Os carros nacionais mais vendidos do Brasil de 1956 até 2024
A indústria nacional passou por uma revolução nos anos 50. Com uma crescente de veículos nas ruas, quase todos importados ou montados em solo nacional, e componentes vindos de fora, desde 1946, a indústria de autopeças já alimentava o setor automotivo brasileiro.
Os incentivos à indústria nacional começaram oficialmente em 1952, com o Aviso 288, da CEXIM. Este foi o primeiro ato governamental relativo ao setor, liberando a importação de autopeças, porém limitando o licenciamento a artigos não fabricados no Brasil.
Outro fato importante foi a aprovação, ainda em 1952, pelo então presidente da república Getúlio Vargas, das conclusões da subcomissão para o estímulo da produção nacional de autopeças. Para convencer a população que não acreditava no país, foram organizadas amostras e exposições da indústria de componentes automotivos.
O crescimento mesmo veio a partir de 1956, quando tomou posse o Presidente Juscelino Kubitschek. Com o lema de crescer 50 anos em 5, vários setores foram incentivados, inclusive o automotivo. Como ato de seu governo, um grupo de trabalho foi criado com a missão de apresentar, em 30 dias, um plano para execução do parque automobilístico no país.
Foi aí que o GEIA (Grupo de Estudos da Indústria Automobilística) realmente viabilizou os esforços, os planos e as iniciativas referentes ao parque automobilístico nacional. Embora os primeiros automóveis realmente produzidos em solo nacional datem de 1956, estreia feita pelo Romi Isetta e DKW Vemaguet, a produção se iniciou de forma efetiva em 1957.
Como curiosidade, antes disso, por volta de 1954 ou 1955, Preston Tucker, dono da tradicional fabricante de carros norte-americana Tucker, foi um dos grandes interessados em estrear a produção automotiva nacional com seus modelos. O negócio acabou não se concretizando, já que Preston morreu em dezembro de 1956. Vamos viajar conosco nesta história:
1956: DKW Vemaguet
Em 1956, levando em conta seu início de produção nacional, a vitória é da DKW Vemaguet, mas não há um registro de quantas unidades foram produzidas, afinal, muita coisa aconteceu de lá para cá. Até mesmo as revistas automotivas ainda estavam para surgir. Só a partir do ano seguinte conseguimos fazer um retrospecto dos modelos líderes de venda, e entender os cenários de cada tempo. Foi fabricada até 1967.
1957 e 1958: Jeep Willys
Com o Brasil em construção, e com estradas tão ruins, era de se esperar que um modelo com robustez mais do que provada figurasse nesse ranking. Ajudou a construir Brasília/DF, grande marco do governo JK, além de desbravar as estradas precárias deste Brasil que saltava de um país tipicamente rural para um país urbano. Foi fabricado até 1983, já em uma fase onde seus direitos de produção pertenciam à Ford.
1959 a 1982: VW Sedan (Fusca)
Concorrente direto do Renault Dauphine, o modelo cativou seus proprietários pela robustez, mas com uma suspensão bastante macia, mecânica simples e baixo consumo de combustível. Sua montagem em solo Tupiniquim se iniciou em 1953, e, cinco anos depois, já eram montadas 4.819 unidades, justificando o início da produção no Brasil. Em 1959 foi lançado o VW Sedan 1200, e já neste ano, 16.825 unidades foram comercializadas. Dali em diante, as vendas dispararam.
Apelidado de “Besouro”, saiu de linha pela primeira vez em 1986, com a retomada de produção em 1993 e uma nova aposentadoria três anos depois. Ainda tivemos, aqui no Brasil, New Beetle e Novo Fusca, duas releituras importadas do tradicional Volkswagen.
1983: GM Chevette
Mesmo com melhorias, o VW Sedan já estava cansado, afinal seu projeto datava dos anos 30 e a versão nacional teve poucas alterações significativas. A GM tinha o Chevette há 10 anos em produção no Brasil, mas o modelo atingia a maturidade e ganhava, no final de 1982, um facelift que o deixava com a aparência moderna, muito próxima à do irmão maior Monza. Essas mudanças e outras virtudes foram responsáveis pela sua liderança em 1983. Foi fabricado até 1993.
