PAG Dacon Chubby: o raríssimo “Santana Hatch” com sete unidades sobreviventes

A Dacon (sigla para Distribuidora de Automóveis, Caminhões e Ônibus Nacionais) foi uma concessionária Volkswagen fundada em 1964 e representante local da Porsche desde 1970. Com a restrição das importações na década de 70, ela fez fama com a customização de veículos da VW, como Passat, Fusca, Brasília, dentre outros. 

Os projetos eram belíssimos, cheios de exclusividade e com acessórios bastante caros. Muitas vezes usavam partes legítimas de Porsche, e a inspiração era européia, o que os tornavam exclusivíssimos no restrito mercado nacional, na época fechado às importações oficiais. Com isso, logo os Dacon tornaram-se sonho de consumo entre os brasileiros mais endinheirados. Na década de 80, mais propriamente em 1982, eles começaram a oferecer produtos próprios, assinados pelo renomado designer José Anísio Barbosa de Campos, ou simplesmente Anísio Campos.  

Anísio Campos e seu Dacon 828 (Foto: reprodução/internet)

Os modelos eram feitos em Santana de Parnaíba (SP) por um braço da Dacon, chamado de PAG, que tem dois significados para seu nome: Projects d’Avant-Garde (“Projetos Vanguardistas” no bom português), ou então Paulo de Aguiar Goulart (proprietário da Dacon). 

O PAG Nick, “irmão menor” do Chubby (Foto: Acervo pessoal/Alexandre Ule Ramos)

Desta parceria, nasceram: Dacon 822 (cinco lugares baseado no VW Passat e inspirado nos BMW da época), Dacon 828 (com 3 lugares e design exclusivo, foi lançado em 1982 usando chassis de Fusca encurtado), Dacon 928 (réplica com cinco lugares do Porsche 928, surgiu em 1984 com monobloco e conjunto mecânico do VW Gol GT), PAG Nick (com design exclusivo, dois lugares e proposta esportiva, veio em 1988 com plataforma da VW Saveiro encurtada), PAG Nick L (também de 1988 e baseado no Nick, porém com quatro lugares e plataforma do VW Voyage), e a estrela de hoje, o PAG Chubby.  

O Chubby foi o último PAG a ser desenvolvido (Foto: PAG Dacon/divulgação)

Ele estreou em 1990 como um dos precursores dos hatches premium no Brasil. Utilizava a plataforma mecânica do VW Santana GLS duas portas numa versão encurtada, e tinha carroceria com componentes em fibra de vidro e metal. Além disso, compartilhava peças com outros carros da Volks: seus faróis e piscas dianteiros eram do Gol, as lanternas traseiras do Quantum e, internamente, praticamente tudo do Santana, incluindo painel, bancos Recaro, instrumentos completos (inclusive com relógio digital), laterais de portas (com cinzeiros embutidos na segunda fileira), volante (revestido em couro, assim como a manopla do câmbio) e equipamentos de série.  

Sem calhas no teto, característica típica dos VW da época, o Chubby tinha um desenho penetrante na dianteira, com parachoque e paralamas unificados em fibra de vidro, grade acoplada ao capô e spoiler dianteiro mais próximo ao chão. Sua frente era mais baixa que a do Santana, e em formato de cunha, porém mantendo o longo comprimento. Por conta disso, conseguia baixo nível de ruído nas estradas e um rodar macio, comparável aos melhores modelos importados. Pudera, tinha o mesmo acerto de suspensão do VW, privilegiando a estabilidade sem perder o conforto típico do sedan de luxo. 

Sua frente era mais baixa e em cunha, diferente do Santana, mas o “miolo” era igual nos dois carros (Foto: Fernando Pires/Quatro Rodas)

A parte traseira, fixada com adesivo industrial, era em plástico reforçado com fibra de vidro, e, além das lanternas verticais da perua Quantum, exibia um parachoque exclusivo, com uma grande inscrição “PAG”. Curiosa a solução para o porta-malas: com o vidro traseiro fixo, diferente de outros hatches, ele abria apenas a parte central da traseira, entre as lanternas. A tampa baixava como a de caçambas de picapes, e o espaço ali era limitado, principalmente pela posição do estepe.  

