Osvaldo Strada: um dia com o rei do Fenemê

Fotos: Leonardo França e Lucca Mendonça

No dia 26 de março, e a convite do próprio Osvaldo Strada, fomos eu, Djalma (amigo de infância do Strada), Douglas Mendonça (amigo do Djalma), Alvino (também amigo de infância do Djalma) e Lucca Mendonça conhecer a valiosa coleção de Fenemês, situada em sua propriedade em Pilar do Sul/SP.

Na foto, da direita pra esquerda, eu, Douglas Mendonça e Djalma, amigo de longas datas do Oswaldo

São 42 caminhões, entre os Fenemês já restaurados, alguns em processo de restauração e outros na fila para restauro, além de caminhões como Peterbilt 389 Legendary série limitada 0km, Kenworth, Scania 113H, Volvo VM série limitada, Volvo FH 540 0km, entre outros como Mercedes LP321, Scania L75, Fiat Importado, além de um GMC 1952 Diesel com motor 2 tempos, simplesmente maravilhosos.

Ótimo anfitrião, Osvaldo nos mostrou sua propriedade, um legítimo recanto com 31 banheiros, muitos quartos, um bar temático, enfim, um ambiente bastante silencioso e confortável. Uma semana antes, no aniversário de sua netinha de 5 anos, seu xodó, tiveram ali 200 convidados. Mas neste dia, éramos nós apenas, além de mais alguns funcionários, que são tratados com muito carinho e como amigos pelo Strada.

 

Dono de uma empresa de sistemas e programador por formação, Oswaldo ficou conversando conosco até 2h30 da manhã do dia 27 sobre histórias, onde o Alvino descobriu que conhecia as mesmas pessoas que o Oswaldo na juventude, provando aquele ditado antigo de que o mundo é realmente pequeno.

Bem-sucedido, Strada é uma pessoa simples, amável em todas as palavras, além de brincalhão e muito inteligente. Conversamos sobre política, histórias de farras, histórias de amor, carros, e claro, sobre os caminhões.

O caminhão mais falado atualmente é o Peterbilt 389 Legendary série limitada 2021, de encomenda especial e numerada (2/10 vindos para o Brasil), mas não falarei dele pois vários jornalistas já o pautaram. Ressalto apenas que demos uma volta neste caminhão, e suas dimensões e conforto da cabine impressionam, apesar da condução mais rústica, como os caminhões de outrora, como o próprio Osvaldo ressaltou.

Após o almoço, excelente diga-se passagem, o Strada nos convidou para conhecer o galpão com as preciosidades. Entre eles, vários caminhões Fenemê, alguns ainda originais de fábrica, e dois ainda na nota fiscal, nunca emplacados, já que foram usados pela NOVACAP para a construção de Brasília/DF.

Um deles, com a pintura 100% original, vale mais que todos os demais que estavam dentro do galpão por ser de uma configuração rara e ter história bem valiosa, incluindo o Peterbilt 389 que custou 7 dígitos!

Dentro do galpão, conhecemos também sua oficina particular, onde os caminhões são restaurados. Lá, pudemos ver o estoque de componentes, desde lataria a mecânica, com uma infinidade de peças, além de mais veículos.

Alguns carros também estavam lá, como um VW Santana CL 1.8 1989 que pertenceu a seu tio e está sendo restaurado dentro dos padrões de fábrica, além de uma GM D20 1993/1994 com placa especial. Explico: a cada meta batida de uma parceria comercial com uma empresa americana de softwares, além das comissões, Oswaldo ganhava uma D20 0km como prêmio. A meta era de 1 milhão de dólares, e ele a bateu 5 anos seguidos.

No meio dos caminhões, uma GM D-20 e um VW Santana com histórias pra contar

Voltando para o galpão principal, demos uma volta do Peterbilt 389, o que foi uma experiência sensacional, e ao retornarmos, Oswaldo me perguntou em qual outro caminhão eu gostaria de andar, e sincero como sou, disse que tinha um sonho: andar em um Fenemê. Ele então me surpreendeu, pedindo que eu escolhesse em qual caminhão eu queria andar, e mais uma vez fui sincero: “se deixar, ando em todos”. Mas ele então mostrou o caminhão verde, que participou da série JK da Rede Globo.

