP-600, aliado a um câmbio de 4 velocidades. A potência chegava aos 85 cv a 5600 rpm, o torque era de 12,65 kgfm de torque a 3000 rpm, e o AP-800 apresentava a mesma ficha técnica, mesmo com maior cilindrada.

Em seu último ano de produção, o Gol BX, a ar, foi utilizado como base para uma versão especial encomendada pela Philips. Foram 53 unidades, todas personalizadas pela Souza Ramos (SR) e produzidas para presentear os felizardos em um sorteio na época da Copa do Mundo de 1986, realizada no México.

Na promoção, eram quase 4100 prêmios no total: os Gol SR eram os mais caros deles (Foto: acervo/Leonardo França)

A promoção da marca de eletrônicos era chamada de “Se liga, Brasil”, e tinha como garoto-propaganda o humorista Jô Soares. Na época, até mesmo um disco foi lançado com a mesma proposta publicitária. Além dos 53 Gol, outros 4040 prêmios estavam disponíveis: televisores, aparelhos de som, camisetas e bandeiras da Seleção Brasileira. Para participar, era fácil: apenas comprar qualquer produto Philips, preencher um cupom com os dados e aguardar os resultados da promoção, publicados semanalmente na extinta Revista Manchete.

A promoção “Se Liga Brasil” tinha Jô Soares como garoto propaganda (Foto: Philips/divulgação)

A Souza Ramos foi uma grande rede de concessionários da Ford no Brasil que operou de 1979 a 1996. Tinha como divisão a SR Veículos Especiais, responsável por diversas criações únicas baseadas em veículos Ford e alguns Volkswagen. Foram muitas transformações icônicas, onde pick-ups ganhavam cabine dupla, tornavam-se utilitários esportivos ou até mesmo furgões, como os luxuosos SR Ibiza, Pampa SR, entre outros. Até mesmo o Ford Maverick foi transformado em um estiloso Station Wagon 4 portas e com motor V8 302, tornando-se um dos mais belos carros de família de seu tempo.

A Souza Ramos personalizou muita coisa da VW e Ford. O kit desses Gol era baseado no pacote chamado Sistema R-1 (Foto: Souza Ramos/divulgação)

Os Gol BX Philips tinham kit aerodinâmico exclusivo, composto por grade personalizada com quatro faróis emoldurados (os mesmos do Passat), para-choques envolventes da dianteira e traseira, frisos laterais envolventes, retrovisores externos da linha LS e calotas integrais similares à linha Santana/Passat Village. Estes acessórios, similares aos do pacote Sistema R-1 oferecido pela SR ao grande público, vinham na mesma cor branca da carroceria.

Fechando a identificação visual, aplique preto na coluna B, frisos adesivos em verde neon contornando a grade e para-choques, além da logotipia SR na tampa do porta-malas. Também chamavam a atenção os frisos grossos e uma faixa verde que acompanha as duas laterais do carro, com a inscrição “Se liga Brasil” na parte traseira. Em seu interior, os bancos tinham o mesmo acabamento de curvim preto da versão BX, sem encostos de cabeça, mas o volante de quatro raios era esportivo, emprestado dos primeiros Gol Copa, Gol GT e Passat GTS Pointer.

Na parte traseira dos adesivos laterais, a inscrição do nome da versão (Foto: acervo/Leonardo França)

Curiosamente, em 1986 a Volkswagem não ofereceu uma edição especial em alusão à Copa do Mundo, mas há quem considere esse SR como um “Gol Copa extraoficial”. Hoje, existem poucos VW Gol SR sobreviventes, e cerca de duas ou três unidades da promoção da Phillips. Uma versão fora-de-série bastante rara e, nesse caso, personalizada para uma promoção de época. Ah, os anos 80…

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.