O King DM-i, sedan médio híbrido da BYD, chegou fazendo alarde. Além do preço agressivo frente aos concorrentes (entre R$175.800 e R$187.800), o modelo reúne características bem-vindas no segmento, como o bom espaço interno, baixo consumo de combustível, conforto a bordo e amplo recheio de série. O principal concorrente? Toyota Corolla, especialmente nas versões híbridas, que partem de pouco mais de R$190 mil. Briga boa.
Pra tirar parte das dúvidas nesse embate, a BYD tratou de organizar um test-drive de Corolla Hybrid e King DM-i, um seguido do outro, para facilitar as comparações. Apesar das limitações do percurso, foi possível descobrir bastante sobre o novo sedan da marca chinesa, especialmente no que diz respeito ao desempenho, dinâmica da carroceria, freios, além de espaço da cabine, nível de acabamento, ergonomia e por aí vai.
Movido por um conjunto composto por um motor 1.5 16v de aspiração natural, mais um motor elétrico dianteiro, o King DM-i compartilha praticamente o mesmo powertrain com o SUV médio Song Plus. No total, são 209 cv de potência na versão mais em conta GL, ou 235 cv na GS topo de linha, enquanto as baterias de tração também têm capacidade diferente para as duas configurações: são 8,3 kWh na de entrada (alcance elétrico de até 55 km, ciclo NEDC) e 18,3 na topo de linha (até 120 km como EV). Todo o powertrain é administrado por uma transmissão de relação contínua, similar a uma caixa CVT, composta por uma planetária com duas grandes engrenagens, e a tração é dianteira.
Para efeito de comparação, o Corolla Hybrid conta com um motor flex 1.8 16v flex somado a dois propulsores elétricos, também com tração dianteira. A potência combinada fica em 122 cv, enquanto o torque do 1.8 é de 14,5 mkgf e dos motores elétricos fica em 16,6 mkgf. Sua transmissão automática tem esquema parecido com o do BYD, também numa espécie de CVT. Por não ser plug-in, o Toyota conta com baterias bem menores, de cerca de 1,3 kWh, permitindo alcance 100% elétrico de até 1 km, apenas em baixas velocidades (o King consegue viajar a 130 km/h sem ligar o motor a combustão).

Apesar das rodas aparentemente pequenas para o porte do carro (aro 17), a BYD optou por equipá-lo com pneus de perfil alto e não tão largo, o que, teoricamente, aumenta a capacidade de absorção de impactos no dia-a-dia, além de diminuir os riscos de danos aos pneus. A vida a bordo é fácil, com boa parte dos comandos centralizados na multimídia rotativa de 12,8” e informações no painel de instrumentos digital de 8,8”. No console central, botões um tanto confusos mesclam comandos dos modos de condução, sistema de som e climatização.
Se comparado ao Corolla, é nítida sua posição de guiar um tanto mais alta, com menos inclinação do assento do motorista, sempre com ajustes elétricos. Ainda assim, apesar de elevado, o posto de condução é ergonômico, com direito aos conhecidos bancos com encosto de cabeça embutido, presentes na maioria dos carros da marca. A altura dos comandos, instrumentação e apoio de braço central agradam, assim como o nível de acabamento, mais sóbrio e retilíneo que seu rival da Toyota. O sedan da BYD também tem altura generosa da cabine, inclusive na segunda fileira, aonde vão, de preferência, dois adultos e uma criança no meio.

Em algumas voltas do test-drive, também ficou clara a disposição do King DM-i para acelerar, superando com folga o Corolla Hybrid no quesito desempenho, mesmo na versão GL de entrada: são cerca de 8 segundos na prova de 0 a 100 km/h, contra cerca de 12,0s do rival japonês. O silêncio a bordo e nível de isolamento acústico pareceu bastante próximo, e igualmente bom, nos dois sedans, assim como a capacidade de frenagem. Uma vantagem indiscutível do BYD está no raio de giro, bastante reduzido, o que permite balizas apertadas com menor esforço e o contorno de curvas com maior facilidade. Em contrapartida, sua direção é mais desmultiplicada, ou seja, o volante do BYD dá mais voltas.
Pelo curto trajeto do teste, não foi possível aferir consumo de combustível. A BYD promete até 26,5 km/l nas melhores condições de uso do King DM-i, levando vantagem no alcance máximo graças ao tanque de 48 litros (são 43 litros no Toyota, que roda até 22,7 km/l). Os dois se igualam nas soluções energéticas, porém com diferentes tecnologias: o Corolla é híbrido flex, ou seja, bebe também etanol, enquanto o King compensa com a possibilidade de recargas em fontes de energia externas (é plug-in). Aliás, hoje ele é o único sedan híbrido plug-in do mercado brasileiro.
Na lista de equipamentos de série, apesar da fartura de tecnologias e sistemas interessantes no King, ele dispensa importantes assistentes de condução como ACC, alerta de colisão frontal, frenagem autônoma de emergência ou alerta de saída de faixa, itens que o Corolla dispõe desde sua versão a combustão mais em conta, a GLI (R$151 mil). Em contrapartida, só o BYD traz a grade dianteira iluminada (na versão GS), a multimídia rotativa, possibilidade de internet a bordo, possibilidade de apps nativos na multimídia (Waze e Spotify, por exemplo), função de gerador (o carro pode alimentar equipamentos elétricos e eletrônicos externos) e câmera 360º, principalmente. Sua garantia também é maior, com cobertura de seis anos, contra cinco da Toyota.

O carro promete, sem dúvidas, roubar algumas vendas do rival Corolla, e tem bons argumentos de venda para isso. O tempo, e a preferência do consumidor brasileiro, dirão…