À época das gravações, Oswaldo foi contatado pela Globo para o aluguel de 2 caminhões para as tomadas de gravações, com cachê de R$2 mil por dia, e Oswaldo prontamente aceitou, mas com uma condição: não cobraria um centavo pela locação, pois seu amor pelos caminhões da marca e o que eles representam para a história do Brasil eram maiores do que qualquer coisa, e assim, por 30 dias os caminhões foram cedidos para as gravações. E detalhe: eles foram e voltaram rodando.

Dentre tantas opções, escolhi andar em um Fenemê que “atuou” na série JK da Rede Globo

Logo entramos no caminhão escolhido, e nos surpreendemos não com 2, mas 3 alavancas de câmbio. Normalmente, os Fenemê têm 2 alavancas de marcha, sendo a normal no assoalho, e a reduzida no painel, fazendo com que o veículo tenha 8 marchas.

Como Oswaldo usa os caminhões com intensidade, e faz viagens pelo Brasil em caravanas com algumas unidades, ele modernizou a mecânica destes com que viaja com mais frequência, deixando-os ainda mais confiáveis e ao mesmo tempo, mais velozes com a 5ª e 10ª marchas adicionadas, prevalecendo assim a necessidade da terceira alavanca, com acionamento exclusivo para tais marchas.

É um show à parte dirigir, e assistir o manuseio das alavancas, onde a embreagem pouco ajuda graças a tecnologia antiga, prevalecendo o conhecimento para passar a marcha no tempo. E ao passar as marchas, deve-se acionar a embreagem não só uma vez, mas sim duas vezes. Isso mesmo, duas “apertadas” no pedal a cada engate de marcha. E não vale errar o sincronismo das alavancas, hein?

Neste caminhão em específico, há outras melhorias. Com ajuda de engenheiros, foi desenvolvido um diferencial exclusivo, mais longo, para aproveitar melhor o torque do motor em rodovias, além de melhorias nos pistões, com desenvolvimento pela própria Mahle. Oswaldo ajuda a melhorar o caminhão projetado há mais de 70 anos, e isso é incrível. Essa unidade de Strada pode alcançar velocidades acima de 140 km/h.

Incrível também é a maciez da suspensão, e o rodar suave deste FNM D-11000 fabricado em 1959. Posso afirmar com toda certeza, que no geral, o desempenho surpreende mais que no Peterbilt 389. Até mesmo o Alvino pôde dirigir o caminhão, e sem ressalvas, com direito a aula de como manusear o câmbio.

Caminhões fabricados há mais de 70 anos e ainda melhorados por Osvaldo. Incrível!

E é claro que outras unidades são 100% originais, mantendo assim a história preservada, e todas elas têm a chave na ignição e funcionam na primeira tentativa de partida. Há um funcionário dedicado a cuidar da mecânica de todos eles, 7 dias por semana, 30 dias por mês, 365 dias por ano.

Demos uma voltinha também no Scania 113H que, assim como todo o resto da frota, é cuidado diariamente

Andamos também em outros caminhões, inclusive no Scania 113H de 1998 com mais de 1.000.000 de km, e no Volvo FH 540, este, muito tecnológico, confortável e maleável, e com palavras do próprio Oswaldo, dá um banho em dirigibilidade, sendo seu atual xodó dos caminhões mais novos.

O meu predileto, bem: eu fico com os Fenemês, em especial um modelo na cor prata com a cabine Metro.

PS: na próxima semana, conto com detalhes a história da FNM no Brasil. Não perca!

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Leonardo França é formado em gestão de pessoas, tem pós-graduação em comunicação e MKT e vive o jornalismo desde a adolescência. Atua como BPO, e há 20 anos, ajuda pessoas a comprar carros em ótimo estado e de maneira racional. Tem por missão levar a informação de forma simples e didática. É criador do canal Autos Originais e colaborador em outras mídias de comunicação.