(#TBT) Conheça GC2 e EC7, os Geely de quando a Zeekr nem existia

Muito tem se falado da Geely no Brasil ultimamente, afinal a marca é dona da Zeekr, que está entrando no mercado nacional com carros 100% elétricos e bem poderosos. Volvo e Lotus também são propriedades dela, que passou de marca para conglomerado automotivo ao longo dos anos. Mas você sabia que a Geely já esteve por aqui em outra ocasião, quando nem sonhava em criar a Zeekr? Pois é, por isso vamos voltar no tempo para o final de 2013, quando suas operações brasileiras foram iniciadas. 

Na realidade, a Geely teve uma passagem quase relâmpago pelo Brasil: estreou no final de 2013 e se despediu no começo de 2016, o que significa mais ou menos dois anos e meio de presença nacional. Nesse período, ela era representada por José Luiz Gandini, o mesmo que importa os Kia da Coréia para cá, e chegou a vender dois modelos de maneira oficial: o hatch pequeno GC2 e o sedan médio EC7, ambos chineses montados no Uruguai. 

EC7, o sedan médio

EC7 foi o primeiro carro da marca por aqui, e queria bater de frente com sedans médios consagrados (Foto: Geely/divulgação)

O primeiro a desembarcar, entre o finalzinho de 2013 e o início de 2014, foi o sedan médio EC7, que na China existia desde 2009 usando o nome de “Emgrand”. Na época, ele prometia bater de frente com Toyota Corolla, Nissan Sentra, Honda Civic, Ford Focus, VW Jetta, Peugeot 408, dentre outros similares, e, como chinês que se prezasse, custava pouco e oferecia bastante. Na ocasião do lançamento, era tabelado em menos de R$50 mil, enquanto o Corolla custava R$10 mil a mais e o Civic, R$16 mil extras. Quem o comprou no começo de 2015 pagou ainda mais barato, R$45 mil, por conta de uma promoção. 

O carro era moderno, mas com linhas de pouca personalidade (Foto: Geely/divulgação)

E, claro, o sedan era completão, diferentemente dos seus rivais de preço: tinha bancos em couro, ar-condicionado automático digital, retrovisor interno fotocrômico, sensores de estacionamento traseiros, faróis de neblina, rodas de liga aro 16 e aspecto de carro de luxo, com cromados, faróis com máscara negra, grade em preto brilhante e por aí vai. Na época, além de ter presença marcante, eram características do sedan o amplo espaço interno e bom nível de conforto a bordo, ainda que a Geely falasse em presunçosos 670 litros de capacidade para seu porta-malas.  

Como todo bom chinês daquela época, era completão e barato (Foto: Geely/divulgação)

A marca não divulgava essa informação oficialmente, mas seu motor 1.8 16v de aspiração natural, com “luxos” como o duplo comando variável, tinha origem em um projeto japonês da Mitsubishi (família 4G1). Bebia só gasolina, e rondava os 130 cv de potência com 17 mkgf de torque, o que não fazia do EC7 um carro rápido ou com as melhores respostas ao comando do acelerador.  

Painel bebia da mesma fonte do exterior: bonito, moderno e chique, mas genérico (Foto: Geely/divulgação)

Em testes de imprensa na época, apesar do silêncio a bordo, era nítida a pegada mais mansa e lenta do seu 1.8, que só trabalhava com um câmbio manual de cinco marchas. Uma caixa automática CVT, como oferecida na China, estava prometida para o Brasil no ano seguinte, o que nunca se concretizou. O EC7 hatch, chamado de RV, também foi outro que ficou apenas na fase da promessa. Ainda assim, a linha EC7 tinha construção refinada, com direito a freios a disco nas quatro rodas e suspensões independentes. 