1984 a 1986: GM Monza
Em uma época muito turbulenta economicamente e politicamente, os Brasileiros escolheram um carro de porte médio, tratado inclusive como modelo de luxo. O GM Monza virou símbolo de status, e era desejado nas garagens brasileiras. Com um projeto bastante moderno, motor silencioso, muito conforto e linhas limpas, agradou em cheio. Sucesso incontestável, o modelo foi fabricado por 14 anos no Brasil e vendeu 857.810 unidades de 1982 a 1996.
1987 a 2013: VW Gol
Figura carimbada do mercado, inclusive dos textos aqui da coluna, o modelo patinou em vendas quando lançado em 15/05/1980, teve uma melhoria a partir da chegada do motor 1.6 em 1981, ainda Boxer, mas viu as vendas decolarem a partir de 1984, quando passou a utilizar o 1.6 refrigerado a água, intitulado MD-270.
Em 1985 foi lançada uma nova versão deste motor, o AP-600. Com melhorias técnicas, gerava mais potência e era ainda mais econômico, garantindo ainda mais sucesso ao VW. Em 1987, ele finalmente chegou à liderança, que parecia eterna, afinal foi o primeiro modelo a receber injeção eletrônica, teve modelos e versões icônicas e, mesmo com concorrentes tão modernos em seu caminho, nada o abalava. Mesmo sem a liderança de vendas, ainda figurou entre os dez automóveis mais vendidos por diversos meses até seu fim de linha em 2022.
2014: Fiat Palio
Com uma margem pequena diante o VW Gol, o Fiat lançado em 1996 enfim chegou ao posto de mais vendido. Com um projeto maduro, agradava em custo-benefício, conforto a bordo, iluminação dos faróis e robustez mecânica. O “porém” ficava para o conteúdo: ele era concorrente direto do Gol, e ambos estavam antigos à essa altura do campeonato. Ficou em produção até o início de 2017, quando abriu espaço para o sucessor Argo.
2015 a 2020: GM Onix
A GM lançou o Onix em 2012, e entendeu o que o mercado queria: conectividade. Abusando do marketing e atraindo o público mais jovem, o modelo quem mais explorou os recursos que hoje são considerados essenciais, como central multimídia. Foi também pioneiro em vir completo de fábrica desde a versão de entrada, oferecendo direção assistida, ar-condicionado, travas elétricas e vidros elétricos, ao menos opcionalmente. Sei que isso não impressiona mais, mas em 2014 ainda era possível comprar carros somente com Airbags e freios ABS.
2021, 2022, 2023 e 2024: Fiat Strada
Com uma pandemia no caminho e uma crise no fornecimento de componentes eletrônicos sem precedentes, o mercado sofreu uma grande instabilidade. Entre Hyundai HB20, Fiat Argo, Mobi e Chevrolet Onix, o veículo mais constante foi a Fiat Strada, liderando com folga o ranking nos últimos dois anos. Em 2021, a primeira pick-up a liderar o ranking geral de vendas teve 109.107 unidades comercializadas, e em 2022, o número foi ainda maior, chegando a 112.456. Durante 2023, a Strada superou seus próprios recordes: emplacou nada menos que 120.570 carros no período de doze meses do ano. Mas não foi fácil…
Graças a versão Track, substituta oficial do queridinho Gol, o VW Polo ameaçou a soberania da Fiat Strada: o hatch bateu a marca de 111.242 unidades comercializadas em 2023, garantindo o posto de 2º carro mais vendido do Brasil e a liderança do segmento de hatchs compactos.
Em 2024 a disputa se manteve, e apenas 4.507 unidades definiram a liderança novamente para a Fiat Strada, que se superou mais uma vez com 144.694 unidades emplacadas, crescimento de 20% em comparação ao ano anterior. O VW Polo emplacou 140.187 exemplares e manteve-se pelo 2º ano na 2ª posição do ranking. Mais uma vez, foi líder do segmento de hatches compactos, com um crescimento ainda maior, de 26% se comparado com 2023.
Resta saber se a liderança da pick-up Fiat será mantida neste ano de 2025, afinal o hatch da Volkswagen está chegando perto, quase emparelhando e querendo ultrapassar. Será que a Strada seguirá como preferida?!