Por mais que o pneu sobressalente fosse do tipo temporário (emprestado dos VW Fox, os Voyage exportados para os EUA), ele ia instalado “em pé”, como nos Gol. Para tentar diminuir o problema, a Dacon enviava de série uma sacola personalizada e três malas de diferentes tamanhos, itens que cabiam perfeitamente no porta-malas do Chubby. 

A adoção do estepe temporário, mais fino, era para amenizar o tamanho diminuto do porta-malas (Foto: Carlos G. De Paula/revista AutoEsporte)

Seu motor era o vigoroso AP-2000 (2.0) a gasolina com 112 cv de potência e cerca de 17,5 mkgf de torque na versão carburada. Opcionalmente, podia vir com 125 cv na versão injetada (o mesmo conjunto do Gol GTi e Santana EX), ou então 145 cv na versão 16 válvulas, usando o cabeçote do Golf GTI alemão e injeção eletrônica. Era o único veículo nacional a oferecer àquela época esta configuração. Mesmo com o “kit original” do Santana 2000, ele se beneficiava pelos 140 kg a menos que o sedan no peso final, conseguindo assim um desempenho praticamente esportivo para os anos 90. A menor massa também garantia frenagens mais seguras. 

Em teste para a revista AutoEsporte, foi elogiado pelo desempenho ágil, praticamente esportivo (Foto: reprodução/Puma Classic)

E, como bom carro exclusivo que era, o PAG Chubby oferecia o melhor que o mercado nacional tinha em seu tempo: tinha de série teto-solar, direção hidráulica, ar-condicionado, rádio com toca-fitas, travamento automático das portas, retrovisores elétricos, bancos Recaro, rodas aro 14 com perfil 60, além da mesma paleta de cores do sedan médio e dos opcionais como câmbio automático de três marchas (assim como no Santana), teto-solar com abertura elétrica, injeção eletrônica e cabeçote 16 válvulas importado do Golf. Esta mecânica era similar à utilizada no conceito VW Santana Techno II. 

Por dentro, tudo de melhor que um carro nacional poderia ter (Foto: Fernando Pires/Quatro Rodas)

Em outubro de 1990, para levar um PAG Chubby 2000 carburado e mecânico, era necessário desembolsar a quantia de Cr$5.234.000,00, equivalente hoje a R$594.930,30, em conversão direta pelo IGP-M (FGV). Se você optasse pela versão carburada automática, eram Cr$5.506.000,00, ou R$625.847,58 atuais. Com motor injetado e câmbio mecânico, Cr$6.194.000,00, equivalentes a R$656.089,04 de hoje. Injetado automático, saía por Cr$6.469.000,00, ou R$735.308,39 corrigidos.  

Interior igualzinho ao do Santana GLS, com toques do EX, para não prejudicar o acabamento refinado (Foto: Carlos G. De Paula/revista AutoEsporte)

Não tivemos acesso aos preços da versão com cabeçote 16v, mas certamente seriam valores que superariam a casa dos R$850.000,00 na cotação atual. Só para que se tenha uma ideia, a versão topo de linha do Santana da época (2000i Executivo), com muitos luxos de série, era tabelada em Cr$4.162.339,00, e esse era o carro de produção em série mais caro do mercado brasileiro em 1990. O Chubby era, de fato, um carro muito caro, apesar da exclusividade. 

Lado a lado, PAG Nick L pintado de prata e PAG Chubby pintado de preto (Foto: acervo pessoal/Anísio Campos)

A chegada dos importados, o lançamento da reestilização do VW Santana em 1991 e o altíssimo preço de mercado encerraram a breve carreira do PAG Dacon Chubby em 1991. Hoje, restam 7 unidades emplacadas, sendo 4 delas fabricadas em 1990 e 3 fabricadas em 1991, tornando este “Santana Hatch” um dos veículos fora-de-série mais raros do mercado nacional. 

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como Consultor Organizacional na FS-França Serviços, e há 21 anos, também como consultor automotivo, ajudando pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.