SUV ou “hatch altinho”? Existem diferenças entre eles!

Pra muita gente, é difícil encarar essa onda de veículos altinhos e com pegada off-road como SUVs de verdade. Há quem diga que utilitário legítimo é aquele feito com carroceria separada do chassi, tração 4×4 e, dependendo, até motor a diesel. Os demais, que não se encaixam nessa receita, costumam ser taxados de “SUV de shopping”, ou outros nomes mais pejorativos. Mas, acredite, não é à toa que as marcas chamam esses carros altinhos de SUV. Quem diz isso é o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia, o INMETRO. 

Antes de mais nada, vale entender o significado da sigla “SUV”: é uma referência a “Veículo Utilitário Esportivo” (Sport Utility Vehicle no inglês original). “Esportivo” não por ser rápido ou feito para as pistas, mas sim no sentido de “aventureiro” ou algo similar. “Utility” é uma clara associação aos utilitários, ou seja, com bom porta-malas, espaço interno e modularidade, por exemplo. O termo, aliás, foi criado pela Jeep em 1974 para designar a primeira geração do Cherokee, e dali em diante, só se espalhou.  

O primeiro Jeep Cherokee, que deu início ao termo SUV em 1974 (Foto: Jeep/divulgação)

Voltando à polêmica. Os SUVs rodam numa linha tênue com os hatches altinhos, ou “pseudo-aventureiros”, categoria que disparou no Brasil entre meados dos anos 2000 e 2010 (VW CrossFox ou Hyundai HB20X, por exemplo). Depois que essa moda passou, vieram os “SUVs derivados de hatches”, com Honda WR-V, Caoa-Chery Tiggo 2x/3x, JAC T40, VW Nivus, Fiat Pulse, Renault Kardian e, em breve, VW Tera. 

Lado a lado, nas fotos, um Renault Stepway, último representante do time de “hatches altinhos” ainda em produção, ao lado de um Fiat Pulse, já da era dos “SUVs derivados de hatches” (Argo, no caso). Ainda que o Renault mantenha a altura livre do solo típica de um hatch (14 cm), o Fiat é mais erguido, chegando a quase 19 cm no mesmo padrão. Ambos têm racks de teto, parachoques angulados, contornos plásticos nas caixas de rodas e outros “penduricalhos”, o que ajuda na semelhança. Mas ela não vai muito além… 

Fica clara no Fiat uma linha de cintura mais alta, bem como vincos mais musculosos nos paralamas, justamente para passar a impressão de carro maior e mais alto. A frente elevada, imponente e com capô quase plano, também. O Stepway é mais hatch, com linhas mais limpas, frente em cunha e aspecto geral mais urbano. Os pneus comuns estão presentes nos dois carros, mas as rodas do Pulse apelam para algo mais aventureiro, especialmente com a pintura escurecida como no carro das fotos.  

Porém, como deriva de um hatch compacto, o Pulse, assim como outros concorrentes, não é líder de espaço interno ou porta-malas quando falamos em SUVs. É bom e confortável, mas limitado frente a outros utilitários maiores (Hyundai Creta, por exemplo). Não é tão superior ao hatch da Renault, pelo contrário. O entra-e-sai e a movimentação interna também podem ser vistos como parecidos no hatch e no SUV.  

Porém, a diferença está no uso. Pelo INMETRO, para ser SUV, um carro deve cumprir pelo menos quatro das cinco regras a seguir: ter pelo menos 20 cm de altura do solo entre os eixos, pelo menos 18 cm de altura livre da base dos eixos até o solo (altura livre), pelo menos 23º de ângulo de ataque (frontal), pelo menos 20º de ângulo de saída (traseiro) e pelo menos 10º de ângulo de transposição de rampa.  

O Pulse foi preparado para quase “gabaritar” no teste, ou seja, consegue uma disposição maior para enfrentar obstáculos e aventuras. Mesmo que sejam rampas de shopping ou valetas asfaltadas. Tem 22,4 cm de altura do solo entre os eixos, 18,8 cm de altura livre da base dos eixos até o solo (altura livre), 30,1º de ângulo de saída (traseiro) e 21,3º no ângulo de transposição de rampa. Só não passa no teste do ângulo de ataque, afinal tem 20,3º, ou 2,7º a menos do que exige o INMETRO. Cumpre quatro das cinco regras, então, oficialmente, é SUV! 

Como passa em quatro dos cinco requisitos para ser SUV pelo INMETRO, o Pulse entra na categoria (Foto: Lucca Mendonça)

De fato, frente ao Stepway, é claro o maior curso das suspensões do Fiat, fazendo com que ele encare melhor a buraqueira, lombadas e outras transposições do uso diário. O fim de curso do conjunto, aliás, é muito difícil de ser atingido, algo que não ocorre com o Renault, que é robusto, mas ainda hatch. Por via de regra, tais características servem para todos os SUVs pequenos como o Pulse, e para todos os hatches compactos como o Stepway. 

Não há muito o que contestar, queiram defensores de “SUVs raiz” ou não. Porém, sem dúvidas, para as fabricantes, não é tão complicado criar um utilitário partindo de um hatch, especialmente quando os dois compartilham a mesma plataforma e mecânica. Novas suspensões ali, novas geometrias acolá, reajustes de direção e freios, um novo conjunto de linhas mais imponente, (dependendo) um pacote de segurança ampliado, equipamentos inéditos…basicamente, nada além disso.  

O resultado é o que importa: as fabricantes não gostam muito de associar seus SUVs de entrada com hatches compactos similares, e valorizam bem mais o grupo dos primeiros (Foto: Lucca Mendonça)

Mas o resultado é o que importa, tanto que as marcas não gostam que associem seus SUVs pequenos aos hatches originais (Pulse e Argo, por exemplo). E, claro, nem é preciso dizer que o primeiro é tremendamente mais valorizado que o segundo. Vide, mais uma vez, Argo e Pulse: enquanto o hatch varia de R$87 mil a R$103 mil, o Pulse começa em R$108 mil em sua versão mais simples (com calotas e câmbio manual), passando dos R$140 mil na mais recheada (com motor turbo e sistema híbrido-leve). Nem todo hatch altinho é SUV, mas nenhum SUV é hatch altinho… 

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Com 23 anos, está envolvido com o meio automotivo desde que se conhece por gente através do pai, Douglas Mendonça. Trabalha oficialmente com carros desde os 17 anos, tendo começado em 2019, mas bem antes disso já ajudava o pai com matérias e outros trabalhos envolvendo carros, veículos, motores, mecânica e por aí vai. No Carros&Garagem produz as avaliações, notícias, coberturas de lançamentos, novidades, segredos e outros, além de produzir fotos, manter a estética, cuidar da diagramação e ilustração de todo o conteúdo do site.