GC2, o hatch pequeno

GC2 foi a segunda aposta da marca, que vinhaa través da Gandini, mesma importadora dos Kia (Foto: Geely/divulgação)

Era abril de 2014 quando o segundo e último Geely foi lançado no Brasil pelas mãos da Gandini: falamos do GC2. Era um hatch subcompacto arquirrival de JAC J2, VW up!, Chery QQ e afins, com forte apelo visual pela cara de urso panda e estilo “fofinho”. Tinha preço convidativo, de R$30 mil, e continuou custando isso até 2016. Para efeito de comparação, o J2 não saía por menos de R$32 mil, e o up! quatro portas mais barato, de R$29 mil, era absolutamente pelado.  

O simpático carrinho era um dos mais baratos do mercado, e vinha bem recheado (Foto: Geely/divulgação)

Apostando no custo X benefício, o GC2 também vinha com uma lista de itens de série bem recheada, até mesmo para modelos de porte maior: tinha ar-condicionado, vidros e travas elétricas, ajustes elétricos dos retrovisores, direção hidráulica, alarme, sensores de estacionamento traseiros, rádio AM/FM com entrada USB, coluna de direção com ajuste de altura, rodas de liga-leve aro 14, airbag duplo, freios ABS e por aí vai. Alguns desses equipamentos, vale falar, não estavam disponíveis nem mesmo nos VW Gol e Fiat Palio mais caros. Só havia uma configuração, GL, mas a marca queria lançar também uma versão aventureira dele no Brasil. Nunca existiu.  

Por dentro, qualquer semelhança com o JAC J2 é mera coincidência (Foto: Geely/divulgação)

Debaixo do capô, um pequeno e econômico 1.0 de três cilindros e 12 válvulas, projeto da própria Geely. Mesmo com o pênalti de beber só gasolina (a tecnologia flex estava nos planos, mas não saiu do papel), rendia pouco menos de 70 cv de potência e tinha torque ao redor dos 9 mkgf, suficientes para o pequeno carrinho, que vinha sempre com um câmbio manual de cinco marchas.  

Um dos pênaltis do carrinho na época era beber só gasolina com seu motor 1.0 de três cilindros (Foto: Geely/divulgação)

Quantos são e por onde andam?

Hoje em dia, uma das regiões que mais concentra carros da Geely é Itu, no interior de São Paulo, cidade onde está instalada a Gandini, sua importadora na época. Por lá, é relativamente comum cruzar com alguns GC2 e EC7, inclusive hatch, servindo como carro das outras empresas do grupo de José Luiz Gandini (imobiliária, hotel, loja de carros usados e por aí vai).  

O lançamento do EC7 RV, com carroceria hatch, foi uma das promessas não cumpridas na época. Até foto de divulgação fizeram dele na época (Foto: Geely/divulgação)

Quantos carros foram vendidos no total? Pouco mais de 1.000, somando GC2 e EC7. Dado o fato que planejavam vender 3.500 só em 2014, um fracasso comercial. Tanto é que, em 2016, quando cessaram as importações dos dois modelos, a marca citava as baixas vendas como um dos motivos da saída de linha no Brasil.  

Também alegavam que nosso mercado estava instável, que o dólar havia subido e, principalmente, que eles não faziam parte do programa Inovar Auto, que permitia a importação de até 4.800 carros por ano sem os 30% extras no IPI. O melhor ano da Geely no Brasil foi 2015, quando conseguiu emplacar 650 carros no total, enquanto comemorava 16 concessionárias operando pelo país.  

GX2 era uma espécie de GC2 aventureiro, com direito a estepe pendurado na tampa traseira. Tiveram unidades até mesmo emplacadas normalmente, como qualquer outro veículo, mas seu lançamento oficial nunca ocorreu (Foto: Geely/divulgação)

Quantos sobraram? De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), são cerca de 700 EC7 Sedan rodando em solo nacional, incluindo poucos automáticos, alguns hatches (RV), e outros cadastrados juntos da sigla “FL”, o que pode identificar protótipos com motor flex, tecnologia que a Geely prometia. O GC2 vendeu menos, por isso restam apenas 583 deles em circulação, sem contar cinco unidades do GX2, aquela versão aventureira prometida, e um único LC, sua versão original chinesa, fabricado em 2011. No mínimo, curioso…

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Com 23 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.